VISÃO JUDAICA • abril de 2003 • Nissan / Iyar • 5763
VISÃO JUDAICA • abril de 2003 • Nissan / Iyar • 5763
VISÃO JUDAICA • abril de 2003 • Nissan / Iyar • 5763
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<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
1
2<br />
editorial<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
Publicação mensal in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />
EMPRESA JORNALÍSTICA <strong>VISÃO</strong><br />
<strong>JUDAICA</strong> LTDA.<br />
Redação, Administração e Publicida<strong>de</strong><br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Curitiba <strong>•</strong> PR <strong>•</strong> Brasil<br />
Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />
Diretora <strong>de</strong> Operações<br />
e Marketing<br />
SHEILLA FIGLARZ<br />
Diretor <strong>de</strong> Redação<br />
SZYJA B. LORBER<br />
Diretora Comercial<br />
HANA KLEINER<br />
Criação e Diagramação<br />
SONIA OLESKOVICZ<br />
Colaboram nesta edição:<br />
Ali Kamel, Aristi<strong>de</strong> Bro<strong>de</strong>schi,<br />
David Stratton, Déborah Berlink,<br />
Edda Bergmann, Herman Glanz,<br />
L. Alha<strong>de</strong>ff, Moshe Rosenblatt,<br />
Nahum Sirotsky, Pilar Rahola,<br />
Shmuel Lemle, Vittorio Corinaldi<br />
e Yossi Groisseoign.<br />
Os artigos assinados não representam<br />
necessariamente a opinião do jornal<br />
lição que po<strong>de</strong>mos tirar da guerra contra<br />
o Iraque, é uma lição semi-esquecida<br />
nos confins da memória. Muitos<br />
<strong>de</strong> nós apren<strong>de</strong>mos a enxergar o que não<br />
queríamos ver: que o anti-semitismo não<br />
tem fronteiras, não tem i<strong>de</strong>ologia — todos se juntam<br />
contra os ju<strong>de</strong>us — direita e esquerda, mais o<br />
fundamentalismo <strong>de</strong> alguns dignitários religiosos,<br />
sejam islâmicos ou cristãos, num ódio irracional,<br />
que se pensava já <strong>de</strong>finitivamente enterrado com a<br />
<strong>de</strong>rrocada do nazi-fascismo na Segunda Guerra. O<br />
arcebispo <strong>de</strong> Porto Alegre nega os números e significado<br />
do Holocausto. Em São Paulo, um lí<strong>de</strong>r da<br />
comunida<strong>de</strong> muçulmana chama os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> “câncer<br />
da humanida<strong>de</strong>”. Na França, jovens ju<strong>de</strong>us que participavam<br />
<strong>de</strong> uma manifestação contra a guerra são<br />
violentamente agredidos com barras <strong>de</strong> ferro. Na Inglaterra,<br />
uma jovem ostenta uma bandana na testa<br />
on<strong>de</strong> se lê: “matem os ju<strong>de</strong>us”. Intolerância? Ódio?<br />
Preconceito? Anti-semitismo? Ou será isso tudo junto<br />
o produto <strong>de</strong> milênios da ju<strong>de</strong>ufobia?<br />
Finda a guerra no Iraque, parece haver solução<br />
para o conflito israelense-palestino. Visão Judaica<br />
Nossa capa<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Intolerância, guerra e paz<br />
A capa reproduz o quadro cujo título é “Reza<br />
no Muro”, pintado com a técnica óleo sobre tela,<br />
e dimensões 60cm x 80 cm, criação <strong>de</strong> Aristi<strong>de</strong><br />
Bro<strong>de</strong>schi e que pertence a coleção particular.<br />
Aristi<strong>de</strong> Bro<strong>de</strong>schi nasceu em Bucareste,<br />
Romênia. É Arquiteto e Artista Plástico e vive<br />
em Curitiba <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1978. Já <strong>de</strong>senvolveu trabalhos<br />
em várias técnicas, <strong>de</strong>ntre elas pintura, gravura e tapeçaria.<br />
Recebeu premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão<br />
espalhadas por vários países e tem no judaísmo, uma <strong>de</strong> suas principais fontes<br />
<strong>de</strong> inspiração. É colaborador das capas do jornal Visão Judaica.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Notas <strong>de</strong> Falecimento<br />
Acendimento das<br />
velas <strong>de</strong> shabat em<br />
Curitiba em maio<br />
sempre <strong>de</strong>ixou clara sua posição <strong>de</strong> entendimento<br />
ao direito dos palestinos <strong>de</strong> possuírem seu território<br />
e sua autonomia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o direito <strong>de</strong> Israel<br />
existir fosse respeitado. A ONU, aliás, já preconizava<br />
isso em 1948 quando votou pela partilha da Palestina.<br />
O “roadmap”, o caminho da paz, traçado<br />
pelos norte-americanos com apoios russo e francês,<br />
da ONU e da União Européia, consiste numa ca<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> medidas concretas <strong>de</strong> lado a lado e simultâneas,<br />
está aí. O fim <strong>de</strong>ve ser um estado palestino e um<br />
Israel <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> fronteiras reconhecidas por todos<br />
os paises árabes e acordos <strong>de</strong> paz.<br />
Com a queda <strong>de</strong> Bagdá o mundo <strong>de</strong>spertou para<br />
um outro problema, que ninguém mencionava e que<br />
ainda não vem obtendo espaço necessário na mídia<br />
internacional. Des<strong>de</strong> a Guerra dos Seis Dias, em 1967,<br />
em que Israel se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> um ataque <strong>de</strong>stinado<br />
a esmagá-lo não se falou em outra coisa a não ser<br />
na criação da Palestina. Mas por que será que nunca<br />
vimos na imprensa um único clamor por um Estado<br />
curdo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. É um povo como os outros, que<br />
tem sua história, sua cultura, seus valores e só não<br />
países e também sofre perseguições no Iraque, na<br />
Turquia, no Irã e na Síria. O primeiro-ministro israelense,<br />
Ariel Sharon, mais uma vez <strong>de</strong>clara sua disposição<br />
<strong>de</strong> conviver um estado palestino.<br />
Talvez consiga Abu Mazen, o primeiro-ministro<br />
indicado para o processo <strong>de</strong> reformas do governo<br />
palestino e sua <strong>de</strong>mocratização, que aceitou o cargo<br />
com a condição <strong>de</strong> assumi-lo com todos os po<strong>de</strong>res<br />
a ele inerentes, embora Arafat estivesse resistindo,<br />
pois tem o hábito do po<strong>de</strong>r do qual é difícil se<br />
livrar. Irá a Washington para receber o prestigio da<br />
Casa Branca. E então começarão as negociações. Seu<br />
primeiro teste será se impor aos grupos extremistas<br />
para obter o cessar-fogo. Será o primeiro passo do<br />
caminho da paz.<br />
O período a que correspon<strong>de</strong> esta edição <strong>de</strong><br />
Visão Judaica inclui Iom Hashoá (Dia do Holocausto),<br />
Iom Hazicaron (Dia da Recordação), Iom Haatsmaut<br />
(Dia da In<strong>de</strong>pendência) e Lag Baomer, um evento<br />
que, como os <strong>de</strong>mais, é explicado em matérias<br />
especiais neste número. Boa leitura!<br />
tem seu território. É um povo que vive em outros A Redação<br />
Faleceu prematuramente, no dia 9 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong>, a querida amiga Silvia<br />
Mazer. A seus filhos, pais e irmãs pedimos bênçãos <strong>de</strong> paz.<br />
Com pesar, o Ministério das Relações Exteriores israelense informou sobre o<br />
falecimento do Sr. Michael Shavit, esposo da ex-cônsul geral <strong>de</strong> Israel em São<br />
Paulo, Sra. Dorit Shavit, ocorrido dia 6 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong>, em Jerusalém.<br />
DATA HORA<br />
2/5 17h28<br />
9/5 17h23<br />
16/5 17h19<br />
23/5 17h17<br />
30/5 17h15<br />
29 <strong>de</strong> <strong>abril</strong><br />
<strong>•</strong> Iom Hashoá (Dia do Holocausto)<br />
6 <strong>de</strong> maio<br />
<strong>•</strong> Iom Hazicaron (Dia da Recordação)<br />
7 <strong>de</strong> maio<br />
<strong>•</strong> Iom Haatsmaut (Dia da In<strong>de</strong>pendência)<br />
16 <strong>de</strong> maio<br />
<strong>•</strong> Pessach Sheni (Segunda Páscoa)<br />
20 <strong>de</strong> maio<br />
<strong>•</strong> Lag Baomer<br />
Datas importantes<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
CRISTÃOS CELEBRAM<br />
FESTA <strong>JUDAICA</strong><br />
Nos dias 14 e 15 <strong>de</strong> <strong>abril</strong>, 430<br />
cristãos celebraram a Páscoa judaica<br />
na sua forma tradicional. Professores<br />
e funcionários dos Colégios<br />
Madre Cléia e Santa Maria (Marista),<br />
<strong>de</strong> Curitiba, pu<strong>de</strong>ram, na semana<br />
em que se comemora o acontecimento<br />
mais importante do cristianismo,<br />
conhecer as origens da fé cristã.<br />
Os diretores e orientadores dos colégios<br />
optaram pela celebração original<br />
do Pessach, pois na opinião <strong>de</strong>les,<br />
está é a maneira mais correta <strong>de</strong><br />
se conhecer a festa judaica conforme<br />
a sua tradição secular, evitando assim,<br />
as conhecidas adaptações “judaico-cristãs”<br />
do Pessach, que fatalmente<br />
corrompem e pouco traduzem<br />
o espírito da Festa.<br />
Na opinião do professor Antonio<br />
Carlos Coelho, que orientou o trabalho<br />
nas duas instituições <strong>de</strong> ensino,<br />
a iniciativa da direção dos dois colégios<br />
tem um importante significado:<br />
ao se reconhecer e acolher a rica<br />
herança judaica legada ao mundo<br />
cristão, principalmente neste momento<br />
em que os sentimentos <strong>de</strong> intolerância<br />
e anti-semitismo são tão<br />
presentes, contribui em muito para<br />
a eliminação <strong>de</strong> preconceitos e,<br />
quando isto acontece num ambiente<br />
educacional, certamente haverá<br />
reflexos positivos na educação dos<br />
alunos.
Pilar Rahola *<br />
uando Hermann Broch, em<br />
plena loucura hitlerista lançou<br />
sua terrível asseveração<br />
— “o pior crime da Europa<br />
é a indiferença” —,<br />
construiu algo mais que<br />
uma frase histórica. Lançou um dardo ao<br />
mesmo coração da consciência européia,<br />
forçando-a a olhar-se no espelho e encontrar-se<br />
consigo mesma.<br />
A Europa era indiferente na superfície<br />
porque era culpada na profundida<strong>de</strong>.<br />
A ju<strong>de</strong>ufobia não era uma contingência<br />
histórica. De alguma maneira, o ódio aos<br />
ju<strong>de</strong>us tinha sido fundado na Europa.<br />
Hitler não foi mais que o último<br />
elo <strong>de</strong> um processo progressivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição<br />
da alma judia que dava forma<br />
à alma européia.<br />
É certo isso? Estou infelizmente convencida<br />
disto, e é esta convicção que<br />
me leva a escrever estas linhas. A convicção<br />
<strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> um corpo europeu<br />
que cometeu o pior crime da humanida<strong>de</strong>:<br />
o extermínio industrializado <strong>de</strong><br />
uma cultura inteira. E que, apesar disto,<br />
não foi vacinado contra o seu próprio<br />
ódio. A Europa se livrou dos ju<strong>de</strong>us, mas<br />
não da ju<strong>de</strong>ufobia.<br />
Isso explica sua histeria acrítica<br />
pró-palestina, sua esquerda ferozmente<br />
anti-judaica, sua macabra banalização<br />
da Shoá. Seus intelectuais vulgares<br />
tão amantes da liberda<strong>de</strong>, que foram<br />
amando intelectualmente todos os<br />
ditadores da história: Mao, Stalin, Pot<br />
Pol e agora o Arafat.<br />
Saramago seria o exemplo mais notável<br />
do que em 1884 Bebel tipificou<br />
como “o socialismo dos imbecis”. E é<br />
aquele que po<strong>de</strong> escrever como os anjos<br />
e pensar como os idiotas...<br />
A Europa é Kafka e Heine. Ela é Freud,<br />
Marx e Einstein. A Europa não se explica<br />
sem o ju<strong>de</strong>u e, ao mesmo tempo, sempre<br />
foi explicada contra o ju<strong>de</strong>u. Quer dizer,<br />
contra si mesma.<br />
Igual ao seu antiamericanismo patológico,<br />
tão <strong>de</strong>sleal com os milhares<br />
<strong>de</strong> jovens americanos que per<strong>de</strong>ram a<br />
vida libertando-a <strong>de</strong> suas mais profundas<br />
misérias, seu anti-semitismo é também<br />
patológico.<br />
Eu escrevo a favor do Israel porque<br />
sou européia, e não esqueço da responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Europa em tudo aquilo<br />
acontece ao mundo ju<strong>de</strong>u. Da Europa é a<br />
responsabilida<strong>de</strong> pela criação do Estado<br />
<strong>de</strong> Israel. É a Europa que escreve em 1896<br />
“Der Ju<strong>de</strong>nstaat”, pela mão <strong>de</strong> Theodor<br />
Herzl. É a Europa que envia em 1906 um<br />
jovem proveniente da Polônia russa, o<br />
mítico David Grin mítico, posteriormen-<br />
A Ju<strong>de</strong>ufobia européia<br />
te hebraizado como Ben Gurion.<br />
Filhos dos progroms, a diáspora e a<br />
<strong>de</strong>struição sistemática <strong>de</strong> seu povo é a<br />
Europa que envia milhares <strong>de</strong> jovens para<br />
aquela terra sem povo para dotá-la <strong>de</strong><br />
um povo sem terra.<br />
Po<strong>de</strong> a Europa outorgar-se um papel<br />
moral no conflito do Oriente Médio sem<br />
partir <strong>de</strong> sua radical, monstruosa, gigantesca<br />
imoralida<strong>de</strong> histórica? Com sua<br />
opção sem críticas ao vitimário palestino,<br />
a Europa se exorciza <strong>de</strong> sua própria<br />
culpa: faz-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>do acusador, bela<br />
maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser culpada.<br />
A banalização da Shoá faz parte <strong>de</strong>ste<br />
mesmo processo. É necessário dizer<br />
aos saramagos do mundo que banalizar<br />
as vítimas da Shoá é uma forma <strong>de</strong> tornar<br />
a matá-las.<br />
A propósito: se as 52 vítimas palestinas<br />
<strong>de</strong> Jenin, mais as 23 vítimas israelenses<br />
— ou essas não contam? — são<br />
comparáveis ao Holocausto... A que são<br />
comparáveis o quase milhão <strong>de</strong> pessoas,<br />
vítimas do sangrento processo <strong>de</strong> islamização<br />
do Sudão, ou as 20 mil vítimas<br />
da rebelião esmagada na cida<strong>de</strong> síria <strong>de</strong><br />
Hama, mortas por Hafez Assad, ou os 100<br />
mil que tem em seu macabro registro o<br />
terrorismo islâmico argelino? A que seria<br />
comparável a <strong>de</strong>struição sistemática<br />
<strong>de</strong> povoados <strong>de</strong> cristãos libaneses pelas<br />
mãos das facções palestinas?<br />
Para que se per<strong>de</strong>r em números,<br />
se o que move a indignação, o protesto,<br />
o escândalo e reclamação ante<br />
a sempre atenta ONU — aquela que<br />
acabou tendo como secretário geral<br />
o nazi Kurt Waldheim — é exclusivamente<br />
a culpa judaica?<br />
É Claro, não esqueço <strong>de</strong> um aspecto<br />
básico: a ignorância. O Oriente Médio é<br />
o mais famoso e o mais mal conhecido.<br />
A superposição <strong>de</strong> mentiras chegou a ser<br />
tão notável, persistente e minuciosa que<br />
conseguiu moldar uma verda<strong>de</strong> paralela.<br />
Da negação do Holocausto culpado,<br />
qual filho natural do mesmo processo<br />
<strong>de</strong> distorção, a negação da violência<br />
palestina. Assim, enquanto as<br />
vítimas israelenses não existem, as<br />
palestinas são revestidas <strong>de</strong> uma auréola<br />
épica que as engran<strong>de</strong>ce.<br />
Não existem as vítimas judias porque<br />
são judias e, por isso, são responsáveis<br />
por sua própria morte.<br />
No maniqueísmo oficial no qual milita<br />
a gramática da imprensa européia,<br />
as vítimas só po<strong>de</strong>m ser palestinas. E os<br />
assassinos, só ju<strong>de</strong>us. Qualquer dado que<br />
mu<strong>de</strong> esta dualida<strong>de</strong> perfeitamente travada,<br />
simplesmente é ignorado.<br />
E assim criamos uma nova linguagem<br />
para um novo épico. Aos assassinos fanáticos<br />
