Entrevista Médico pernambucano Enilton Egito ... - Revista Algomais
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Memória Pernambucana<br />
O cangaceiro<br />
das flores<br />
GRANDE MESTRE | Wellington Virgolino semeou vida com a beleza das flores,<br />
das borboletas e de meninos meio alegres meio enigmáticos que povoam suas telas<br />
Uma agência de propaganda recifense<br />
era o ponto de encontro de muitos dos<br />
maiores artistas plásticos da época com o<br />
pintor Wellington Virgolino, um dos sócios da<br />
empresa. Sócio durante pouco tempo, diga-se,<br />
já que o artista resolveu, ainda bem, dedicar-se<br />
integralmente ao seu talento. Melhor para as<br />
artes plásticas, como logo se veria.<br />
O começo foi assim: de infância materialmente<br />
pobre, a riqueza de experiências logo<br />
fez aflorar a criatividade que o acompanharia<br />
vida afora. Sem dinheiro para comprá-los, produzia<br />
os próprios brinquedos, como bicicletas<br />
de madeira, revólveres que atiravam balas<br />
de feijão e milho, espadas que não cortavam<br />
nem furavam, violões a partir de latas de doce,<br />
telefones a partir dos fundos das latas de talco,<br />
projetores de cinema feitos de caixas de<br />
charutos, lentes de aumento a partir de lâmpadas<br />
incandescentes queimadas, carrinhos<br />
de rolimã. Criava um mundo de fantasia que<br />
afloraria também nos cadernos escolares, nas<br />
cartolinas, nos lápis de cor, nas aquarelas, nos<br />
guaches e, definitivamente, na sua pintura tão<br />
bela quanto inconfundível.<br />
Nos anos 1950 juntou-se a vários artistas<br />
e fundou um ateliê coletivo em que trabalhavam,<br />
trocavam experiências, dividiam conhecimentos.<br />
Havia, aliás, uma inter-relação tão<br />
pronunciada, que eram muitos os trabalhos dos<br />
quais não se sabia quem era o verdadeiro autor.<br />
Ninguém assinava as telas, é claro.<br />
Um dia, porém, Wellington Virgolino e<br />
João Câmara, em um ato de ousadia, executaram<br />
um quadro conjunto, concebendo-o de<br />
um modo que as pinturas não se chocavam.<br />
Pelo contrário, se integravam. Na pintura, uma<br />
mulher pintada por João Câmara segurava um<br />
64 > > dezembro<br />
estandarte pintado por Virgolino, formando no<br />
conjunto uma obra de extrema beleza e originalidade.<br />
Estava ali mais uma materialização do<br />
talento <strong>pernambucano</strong>.<br />
Wellington Virgolino era recifense de corpo<br />
e alma. De corpo, porque aqui nascido, de<br />
alma pelo amor que devotava à cidade que viveu<br />
amplamente, conhecendo-lhe os recantos,<br />
os tipos e os lugares pitorescos. Os detalhes,<br />
enfim. Cresceu, como homem e como artista,<br />
em um Recife de cultura borbulhante, à frente o<br />
sociólogo Gilberto Freyre, que, graças ao seu reconhecimento<br />
internacional, nos descolonizava<br />
culturalmente do Rio de Janeiro e São Paulo. As<br />
novidades vinham diretamente da França, da<br />
Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unidos.<br />
Pois saiba que Gilberto Freyre tratava Wellington<br />
Virgolino por colega, e costumava escrever<br />
elogiosos comentários sobre a sua obra.<br />
Os anos 1960 marcaram a<br />
grande ascensão virgoliniana.<br />
A aceitação dos seus trabalhos<br />
na VI Bienal de São Paulo,<br />
ecoou, como não poderia<br />
deixar de ser. Todos os seus<br />
quadros, todos, repita-se,<br />
foram comprados e havia uma<br />
alentada relação de pedidos<br />
de novos trabalhos.<br />
A fama cresceu, e Wellington Virgolino já não<br />
era um pintor doméstico. Era um artista nacional.<br />
Foi um passo para a sua primeira mostra individual<br />
em São Paulo, o maior mercado do Brasil.<br />
O tom era de blague, advirta-se, mas os quadros<br />
com a assinatura W. Virgolino, dizia-se, eram<br />
como o cheque ouro do Banco do Brasil, aceitos<br />
em todos os lugares. Foi quase uma centena de<br />
exposições individuais e coletivas no Japão, em<br />
Portugal, na Inglaterra, no Rio de Janeiro, em<br />
São Paulo, em Belo Horizonte, em Porto Alegre,<br />
em Salvador, em Brasília, além do Recife, claro,<br />
dessas, uma dúzia de exposições póstumas.<br />
Virgolino era um supersticioso e se considerava<br />
cabalisticamente ligado ao número nove.<br />
Será que ele vislumbrava alguma coisa diante de<br />
sua crença? Nascera em 19/9/1929, em uma<br />
casa de número 5149, comungou em 1939,<br />
conheceu Marinete, que viria a ser sua esposa,<br />
em um dia 29, ao casar foi morar em uma casa<br />
de número 9, sua filha nasceu no mês 9 (setembro),<br />
calçava 39, o nome Virgolino é feito de 9<br />
letras, sua altura era 1,69m, sua primeira exposição<br />
na Ranulpho Galeria em 1969. Faleceu no<br />
mês 9 (setembro), após realizar 19 exposições