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Mais um grande ppuuummm! Agora é a cabeça de Bernardo que some<br />
no espaço.<br />
Quando os poderosos deliram é o povo que sofre.<br />
Outro enorme e sonoro pum!! e a cabeça de Lauro se despedaça em<br />
fragmentos invisíveis, vira pó no ar.<br />
Que a salvação do povo seja a Lei Suprema!<br />
Pum! Pum! Pum! Lá se vai um monte de cabeças de políticos que não<br />
gosto e gente que não gosta de mim.<br />
Tudo explode no ar como fogos de artifício... mas não me lembro de ter<br />
chutado a cabeça de Hitler. Acho que é porque naqueles filmes antigos às<br />
vezes ele me parece tão bonzinho, principalmente quando está na presença de<br />
Eva, ou de crianças, ou pintando ao ar livre, quando sorri. Sonhos caóticos,<br />
como esse, me deixam confuso – como seria de esperar – mas sonho não é<br />
para ser entendido. Ou é? Mesmo que consiga deslindar os labirintos dos<br />
sonhos, é importante que não me deixe prender por eles. Aí é que ela se<br />
mostra importante. Muitas vezes antes da moça de branco chegar já sinto o<br />
seu perfume a me rodear. Logo me abraça uma tranqüilidade sem fim.<br />
O deserto é fértil. Parece uma frase bíblica e assim que me encontro. No<br />
deserto, vestido como um palestino, roupa de algodão fresco sob sol<br />
abrasador, cercado de uma multidão. Ouço alguém que fala como um profeta,<br />
mais alto que os murmúrios da gente: “O meu Deus pôs no meu coração que...”<br />
Escurecem as estrelas do crepúsculo matutino, desce a noite. Ainda não<br />
consigo entender o que faço ali, ouvindo: “que ela espere a luz e a luz não<br />
venha”.<br />
As pálpebras dos olhos da alva ainda não se levantaram. É noite e me<br />
sinto nascendo, surgindo da porta do ventre da minha mãe. Um regaço que me<br />
acolherá, seios para mamar, um repouso tranqüilo, mas quem esconderá dos<br />
meus olhos a visão de todos os sofrimentos até que meu corpo pouse<br />
pacificamente e chegue o descanso? A vida é um sopro onde os males jamais<br />
cessam de perturbar o repouso dos cansados.<br />
Ó Espreitador dos homens, por que concedes luz ao miserável e vida<br />
aos amargurados que esperam a morte e ela não vem? Por que iluminas o<br />
homem cujo caminho vindouro é oculto pela natureza? Nós somos de ontem e<br />
nada sabemos sobre os nossos dias sobre a terra, nada sabemos sobre as<br />
sombras que acompanham nossos passos. A visão que tenho no deserto é a<br />
de um campo sem fim. O sol late nas areias e delas sobressai um leve vapor<br />
que torna a vista da gente bamboleante. É miragem, gente que passa, árvores,<br />
nuvens, ventos. Tecidos alvos, mantos: é ela que vem e passa sua mão<br />
levíssima sobre minha fronte e vai...<br />
Entre tais pensamentos e visões noturnas que me visitam sempre que o<br />
sono profundo cai, sobrevive o espanto. Tremo. Todos os meus ossos