palestinos os chamamos <strong>de</strong> mili-<br />
cianos. No são loucos cheios <strong>de</strong> ódio,<br />
senão resistentes. Às bombas indiscriminadas<br />
cozidas na cozinha do ódio as chamamos<br />
ações <strong>de</strong> luta.<br />
Ao próprio ódio planejado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />
mesmíssima autorida<strong>de</strong> palestina, estruturado<br />
como um pensamento coletivo,<br />
ódio nas escolas, nas festas, nas canções,<br />
na vida; isso não é ódio, senão<br />
simples ressentimento.<br />
Tampouco existe um Arafat violento<br />
e totalitário, ainda que sua biografia terrorista<br />
seja tão ampla como as centenas<br />
<strong>de</strong> mortos que <strong>de</strong>coram seu caminho. Esse<br />
lí<strong>de</strong>r cego que <strong>de</strong>struiu todas as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> paz, tão abraçado à causa palestina<br />
como alérgico a um Estado palestino,<br />
esse personagem que nunca quis<br />
um pacto com Israel, senão seu extermínio,<br />
e que mereceu o <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> um Clinton<br />
que se sentiu atraiçoado.<br />
É isso que os meios <strong>de</strong> comunicação<br />
europeus podiam ter feito, um festim com<br />
as violações palestinas aos acordos <strong>de</strong> Oslo.<br />
E essas <strong>de</strong>núncias contra Arafat por<br />
corrupção com as ajudas européia têm sido<br />
publicadas inclusive no Kuwait. E isso resulta<br />
nos pedidos <strong>de</strong> julgamento por crimes<br />
contra a humanida<strong>de</strong>, pois Arafat leva<br />
algumas malas sangrentas às costas.<br />
Mas no jornalismo que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> que a<br />
ocupação da basílica <strong>de</strong> Belém por 150<br />
terroristas armados até os <strong>de</strong>ntes não é<br />
uma ocupação terrorista, senão o assédio<br />
do exército israelense contra um lugar<br />
sagrado… nesse jornalismo… que interesses<br />
têm a informação e a verda<strong>de</strong>?<br />
Escrevo a favor <strong>de</strong> Israel porque não<br />
aceito que a <strong>de</strong>fesa da causa palestina<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
VJ INDICA<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
seja a <strong>de</strong>sculpa para uma nova explosão<br />
anti-semita. Porque me repugna a cegueira<br />
<strong>de</strong> uma esquerda, minha esquerda, que<br />
não consegue vislumbrar o enorme perigo<br />
da nova cara do totalitarismo: o integrismo<br />
islâmico.<br />
A Europa é responsável direta por<br />
alimentar a ju<strong>de</strong>ufobia em seu interior,<br />
<strong>de</strong> permiti-la em seu exterior e <strong>de</strong><br />
que a paz naquele lugar, não<br />
seja, por hora, nem um horizonte<br />
distante...<br />
Os palestinos se sentem<br />
legitimados em seu ódio<br />
porque a Europa o legitima<br />
dia-a-dia.<br />
“Am Israel chai be Israel”<br />
(“O povo <strong>de</strong> Israel vive em Israel”).<br />
Era o 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />
1948, e a frase pronunciada por Ben<br />
Gurion terminava um ciclo <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> anos <strong>de</strong> diáspora, perseguições,<br />
morte e resistência.<br />
Nada impediria que vivesse em franca<br />
vizinhança o povo palestino. Um povo<br />
que chegou massa a esses <strong>de</strong>sertos precisamente<br />
porque os ju<strong>de</strong>us chegaram.<br />
Mais <strong>de</strong> 50 anos <strong>de</strong>pois os palestinos,<br />
contudo, ainda não enten<strong>de</strong>ram que<br />
Israel tem o direito <strong>de</strong> existir. Por muita<br />
camaradagem <strong>de</strong> salão que recebam dos<br />
aliados europeus, sua única possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ganhar a razão histórica é enten<strong>de</strong>ndo<br />
isto.<br />
(Agra<strong>de</strong>cemos a Juan Carlos Gordon que<br />
nos fez chegar o texto completo do artigo<br />
do qual resumimos estes conceitos<br />
principais).<br />
LIVROS<br />
Ao catalogar <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> receitas das mais variadas<br />
vertentes da culinária judaica, torna acessíveis sabores<br />
antigos e riquíssimos, que carregam não apenas as<br />
tradições patrícias, mas os temperos das regiões pelas<br />
quais a civilização <strong>de</strong> Abraão vem se dispersando ao<br />
longo <strong>de</strong> 2000 anos. Adicionando <strong>de</strong>mocraticamente o<br />
frugal pão caseiro <strong>de</strong> Shabat aos aromas das estepes<br />
russas (com suas ervas misteriosas) ou os fortes temperos<br />
do oriente árabe às vitrines bovinas das <strong>de</strong>lis americanas,<br />
Márcia oferece-nos um banquete pantagruélico.<br />
E isto é só o tira-gosto... Pesquisadora faminta e<br />
apaixonada, compulsivamente curiosa, Márcia não se<br />
contenta com pouco. Além <strong>de</strong> dissertar saboroso anedotário<br />
alusivo ao universo que percorre, e antes <strong>de</strong> entrar<br />
nas receitas propriamente ditas, disseca o calendário <strong>de</strong><br />
festas judaicas, explicando como cada qual tem o seu<br />
cardápio particular, pleno <strong>de</strong> simbolismos e correlações<br />
milenares.<br />
* Pilar Rahola é ex<strong>de</strong>putada<br />
espanhola,<br />
feminista histórica e<br />
conhecida critica na<br />
Europa. Resi<strong>de</strong> em<br />
Madrid.<br />
Cozinha Judaica<br />
3<br />
5000 ANOS DE HISTÓRIAS E<br />
GASTRONOMIA<br />
Marcia Algranti<br />
Ed. Record
Fotos: Cesar Brustolin/SMCS<br />
4<br />
(Extraído<br />
do site <strong>de</strong><br />
Meor a<br />
Shabat)<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
intenção <strong>de</strong>ste artigo é<br />
transmitir a beleza, o profundo<br />
significado, a ética,<br />
a tradição, a importância e<br />
o carinho que a Torá e o judaísmo<br />
têm por nós.<br />
Já em relação ao Shemá, provavelmente<br />
a mais famosa das preces judaicas,<br />
muitos perguntam: por que<br />
tem ele um papel tão importante na<br />
vida <strong>de</strong> um ju<strong>de</strong>u e o que significa?<br />
O rabino Shraga Simmons elucidou<br />
esta pergunta num artigo escrito<br />
em, inglês recentemente.<br />
O Shemá é uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> fé,<br />
uma promessa <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao D-us<br />
Único. É falado quando louvamos D-us<br />
e quando Lhe suplicamos algo. É a primeira<br />
prece que a criança judia apren<strong>de</strong><br />
a recitar. Também são as últimas palavras<br />
que recitamos antes <strong>de</strong> partir<br />
para o Mundo Vindouro.<br />
Em todas as gerações o grito do<br />
Shemá sempre simbolizou um manifesto<br />
<strong>de</strong> fé, mesmo nas situações mais<br />
graves. Com o Shemá em seus lábios,<br />
os ju<strong>de</strong>us aceitaram o martírio nas fogueiras<br />
da Inquisição e nas câmaras <strong>de</strong><br />
gás nazistas.<br />
Somos or<strong>de</strong>nados a recitar o Shemá<br />
duas vezes ao dia: <strong>de</strong> manhã e à noite.<br />
Esta exigência é <strong>de</strong>rivada do versículo:<br />
“E você <strong>de</strong>ve recitá-lo, quando se <strong>de</strong>itar<br />
e quando se levantar (Deuteronômio<br />
6:7)”. O Talmud no Tratado Brachót<br />
A participação da população em eventos<br />
esportivos e <strong>de</strong> lazer é gran<strong>de</strong> em Curitiba.<br />
De janeiro a março <strong>de</strong>ste ano foram registrados<br />
363 mil atendimentos, número que equivale<br />
a cerca <strong>de</strong> 23% da população da cida<strong>de</strong>.<br />
A divulgação do balanço do primeiro trimestre<br />
mostra que o número <strong>de</strong> atendimentos<br />
neste período representa quase 25% do total<br />
O Shemá Israel<br />
(página 10b) nos explica que “... quando<br />
se <strong>de</strong>itar e quando se levantar” não<br />
se refere à posição literal do corpo (<strong>de</strong>itado<br />
ou em pé), mas sim se refere ao<br />
horário em que <strong>de</strong>ve ser recitado.<br />
Tecnicamente falando, o horário<br />
para recitarmos o Shemá inicia-se ao<br />
anoitecer (cerca <strong>de</strong> 40 minutos após o<br />
pôr-do-sol) e vai até a meia-noite (ou,<br />
se necessário, até a aurora do dia seguinte),<br />
O horário para o Shemá matutino<br />
inicia-se cerca <strong>de</strong> uma hora antes<br />
do nascer do sol e continua até aproximadamente<br />
3 horas após o amanhecer.<br />
O Shemá é composto <strong>de</strong> três parágrafos<br />
<strong>de</strong> nossa Torá. O primeiro parágrafo<br />
(Deuteronômio 6:4-9) contém o conceito<br />
<strong>de</strong> amarmos a D-us, estudar Torá<br />
e transmitir a tradição judaica às nossas<br />
crianças. Também se refere a mitzvá<br />
<strong>de</strong> os homens colocarem tefilin e <strong>de</strong><br />
colocarmos mezuzá em nossas portas.<br />
Enquanto rezamos, o tefilin fica posicionado<br />
junto ao coração e ao cérebro,<br />
<strong>de</strong>monstrando que todas nossas emoções<br />
e pensamentos são dirigidas a Dus.<br />
O pergaminho da mezuzá (sim, o<br />
principal é o pergaminho e não a caixinha)<br />
é afixado ao batente <strong>de</strong> nossas<br />
portas, <strong>de</strong>monstrando que temos segurança<br />
que é D-us quem protege nossos<br />
lares e proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todas e quaisquer<br />
coisas não boas.<br />
O segundo parágrafo (Devarim<br />
11:13-21) relata as conseqüências positivas<br />
<strong>de</strong> cumprirmos as mitzvót e as<br />
conseqüências negativas se não. O terceiro<br />
parágrafo (Bamidbár 15:37-41)<br />
fala especificamente sobre a mitzvá <strong>de</strong><br />
os homens vestirem tsitsit e sobre o<br />
Êxodo do Egito. Tsitsit são fios <strong>de</strong> lã<br />
que <strong>de</strong>vem ser presos em roupas que<br />
possuam quatro cantos, e sua função é<br />
lembrar-nos dos 613 mandamentos contidos<br />
na Torá.<br />
O tema principal do primeiro versículo<br />
(Shemá Israel, Hashém Elokeinu,<br />
Hashém Ehad - Ouça, ó Israel: o Eterno<br />
é Nosso D-us, o Eterno é Único) é a<br />
<strong>de</strong>claração da unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D-us. Além<br />
disto, se olharmos como o versículo em<br />
hebraico está escrito, constataremos que<br />
as letras hebraicas “Ain” e “Dalet” estão<br />
ampliadas em relação às <strong>de</strong>mais.<br />
Estas duas letras formam a palavra hebraica<br />
“Ed”, que significa “testemunha”.<br />
Ao recitarmos o Shemá, estamos testemunhando<br />
sobre a Unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D-us.<br />
Por que a “unicida<strong>de</strong>” é um conceito<br />
tão central na fé judaica? Faz alguma<br />
diferença se D-us é um e não três?<br />
A resposta é que os eventos que ocorrem<br />
diariamente em nosso mundo parecem<br />
mascarar a idéia <strong>de</strong> que D-us é<br />
Um. Um dia acordamos e tudo está bem.<br />
No dia seguinte po<strong>de</strong> estar tudo <strong>de</strong><br />
cabeça para baixo. O que aconteceu?<br />
Será possível que o mesmo D-us que<br />
nos dá tantas coisas boas num dia,<br />
possa fazer tudo dar errado no outro?<br />
Todos sabemos que D-us é bom, então,<br />
como po<strong>de</strong> haver tanta dor? Seria ape-<br />
nas um caso <strong>de</strong> “má sorte”?<br />
O Shemá é nossa <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que<br />
tudo vem Dele e apenas Dele. A confusão<br />
resulta <strong>de</strong> nossa percepção limitada<br />
da realida<strong>de</strong>. Uma maneira <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />
a unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D-us é imaginar<br />
um raio <strong>de</strong> luz brilhando sobre um prisma.<br />
Mesmo que estejamos vendo as<br />
muitas cores do espectro, na verda<strong>de</strong><br />
todas emanam <strong>de</strong> um mesmo feixe <strong>de</strong><br />
luz. Assim também, mesmo que pareça<br />
que alguns eventos não são obra <strong>de</strong> D-us<br />
e sim do “azar” ou outra força qualquer,<br />
na verda<strong>de</strong> tudo vem <strong>de</strong> um Único<br />
D-us. Muitas vezes não enten<strong>de</strong>mos,<br />
mas no gran<strong>de</strong> “projeto” celestial tudo<br />
vem para o bem, pois Ele sabe o que é<br />
melhor para nós.<br />
Quando recitamos o Shemá, costumamos<br />
fechar os olhos e cobri-los com<br />
a mão direita. O motivo disto é que<br />
assim bloqueamos nossa percepção da<br />
realida<strong>de</strong> e reconhecemos a realida<strong>de</strong><br />
Dele. A outra ocasião na tradição judaica<br />
em que os olhos são especificamente<br />
fechados é quando se parte <strong>de</strong>ste<br />
mundo. Da mesma forma que no final<br />
dos dias enten<strong>de</strong>remos como coisas<br />
“ruins” na verda<strong>de</strong> foram “boas”, assim<br />
também nos esforçamos, durante<br />
o Shemá, para atingir este nível <strong>de</strong> percepção<br />
e entendimento.<br />
Tudo isto tem um gran<strong>de</strong> propósito:<br />
lembrar-nos que não estamos sozinhos<br />
e que todos temos uma meta a<br />
ser atingida na vida.<br />
Ações esportivas atraem a população curitibana<br />
No 1º trimestre do ano foram 363 mil atendimentos em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esporte e lazer<br />
Centro <strong>de</strong> Aprimoramento <strong>de</strong> Talentos<br />
Esportivos, CATES - Crianças<br />
apren<strong>de</strong>m a jogar futebol no Conjunto<br />
Dia<strong>de</strong>ma, área da Regional Portão<br />
registrado no ano passado, <strong>de</strong> 1,2 milhão.<br />
Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esporte e lazer são <strong>de</strong>senvolvidas<br />
nos mais diversos pontos da cida<strong>de</strong> através<br />
das Administrações Regionais e em programas específicos<br />
como o <strong>de</strong> Aprimoramento <strong>de</strong> Talentos<br />
Esportivos (Cates) e o CuritibaAtiva que empreen<strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> incentivo à prática esportiva<br />
regular aliada a uma dieta saudável.<br />
“O índice <strong>de</strong> atendimentos<br />
mostra que as ações da secretaria<br />
são aguardadas com expectativa<br />
e vêm tendo excelente<br />
resposta da população”, diz o<br />
secretário Juliano Borghetti,<br />
lembrando que a programação<br />
mais intensa começa realmente<br />
a partir <strong>de</strong> março.<br />
CATES – Voltado a crianças e<br />
Lançamento da sexta edição do<br />
Curitibativa Verão, Praça Oswaldo Cruz,<br />
Centro<br />
adolescentes, o Cates registrou, só nos três primeiros<br />
meses do ano, 14 mil atendimentos. São<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas em quadras esportivas<br />
instaladas em praças, escolas, Ruas da Cidadania<br />
e associações comunitárias. Criado em agosto <strong>de</strong><br />
1998, o Cates reúne em torno <strong>de</strong> 15 mil crianças<br />
e adolescentes que apren<strong>de</strong>m técnicas <strong>de</strong> até 12<br />
modalida<strong>de</strong>s esportivas.<br />
O secretário lembra que o Cates é um programa<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance social que beneficia comunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> baixa renda em bairros on<strong>de</strong> o aprendizado<br />
<strong>de</strong> técnicas esportivas serve <strong>de</strong> incentivo<br />
à geração habitualmente excluída do ranking <strong>de</strong><br />
novos talentos. Neste ano, afirma, o programa<br />
<strong>de</strong>verá ser ampliado, com a inclusão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> remo, canoagem e ciclismo. Atualmente,<br />
as crianças e adolescentes e adolescentes que<br />
participam do Cates têm aulas <strong>de</strong> vôlei, basquete,<br />
natação, tênis <strong>de</strong> mesa, xadrez e atletismo.
