13.04.2013 Views

O Sonhador (2006) - Belas Palavras

O Sonhador (2006) - Belas Palavras

O Sonhador (2006) - Belas Palavras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

16<br />

Ester – e Estélio logo descobriu – tinha particularidades: beijava as<br />

sobras de pão antes de jogá-las aos passarinhos, cantava canções de ninar só<br />

para si, bem baixinho, mareava os olhos nas cenas mais emocionantes das<br />

novelas – entre outros mínimos segredos que ela sabia caracterizar e guardar,<br />

quando necessário. Se fosse para fazê-los conhecidos de Estélio, logo criava<br />

uma linguagem decifrável para difundi-los. Será que é isso a que se chama<br />

felicidade?<br />

Quem visse Ester, de compleição miúda, frágil como uma pétala<br />

flutuando, não imaginaria existir nela a vasta sensualidade que Estélio idealizou<br />

açodadamente e que depois pôde conferir. No corpo alvíssimo, delicado como<br />

uma folha de papel, as pintas de sardas e sinais ilustravam uma paisagem de<br />

sonho. Quando queria fazer amor mandava bilhetes e recadinhos feitos de<br />

gestos codificados. Primeiro mostrava enfado para tudo e ia banhar-se, sem<br />

usar xampu ou sabonete, o jato da ducha de água fria direto, forte, envolvendoa<br />

demoradamente. Antes de se enxugar, passava uma fina camada de óleo de<br />

amêndoa e depois esfregava com a toalha o corpo todo, deixando-o levemente<br />

rosado.<br />

Na primeira vez que isso ocorreu Estélio ficou, como é normal,<br />

absolutamente surpreso. Após arrumar-se e arrumar as coisas para a noite,<br />

encontrou o quarto com a luz acesa e Ester deitada na cama, nua, relaxada,<br />

lânguida, braços soltos sobre a colcha de cetim. As pernas, pequenas, mas<br />

bem formadas, estavam estendidas, soltas, entreabertas. Uma delas pendia<br />

lassa para fora do colchão, sem, no entanto tocar o assoalho. A respiração,<br />

ansiosa, fazia o peito ondular suavemente. Os lábios moviam-se confessando,<br />

mudos e sensuais, milhões de desejos. Os olhos, bem abertos, assumiam uma<br />

coloração mais azul, que a noite tornava profundo, mas não demonstravam<br />

nem sono, nem enfado algum.<br />

Estélio parou absolutamente estático, demorando-se lhe admirar o<br />

corpo. Controlou bem o choque da surpresa, e sabiamente calou. Derreou-se<br />

ao lado dela, o corpo apoiado no cotovelo, varejando o olhar de lá para cá,<br />

perdendo-se nos detalhes, a garganta seca de espanto, o coração, as veias, o<br />

corpo latejando. Ganhou ainda muito tempo a contemplar a amada, os seios<br />

não maiores que meia laranja, o umbigo espraiado, as duas gotas de mel que<br />

eram os mamilos em tamanho, cor e sabor.<br />

Mas, claro, o que se menos espera acontece, neste caso a surpresa<br />

agradável foi ver o sexo de Ester, que era protegido por espessa floresta de<br />

pêlos negros. O triângulo púbico, rigorosamente delimitado, não deixava os<br />

cabelos se espalharem, formando um consistente emaranhado, barreira que<br />

Estélio teve de superar quando os seus lábios nervosos, após velejarem as<br />

coxas, a virilha, as pernas, o umbigo, finalmente o encontrou para beijá-lo.<br />

Depois de aspirar o perfume de amêndoa que emanava dos pêlos trançados<br />

Estélio afastou-os com extrema delicadeza para descobrir o sexo de feição<br />

miúda, os lábios pequeninos, mais vermelhos do que o rosto de Ester.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!