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saber das coisas que se passam internamente na cabeça do escritor. Escrever<br />
é traduzir pensamentos. Vamos organizar essa bagunça? Muito bem.<br />
Personagens: Eusa – tem 30 anos, morena, cabelos curtos, fuma, bebe,<br />
escreve, vive uma vida agitada pulando de braço em abraço, mas diz que<br />
sempre teve relacionamentos estáveis; Luzia, amiga e da mesma idade de<br />
Eusa, casada com Artur vive um casamento típico, feliz entre brigas<br />
constantes, algumas violentas de parte a parte, tipo aquele casal que sempre<br />
briga mas nunca se separa; Artur, casado com Luzia, de família medianamente<br />
bem sucedida, mas cujo brilho se dirigiu mais para os irmãos, tem algumas<br />
dificuldades de sobreviver e agora é vendedor de produtos químicos, uma das<br />
muitas profissões que já freqüentou; Marcão e Noela, Mário e Isolda, Alfredo e<br />
Márcia, grupo de casais semi-casados, namorados e afins que me tirou do bar<br />
como justificativa tentando alegrar minha visita à terra deles...<br />
DOMINGO (MAIS TARDE)<br />
Saindo daquele bar fomos – a turma formada de Marcão e Noela, Mário<br />
e Isolda, Alfredo e Márcia – ao encontro de Luzia e Artur e de lá seguimos<br />
todos para Manguezal, a colônia de pesca que referi atrás. Lá encontramos<br />
Eusa sozinha, querendo descansar não sei de quê mesmo sabendo que<br />
morava nessa cidade nem tão grande que se possa sumir de vez nem tão<br />
pequena que se possa ficar sossegado. Ainda mais tendo amigos que se<br />
comprazem em fazer tudo para tirar a fossa da cabeça de quem já não anda<br />
bem. Em resumo, Eusa estava era cheia de problemas de ordem sentimental.<br />
Separada recém procurou se esconder num lugar ermo isolando-se em leituras<br />
e músicas, esperando que o destino trouxesse a solução. Mas o que chegou,<br />
como se viu, foi um grupo de amigos barulhentos, com o carro cheio de bebida,<br />
carne, cigarro, música alta, para completar tudo com um churrasco de peixe e<br />
retirar todas as nuvens que pairavam sobre a cabeça dela. E eu.<br />
5ª FEIRA (ESPAÇANDO OS DIAS)<br />
Entre bebidas e músicas, gritarias e danças, apresentações e conversas,<br />
fomos fazendo uma amizade como quem tem algo para dizer ou complementar<br />
ao outro. Na madrugada ela me convidou para ver a pesca na praia, arrastão,<br />
cantoria de pescadores puxando a rede direto, suados, cheios de cachaça,<br />
para suportar o frio da água. Ou para nada disso... Quem sabe? Só que<br />
recusei. Por quê? Ela perguntou. Porque chegando lá naquele lugar escuro e<br />
romântico vou te agarrar, disse com ar de sátiro... Ela riu e perguntou: – Fazer<br />
mais o quê? – Te carregar no colo, te deitar no solo e te fazer mulher –<br />
respondi em tom de piada repetindo a música popular. Ela se engasgou de<br />
tanto rir. Estávamos íntimos, mas na verdade não fomos. Só que faltou água<br />
em casa e foram os homens convocados para o trabalho. Eusa sabia onde era<br />
a fonte e foi com a gente, enquanto outros carregavam água ela resolveu tomar<br />
banho. Chamou-me: Vou banhar, algum problema? – Por mim nenhum,<br />
respondi sem entender bem. Ela tirou toda a roupa e nuazinha se dirigiu para a<br />
fonte. Aí então entendi tudo mas fiquei na minha: armadilha! Chamou-me outra<br />
vez: Vem jogar água em mim. Fui. Tomou banho com sabonete e tudo,<br />
enxugou-se, vestiu-se. – Bom, agora é minha vez. Eu falei e tomei banho nu<br />
mas ela não veio jogar água em mim não.