<strong>VISÃO</strong>panorâmica<br />
<strong>•</strong> Yossi Groisseoign <strong>•</strong><br />
Justiça não falha<br />
O terrorista palestino Abu Abbas,<br />
lí<strong>de</strong>r da Frente <strong>de</strong> Libertação da Palestina<br />
(FLP), uma das organizações radicais<br />
que cometem atentados contra israelenses,<br />
e i<strong>de</strong>alizador do seqüestro<br />
do navio italiano Achille Lauro, em<br />
outubro <strong>de</strong> 1985 foi capturado dia 14<br />
<strong>de</strong> <strong>abril</strong> pelos EUA a 80 km a oeste <strong>de</strong><br />
Bagdá, quando voltava da fronteira do<br />
Iraque com a Síria, on<strong>de</strong> tentava se<br />
refugiar, mas teve sua passagem barrada.<br />
Também teriam sido <strong>de</strong>tidos colaboradores<br />
<strong>de</strong> Abbas em um campo <strong>de</strong><br />
treinamento, on<strong>de</strong> teriam ainda sido<br />
apreendidos armas e documentos. O seqüestro<br />
do Achille Lauro, com 400 passageiros<br />
e tripulantes, aconteceu no<br />
Mediterrâneo, na costa do Egito, quando<br />
quatro palestinos fortemente armados<br />
tomaram o navio que se dirigia a<br />
Israel e exigiram que 50 terroristas prisioneiros<br />
fossem libertados.<br />
Justiça II<br />
Para mostrar que não estavam brincando,<br />
os comandados <strong>de</strong> Abbas mataram<br />
a tiros um passageiro ju<strong>de</strong>u. Leon<br />
Klinghoffer, um norte-americano <strong>de</strong> 69<br />
anos e portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física,<br />
e o jogaram ao mar, com a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />
rodas. Após um impasse <strong>de</strong> dois dias,<br />
os terroristas se entregaram ás autorida<strong>de</strong>s<br />
egípcias sob a garantia <strong>de</strong> que<br />
seriam levados à Tunísia e libertados.<br />
Chegaram a embarcar num avião, mas<br />
este foi interceptado por jatos militares<br />
americanos que forçaram o avião a<br />
aterrissar na Sicília (Itália), on<strong>de</strong> as<br />
autorida<strong>de</strong>s, entretanto, <strong>de</strong>ixaram Abbas<br />
escapar. Ele foi julgado e con<strong>de</strong>nado<br />
à revelia pela justiça italiana a<br />
prisão perpétua, mas se escon<strong>de</strong>u em<br />
Gaza e <strong>de</strong>pois no Iraque.<br />
Embaixador do Brasil foi da OLP<br />
Nomeado novo embaixador do Brasil<br />
em Cuba pelo governo Lula, o ex<strong>de</strong>putado<br />
Til<strong>de</strong>n Santiago foi padre e<br />
militante da Aliança Libertadora Nacional<br />
(ALN) organização terrorista que<br />
atuou durante o regime militar no País.<br />
Quando morou em Israel, Santiago, trabalhou<br />
em um kibutz, mas militava na<br />
Organização pela Libertação da Palestina<br />
(OLP). Como se vê, o terrorismo o<br />
atraia. A propósito, o ditador Fi<strong>de</strong>l<br />
Castro, que mantém boas relações com<br />
Brasília aproveitou o <strong>de</strong>svio da atenção<br />
do mundo com a Guerra do Iraque<br />
e con<strong>de</strong>nou por “crime <strong>de</strong> pensamento”<br />
mais <strong>de</strong> 80 opositores a prisão, com<br />
penas <strong>de</strong> 6 a 28 anos, além mandar<br />
fuzilar três pessoas acusadas <strong>de</strong> seqües-<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
trar um barco com o objetivo <strong>de</strong> fugir<br />
do regime para Miami. Santiago está<br />
mesmo em casa, ou seja, com o terror.<br />
Israel con<strong>de</strong>na quatro a prisão<br />
perpétua<br />
Como em Israel não existe pena <strong>de</strong><br />
morte, nem para os crimes mais hediondos<br />
(a única exceção foi o nazista<br />
Adolf Eichman), um tribunal con<strong>de</strong>nou,<br />
há duas semanas, quatro palestinos a<br />
29 penas <strong>de</strong> prisão perpétua cada um<br />
por terem organizado em 2002 o atentado<br />
suicida terrorista em Netânia, cida<strong>de</strong><br />
litorânea ao norte <strong>de</strong> Tel Aviv, em<br />
Israel, no pior ataque já acontecido<br />
durante a Intifada. Foi durante o jantar<br />
<strong>de</strong> Páscoa (Pessach) num hotel,<br />
matando 29 pessoas, além do homembomba.<br />
As 29 con<strong>de</strong>nações dos assassinos<br />
foram por cada uma das pessoas<br />
que tiveram suas vidas tiradas.<br />
Rabino eleitos<br />
Os rabinos Yona Metzger e Shlomo<br />
Amar foram eleitos novos rabinos-chefes<br />
ashkenazi e sefaradi, respectivamente,<br />
há quinze dias, em Israel. Metzger<br />
ganhou o apoio <strong>de</strong> 63 dos 150<br />
membros do comitê eleitoral e Amar<br />
venceu com confortáveis 124 votos. O<br />
comitê abrange 80 rabinos e 70 representantes<br />
do público, incluindo membros<br />
da Knesset e prefeitos.<br />
Pedida captura <strong>de</strong> diplomatas<br />
iranianos<br />
A justiça argentina pediu em março<br />
à Interpol a captura <strong>de</strong> quatro diplomatas<br />
iranianos por sua suposta<br />
participação no atentado contra a<br />
AMIA, em Buenos Aires, em 1994 que<br />
<strong>de</strong>ixou um saldo <strong>de</strong> 85 mortos. A or<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong> prisão foi <strong>de</strong>cretada após as<br />
investigações da Secretaria <strong>de</strong> Inteligência<br />
do Estado, que indicaram<br />
uma presumida conexão entre os funcionários<br />
iranianos e o atentado que<br />
reduziu a escombros a Associação<br />
Mutual Israelita Argentina (AMIA). O<br />
Irã <strong>de</strong>smentiu reiteradas vezes sua<br />
vinculação com o ataque. Dos quatro<br />
diplomatas iranianos cuja prisão foi<br />
solicitada, três estavam na Argentina<br />
no momento que ocorreu o ataque<br />
com um carro-bomba. O pedido<br />
é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um <strong>de</strong>spacho do juiz<br />
Juan José Galeano, no processo <strong>de</strong><br />
mais <strong>de</strong> 400 páginas, on<strong>de</strong> os funcionários<br />
argentinos sustentam acusações<br />
do tipo i<strong>de</strong>ológico, logístico e<br />
<strong>de</strong> execução do atentado.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Captura II<br />
A justiça argentina também solicitou<br />
colaboração internacional a<br />
outros países para que se concretizem<br />
as <strong>de</strong>tenções e que dêem lugar<br />
às correspon<strong>de</strong>ntes extradições. Em<br />
1992, uma outra explosão <strong>de</strong>struiu a<br />
Embaixada <strong>de</strong> Israel em Buenos Aires,<br />
com um saldo <strong>de</strong> 29 mortos e<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> feridos. A pesar da extensa<br />
e questionada investigação, os ataques<br />
à AMIA e à Embaixada não foram<br />
esclarecidos. A comunida<strong>de</strong> judaica<br />
da Argentina é a maior da América<br />
Latina e a sétima do mundo com<br />
cerca <strong>de</strong> 300 mil membros.<br />
Embaixador <strong>de</strong> Israel volta a<br />
Bruxelas<br />
O embaixador <strong>de</strong> Israel na Bélgica,<br />
Yehudi Kenar, voltará em breve<br />
para Bruxelas após o parlamento belga<br />
ter feito uma emenda que modificou<br />
a lei que autorizava o julgamento,<br />
por crimes <strong>de</strong> guerra, do primeiro-ministro<br />
israelense, Ariel Sharon,<br />
pelos supostos massacres <strong>de</strong> palestinos<br />
nos campos <strong>de</strong> Sabra e Shatila,<br />
em 1982. O Ministério israelense <strong>de</strong><br />
Relações Exteriores, informou que a<br />
<strong>de</strong>cisão reflete novas circunstâncias,<br />
em referência às emendas efetuadas<br />
parlamento belga. Israel havia convocado<br />
seu embaixador no dia 12 <strong>de</strong><br />
fevereiro, após uma sentença judicial,<br />
em Bruxelas, abrindo possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
processar Sharon pelos massacres<br />
<strong>de</strong>pois que per<strong>de</strong>sse sua imunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> primeiro-ministro.<br />
Bruxelas II<br />
A <strong>de</strong>cisão do tribunal belga foi<br />
classificada como escandalosa pelo<br />
governo israelense que lembrou à Bélgica<br />
seu passado <strong>de</strong> massacres no<br />
Congo e acusou o país <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar<br />
levar por sentimentos anti-semitas.<br />
O Parlamento belga, reconhecendo o<br />
erro, fez uma emenda na lei que autorizava<br />
o julgamento e conce<strong>de</strong>u aos<br />
seus tribunais a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar<br />
casos semelhantes aos <strong>de</strong> Sharon —<br />
que é inocente das acusações — somente<br />
quando envolverem países não<strong>de</strong>mocráticos<br />
e que não oferecerem a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um julgamento justo.<br />
Com a emenda, o procurador-geral<br />
do Estado belga também <strong>de</strong>verá<br />
aprovar qualquer processo sobre crimes<br />
<strong>de</strong> guerra ocorridos fora da Bélgica,<br />
mesmo que o queixoso não tenha<br />
nacionalida<strong>de</strong> belga ou viva naquele<br />
país. A nova legislação afetará<br />
outros processos judiciais pen<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> resolução na Bélgica, como os que<br />
correm contra o lí<strong>de</strong>r palestino Yasser<br />
Arafat e o cubano Fi<strong>de</strong>l Castro.<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Aposentadoria<br />
Simon Wiesenthal, que ficou conhecido<br />
como “caçador <strong>de</strong> nazistas” por<br />
sua <strong>de</strong>dicação ao esclarecimento <strong>de</strong><br />
crimes do nacional-socialismo, anunciou<br />
sua retirada da vida ativa aos 95<br />
anos. “Encontrei os genocidas que persegui<br />
e sobrevivi a todos eles”, <strong>de</strong>clarou<br />
ele. O agora ex-chefe do Centro <strong>de</strong><br />
Documentação <strong>de</strong> Viena ressaltou que,<br />
se houvesse algum criminoso ainda não<br />
<strong>de</strong>scoberto, este teria que estar muito<br />
velho para ser levado aos tribunais,<br />
com o que <strong>de</strong>u por encerrado o trabalho<br />
<strong>de</strong> sua vida. Uma das gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Wiesenthal, segundo disse,<br />
foi explicar à opinião pública os<br />
crimes do nazismo, já que continuam<br />
existindo associações e grupos que<br />
negam o Holocausto.<br />
A favor da paz<br />
O ministro do Exterior da Síria, Faruk<br />
Al-Chareh, acolheu favoravelmente<br />
as mais recentes <strong>de</strong>clarações do presi<strong>de</strong>nte<br />
norte-americano, George W.<br />
Bush, segundo a qual a Síria mostrava<br />
sinais <strong>de</strong> cooperação. “A Síria sempre<br />
quis o diálogo com os Estados Unidos<br />
e não procura a confrontação”, <strong>de</strong>clarou<br />
Al-Chareh em entrevista à imprensa.<br />
O chefe da diplomacia síria disse<br />
ainda que o seu país é a favor <strong>de</strong> ‘uma<br />
paz justa e global’ no conflito árabeisraelense,<br />
“sempre se opôs às guerras<br />
e foi um elemento <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> na<br />
região”.<br />
Turismo no Iraque<br />
As agências <strong>de</strong> viagem israelenses<br />
já estão ven<strong>de</strong>ndo pacotes turísticos<br />
para o Iraque: a ida é <strong>de</strong> ônibus pela<br />
Jordânia e a volta <strong>de</strong> avião. Oito dias<br />
custam US$ 700. O ex-vice primeiro<br />
ministro <strong>de</strong> Saddam Hussein, Tarek<br />
Aziz, que agora está preso e que vivia<br />
acusando Israel <strong>de</strong> ser o or<strong>de</strong>nador da<br />
guerra <strong>de</strong> Bush contra<br />
o Iraque, “porque<br />
estava <strong>de</strong> olho no seu<br />
petróleo”, agora tem<br />
mais um motivo para<br />
suas lamúrias: vai dizer<br />
que os israelenses<br />
provocaram a guerra<br />
porque queriam conhecer<br />
o “paraíso”<br />
iraquiano (!) Mais<br />
uma noticia sobre o<br />
Iraque: as peças <strong>de</strong><br />
valor do museu <strong>de</strong><br />
Bagdá estão bem<br />
guardadas em salas<br />
especiais como em<br />
qualquer museu do<br />
mundo. Portanto, os<br />
saques nao foram<br />
tão vultosos como o<br />
noticiado.<br />
5
6<br />
* Edda<br />
Bergmann é<br />
presi<strong>de</strong>nte da<br />
B’nai B’rith<br />
do Brasil<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
A ONU, a UNRWA e os<br />
campos <strong>de</strong> refugiados<br />
Organização das Nações Unidas<br />
resolveu ajudar os refugiados<br />
no mundo através da UNRWA1 ,<br />
um dos <strong>de</strong>sdobramentos oficiais<br />
da organização específicos para<br />
este fim, que <strong>de</strong>veria ajudar <strong>de</strong> forma<br />
provisória e por um curto período <strong>de</strong> tempo<br />
os refugiados <strong>de</strong> guerra ou catástrofes.<br />
O dinheiro para isso, como <strong>de</strong> toda a<br />
ONU em geral vem em gran<strong>de</strong> parte dos<br />
Estados Unidos.<br />
Muitos foram os povos ajudados em ocasiões<br />
e situações diferentes e diferenciados<br />
por tempos <strong>de</strong>terminados, até a solução<br />
dos problemas que geralmente<br />
eram <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> situações provisórias<br />
diferenciadas e resolvidas num <strong>de</strong>terminado<br />
espaço <strong>de</strong> tempo.<br />
Todas as vítimas do Holocausto que<br />
sobreviveram após experiências dolorosas<br />
e inimagináveis foram absorvidas por este<br />
ou aquele país; ajudados pelas comunida<strong>de</strong>s<br />
judaicas e por organismos <strong>de</strong> assistência<br />
psicológica e comunitária.<br />
A enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us refugiados<br />
dos países árabes foram absorvidos<br />
por Israel ou por outras comunida<strong>de</strong>s judaicas<br />
do mundo.<br />
Os refugiados políticos no mundo se estabeleceram<br />
neste ou naquele país tornando-se<br />
responsáveis por suas próprias vidas<br />
e sobrevivência. E não foram poucos os<br />
refugiados que vagaram pelo mundo e ainda<br />
hoje o fazem a procura <strong>de</strong> abrigo e <strong>de</strong><br />
melhores condições <strong>de</strong> vida.<br />
Haja vista para os países africanos e<br />
outros on<strong>de</strong> ou há falta <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> sobrevivência,<br />
ou há regimes <strong>de</strong>spóticos e mandatários<br />
dos <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> suas populações<br />
não permitindo que os ventos da liberda<strong>de</strong><br />
soprem sem a violência e os <strong>de</strong>smandos do<br />
po<strong>de</strong>r absolutista e caótico.<br />
Mas em nenhum outro lugar existiram<br />
campos <strong>de</strong> refugiados sustentados pela<br />
UNRWA há quase 60 anos, como no Líbano,<br />
na Faixa <strong>de</strong> Gaza e na Cisjordânia.<br />
Evi<strong>de</strong>ntemente o espaço ficou muito pequeno<br />
para o crescimento populacional ha-<br />
Edda Bergmann *<br />
vido em números reais. E todas estas gerações<br />
foram privadas <strong>de</strong> uma vida normal e<br />
produtiva, ao ponto <strong>de</strong> prover ao próprio<br />
sustento para continuar a receber da UN-<br />
RWA a quota “per capita” por habitante, a<br />
