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3ª FEIRA (DEPOIS DA MEIA-NOITE)<br />
Mais tarde lá para o meio-dia, hora em que estávamos fazendo um<br />
lanche (desjejum e almoço conjugados), chegaram Artur e Luzia. Serviram-se<br />
do nosso almoço e ficamos conversando até a hora de voltar para o centro,<br />
onde tinham afazeres. Luzia fazia faculdade de letras, estudava dança (o que<br />
justifica o conhecimento que tinha sobre dança do ventre). Cresceu tanto na<br />
dança e ficou tão conhecida que nas horas vagas montou uma escola. Gostava<br />
mais de dança do que de letras, era apaixonada. Troquei muitas idéias com ela<br />
do pouco que sabia e, bum!, achamos nosso elo de afinidade. Não deixei de<br />
notar nela as olheiras e o rosto um pouco cansado. Pouco tempo depois ela já<br />
estava me contando os desmandos da vida de casal. Que fazer? Ouvir e falar<br />
alguma palavra, não de consolo, mas buscar transmitir uma visão mais adulta e<br />
impessoal desse universo. Brigas e ciúmes, eis de que são feitos os<br />
relacionamentos amorosos na terra, entre as paredes do quarto.<br />
4ª FEIRA (COM RAIVA)<br />
Depois não dei limite a minha censura e quantas vezes tive oportunidade<br />
todas às vezes critiquei esse pequeno mundo que se constrói a nossa volta<br />
para colher os frutos mais amargos do relacionamento que deveria ser uma<br />
existência amorosa. O que significou tê-la conhecido? A essa pergunta bem<br />
que gostaria de ter resposta, mas é impossível. Numa primeira noite conhecer<br />
alguém de maneira tão simples e depois levar essa amizade para o lado do<br />
amor não compromissado, isto é, como quem já sabe que vai acabar amanhã<br />
de manhã, espírito preparado, isto é uma coisa. As coisas porém levam tempo<br />
para acontecer e você, que estava esperando o desfecho para qualquer<br />
momento vê que tudo é muito lento, que as reações passam a ser outras, isto é<br />
outra coisa. Mas ter conhecido Eusinha foi o outro lado ignorado da<br />
convivência, como se verá...<br />
5ª FEIRA (NO MÉDICO)<br />
Espera aí. De repente você vê que já está ultrapassando os limites do<br />
tolerável, que tudo não era para acontecer assim, que deveria estar terminado,<br />
mas não, a estrada fica longa, o sentimento se complica, o relacionamento fica<br />
cada vez mais complexo, não, não era isso que você esperava de maneira<br />
nenhuma. Nem mesmo sei como Eusa – que afinal me parecia concordar com<br />
a face momentânea do nosso caso – não sei como mesmo ela se deixou<br />
ludibriar por algum sentimento.<br />
5ª FEIRA (AINDA SOB PRESSÃO ALTA)<br />
Até hoje desconheço a razão de tudo ter caminhado para um terreno<br />
desconhecido e ter-se tornado um fato descontrolado, isto é, porque Eusa<br />
sabia ser fria e levar as coisas bem rasteiras de modo a não afetar a alma da<br />
pessoa. Ou não? Ficou complicado, ficou complicado. Não era assim para<br />
acontecer, não era assim, não. E até hoje desconheço a razão de tudo ter<br />
descambado para o terreno pantanoso da paixão. Contado assim ninguém<br />
acredita, mas foi surpresa atrás de surpresa.