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O Sonhador (2006) - Belas Palavras

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26<br />

saber das coisas que se passam internamente na cabeça do escritor. Escrever<br />

é traduzir pensamentos. Vamos organizar essa bagunça? Muito bem.<br />

Personagens: Eusa – tem 30 anos, morena, cabelos curtos, fuma, bebe,<br />

escreve, vive uma vida agitada pulando de braço em abraço, mas diz que<br />

sempre teve relacionamentos estáveis; Luzia, amiga e da mesma idade de<br />

Eusa, casada com Artur vive um casamento típico, feliz entre brigas<br />

constantes, algumas violentas de parte a parte, tipo aquele casal que sempre<br />

briga mas nunca se separa; Artur, casado com Luzia, de família medianamente<br />

bem sucedida, mas cujo brilho se dirigiu mais para os irmãos, tem algumas<br />

dificuldades de sobreviver e agora é vendedor de produtos químicos, uma das<br />

muitas profissões que já freqüentou; Marcão e Noela, Mário e Isolda, Alfredo e<br />

Márcia, grupo de casais semi-casados, namorados e afins que me tirou do bar<br />

como justificativa tentando alegrar minha visita à terra deles...<br />

DOMINGO (MAIS TARDE)<br />

Saindo daquele bar fomos – a turma formada de Marcão e Noela, Mário<br />

e Isolda, Alfredo e Márcia – ao encontro de Luzia e Artur e de lá seguimos<br />

todos para Manguezal, a colônia de pesca que referi atrás. Lá encontramos<br />

Eusa sozinha, querendo descansar não sei de quê mesmo sabendo que<br />

morava nessa cidade nem tão grande que se possa sumir de vez nem tão<br />

pequena que se possa ficar sossegado. Ainda mais tendo amigos que se<br />

comprazem em fazer tudo para tirar a fossa da cabeça de quem já não anda<br />

bem. Em resumo, Eusa estava era cheia de problemas de ordem sentimental.<br />

Separada recém procurou se esconder num lugar ermo isolando-se em leituras<br />

e músicas, esperando que o destino trouxesse a solução. Mas o que chegou,<br />

como se viu, foi um grupo de amigos barulhentos, com o carro cheio de bebida,<br />

carne, cigarro, música alta, para completar tudo com um churrasco de peixe e<br />

retirar todas as nuvens que pairavam sobre a cabeça dela. E eu.<br />

5ª FEIRA (ESPAÇANDO OS DIAS)<br />

Entre bebidas e músicas, gritarias e danças, apresentações e conversas,<br />

fomos fazendo uma amizade como quem tem algo para dizer ou complementar<br />

ao outro. Na madrugada ela me convidou para ver a pesca na praia, arrastão,<br />

cantoria de pescadores puxando a rede direto, suados, cheios de cachaça,<br />

para suportar o frio da água. Ou para nada disso... Quem sabe? Só que<br />

recusei. Por quê? Ela perguntou. Porque chegando lá naquele lugar escuro e<br />

romântico vou te agarrar, disse com ar de sátiro... Ela riu e perguntou: – Fazer<br />

mais o quê? – Te carregar no colo, te deitar no solo e te fazer mulher –<br />

respondi em tom de piada repetindo a música popular. Ela se engasgou de<br />

tanto rir. Estávamos íntimos, mas na verdade não fomos. Só que faltou água<br />

em casa e foram os homens convocados para o trabalho. Eusa sabia onde era<br />

a fonte e foi com a gente, enquanto outros carregavam água ela resolveu tomar<br />

banho. Chamou-me: Vou banhar, algum problema? – Por mim nenhum,<br />

respondi sem entender bem. Ela tirou toda a roupa e nuazinha se dirigiu para a<br />

fonte. Aí então entendi tudo mas fiquei na minha: armadilha! Chamou-me outra<br />

vez: Vem jogar água em mim. Fui. Tomou banho com sabonete e tudo,<br />

enxugou-se, vestiu-se. – Bom, agora é minha vez. Eu falei e tomei banho nu<br />

mas ela não veio jogar água em mim não.

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