mais <strong>de</strong>nsa população do mundo por metro<br />
quadrado.<br />
O que se podia esperar <strong>de</strong> tudo isso, a<br />
não ser o que realmente aconteceu. Sem<br />
visão do futuro político ou <strong>de</strong> trabalho,<br />
com baixo nível <strong>de</strong> motivação, em conhecimento<br />
da vida em liberda<strong>de</strong> plena, presos<br />
e ligados a famílias numerosíssimas e<br />
sem uma visão <strong>de</strong> mundo ampliada.<br />
O ódio exacerbou-se. Na realida<strong>de</strong> os<br />
campos <strong>de</strong> refugiados sustentados pela<br />
UNRWA e por vias indiretas pelos Estados<br />
Unidos não são o lugar mais agradável ou<br />
saudável para se viver, para se transformar<br />
em cidadãos felizes, realizados e livres. Não<br />
é o clima psicológico i<strong>de</strong>al para <strong>de</strong>senvolver<br />
crianças para se tornarem adultos. É<br />
um clima <strong>de</strong> ódio e mal estar, <strong>de</strong> revolta e<br />
<strong>de</strong> agressão contra o mundo.<br />
Perguntamos nós o por quê <strong>de</strong> tudo<br />
isso? Será só pelo dinheiro “per capita” ou<br />
se recebido da UNRWA e indiretamente da<br />
ONU? Por que não foram absorvidos pelas<br />
populações locais? Por que não se tornaram<br />
cidadãos plenos, <strong>de</strong> plenos direitos e<br />
responsabilida<strong>de</strong>s perante o mundo?<br />
Por que foram conservados como cidadãos<br />
<strong>de</strong> segunda classe por seus próprios<br />
irmãos e hoje constituem uma população<br />
enorme <strong>de</strong> pessoas comprometidas<br />
com um <strong>de</strong>stino sem visão do presente<br />
e do futuro? O que aconteceria se a<br />
UNRWA <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> existir?<br />
Fala-se do Fome Zero, assistencialismo<br />
não, é preciso ensinar a pescar e não dar o<br />
peixe! Hoje, a Jihad Islâmica encontra um<br />
outro meio para conseguir dinheiro para<br />
as famílias: ven<strong>de</strong>-se o filho ou filha como<br />
terrorista suicida e a família recebe a recompensa<br />
em dinheiro líquido em dólares.<br />
Será que uma coisa não é resultado<br />
da outra? A <strong>de</strong>turpação dos valores<br />
sem dúvida o é.<br />
1 – UNRWA – literalmente United Nations Refugees on War Agency, em português Agência das Nações<br />
Unidas para Refugiados <strong>de</strong> Guerra, mas que atualmente é conhecida por Agência da Onu para assistência<br />
e ajuda aos palestinos no Oriente Médio.<br />
Se você não recebeu seu exemplar <strong>de</strong> Visão Judaica, entre em<br />
contato conosco pelo telefone 3018-8018 ou então pelo e-mail<br />
Arte em Tel Aviv Vittorio Corinaldi<br />
Foi inaugurada em Tel Aviv, numa das galerias <strong>de</strong> arte<br />
da cida<strong>de</strong>, uma exposição dos últimos trabalhos do pintor<br />
e escultor Benjamin Buchbin<strong>de</strong>r.<br />
Este fato, além <strong>de</strong> constituir uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />
que Israel continua tendo uma ativa vida cultural também<br />
nestes tempos agitados, merece ser salientado em Visão<br />
Judaica porque o artista – um dos veteranos da Aliá brasileira,<br />
é conhecido pela coletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, on<strong>de</strong> expôs<br />
anos atrás.<br />
Buchbin<strong>de</strong>r é uma figura incomum no quadro dos artistas<br />
israelenses: dono <strong>de</strong> um talento excepcional e <strong>de</strong><br />
uma habilida<strong>de</strong> profissional evi<strong>de</strong>nte, não se preocupou,<br />
nos muitos anos <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>, em “aparecer” e em<br />
figurar nas colunas da crônica ou da crítica: sua produção,<br />
que amonta quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> obras, parece<br />
respon<strong>de</strong>r apenas a seu impulso criativo, obe<strong>de</strong>cendo a<br />
uma disciplina metódica e constante, <strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> qualquer<br />
intenção exibicionística.<br />
Apesar <strong>de</strong>ste contingente <strong>de</strong> anonimato e modéstia,<br />
Buchbin<strong>de</strong>r levou seu trabalho a variados setores, incluindo<br />
além da pintura e escultura, também a cerâmica, com<br />
a qual se distingue por obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, mosaicos e<br />
murais. Nestes ele estabelece uma ligação sensível também<br />
com a arquitetura, pondo em valor focos <strong>de</strong> perspectiva<br />
que esta oferece.<br />
No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua longa ativida<strong>de</strong>, Buchbin<strong>de</strong>r<br />
passou naturalmente por mudanças estilísticas e <strong>de</strong><br />
fontes <strong>de</strong> inspiração. Mas estas nunca se relacionam a<br />
“modas” ou a subscrição automática <strong>de</strong> postulados <strong>de</strong>sta<br />
ou daquela escola, nem partem <strong>de</strong> exercícios filosóficos<br />
<strong>de</strong> duvidoso valor intelectual. Ele se concentra muito mais<br />
na transmissão <strong>de</strong> emoções simples e puras, instigadas<br />
pela observação <strong>de</strong>talhada e minuciosa da natureza, da<br />
anatomia, do movimento <strong>de</strong> corpos humanos e animais.<br />
Seu tratamento gráfico <strong>de</strong>stes temas baseia-se num<br />
experiente domínio do <strong>de</strong>senho ou da prática da escultura,<br />
num conhecimento artesanal que o aproxima dos mestres<br />
clássicos, e num uso equilibrado e <strong>de</strong>licado das cores.<br />
Mas se sua obra não se inclui na corrente do abstracionismo<br />
e mantém constante uma expressão eminentemente<br />
figurativa, nem porisso ela <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser basicamente<br />
mo<strong>de</strong>rna e atual, assimilável ao gosto e aos padrões<br />
contemporâneos.<br />
Buchbin<strong>de</strong>r, que realizou pessoalmente a revolução do<br />
renascimento judaico através do Sionismo e da Aliá, não<br />
traduz esta experiência, nem revela suas raízes judaicas,<br />
na sua expressão artística: não encontraremos nele sinais<br />
<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntificação panfletistica com nosso <strong>de</strong>stino histórico.<br />
Sua inspiração é universal, não “folclórica”; estética<br />
e poética, não militante ou socialmente combativa.<br />
Mas <strong>de</strong>vido à autenticida<strong>de</strong> e à verda<strong>de</strong> intrínseca do<br />
autor, e <strong>de</strong>vido ao caráter essencialmente israelense <strong>de</strong><br />
sua trajetória, seu trabalho se coloca como um marco original<br />
e obrigatório <strong>de</strong> nossa cultura em formação.<br />
E como ju<strong>de</strong>us provenientes do Brasil, é motivo <strong>de</strong><br />
satisfação po<strong>de</strong>rmos registrar uma contribuição <strong>de</strong> fonte<br />
brasileira para essa cultura.<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br * Vittorio Corinaldi é arquiteto e mora em Tel Aviv, Israel.
O LEITOR ESCREVE<br />
“A Benção do porco”<br />
Prezados Senhores:<br />
Não há dúvida que o tema <strong>de</strong> Visão Judaica – Tevet/Shevet <strong>5763</strong> (<strong>de</strong>zembro<br />
2002) chega a nos surpreen<strong>de</strong>r não apenas no que foi abordado,<br />
como é difícil não <strong>de</strong>stacar a clareza na expressão do ponto <strong>de</strong> vista<br />
apresentado pelo Sr. André Segall (por sinal, consi<strong>de</strong>ro-o meu mestre).<br />
Quero acrescentar alguns pontos que me vieram à mente durante a<br />
leitura da crônica. Como o autor, também não tenho preconceito a homossexuais,<br />
tanto é que convivi com alguns assim classificados e assumidos.<br />
Quando se aborda em geral a temática das mitzvót, seu cumprimento<br />
ou não, salta-me a memória, durante a minha juventu<strong>de</strong>, quando me<br />
<strong>de</strong>dicava intensamente ao movimento juvenil da Congregação Israelita<br />
Paulista, a Chazit Noar Brasilait, aproximei-me do rabino mór, prof. dr.<br />
Rabino Fritz Pinkuss e comentei a respeito das mais diversas diferenças<br />
entre a forma <strong>de</strong> “ser ju<strong>de</strong>u”, alguns freqüentando sinagoga apenas nas<br />
gran<strong>de</strong>s festas; cashrut e não cashrut, comendo carne <strong>de</strong> porco ou não<br />
comendo (ah... Benção do porco) e assim por diante.<br />
A resposta que recebi prontamente foi que o importante não é a<br />
forma como se “é ju<strong>de</strong>u”, mas sim o sentimento <strong>de</strong> “ser ju<strong>de</strong>u”, a<br />
consciência <strong>de</strong> ser ju<strong>de</strong>u. Mas temos <strong>de</strong> reconhecer que muitas vezes são<br />
terceiros que nos fazem lembrar <strong>de</strong>sta condição (como ocorreu, por<br />
exemplo, com o nazismo).<br />
Por outro lado, o movimento Chabad, através do Rebe, iniciou<br />
um processo <strong>de</strong> conscientização, procurando levar o ju<strong>de</strong>u a valorizar<br />
e reconhecer a teshuvá, praticar as mitzvót, não importando se atinge<br />
as 613 ou não.<br />
Vemos que há outros movimentos, como os mencionados pelo André:<br />
liberais, reformistas, e outros, que queiram ou não os mais religiosos,<br />
movimentam uma quantida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> pessoas convencidas <strong>de</strong><br />
sua consciência judaica. Tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistir, meses atrás, um<br />
shabat na Congregação Israelita Paulista e confesso, fiquei espantado<br />
com o número <strong>de</strong> presentes, um serviço com coro, microfones... Bem <strong>de</strong><br />
acordo com as palavras do saudoso rabino, fundador daquela congregação.<br />
Os serviços realizados na nossa Sinagoga Frishmann também estão<br />
sendo privilegiados com uma ótima freqüência no shabat.<br />
Acredito, que uma das mitzvót mais importantes, e diria até mais<br />
bonita é conhecer a fundo a Torá, Talmud, Halachá e transmitir seus<br />
ensinamentos a um maior número <strong>de</strong> pessoas, possibilitando-lhes não<br />
apenas o conhecimento, mas também lhes dar a oportunida<strong>de</strong>, através<br />
do livre-arbítrio, <strong>de</strong> segui-las ou não. Para isso, não é necessário ser<br />
rabino <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>. O professor Samy é um perfeito exemplo<br />
disto e duvido que alguém possa questionar seus conhecimentos e a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmiti-los.<br />
Temos muita matéria a ser apresentada e discutida e o homossexualismo<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado, nem precisando ser mencionado.<br />
Tenho opinião formada, que <strong>de</strong> certa forma, sempre foi acatada<br />
durante o período que convivi com a CIP paulista e acredito que ainda<br />
seja. Em qualquer ativida<strong>de</strong> ligada ao movimento juvenil ou assunto<br />
judaico se procurou respeitar as leis da cashrut. Assim, na impossibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ter carne casher a alimentação oferecida não levava carne.<br />
Carne <strong>de</strong> origem suína, nem pensar. E quando havia carne (o que era<br />
raro), evitava-se misturar com laticínios. Se os participantes seguiam ou<br />
não a cashrut, era isso que prevalecia.<br />
Penso que os rabinos ou aqueles que se propõem a ser lí<strong>de</strong>res da<br />
nossa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser exemplos em ativida<strong>de</strong>s publicas.<br />
O André citou que o mesmo po<strong>de</strong>ria ser até rabino <strong>de</strong> outro segmento,<br />
mas creio que dificilmente alguma comunida<strong>de</strong> não-ortodoxa aceitaria<br />
como rabino este citado no artigo do André, sabendo <strong>de</strong> sua homossexualida<strong>de</strong><br />
assumida.<br />
Por isso quero repudiar a posição <strong>de</strong>sse rabino durante o <strong>de</strong>bate,<br />
que na minha opinião, <strong>de</strong>veria permanecer na sua condição não oficial,<br />
cabendo ao mesmo e à sua comunida<strong>de</strong> o mais discretamente possível<br />
resolver ou conviver com seu homossexualismo e não tentar ser uma<br />
continuida<strong>de</strong> do movimento mundial <strong>de</strong> reconhecimento gay, lutando<br />
pelos seus direitos civis e outras coisas afins. Acho que o rabino Steve<br />
G., pela postura apresentada, <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>spir-se <strong>de</strong> seu titulo <strong>de</strong> rabino<br />
ju<strong>de</strong>u. E se assim julgar correto, participar do movimento pelos gays sem<br />
envolver judaísmo no assunto.<br />
Leopoldo Ehrlich, Curitiba<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Conteúdo admirável<br />
Senhor Editor:<br />
É muito bom ver que Visão Judaica prossegue<br />
apresentando admirável conteúdo editorial em<br />
um projeto gráfico elogiável. Que conta<br />
com excelentes colaboradores, e que ainda vem<br />
ganhando novas páginas. Parabéns.<br />
Jubal Sérgio Dohms<br />
Diretor da Dohms Comunicação e webmaster do<br />
site do Instituto Ciência e Fé<br />
Cumprimentos para Coelho<br />
Caros amigos,<br />
Ao parabenizar esta competente equipe jornalística,<br />
<strong>de</strong>vo registrar meu especial cumprimento<br />
ao Coelho, amigo fiel e sensível às ações justas<br />
e honestas. Antônio Carlos Coelho foi <strong>de</strong> extrema<br />
felicida<strong>de</strong> e muito oportuno em seu artigo<br />
“No Dia da Paz Vereador per<strong>de</strong>u o Espírito da<br />
Cida<strong>de</strong>”.<br />
A essência estrutural do seu texto lembra-me<br />
Descartes: “Para alcançar a verda<strong>de</strong> é preciso,<br />
uma vez na vida, <strong>de</strong>sfazermo-nos <strong>de</strong> todas as<br />
opiniões que recebemos e reconstruir <strong>de</strong> novo e<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os fundamentos, todos os sistemas dos<br />
nossos conhecimentos”.<br />
É lamentável que o vereador em questão não<br />
leia Descartes.Parabéns ao Visão Judaica, parabéns<br />
meu amigo Coelho.<br />
Arquiteto Marco Alzamora, Curitiba<br />
Descobrindo o nome<br />
Senhores Redatores:<br />
Na edição nº 10, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2002, há<br />
uma foto, <strong>de</strong> 29/5/1957, <strong>de</strong> um trator <strong>de</strong>struído<br />
por uma mina. Gostaria <strong>de</strong> saber o nome do<br />
motorista morto, pois meu primo, Menachem<br />
Horpaczky, foi morto nesta época e nestas circunstâncias.<br />
Tommy Abraham Horpaczky – Curitiba<br />
NR: Na publicação original em inglês,<br />
“Wich came first: Terrorism or 'Occupation'?”,<br />
que utilizamos para a matéria<br />
publicada na edição <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> Visão<br />
Judaica, nada consta a respeito do nome do<br />
tratorista morto naquele atentado. Traduzimos<br />
fielmente o texto e as legendas. Nossa<br />
sugestão é que escreva diretamente e<br />
indague a respeito ao Israel Information<br />
Center, organismo que publicou o livreto.<br />
Acreditamos que tenha condições <strong>de</strong><br />
informar sobre a questão.<br />
Feliz Surpresa<br />
Prezado Senhores<br />
