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O Sonhador (2006) - Belas Palavras

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30<br />

3ª FEIRA (LONGE, MAS PERTO)<br />

De forma que a paisagem em frente do mar já começava a fazer parte<br />

das imagens que me vinham à cabeça como algo já comum em minha vida.<br />

Sentava numa mesa de bar, pedia uma cerveja ou vinho e começava a ler um<br />

livro. Era ali um estranho para todos menos para ela. Representávamos um<br />

drama, uma comédia, uma peça teatral. Para quem chegava – o restaurante<br />

dela era um local público – eu era apenas mais um consumidor. Um dia chegou<br />

um rapaz que a tratou com muito mais intimidade que qualquer outro. Apenas<br />

evitou o beijo na boca devido à minha presença, mas entrou na casa dando a<br />

impressão de quem era íntimo demais. Até a saída ficou muito próximo,<br />

sorrindo, dando abraços – eram amantes. Com uma explicação que não pedi<br />

Eusa me disse que aquele era o namorado da juventude de quem me havia<br />

falado. Não tirei os olhos do livro, mas a paisagem das ondas se deitando nas<br />

areias bem longe ficou mais turva. Esse foi o sinal de que os sentimentos a<br />

partir de agora seguiriam, sem remédio, o caminho inexorável da paixão, com<br />

todas as nuanças irracionais.<br />

4ª FEIRA (CHATEADO COM O SILÊNCIO)<br />

Vale mesmo a pena falar disso? Depois desse teatro cheio de ardor,<br />

ciúme e doloroso como cena de cinema francês, achei bom procurar Artur e me<br />

inteirar mais das pessoas, para saber mesmo quem é esse estranho grupo que<br />

estava prestes a fazer amizade. Quem é Eusa? Quem é esse estranho<br />

namorado de juventude que vive onipresente e tem sempre lugar cativo para<br />

beijá-la na boca? Quem são os homens que aparecem e desaparecem<br />

misteriosamente na cama de Eusa? Não conseguir falar com Artur mas<br />

encontrei Luzia saindo da aula de dança. Foi bom porque desde o primeiro<br />

instante simpatizamos de cara e estabelecemos uma cumplicidade assim: eu<br />

porque estava fazendo novos amigos e ela porque se sentia na obrigação de<br />

preservar a todo custo a felicidade da amiga. Sabia me cortejar com palavras<br />

de estímulo no meu novo relacionamento com Eusa, dizia que nunca a vira tão<br />

feliz e agora sim ela encontraria o equilíbrio que tanto buscava, estava<br />

precisando de um homem como eu, dizendo coisas assim que conseguiam me<br />

dobrar e me fazer entender o quanto eu era importante para ela.<br />

5ª FEIRA (THE DAY AFTER)<br />

Essa conversa toda porém desabou quando falei na pessoa que<br />

encontrei com Eusa. Ah, a minha amiga. Mas ela fez isso? Disse sinceramente,<br />

já chateada, quase chorando. Mas não é possível. É ela não tem jeito mesmo.<br />

Que será que deu nela? Na verdade quem não entendeu nada fui eu. Luzia<br />

dizia coisas como se estivesse falando sozinha, fazia gestos e expressões,<br />

dramas, tudo aquilo só servia para complicar mais toda a minha cabeça. No<br />

final das contas a Eusa foi desenhada mais como vítima do que outra coisa.<br />

Não desanima, meu amigo – era o que Luzia me dizia. Não pensa que isso vai<br />

diminuir o amor que ela encontrou em ti. Deixa-me recolocar a cabeça dela no<br />

lugar. Alguma coisa ela colocou na conversa que Eusa passou a ser uma<br />

vítima de uma série de maltrato, espancamento, crise, tortura mental. E eu<br />

havia sido colocado no âmago do fogo como se fosse um salvador, uma tábua

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