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Entrevista Médico pernambucano Enilton Egito ... - Revista Algomais

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centro médico do País e um importante centro<br />

da América Latina.<br />

AM | Como foi sua adaptação em São<br />

Paulo?<br />

EE | Foi um choque ver uma cidade tão grande.<br />

Mas morava na residência médica e quase<br />

não saia de lá. Era solteiro e não tinha tempo de<br />

passear. Só um ano depois, quando fui a show<br />

de Luiz Gonzaga, reencontrei velhos companheiros<br />

de viagem num velho fusca do Recife a São<br />

Paulo. Estavam lá Luciano Siqueira e Wilson Pimentel<br />

que não os via desde a chegada. Fiquei<br />

emocionado.<br />

AM | A adaptação foi lenta?<br />

EE | A minha atividade me absorvia muito. Não<br />

tinha lazer. Quando estava terminando a residência<br />

médica foi inaugurado o Hospital do Coração,<br />

o HCOR, e fui chamado por Dr. Adib para<br />

chefiar a emergência desse hospital. A partir daí,<br />

em 1976, fomos subindo juntos. Como o nordestino<br />

leva sua cidade dentro dele dentro, continuei<br />

ligado a minha terra, participando quando<br />

podia de atividades em Timbaúba e mantendo<br />

contato com colegas médicos daqui. O Hospital<br />

do Coração foi o começo de tudo.<br />

AM | São Paulo concentra 60% de todos<br />

os residentes médicos do Brasil. Não é<br />

uma grande concentração?<br />

EE | Esse é o grande problema da área médica<br />

no Brasil. Nosso país tem hoje 300 mil médicos.<br />

Só São Paulo deve abrigar pelo menos 150 mil,<br />

a metade deles. É um problema que as autoridades<br />

estão se voltando. Para fixar o médico<br />

fora dos grandes centros não é só dar um bom<br />

salário. Tem que oferecer também condições de<br />

trabalho. Ninguém quer ser médico em Altamira,<br />

no Pará, onde não há equipamentos fundamentais<br />

para um diagnóstico. As autoridades<br />

pensam em criar residências médicas no Norte<br />

e no Nordeste para fixar os profissionais. Se eles<br />

vão para São Paulo, se dão bem, são grandes as<br />

chances deles não voltarem aos seus estados.<br />

No Recife se sente menos isso, por conta do<br />

Polo <strong>Médico</strong>, mas no Interior há muita carência<br />

de médico especialista porque não se cria uma<br />

boa estrutura para o ato médico. Muita gente<br />

sai para trabalhar por lá e volta para a capital.<br />

AM | Quer dizer então que a Medicina<br />

está cada vez mais dependente dos<br />

equipamentos de alta tecnologia?<br />

Alexandre Albuquerque<br />

“Sem tecnologia<br />

não há a menor<br />

possibilidade<br />

de fixar o médico<br />

no interior”<br />

EE | Não tenha dúvida. A figura do médico com<br />

um estetoscópio é cada vez mais antiquada. Claro<br />

que a clinica médica continua soberana. O contato<br />

pessoal do médico com o paciente é muito<br />

importante. Mas ele tem que ficar atento, pois<br />

precisa de um diagnóstico. Hoje se cobra muito<br />

dos médicos o apoio tecnológico. E a tecnologia<br />

é cara: um aparelho de ressonância magnética,<br />

por exemplo, custa dois, três milhões de Reais<br />

que têm que se pagar. Há aí o problema crônico<br />

das cidades periféricas: sem a tecnologia não há<br />

possibilidade de fixar o médico no Interior.<br />

AM | A saúde pública então fica jogada<br />

às traças por falta de verbas para equipamentos<br />

de alta tecnologia?<br />

EE | Vou frequentemente a Macaparana, a São<br />

Vicente Ferrer, a Timbaúba, e vejo as dificuldades<br />

da área de saúde. Normalmente para se<br />

fixar no Interior, o médico vai se transformar em<br />

político, fazendeiro, ou marido da filha do líder<br />

político local. Essa é a maneira mais fácil que os<br />

colegas encontram para viver fora dos grandes<br />

centros. Vale mais o amor à camisa, a sua relação<br />

com a cidade, para um profissional trabalhar,<br />

por exemplo, em São Vicente Ferrer com<br />

poucas condições de infraestrutura na área.<br />

AM | A formação dos médicos é defi-<br />

ciente?<br />

EE | Veja bem, a Faculdade de Medicina ensina<br />

o indivíduo a aprender. Hoje para completar<br />

a formação são necessários 11 anos de estudo<br />

e prática – seis na faculdade, dois na residência<br />

médica e três anos de especialização. É uma formação<br />

complexa. O funil hoje não é o vestibular<br />

de Medicina, mas a Residência: são quatro mil<br />

vagas para 10 mil médicos que se formam por<br />

ano no Brasil.<br />

AM | O Brasil tem suficientes Faculdades<br />

de Medicina?<br />

EE | Demais até. São Paulo tem um médico<br />

para 500 habitantes, quando o ideal, segundo<br />

a Organização Mundial de Saúde, OMS, é em<br />

torno de um médico para mil habitantes. Pernambuco<br />

é um dos Estados que mais segurou<br />

a criação de novos cursos. Teve durante muito<br />

tempo duas faculdades de Medicina e agora<br />

chegou uma terceira. Já o Amapá tem quatro<br />

faculdades, vai ver que duas são do (senador)<br />

Sarney. São faculdades sem condições de formar<br />

médicos e que não contam sequer com um<br />

hospital. Uma faculdade de Medicina não é uma<br />

Escola Superior de Direito, onde o cara estuda no<br />

livro. Ela tem que ter a prática e para isso precisa<br />

de um hospital. Dr. Adib Jatene, que comanda<br />

hoje o Conselho Nacional de Residência Médica,<br />

tem brigado muito contra isso e vai fechar muita<br />

faculdade por aí.<br />

AM | Então a maior queixa não é pela<br />

falta de médicos, mas pela centralização<br />

deles em determinada região?<br />

EE | Certamente. Há uma revoada para os<br />

grandes centros. Em São Paulo não cabe mais.<br />

Todo ano vão centenas de médicos nordestinos<br />

e nortistas fazerem a Residência em São Paulo.<br />

O Estado que gastou na formação dos profissionais<br />

vai vê-los trabalhando para outro Estado.<br />

AM | Os formandos das faculdades públicas<br />

não deviam ter compromisso com<br />

o estado que possibilitou sua formação?<br />

EE | É o caminho certo. Não há outra saída.<br />

Deveriam dar pelo menos dois anos de serviço<br />

generalista no Interior. E essa opção está se definindo.<br />

AM | Recife é hoje um centro médico de<br />

excelência. E como era antes?<br />

EE | Quando saí do Recife existiam duas faculdades<br />

– a Ciências Médicas e a Federal. u uu<br />

dezembro ><br />

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