Solicito informações sobre como proce<strong>de</strong>r a<br />
assinatura do Jornal Visão Judaica. Tive a feliz<br />
surpresa <strong>de</strong> receber o periódico durante o ano <strong>de</strong><br />
2002 e, pelo respeito e consi<strong>de</strong>ração que sinto<br />
com relação à cultura e às tradições judaicas,<br />
gostaria <strong>de</strong> continuar em contato com esta formidável<br />
publicação. Aguardo o contato.<br />
Monica Letícia Hoffmann, Curitiba<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
NR: Estivemos em férias em janeiro e<br />
fevereiro e o jornal retornou em março<br />
último. Por enquanto o jornal Visão Judaica<br />
é distribuído gratuitamente e já confirmamos<br />
seu nome na lista <strong>de</strong> pessoas que recebem<br />
mensalmente seus exemplares <strong>de</strong> VJ.<br />
Conteúdo excepcional<br />
Amigos:<br />
Parabéns e cumprimentos pelo jornal Visão<br />
Judaica. A edição nº 11 foi uma das melhores<br />
que eu já li. O conteúdo está excepcional.<br />
Pólos diferentes<br />
Prezados Senhores:<br />
Henrique Lerner - Curitiba<br />
Tenho recebido o jornal Visão Judaica e gostaria<br />
<strong>de</strong> ressaltar que o quadro colaboradores é excelente,<br />
os artigos têm consistência e sabedoria.<br />
Estou convicto que mais alguns meses será necessário<br />
aumentar o número <strong>de</strong> páginas <strong>de</strong>ste jornal.<br />
Meus amigos ju<strong>de</strong>us, sempre distintos, inteligentes<br />
e nobres <strong>de</strong> espírito, assim como os amigos<br />
<strong>de</strong> sangue árabe, igualmente corretos, bons<br />
e inteligentes, tive a sorte <strong>de</strong> os escolher.<br />
Um curioso fato que presenciei em Curitiba <strong>de</strong>sejo<br />
transmitir. Dos Estados Unidos veio uma senhora<br />
casada com um libanês, casal com vários<br />
anos <strong>de</strong> casamento, filhos já adultos e o que<br />
mais nos chamava a atenção eram os “pólos diferentes”,<br />
mas convivendo em perfeita harmonia.<br />
Seu primeiro pedido a mim quando <strong>de</strong> sua<br />
chegada a Curitiba foi visitar a Sinagoga da Rua<br />
Saldanha Marinho e a Escola Israelita da Rua<br />
Nilo Peçanha. Falava o inglês e o iídiche. Sua<br />
primeira pergunta foi por que as crianças não<br />
falavam o iídiche e só os mais idosos? Em seguida<br />
veio a clássica indagação: Os ju<strong>de</strong>us no Brasil<br />
são perseguidos? A resposta foi um solene não.<br />
Estavam eles felizes no Brasil.<br />
Sugiro um espaço para pessoas responsáveis<br />
do mundo árabe <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong>, para lermos<br />
nestas páginas seus sentimentos, suas críticas,<br />
<strong>de</strong>screvendo e salientando a amiza<strong>de</strong> fraternal<br />
existente entre nós.<br />
Francisco <strong>de</strong> Asevedo, Curitiba<br />
NR: Agra<strong>de</strong>cemos os elogios ao jornal e à<br />
equipe. E também o relato que da experiência<br />
que presenciou com o casal que visitou<br />
Curitiba. Quanto à sugestão, lembramos que<br />
o jornal é aberto a opiniões responsáveis, <strong>de</strong><br />
ju<strong>de</strong>us e não-ju<strong>de</strong>us, ainda que como o<br />
próprio título do jornal expressa,<br />
tratamos <strong>de</strong> difundir a visão judaica a<br />
respeito da vida e do mundo. A<br />
propósito, o jornal tem aberto suas<br />
páginas para textos <strong>de</strong> pessoas com<br />
ascendência árabe. Recentemente<br />
publicamos artigos <strong>de</strong> Joseph Farah e<br />
Khaled Abu Toameh, jornalistas<br />
conhecidos internacionalmente. Nesta<br />
edição publicamos artigo <strong>de</strong> Ali Kamel,<br />
diretor executivo da central <strong>de</strong> Jornalismo<br />
da TV Globo.<br />
Obs:<br />
A redação <strong>de</strong><br />
Visão Judaica, por<br />
questão <strong>de</strong><br />
espaço, po<strong>de</strong>rá<br />
resumir ou<br />
suprimir partes<br />
das cartas<br />
recebidas.<br />
7<br />
Para escrever ao jornal Visão Judaica basta<br />
passar um fax pelo telefone 3018-8018 ou um<br />
e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br
foto: arquivo<br />
8<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
Iom Hashoá<br />
Iom HaShoá ou Dia da<br />
Memória ao Heroísmo e<br />
ao Holocausto, é uma<br />
adição relativamente recente<br />
no Calendário Judaico.<br />
Suas formas <strong>de</strong> observância ainda<br />
estão evoluindo <strong>de</strong> várias maneiras<br />
distintas e pouca padronização<br />
sobre a melhor maneira <strong>de</strong> marcar<br />
esta data. Em Israel, Iom HaShoá é<br />
um feriado oficial.<br />
Na Diáspora, cada<br />
vez mais ju<strong>de</strong>us passam<br />
a observar este<br />
dia, como forma <strong>de</strong><br />
aprofundar seus conhecimentos<br />
e sua<br />
conexão com esta<br />
tragédia.<br />
Em Israel Iom<br />
HaShoá começa no<br />
fim da tar<strong>de</strong>, conforme<br />
o Calendário Judaico.<br />
Por toda Israel,<br />
todos os lugares<br />
<strong>de</strong> entretenimento e diversão permanecem<br />
fechados, exceto os que<br />
promovem ativida<strong>de</strong>s especiais relacionadas<br />
ao Holocausto. No fim da<br />
tar<strong>de</strong>, sirenes são soadas por todo o<br />
país, e todos param por dois minutos<br />
<strong>de</strong> silêncio para reflexão.<br />
O Yad Vashem, o Museu e a organização<br />
nacional para pesquisa<br />
e educação sobre o Holocausto<br />
promove diversos programas a cada<br />
ano. Geralmente, as escolas oferecem<br />
ativida<strong>de</strong>s especiais para seus<br />
alunos, sempre sobre temas relativos<br />
ao Holocausto.<br />
As cerimônias usualmente incluem<br />
atos <strong>de</strong> acendimento <strong>de</strong> velas<br />
em memória aos mortos, e palestras<br />
com sobreviventes. Algumas vezes,<br />
rezas também são recitadas em memória<br />
aos falecidos, além <strong>de</strong> poemas,<br />
textos e outras obras <strong>de</strong> vítimas do<br />
Holocausto são expostas. Freqüentemente<br />
os nomes <strong>de</strong> vítimas são lidos<br />
em voz alta, além <strong>de</strong> informações<br />
sobre as várias comunida<strong>de</strong>s judaicas<br />
<strong>de</strong>struídas durante o Holocausto.<br />
O Yad Vashem possui projetos internacionais<br />
para cadastrar e homenagear<br />
todas as vítimas do Holocausto.<br />
Na Diáspora<br />
Fora <strong>de</strong> Israel, o Holocausto se<br />
tornou mais divulgado e conhecido<br />
tanto para ju<strong>de</strong>us quanto não-ju<strong>de</strong>us,<br />
através da publicação <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong><br />
livros, museus e memoriais, e também<br />
através <strong>de</strong> filmes e séries <strong>de</strong> televisão.<br />
Com a ênfase da importância<br />
da lembrança da tragédia, cada<br />
vez mais pessoas aproveitam esta<br />
data como momento <strong>de</strong> reflexão e<br />
aprendizado sobre o Holocausto.<br />
Muitas comunida<strong>de</strong>s judaicas organizam<br />
suas próprias cerimônias. Em São<br />
Paulo a Associação dos Participantes<br />
da Marcha da Vida promove um significativo<br />
evento. Em Curitiba, houve<br />
cerimônia especial na sinagoga.<br />
Para aqueles que não têm a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> participar <strong>de</strong> alguma cerimônia<br />
comunitária, Iom HaShoá<br />
po<strong>de</strong> ser uma data para introspecção<br />
pessoal, para o acendimento <strong>de</strong> velas,<br />
para rezas memoriais, e para<br />
apren<strong>de</strong>r a história do Holocausto.<br />
Além <strong>de</strong> apenas lembrar as vítimas<br />
do Holocausto, po<strong>de</strong>mos também<br />
pensar em como fortalecer a vida e a<br />
comunida<strong>de</strong> judaica. O objetivo <strong>de</strong><br />
Hitler foi o <strong>de</strong> eliminar a vida judaica<br />
do planeta, e não <strong>de</strong>vemos darlhe<br />
uma vitória póstuma.<br />
O Arco <strong>de</strong> Tito, em Roma, comemora<br />
<strong>de</strong>struição da nação judaica e<br />
sua conquista pelos romanos. Hoje,<br />
os antigos romanos <strong>de</strong>sapareceram da<br />
face da Terra. Devemos lutar para que<br />
quando os sobreviventes do Holocausto<br />
não estiverem<br />
mais entre nós para lembrar-nos<br />
do que passaram,<br />
o povo ju<strong>de</strong>u continue<br />
a lembrá-los com dignida<strong>de</strong><br />
e continue fazendo<br />
seu papel na história.<br />
Uma das imagens<br />
mais conhecidas do<br />
período do<br />
Holocausto, quando<br />
os ju<strong>de</strong>us presos e<br />
<strong>de</strong>portadores para os<br />
campos <strong>de</strong> morte na<br />
Europa<br />
Adiado novamente julgamento do anti-semita Castan<br />
O julgamento do chamado ‘Caso Castan’, pelo Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />
– STF foi mais uma vez adiado em função do pedido <strong>de</strong> vistas ao processo<br />
formulado pelo ministro Gilmar Men<strong>de</strong>s no dia 9/4. Os juízes Maurício Correia<br />
(que foi eleito presi<strong>de</strong>nte do Tribunal e assume o posto em maio) e<br />
Celso <strong>de</strong> Mello, votaram pela con<strong>de</strong>nação do réu, Siegfried Ellwanger Castan,<br />
conhecido como S. E. Castan, que até agora tem só um voto favorável,<br />
o do ministro-relator do processo Moreira Alves, o qual consi<strong>de</strong>rou não ser<br />
o anti-semitismo uma forma <strong>de</strong> racismo. Alves, o último juiz nomeado pela<br />
ditadura militar que vigorou no Brasil até meados dos anos 80, aposentouse<br />
e participou dia 15/4 <strong>de</strong> sua última sessão naquela alta corte <strong>de</strong> Justiça.<br />
Ellwanger vinha através <strong>de</strong> sua empresa — uma editora e livraria em<br />
Porto Alegre (RS) —, publicando livros com mensagens anti-semitas <strong>de</strong><br />
incitação ao sentimento <strong>de</strong> ódio, <strong>de</strong>sprezo e preconceito contra os ju<strong>de</strong>us,<br />
num estilo abertamente nazista.<br />
O Ministério Público do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong>nunciou Ellwanger por incitação<br />
ao racismo, num processo que resultou na sua con<strong>de</strong>nação pelo<br />
Tribunal <strong>de</strong> Justiça do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul a dois anos <strong>de</strong> prisão e o confisco<br />
<strong>de</strong> todos os exemplares dos sete livros mencionados no processo.<br />
A pena alternativa foi <strong>de</strong> quatro anos, com prestação <strong>de</strong> serviços a<br />
comunida<strong>de</strong> no primeiro ano e comparecimento trimestral ao juízo <strong>de</strong> execução<br />
no período subseqüente para informar e justificar suas ativida<strong>de</strong>s. A<br />
con<strong>de</strong>nação imposta pelo tribunal gaúcho foi confirmada pelo Superior Tribunal<br />
<strong>de</strong> Justiça e pelo STF, tendo transitado em julgado.<br />
Após a con<strong>de</strong>nação, o advogado do Ellwanger, Werner Becker, impetrou<br />
habeas corpus no Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça (STJ), sustentando que o<br />
anti-semitismo não é racismo e que os ju<strong>de</strong>us não constituem raça, e assim<br />
sendo, o crime seria prescritível. O STJ negou o pedido do impetrante. Em<br />
razão disto, o habeas corpus foi impetrado ao STF, citando uma <strong>de</strong>claração<br />
da Unesco sobre as diferenças raciais: “os muçulmanos, os ju<strong>de</strong>us não formam<br />
uma raça, assim como os católicos ou os protestantes...”. O impetrante<br />
alegou que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u como “raça” encontra sempre veemente<br />
repúdio <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> judaica, tanto pelos antropólogos ju<strong>de</strong>us,<br />
como pelos rabinos e pela sua intelectualida<strong>de</strong>.<br />
A “tese” do advogado Becker foi aceita pelo ministro-relator, Moreira<br />
Alves, do STF, mas o julgamento do habeas corpus foi suspenso em Plenário,<br />
em <strong>de</strong>zembro do ano passado, por um pedido <strong>de</strong> vista do ministro<br />
Maurício Corrêa, que divergiu do voto do relator, ministro Moreira Alves. No<br />
seu voto, Moreira Alves chegou à conclusão <strong>de</strong> que os ju<strong>de</strong>us não podiam<br />
ser consi<strong>de</strong>rados uma raça e <strong>de</strong>clarou extinta a punibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ellwanger,<br />
pois já teria ocorrido a prescrição do crime, que ainda segundo o ministro<br />
não podia ser qualificado como <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> racismo. Essa posição <strong>de</strong> Moreira<br />
Alves <strong>de</strong>ixou entre apreensiva e revoltada as comunida<strong>de</strong>s judaicas no Brasil,<br />
tendo este fato repercutido com intensida<strong>de</strong> no Exterior. Naquela ocasião,<br />
o ministro Maurício Corrêa, ao pedir vista dos autos, praticamente<br />
adiantou seu voto, dando a enten<strong>de</strong>r que o conceito <strong>de</strong> racismo <strong>de</strong>via ser<br />
mais abrangente, envolvendo preconceitos contra minorias, sejam eles por<br />
questão <strong>de</strong> cor <strong>de</strong> pele, etnia ou religião.<br />
Sharon prevê criação do Estado palestino<br />
Em entrevista ao jornal israelense “Ha’Aretz”, o primeiro-ministro israelense<br />
Ariel Sharon afirmou que a guerra dos Estados Unidos e o Reino Unido contra o<br />
Iraque “sacudiu” o mundo árabe e “existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar a paz<br />
(com os palestinos), antes do que as pessoas imaginam”.<br />
“Esta é uma oportunida<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r”, disse o chefe <strong>de</strong> governo,<br />
que repetiu sua disposição <strong>de</strong> fazer concessões, sem entrar em <strong>de</strong>talhes,<br />
insinuando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evacuar assentamentos ju<strong>de</strong>us no futuro próximo<br />
para obter a paz.<br />
Perguntado se aceitará a existência <strong>de</strong> “dois Estados para os dois povos”,<br />
Sharon respon<strong>de</strong>u: “Isto é o que terminará acontecendo. Haverá um Estado<br />
Palestino. Temos que ser realistas... Não creio que <strong>de</strong>vamos reger a vida <strong>de</strong><br />
outro povo”.<br />
Prosseguindo em suas <strong>de</strong>clarações ao jornal disse que está disposto a um<br />
“acordo permanente” <strong>de</strong> paz e não só a um “acordo interino <strong>de</strong> longo alcance”<br />
com os palestinos.<br />
Sharon quer negociar esse acordo com o governo palestino que está sendo<br />
formado por Mahmud Abás (Abu Mazen), o primeiro-ministro <strong>de</strong>signado pelo<br />
presi<strong>de</strong>nte da Autorida<strong>de</strong> Nacional Palestina, Yasser Arafat: “Já tenho 75 anos<br />
e não abrigo ambições políticas além <strong>de</strong> on<strong>de</strong> estou”. Sinto que minha meta é<br />
trazer paz e segurança a esta nação, e faço tremendos esforços; creio que é o<br />
que <strong>de</strong>vo <strong>de</strong>ixar atrás <strong>de</strong> mim, tratar <strong>de</strong> chegar a um acordo”, disse.
