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O Sonhador (2006) - Belas Palavras

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2ª FEIRA (VIAJAR DE NOVO)<br />

32<br />

Mario e Isolda mostravam um amor sem fim, parecendo o casal perfeito.<br />

Até certo ponto isso era verdade porque as brigas – na verdade raras – eram<br />

geralmente resolvidas na hora entre carinhos e beijos. Porque ele era muito<br />

brincalhão não deixava nunca a coisa degenerar nem vingar no terreno<br />

pantanoso que medeia à agressão. Mas jamais se metiam nas discussões ou<br />

brigas dos outros. Talvez porque conhecessem todo o mecanismo e<br />

soubessem de antemão o final, eram neutros até a medula. Por causa disso eu<br />

procurava sempre ficar próximo a eles me protegendo da agressividade alheia.<br />

Eusa – por sua própria natureza libertária, vivia circulando nos locais, falando<br />

com as centenas de conhecidos e conhecidas, fato ao qual me adaptei<br />

normalmente. Quando exagerávamos na bebida, aí então a coisa mudava,<br />

mudava como se diz de água para vinho.<br />

4ª FEIRA (NO AVIÃO, DE VOLTA)<br />

Eusa não sabia medir as coisas e pensava que a liberdade que havia<br />

conquistado (e que eu admirava), poderia acobertar o fato de que ela estava<br />

num grupo acompanhada de alguém, com um homem, um parceiro. Largavase<br />

entre todos sem medida. De princípio tentei suportar aquilo, mas a traição<br />

veio pelos caminhos da paixão e do ciúme. No entanto evitei todas as maneiras<br />

ser grosseiro ou violento. É verdade que teve dias de exceção, noites<br />

estranhas que a bebida me pegava mais cedo que de costume. Numa ocasião<br />

cheguei a quebrar o vidro do carro de Eusa para retirar meus documentos e<br />

cair fora de uma confusão que ela armara. Nessa ocasião também desconfiei<br />

que estivessem pondo alguma coisa em minha bebida. Mas não consegui<br />

confirmar nada. É claro que aquilo tudo me aborreceu muito pois fui levado –<br />

não sei por quais forças – a fazer uma coisa que não era normal, que saía<br />

completamente do meu comportamento.<br />

3ª FEIRA (SEMANA VAZIA)<br />

De qualquer modo aprendi a agir passivamente, apenas me retirando do<br />

local, sem mais. Pois parece que aí a ofensa foi maior porque depois vinha me<br />

agredir condenando minha atitude, que não podia largá-la assim sozinha, etc.<br />

Mantive a calma e continuei com minhas retiradas estratégicas. O que podia<br />

fazer além disso? Agora o que não adianta é ficar relacionando esses casos<br />

todos que dão volta entre si como uma ciranda – melhor: girândola – soltando<br />

fogos de artifício às vezes outras vezes incendiando a paciência e a vida de<br />

todos os presentes. Aprendi a me desligar de tudo aquilo e por isso não conto<br />

mais – tudo é uma repetição do anterior. Depois achei que aquela gente só<br />

sabia viver assim, num ato sinfônico de agressão ou numa valsa de acusações,<br />

numa sonata de revolta e ciúme ou num réquiem de amor terminado. Droga,<br />

aonde fui me meter!<br />

4ª FEIRA (OSB NO MUNICIPAL)<br />

A que leva tudo isso? Ao muro. À parede. A um beco sem saída. A uma<br />

novela cujo fim jamais chega. Um romance que certamente vai levar a uma

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