dia quatro <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong><br />
(neste ano cai no dia<br />
seis <strong>de</strong> maio), véspera<br />
do Dia da In<strong>de</strong>pendência,<br />
foi <strong>de</strong>finido em<br />
Israel, há 54 anos atrás,<br />
como o Dia <strong>de</strong> Recordação aos mortos<br />
nas batalhas para o estabelecimento<br />
do Estado <strong>de</strong> Israel em sua<br />
terra, e aos que caíram por sua pátria,<br />
na Guerra da In<strong>de</strong>pendência e<br />
também nas que a seguiram.<br />
De acordo com a lei, na noite do<br />
dia quatro <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> todos os locais <strong>de</strong><br />
entretenimento do país ficam fechados.<br />
As ban<strong>de</strong>iras são baixadas em<br />
todos os lugares públicos a meio<br />
mastro, velas <strong>de</strong> recordação são acesas<br />
em todos os edifícios públicos e<br />
nas sinagogas, as pessoas se reúnem<br />
nos cemitérios militares, e são realizados<br />
atos públicos <strong>de</strong> recordação.<br />
Des<strong>de</strong> 1965, o ato <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong>ste<br />
dia se realiza no Muro das Lamentações.<br />
Na oração <strong>de</strong> Shacharit, muitas<br />
sinagogas agregam uma oração especial<br />
por esta Recordação.<br />
Antes do meio-dia, se escuta em<br />
todo país o soar das sirenes por dois<br />
minutos, e todos os habitantes <strong>de</strong> Israel<br />
param suas ativida<strong>de</strong>s e permanecem<br />
em pé, em silêncio.<br />
Ao término <strong>de</strong> Iom Hazikaron,<br />
iniciam-se as comemorações <strong>de</strong><br />
Iom Haatzmaut.<br />
A data é <strong>de</strong> recordação por todos<br />
os que morreram em todas as guerras<br />
que Israel teve que suportar com seus<br />
vizinhos árabes. Sempre em minoria,<br />
enfrentando exércitos gran<strong>de</strong>s e numerosos,<br />
Israel lutou a Guerra da In<strong>de</strong>pendência<br />
(1948), a do Sinai<br />
(1956), a dos Seis Dias (1967), a <strong>de</strong><br />
Iom Kipur (1973), a Operação Paz na<br />
Galiléia (1982), a Intifada (1987), a<br />
Guerra do Golfo (1991) e Intifada <strong>de</strong><br />
Al Aksa (2000-2002).<br />
Palavras <strong>de</strong> Recordação<br />
Palavras do primeiro-ministro <strong>de</strong><br />
Israel, Ariel Sharon, no Ato do Dia<br />
<strong>de</strong> Recordação pelos Mortos nas Batalhas<br />
<strong>de</strong> Israel, no cemitério do<br />
Monte Herzl, em 2002.<br />
Excelentíssimos Senhor Presi<strong>de</strong>nte<br />
do Estado <strong>de</strong> Israel Famílias enlutadas<br />
Público em geral<br />
Em meu caminho para cá passei<br />
pelos meus companheiros que aqui<br />
jazem e membros do moshav em que<br />
nasci, estu<strong>de</strong>i e cresci. Não há aqui<br />
nesta colina uma quadra <strong>de</strong> sepulturas<br />
sequer em que eu não tenha conhecidos,<br />
companheiros, comandantes<br />
e comandados. Aqui com eles,<br />
nesta colina, jazem as memórias da<br />
minha infância, da juventu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> todas<br />
as batalhas <strong>de</strong> Israel em que participei,<br />
a alegria das vitórias e a dor<br />
da <strong>de</strong>rrota e o sofrimento profundo<br />
que sempre volta e me golpeia pela<br />
morte <strong>de</strong> companheiros, pelos talentos<br />
e sonhos que <strong>de</strong>sapareceram.<br />
Este monte elevado, que observa<br />
a nossa capital eterna, Jerusalém, encobre<br />
em seu solo os nossos heróis.<br />
Aqui e em todos os cemitérios militares<br />
através do país, e também nas<br />
profun<strong>de</strong>zas do mar, nos lugares conhecidos<br />
e naqueles que <strong>de</strong>sconhecemos,<br />
é o seu último <strong>de</strong>scanso.<br />
Hoje toda a nação se une, uma<br />
gran<strong>de</strong> família enlutada, com a memória<br />
<strong>de</strong> seus filhos e filhas que tombaram<br />
nas campanhas <strong>de</strong> Israel. Neste<br />
entar<strong>de</strong>cer novamente a nossa ban<strong>de</strong>ira<br />
estará totalmente hasteada no<br />
mastro e o milagre <strong>de</strong> nossa in<strong>de</strong>pendência<br />
será celebrado. Mas saberemos<br />
e lembraremos o preço, e reconheceremos<br />
a liberda<strong>de</strong> que foi<br />
adquirida à custa do sangue dos que<br />
tombaram, do gran<strong>de</strong> sofrimento da<br />
família enlutada, e da dor dos feridos<br />
e dos inválidos que levam em seu<br />
corpo as cicatrizes da guerra.<br />
A pára-quedista Hana Senesz, que<br />
saltou ao âmago do inferno nazista<br />
na Europa ocupada a fim <strong>de</strong> salvar<br />
irmãos do incêndio, escreveu com tal<br />
simplicida<strong>de</strong> poética:<br />
“Uma voz chamou, e eu fui, fui porque<br />
a voz chamou, fui para não cair.”<br />
Esta voz interior límpida e pura é<br />
o comando do coração. A or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
missão pelo renascimento do povo.<br />
Or<strong>de</strong>m para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o lar, para estabelecer<br />
um muro <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contra<br />
o inimigo e o perseguidor é um comando<br />
do coração que move combatentes<br />
a se voluntariar, a servir, a investir<br />
através do fogo, a arriscar a<br />
vida a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> guardar o<br />
Estado <strong>de</strong> Israel.<br />
Este comando, que é base <strong>de</strong> nossa<br />
vida nacional, não <strong>de</strong>ve ser contestado.<br />
Sem ele não teríamos o renascimento<br />
e existência ante aqueles<br />
que se erguem contra nós. Ele é a<br />
vela <strong>de</strong> recordação do heroísmo <strong>de</strong><br />
Israel, que suporta toda tempesta<strong>de</strong><br />
externa e todo espírito errante interior,<br />
e que jamais se apagará.<br />
Nos últimos meses encontrei novamente<br />
pessoas assim, pessoas<br />
como nós, pessoas comuns que aten<strong>de</strong>m<br />
ao comando do coração: Um soldado<br />
reservista que foi ferido em Jenin<br />
e que me disse: “Devo me recuperar<br />
e voltar”, o cidadão <strong>de</strong> Efrat<br />
que com seu corpo brecou um terrorista<br />
suicida e com isto salvou vidas,<br />
a policial <strong>de</strong> Kfar Saba que sai toda<br />
noite para patrulhar as ruas da cida<strong>de</strong><br />
para que nossas crianças possam<br />
dormir em segurança.<br />
Pessoas comuns que <strong>de</strong>ixaram as<br />
suas casas, seu trabalho, seus filhos.<br />
Pessoas comuns que conduzem a batalha<br />
da <strong>de</strong>fesa do lar na luta contra<br />
o terror, alertas também agora, que<br />
estão em seus postos, pessoas comuns,<br />
comandantes e soldados do<br />
Exército <strong>de</strong> Defesa <strong>de</strong> Israel da ativa<br />
e reservistas, soldados da Polícia <strong>de</strong><br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
Iom Hazikaron - o Dia da Recordação<br />
Israel e da Polícia <strong>de</strong> Fronteiras, pessoas<br />
dos serviços <strong>de</strong> segurança e do<br />
Mossad, pára-médicos do Maguen<br />
David Adom, os médicos e enfermeiros<br />
dos hospitais, os bombeiros,<br />
os voluntários da Guarda Civil, todos<br />
se voluntariam.<br />
Pessoas comuns, do campo e<br />
da cida<strong>de</strong>, que usam kipá, provenientes<br />
do kibutz, ju<strong>de</strong>us,<br />
drusos, beduínos, circassianos,<br />
novos imigrantes e nativos,<br />
pessoas comuns<br />
que são a<br />
prova tão vigorosa<br />
e tocante<br />
para quem esqueceu<br />
quão<br />
forte é este<br />
povo, quanto<br />
somos firmes.<br />
Pessoas comuns,<br />
mas tão<br />
especiais.<br />
Hoje, junto com os senhores, silenciaremos<br />
o atropelo da rotina ante<br />
o peso da memória e ouviremos e estaremos<br />
atentos ao silêncio. E seja a<br />
lembrança <strong>de</strong> nossos companheiros<br />
caídos pura e isenta <strong>de</strong> qualquer disputa<br />
e divergência, sublime e sagrada<br />
como o mérito <strong>de</strong> seu sacrifício.<br />
Unamo-nos, lembremos e prometamos<br />
cuidar <strong>de</strong> um Estado <strong>de</strong> Israel bom,<br />
coeso, forte e justo, e comprometamo-nos<br />
a fazer tudo a fim <strong>de</strong> eliminar<br />
a guerra <strong>de</strong> nossa terra e instalar<br />
nela a segurança e a paz.<br />
Que a memória dos mortos nas<br />
lutas <strong>de</strong> Israel seja inscrita em nosso<br />
coração para sempre. Sejam a<br />
sua lembrança e o seu sacrifício um<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> coragem, <strong>de</strong> fé na eternida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Israel.<br />
9
10<br />
Do livro<br />
Minha Vida,<br />
<strong>de</strong> Golda Meir,<br />
Edição brasileira<br />
<strong>de</strong> Bloch<br />
Editores.<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
primeira vez que encontrei<br />
Abdullah fol no início <strong>de</strong><br />
novembro <strong>de</strong> 1947. Ele concordara<br />
em se encontrar comigo<br />
— na minha qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> chefe do Departamento Político<br />
da Agência Judaica — numa casa<br />
em Naharayim (às margens do Jordão),<br />
on<strong>de</strong> a Palestine Electric Corporation<br />
tinha uma usina hidrelétrica. Fui com<br />
um dos nossos peritos em assuntos árabes<br />
— Eliahu Sasson. Bebemos as costumeiras<br />
xícaras cerimoniais <strong>de</strong> café e<br />
<strong>de</strong>pois começamos a falar. Abdullah era<br />
um homem <strong>de</strong> baixa estatura, belo porte<br />
e gran<strong>de</strong> encanto. Não tardou a ir<br />
direto ao assunto: ele não se associaria<br />
a qualquer ataque árabe contra nós.<br />
Disse que permaneceria sempre nosso<br />
amigo e que, como nós, queria paz acima<br />
<strong>de</strong> tudo. Afinal <strong>de</strong> contas, tínhamos<br />
um inimigo comum, o mufti <strong>de</strong> Jerusalém,<br />
Haj Amin eI-Husseini. E não<br />
só isso, sugeriu ainda que voltássemos<br />
a nos encontrar, após a votacão nas Nações<br />
Unidas.<br />
Outro <strong>de</strong> nossos especialistas em<br />
assuntos árabes, Ezra Danin, que antes<br />
já se encontrara freqüentemente com<br />
Abdullah, ínstruiu-me sobre a concepção<br />
geral do rei a respeito do papel<br />
dos ju<strong>de</strong>us. Era a <strong>de</strong> que a Providêncía<br />
os havia dispersado pelo<br />
mundo oci<strong>de</strong>ntal para que pu<strong>de</strong>ssem<br />
absorver a cultura européia e<br />
trazê-la <strong>de</strong> volta consigo ao Oriente<br />
Médio, assim revigorando a<br />
área. Quanto a se po<strong>de</strong>r confiar nele,<br />
Danin tinha dúvidas. De qualquer maneira,<br />
dísse, Abdullah era certamente<br />
sincero em suas expressões <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>,<br />
embora não se sentisse, <strong>de</strong> modo algum,<br />
obrigado em relação às mesmas.<br />
Por todos os meses <strong>de</strong> janeiro e fevereiro<br />
mantivernos contato com Abdullah,<br />
em geral através dos bons ofícios<br />
<strong>de</strong> um amigo mútuo, pelo qual eu<br />
podia enviar mensagens diretas ao rei.<br />
À medida que se passavam as semanas,<br />
O dia em que Israel nasceu<br />
tomavam-se minhas mensagens mais<br />
preocupadas. O ar estava pesado com<br />
suposições, e havia rumores <strong>de</strong> que, não<br />
obstante a promessa que me fizera, Abdullah<br />
estava prestes a se juntar à Liga Árabe.<br />
“Era isto mesmo?” Perguntei. A resposta<br />
<strong>de</strong> Amman foi pronta e negativa.<br />
O Rei Abdullah estava estarrecido<br />
e sentido com minha pergunta. Pediume<br />
que lembrasse três coisas: que ele<br />
era um beduíno e, portanto, um homem<br />
honrado; que era um rei e, portanto,<br />
duplamente honrado; e, finalmente,<br />
que jamais quebraria uma promessa<br />
feita a uma muIher. Desse modo<br />
não havia justificativa alguma para<br />
minha preocupação.<br />
Sabíamos, porém que não era bem<br />
assim. Na primeira semana <strong>de</strong> maio não<br />
havia mais dúvidas <strong>de</strong> que Abdullah,<br />
não obstante todas as garantias, se<br />
unira à Liga Árabe. Debatemos os prós<br />
e contras <strong>de</strong> solicitar outro encontro<br />
antes que fosse tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. Talvez<br />
pu<strong>de</strong>sse ser persuadido a mudar <strong>de</strong> idéia<br />
no último instante. Se não, talvez pudéssemos,<br />
pelo menos, saber <strong>de</strong>le quão<br />
profundamente estavam ele próprio e<br />
sua Legião Árabe, treinada e comandada<br />
por britânicos, comprometidos com<br />
a guerra contra nós. Muita coisa estava<br />
na balança: não só era a Legião, sem<br />
termos <strong>de</strong> comparação, o melhor exército<br />
árabe da área, mas também havia<br />
outra consi<strong>de</strong>ração vital. Se, por algum<br />
milagre, a Transjordânia ficasse fora da<br />
guerra, seria multo mais difícil ao exército<br />
iraquiano entrar na Palestina e juntar-se<br />
ao ataque contra nós. Ben-Gurion<br />
foi <strong>de</strong> opinião que nada tínhamos a<br />
per<strong>de</strong>r tentando <strong>de</strong> novo, e então solicitei<br />
um segundo encontro, e pedi a Ezra<br />
Danin que me acompanhasse.<br />
Foi uma longa, longa série <strong>de</strong> viagens<br />
<strong>de</strong> carro pela noite a<strong>de</strong>ntro. Primeiro<br />
em um, <strong>de</strong>pois saindo <strong>de</strong>sse para<br />
outro, por alguns quilômetros mais, e<br />
por fim, em Naharayim, num terceiro.<br />
O tempo todo não nos falamos. Eu con-<br />
Depois <strong>de</strong> sua experiência diplomática, Golda retornou a Israel, assumindo a<br />
pasta do Trabalho<br />
fiava plenamente na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ezra<br />
<strong>de</strong> nos fazer passar em seguranca pelas<br />
linhas inimigas, e estava preocupada<br />
<strong>de</strong>mais com o resultado <strong>de</strong> nossa<br />
rnissão para pensar no que aconteceria<br />
se, D-us nos livre, nos pegassem.<br />
Por sorte, embora tivéssemos <strong>de</strong> nos<br />
i<strong>de</strong>ntificar diversas vezes, chegamos ao<br />
lugar <strong>de</strong> encontro na hora, e não <strong>de</strong>scobertos.<br />
O homem que nos conduziria a<br />
Abdullah era um dos seus mais leais colaboradores,<br />
um beduíno que o reí havia<br />
adotado e criado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, e que<br />
estava habituado a executar incumbências<br />
perigosas para seu soberano.<br />
Em seu carro, suas janelas cobertas<br />
por um grosso tecido negro, levounos<br />
à sua casa. Enquanto aguardávamos<br />
que Abdullah aparecesse, conversei<br />
com a inteligente e atraente esposa<br />
do nosso guia, que vinha <strong>de</strong> uma<br />
abastada família turca e queixou a mim,<br />
amargamente, da terrível monotonia <strong>de</strong><br />
sua vida na Transjordânia. Lembro-me<br />
que me ocorreu que a essa altura um<br />
pouco <strong>de</strong> monotonia até que me faria<br />
bem, mas apenas balancei a cabeça<br />
compreensivamente.<br />
E então Abdullah entrou. Estava<br />
muito pálido e parecía sob gran<strong>de</strong> tensão.<br />
Ezra serviu <strong>de</strong> intérprete e falamos<br />
durante aproximadamente uma<br />
hora. Iniciei a conversação abordando<br />
logo o assunto. “Apesar <strong>de</strong> tudo, quebrou<br />
a promessa que me fez?” perguntei-lhe.<br />
Não respon<strong>de</strong>u diretamente à<br />
minha pergunta. Em vez disso falou:<br />
“Quando fiz aquela promessa, pensei<br />
estar controlando meu próprio <strong>de</strong>stino<br />
e po<strong>de</strong>r fazer o que achava certo. De<br />
então para cá, porém, aprendi que a<br />
coisa era outra.” Prosseguiu dizendo<br />
que antes estivera só, mas agora “sou<br />
um <strong>de</strong>ntre cinco”, os outros quatro,<br />
presumimos, sendo Egito, Síria, Líbano<br />
e Iraque. Não obstante, achava que a<br />
guerra podia ser evitada.<br />
“Por que estão com tanta pressa <strong>de</strong><br />
proclamar seu Estado?” indagou. “Por<br />
que essa precipitação? Vocês são tão<br />
impacientes!” Disse-lhe não achar que<br />
um povo que esperou 2.000 anos podia<br />
ser <strong>de</strong>scrito como estando com pressa,<br />
e ele pareceu concordar.<br />
“Se formos à guerra, lutaremos e<br />
venceremos”<br />
“Não compreen<strong>de</strong>”, disse eu, “que<br />
nós somos seus únicos aliados nesta<br />
região? Os outros são todos seus inimigos.”<br />
“Sim”, respon<strong>de</strong>u. “Sei disso.<br />
Mas o que posso fazer? Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mim.” Então eu Ihe disse: “Deve<br />
saber que se formos forçados à guerra,<br />
lutaremos e venceremos. Ele <strong>de</strong>u um<br />
suspiro e novamente falou: “Sim, sei<br />
disso. Vocês têm o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> lutar. Mas<br />
porque não esperam alguns anos? Desistarn<br />
<strong>de</strong> suas exigências <strong>de</strong> livre imigração.<br />
Assumirei o controle <strong>de</strong> todo o<br />
país e vocês serão representados ern<br />
meu parlamento. Eu os tratarel muito<br />
bern e não haverá guerra.”<br />
Tentei explicar-Ihe que seu plano<br />
era impossivel. “É <strong>de</strong> seu conhecimento<br />
tudo que temos feito e como temos<br />
trabalhado arduamente”, disse eu.<br />
“Pensa que fizemos tudo isso apenas<br />
para sermos representados num parlamento<br />
estrangeiro? Sabe o que querernos<br />
e a que aspiramos. Se não po<strong>de</strong><br />
nos oferecer nada mais, então haverá<br />
guerra e nós venceremos. Mas talvez<br />
possamos nos encontrar novamente —<br />
após a guerra e <strong>de</strong>pois que houver um<br />
Estado ju<strong>de</strong>u.”
“Confia <strong>de</strong>mais em seus tanques”,<br />
disse Danin. “Não tem amigos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />
no mundo árabe, e esmagaremos<br />
os seus tanques assim como foi esmagada<br />
a Linha Maginot.” Foram palavras<br />
muito corajosas, especialmente porque<br />
Danin conhecia muito bem o estado <strong>de</strong><br />
nossos blindados. Mas AbdulIah tornou-se<br />
mais sério e novamente falou<br />
que sabia que tínhamos <strong>de</strong> cumprir<br />
nosso <strong>de</strong>ver. Acrescentou também,<br />
creio que pesarosamente, que os acontecimentos<br />
teriam <strong>de</strong> seguir o seu curso.<br />
Todos nós acabaríamos sabendo o<br />
que o <strong>de</strong>stino nos reservava.<br />
Obviamente nada mais havia a dizer.<br />
Quis sair, mas Danin e Abdullah<br />
haviam iniciado uma nova conversa.<br />
“Espero que permaneçamos em contato<br />
mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> começada a guerra”,<br />
disse Danin. “Claro”, respon<strong>de</strong>u<br />
Abdullah. “Precisa vir me ver”. “Mas como<br />
po<strong>de</strong>rei alcançá-lo?” perguntou Danin.<br />
“Oh, confio que encontrara um caminho”,<br />
disse Abdullah com um sorriso. E então<br />
Danin censurou-o por não tomar precauções<br />
a<strong>de</strong>quadas. “Reza na mesquita”,<br />
disse ele a Abdullah, “e permite que seus<br />
súditos beijem a bainha <strong>de</strong> seus trajes.<br />
Um dia algum perverso lhe fará mal. Chegou<br />
a hora <strong>de</strong> proibir esse costume, em<br />
benefício da segurança.” Abdullah estava<br />
visivelmente chocado. “Jamais me tornarei<br />
prisioneiro dos meus próprios guardas”,<br />
disse muito severamente a Danin.<br />
“Nasci beduíno, um homem livre, e livre<br />
permanecerei. Que aqueles que querern<br />
me matar tentem fazê-lo. Não vou<br />
me acorrentar.” Então se <strong>de</strong>spediu <strong>de</strong><br />
nós e se retirou.<br />
Suponho que Danin e eu <strong>de</strong>vemos<br />
ter andado cerca <strong>de</strong> meia hora antes<br />
que um jovem membro da Haganah, <strong>de</strong><br />
Naharayim — que estivera esperando<br />
por nós a noite inteira numa ansieda<strong>de</strong><br />
febril — subitamente nos localizasse.<br />
No escuro não pu<strong>de</strong> ver seu rosto, mas<br />
creio que jamais segurei a mão <strong>de</strong> alguém<br />
tão firmemente e com tanto alívio.<br />
Levou-nos, com facilida<strong>de</strong>, por<br />
colinas e wadis, <strong>de</strong> volta a Naharayim.<br />
Vi-o <strong>de</strong> novo, poucos anos atrás, quando<br />
um homem <strong>de</strong> meia-ida<strong>de</strong> se aproximou<br />
<strong>de</strong> mim no vestíbulo <strong>de</strong> um hotel<br />
em Jerusalém. “Senhora Meir”, perguntou,<br />
“não me reconhece?” Rebusquei<br />
em minha mente mas não consegui<br />
<strong>de</strong> forma alguma localizá-lo até que<br />
me sorriu muito docemente e disse. “Fui<br />
eu que lhe mostrei o caminho <strong>de</strong> volta<br />
a Naharayim naquela noite.”<br />
Nunca mais, porém, voltei a ver<br />
Abdullah, muito embora, após a Guerra<br />
<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência, houvesse com ele<br />
prolongadas negociações. Posteriormente<br />
me contaram que, referindo-se<br />
a mim, dissera. “Se houve uma pessoa<br />
responsável pela guerra, foi ela, porque<br />
foi orgulhosa <strong>de</strong>mais para aceitar<br />
a oferta que lhe fiz.” Devo dizer que<br />
quando penso no que nos teria acontecido<br />
como uma minoria protegida no<br />
reino <strong>de</strong> um monarca árabe que seria<br />
ele próprio assassinado por árabes <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> apenas dois anos, não posso me<br />
Capa da edição brasileira do livro <strong>de</strong> Golda<br />
arrepen<strong>de</strong>r do fato <strong>de</strong> naquela noite ter<br />
<strong>de</strong>ixado Abdullah tão <strong>de</strong>cepcionado.<br />
Desejaria, contudo, que ele tivesse tido<br />
a bravura suficiente para ficar fora da<br />
guerra. Teria sido muito melhor para<br />
ele — e para nós — se ele houvesse<br />
sido um pouco mais orgulhoso.<br />
De qualquer maneira, fui levada <strong>de</strong><br />
carro <strong>de</strong> Naharayim direto para Tel-Aviv.<br />
Na manhã seguinte haveria uma runião<br />
na se<strong>de</strong> do Mapai — durante toda aquela<br />
semana, é claro, as reuniões se sucediam<br />
quase que incessantemente —<br />
e sabia que Ben-Gurion estaria presente.<br />
Quando entrei no recinto, ele levantou<br />
sua cabeça, me encarou e disse:<br />
“Nu?” (Então?) Sentei-me e redigi<br />
um bilhete. “Não <strong>de</strong>u certo”, escrevi.<br />
“Haverá guerra. De Mafrak, Ezra e eu<br />
vimos as concentrações <strong>de</strong> tropas e as<br />
luzes.” Mal pu<strong>de</strong> suportar ver o rosto<br />
<strong>de</strong> Ben-Gurion enquanto lia o bilhete,<br />
mas, graças a D-us, ele não mudou sua<br />
opinião — nem a nossa.<br />
Dentro <strong>de</strong> dois dias a <strong>de</strong>cisão final<br />
teria <strong>de</strong> ser tomada: <strong>de</strong>via ou não ser<br />
proclamado um Estado ju<strong>de</strong>u? Depois<br />
que eu relatei minha conversa com<br />
Abdullah, várias pessoas do Minhelet<br />
HaAm (ao pé da letra, a Administração<br />
do Povo), constituído por membros da<br />
Agência Judaica, do Va’ad Leumi e <strong>de</strong><br />
diversos pequenos partidos e grupos,<br />
e que <strong>de</strong>pois se tornaria o Governo Provisório<br />
<strong>de</strong> Israel, pressionaram Ben-<br />
Gurion para um último exame da situação.<br />
Queriam saber qual era a avaliação<br />
da Haganah na hora H. Aí Ben-Gurion<br />
rnandou chamar dois homens: Yigael<br />
Vadin, que era o chefe <strong>de</strong> operações<br />
da Haganah, e Israel Galili, que<br />
era seu comandante em chefe <strong>de</strong> facto.<br />
Suas respostas foram praticamente<br />
idênticas — e aterradoras. Disseram<br />
que podíamos ter certeza <strong>de</strong> apenas<br />
duas coisas: os britânicos iam cair fora<br />
e os árabes iam invadir. E <strong>de</strong>pois? Ficaram<br />
ambos calados. Mas após um<br />
minuto, Yadin disse: “O melhor que po-<br />
<strong>de</strong>mos lhes dizer é que temos uma chance<br />
<strong>de</strong> meio a meio. São iguais as probabilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> vitória e <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota.”<br />
E foi com essa nota animadora que<br />
se tomou a <strong>de</strong>cisão final. Na sexta-feira,<br />
14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1948, (5 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> <strong>de</strong><br />
5708, segundo o calendário hebraico),<br />
nasceria o Estado ju<strong>de</strong>u, sua população<br />
totalizando 650.000, suas<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou não o ishuv enfrentar<br />
o ataque <strong>de</strong> cinco exércitos regulares<br />
árabes ativamente auxiliados pelo<br />
milhão <strong>de</strong> árabes da Palestina.<br />
De acordo com o plano original, eu<br />
<strong>de</strong>veria retornar a Jerusalém na quinta-feira<br />
e ali permanecer. Desnecessário<br />
dizer que queria muito ficar em Tel-<br />
Aviv, pelo menos o tempo suficiente<br />
para assistir a cerimônia da proclamação<br />
— cuja hora e local estavam<br />
sendo mantidos em segredo (exceto<br />
para os cerca <strong>de</strong> 200 convidados), até<br />
aproximadamente uma hora antes do<br />
acontecimento. Durante toda a quartafeira<br />
esperei, <strong>de</strong>sesperando, que Ben-<br />
Gurion ce<strong>de</strong>sse, mas ele se mostrou inflexível.<br />
“Você tem <strong>de</strong> voltar a Jerusalém”,<br />
disse-me. E assim, na quinta-feira,<br />
13 <strong>de</strong> maio, estava eu novamente<br />
naquele pequeno teco-teco, O piloto<br />
recebera or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> me levar a Jerusalém<br />
e voltar imediatamente a Tel-Aviv<br />
com Yitzhak Gruenbaum, que seria o<br />
ministro do Interior no Governo<br />
Provisório. Mas tão logo passamos a<br />
planície costeira e alcançamos os montes<br />
da Judéia, começou o motor a se<br />
comportar <strong>de</strong> maneira extremamente<br />
alarmante. Eu estava sentada ao lado<br />
do piloto (aqueles aviõezinhos — que<br />
afetuosamente chamávamos <strong>de</strong> “Primus”<br />
[marca <strong>de</strong> fogareiro a querosene]<br />
— só tinham dois lugares), e podia ver<br />
que mesmo ele estava muito nervoso.<br />
O motor parecia que ia se soltar do<br />
avião, <strong>de</strong> modo que não fiquei realmente<br />
surpresa quando o piloto, apologeticamente,<br />
me disse: “Lamento muito,<br />
mas não creio que possa transpor os<br />
montes. Terei <strong>de</strong> voltar.” Deu meia-volta<br />
corn o avião, mas o motor continuava<br />
a fazer ruídos pavorosos, e notei que o<br />
piloto estava olhando muito para bai-<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
galvão<br />
xo. Eu não disse uma palavra. Após algum<br />
tempo o motor se recuperou um<br />
pouco e ele me perguntou: “Sabe o que<br />
está acontecendo?” “Sim”, disse eu, E<br />
ele: “Eu estava procurando a melhor<br />
al<strong>de</strong>ia árabe para pousarmos.” Isso,<br />
reparem bem, foi a 13 <strong>de</strong> maio. Depois<br />
acrescentou: “Mas agora penso que<br />
posso <strong>de</strong>scer em Ben Shemen.” A essa<br />
altura o motor melhorou mais um pouquinho.<br />
“‘Não”, disse ele, “acho que<br />
posso conseguir voltar a Tel-Aviv.”<br />
Assim me foi possível, afinal, assistir<br />
à cerimônia, e o pobre do Yitzhak<br />
Gruenbaum teve <strong>de</strong> ficar em Jerusalém<br />
e só pô<strong>de</strong> assinar a Declaração<br />
<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>pois do primeiro.<br />
cessar-fogo.<br />
Na manhã <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> maio partícipei<br />
<strong>de</strong> uma reunião do Conselho Nacional<br />
em que <strong>de</strong>víarnos <strong>de</strong>cidir sobre o nome<br />
do Estado e o texto final da Declaração.<br />
O texto <strong>de</strong>u mais problemas do que<br />
o nome, porque houve uma divergência<br />
<strong>de</strong> última hora a respeito da inclusão<br />
<strong>de</strong> uma referência a D-us. Na realida<strong>de</strong><br />
a questão fora levantada no dia anterior.<br />
A última frase, conforme finalmente<br />
submetida ao pequeno subcomitê<br />
encarregado <strong>de</strong> redigir a versão final<br />
da proclamação, começava com as<br />
seguintes palavras: “Confiantes na Rocha<br />
<strong>de</strong> Israel, apomos nossas assinaturas<br />
a esta Declaração...” Ben-Gurion<br />
havia esperado que a expressão Rocha<br />
<strong>de</strong> Israel fosse suficientemente ambígua<br />
para satisfazer aqueles ju<strong>de</strong>us aos<br />
quais era inconcebível que o documento<br />
estabelecendo o Estado ju<strong>de</strong>u não contivesse<br />
qualquer referência a D-us —<br />
bem como aos que, com certeza, objetariarn<br />
vigorosamente à menor insinuação<br />
<strong>de</strong> clericalismo na <strong>de</strong>claração.<br />
Os princípios fundarnentais do<br />
Estado <strong>de</strong> Israel<br />
Não foi, porém, fácil chegar a um<br />
acordo. O porta-voz dos partidos religiosos,<br />
Rabino Fishman-Maimon, exigiu<br />
que a referência a D-us fosse inequívoca<br />
e disse que só aprovaria a Rocha<br />
<strong>de</strong> Israel no caso <strong>de</strong> serem acrescentadas<br />
as palavras “e seu Re<strong>de</strong>ntor”,<br />
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<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
enquanto que Aaron Zisling, da ala esquerda<br />
do Partido Trabalhista estava<br />
não menos <strong>de</strong>cidido na direção oposta.<br />
Disse ele: “Não posso assinar um<br />
documento que <strong>de</strong> algum modo se refira<br />
a um D-us em que não acredito.”<br />
Ben-Gurion levou quase que a manhã<br />
inteira para persuadir Maimon e Zisling<br />
que Rocha <strong>de</strong> Israel tinha na realida<strong>de</strong><br />
um duplo significado: embora para<br />
muitos ju<strong>de</strong>us, talvez a maioria significasse<br />
D-us, po<strong>de</strong>ria também ser consi<strong>de</strong>rada<br />
como uma referência simbólica<br />
e leiga à força do povo ju<strong>de</strong>u. Por<br />
fim, Maimon concordou em não incluir<br />
no texto a palavra Re<strong>de</strong>ntor, muito<br />
embora, <strong>de</strong> maneira bastante engraçada,<br />
a primeira tradução em língua inglesa<br />
da Declaração, naquele dia para<br />
publicação no exterior, não contivesse<br />
referência alguma à Rocha <strong>de</strong> Israel,<br />
uma vez que o censor militar havia eliminado,<br />
como precaução <strong>de</strong> segurança,<br />
todo o último parágrafo porque<br />
mencionava hora e local da cerimônia.<br />
Todavia a discussão em si; embora<br />
não sendo no que se esperaria fosse<br />
um futuro primeiro-ministro gastar seu<br />
tempo, poucas horas antes <strong>de</strong> procla-<br />
mar a in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> um novo Estado<br />
— ainda mais ameaçado <strong>de</strong> invasão<br />
imediata — estava longe <strong>de</strong> ser simplesmente<br />
uma divergência em torno<br />
<strong>de</strong> terminologia. Estávamos todos profundamente<br />
cônscios do fato <strong>de</strong> que a<br />
Declaração não só exprimia o término<br />
formal, para os ju<strong>de</strong>us, <strong>de</strong> 2.000 anos<br />
sem pátria, como também expressava<br />
os princípios mais fundamentais do Estado<br />
<strong>de</strong> Israel. Por essa razão, toda e<br />
qualquer palavra importava muitíssimo.<br />
Aliás, meu bom amigo Zeev Sharef, o<br />
primeiro-secretário do futuro Govemo<br />
(que lançou os alicerces para a maquinaria<br />
<strong>de</strong> Governo) até achou tempo para<br />
provi<strong>de</strong>nciar que o pergaminho que iríamos<br />
assinar naquela tar<strong>de</strong> fosse levado<br />
às pressas para a caixa-forte do<br />
AngloPalestine Bank após a cerimônia,<br />
<strong>de</strong> modo que ao menos pu<strong>de</strong>sse ser preservado<br />
para a posterida<strong>de</strong> — mesmo<br />
que o Estado e nós não sobrevivêssemos<br />
por muito tempo.<br />
Por volta das 14 horas voltei ao meu<br />
hotel junto à praia, lavei os cabelos e<br />
pus meu melhor vestido preto. Depois<br />
me sentei por alguns minutos, em parte<br />
para tomar fôlego, em parte pensar<br />
— pela primeira vez nos úlimos dois<br />
ou três dias — nos fiIhos. Menachem<br />
encontrava-se então nos Estados Unidos<br />
— aluno da Escola <strong>de</strong> Música <strong>de</strong><br />
Manhatttan. Sabia que voltaria, agora<br />
que a guerra era inevitável, e perguntava<br />
a mim mesma quando e on<strong>de</strong> nos<br />
encontraíamos. Sarah estava em Revivim,<br />
e embora não muito longe em linha<br />
reta, estávamos isoladas uma da<br />
outra. Meses antes, bandos <strong>de</strong> árabes<br />
palestinenses e incursionistas armados<br />
do Egito haviam bloqueado a estrada<br />
que ligava o Neguev ao resto do país,<br />
e ainda estavarn sístematicamente explodindo<br />
ou cortando a maioria dos<br />
encanamentos que traziam água às vinte<br />
e sete colônia agrícolas então es-<br />
palhadas pelo Neguev. A Haganah fizera<br />
o possível para romper o sítio. Havia<br />
aberto uma písta. paralela à estrada<br />
principal, pela qual comboios conseguiam,<br />
<strong>de</strong> vez em quando, levar alimentos<br />
e água aos cerca <strong>de</strong> 1.000 colonos<br />
no sul. Mas quem sabia o que<br />
po<strong>de</strong>ria acontecer a Revivim, ou qualquer<br />
outro dos pequenos povoados do<br />
Neguev, mal armados e mal equipados,<br />
quando começasse a invasão egípcia,<br />
em vasta escala, <strong>de</strong> Israel, como era<br />
quase certo que ocorreria, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
apenas poucas horas? Tanto Sarah<br />
quanto seu marido Zechariah eram operadores<br />
<strong>de</strong> rádio em Revivim, o que possibilitara<br />
manter contato com eles. Mas<br />
por vários dias nada ouvira <strong>de</strong>les ou<br />
sobre eles, e estava extremamente preocupada.<br />
Era <strong>de</strong> jovens como esses, <strong>de</strong><br />
seu espírito e sua coragem, que <strong>de</strong>pendia<br />
o futuro do Neguev e, conseqüentemente,<br />
o <strong>de</strong> Israel, e eu tremia só<br />
em pensar que teriam <strong>de</strong> enfrentar as<br />
tropas invasoras do exército egípcio.<br />
Estava tão absorta pensando nos filhos<br />
que me lembro ter ficado momentaneamente<br />
surpresa quando tocou o<br />
telefone e me disseram que havia um<br />
carro à minha espera para me levar ao<br />
museu. Fora <strong>de</strong>cidido realizar a cerimônia<br />
no Museu <strong>de</strong> Tel-Aviv, no Boulevard<br />
Rothschild, não porque fosse um<br />
prédio muito imponente (o que não era<br />
mesmo) mas porque era suficientemente<br />
pequeno para ser falcilmente<br />
vigiado. Um dos prédios mais antigos<br />
<strong>de</strong> Tel-Avív, pertencera originariamente<br />
ao seu primeiro prefeito, que o doara<br />
à cida<strong>de</strong> para uso como museu <strong>de</strong><br />
arte. O grandioso total <strong>de</strong> aproximadamente<br />
200 dólares havia sido reservado<br />
a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>corá-lo a<strong>de</strong>quadamente<br />
para a cerimônia; os assoalhos foram<br />
limpos, os quadros com nus recatadamente<br />
cobertos, as janelas enegrecidas<br />
para o caso <strong>de</strong> um ataque aéreo, e<br />
um gran<strong>de</strong> retrato <strong>de</strong> Theodor<br />
Herzl pendurado por trás da mesa<br />
à qual se sentariam treze membros<br />
do Governo Provisório. Embora<br />
supostamente apenas os cerca<br />
<strong>de</strong> duzentos convidados soubessem<br />
dos <strong>de</strong>talhes, já havia uma<br />
gran<strong>de</strong> multidão do lado <strong>de</strong> fora<br />
do museu quando lá cheguei.<br />
Poucos minutos <strong>de</strong>pois, às 16<br />
horas em ponto, teve início a cerimônia.<br />
Ben-Gurion, <strong>de</strong> terno escuro<br />
e gravata, levantou-se e <strong>de</strong>u<br />
uma batida rápida com um martelo<br />
<strong>de</strong> tribunal. De acordo com o<br />
plano, seria esse o sinal para a<br />
orquestra, metida numa galeria do<br />
segundo andar, tocar a Ha-Tikvah.<br />
Mas algo <strong>de</strong>u errado, e não houve<br />
música. Espontaneamente nos<br />
pusernos <strong>de</strong> pé e cantamos nosso<br />
hino nacional. Então Ben-Gurion<br />
pigarreou, e disse tranquilamente:<br />
“Lerei agora o Pergaminho da<br />
In<strong>de</strong>pên<strong>de</strong>ncia.” Levou-lhe somente<br />
um quarto <strong>de</strong> hora a leitura<br />
<strong>de</strong> toda a Declaração. Leu-a<br />
lenta e muito claramente, e lembro-me<br />
<strong>de</strong> sua voz se alternando<br />
e elevando-se um pouco ao chegar ao<br />
décimo primeiro parágrafo:<br />
“Conseqüentemente, nós, membros<br />
do Conselho Nacional, representando o<br />
povo ju<strong>de</strong>u na Terra <strong>de</strong> Israel e o movimento<br />
sionista mundial, reunidos em solene<br />
assembléia hoje, dia do término do<br />
Mandato britânico para a Palestina, e,<br />
em virtu<strong>de</strong> dos direitos natural e histórico<br />
do povo ju<strong>de</strong>u e da resolução da<br />
Assembléia Geral das Nações Unidas,<br />
proclamamos, por meio <strong>de</strong>sta, o estabelecimento<br />
<strong>de</strong> um Estado ju<strong>de</strong>u na Terra<br />
<strong>de</strong> Israel — o Estado <strong>de</strong> Israel.”<br />
O Estado <strong>de</strong> Israel! Meus olhos se<br />
encheram <strong>de</strong> lágrimas e minhas mãos<br />
tremeram. Conseguíramos faze-lo. Havíamos<br />
dado existência ao Estado ju<strong>de</strong>u<br />
— e eu, Golda Mabovitch Meyerson,<br />
vivera para ver esse dia. O que<br />
quer que acontecesse agora, qualquer<br />
que fosse o preço que qualquer um <strong>de</strong><br />
nós teria <strong>de</strong> pagar por isso, havíamos<br />
recriado o lar nacional judaico. Estava<br />
terminado o longo exílio. Desse dia em<br />
diante não mais viveríamos por tolerância<br />
na terra <strong>de</strong> nossos antepassados.<br />
Éramos agora uma nação igual às<br />
outras, donos — pela primeira vez em<br />
vinte séculos — <strong>de</strong> nosso próprio <strong>de</strong>stino.<br />
O sonho se tornara realida<strong>de</strong> tar<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mais para salvar aqueles que pereceram<br />
no Holocausto, mas não tar<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mais para as gerações futuras. Quase<br />
exatamente cinqüenta anos antes,<br />
após o encerramento do Primeiro Congresso<br />
Sionista na Basiléia, Theodor<br />
Herzl escrevera em seu diário: “Em Basiléia,<br />
fun<strong>de</strong>i o Estado ju<strong>de</strong>u. Se eu<br />
disser isso hoje, serei alvo <strong>de</strong> risos. Mas<br />
talvez daqui a cinco anos, e certamente<br />
daqui a cinqüenta, todos o verão.”<br />
E assim veio a acontecer.<br />
Enquanto Ben-Gurion lia, pensei<br />
novamente nos flihos e nas crianças<br />
que teriam, como suas vidas seriam diferentes<br />
da minha, e como minha própria<br />
vida seria diferente do que fora no<br />
passado. E pensei em meus colegas na<br />
Jerusalém sitiada, reunidos nos escritórios<br />
da Agência Judaica, ouvindo,<br />
em meio à estática, a cerimônia pelo<br />
rádio, enquanto eu, por simples aci<strong>de</strong>nte,<br />
estava no próprio museu. Parecia-me<br />
que ju<strong>de</strong>u algum no mundo jamais<br />
fora mais privilegiado do que eu<br />
naquela tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sexta-feira.<br />
Lágrimas incontidas por todos<br />
amigos ausentes<br />
E então, como se houvesse sido<br />
dado um sinal, nos pusemos <strong>de</strong> pé,<br />
chorando e aplaudindo, enquanto Ben-<br />
Gurion, única vez que sua voz se embargou,<br />
lia:<br />
“O Estado <strong>de</strong> Israel estará aberto à<br />
imigração judaica e ao retorno dos exilados.”<br />
Este era o próprio ângulo da<br />
Declaração, a razão da existência do<br />
Estado e o sentido <strong>de</strong> tudo. Recordome<br />
ter soluçado alto ao ouvir essas palavras<br />
faladas naquele pequeno salão,<br />
quente e apinhado. Bem-Gurion, porém,<br />
pediu or<strong>de</strong>m com seu martelo e
prosseguiu com a leitura:<br />
“Ainda que enfrentando uma brutal<br />
agressão, dirigimo-nos aos habitantes<br />
árabes do país no sentido <strong>de</strong> que<br />
se conservem em paz e participem do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do Estado, com base<br />
na completa e igual cidadania e representação<br />
justa em todas as suas instituições,<br />
provisórias e permanentes.”<br />
E: “Esten<strong>de</strong>mos a mão da paz e da<br />
boa vizinhanqa a todos os Estados que<br />
nos cercam e a seus povos, e convidamo-los<br />
a cooperar oom a nação judaica<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para o bem comum. O<br />
Estado <strong>de</strong> Israel está pronto a contribuir<br />
para o progresso <strong>de</strong> todo o Oriente<br />
Médio.”<br />
Ao terminar a leitura das 979 palavras<br />
hebraicas da Declarção, pediu Ben-<br />
Gurion que nos levantássemos para<br />
“aceitar o Pergaminho do estabelecimento<br />
do Estado ju<strong>de</strong>u”, e assim novamente<br />
nos pusemos <strong>de</strong> pé. E aí aconteceu<br />
algo não programado e muito comovente.<br />
De repente, o Rabino Fishman-Maimon<br />
se levantou e, com, voz<br />
trêmula, proferiu a tradicional oração<br />
hebraica <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento. “Louvado<br />
sejas Tu, Ó Senhor nosso D-us, Soberano<br />
do universo, que nos conservaste e<br />
trouxeste até este dia. Amém.” Era uma<br />
oração que eu ouvira muitas vezes, mas<br />
jamais teve para mim tanta significação<br />
como naquele dia.<br />
Antes que viessemos, cada um na<br />
sua vez, por or<strong>de</strong>m alfabética, assinar<br />
a Declaração, havia outra questão <strong>de</strong><br />
serviço a exigir nossa atenção. Ben-<br />
Gurion leu os prímeiros <strong>de</strong>cretos do<br />
novo Estado. O Livro Branco foi <strong>de</strong>clarado<br />
írrito e nulo, enquanto que, a fim<br />
<strong>de</strong> evitar urn vácuo jurídico, todos os<br />
<strong>de</strong>mais estatutos e regulamentos do<br />
Mandato foram <strong>de</strong>clarados válidos e<br />
temporariamente vigentes. Depois<br />
começaram as assinaturas. Quando me<br />
levantei <strong>de</strong> minha ca<strong>de</strong>ira para assinar<br />
o pergarninho, avistei Ada Golomb, <strong>de</strong><br />
pé, não multo longe <strong>de</strong> mim. Queria ir<br />
até on<strong>de</strong> ela estava, segurá-la em meus<br />
braços, e dizer-lhe que sabia que Eliahu<br />
e Dov <strong>de</strong>viam estar ali em meu lugar,<br />
mas não podia atrasar a fila dos<br />
signatários e assim fui direto ao centro<br />
da mesa, on<strong>de</strong> Ben-Gurion e Sharett<br />
estavam sentados com o pergaminho<br />
entre eles. Quanto ao momento em<br />
que apus a minha assinatura só lembro<br />
<strong>de</strong> estar chorando, incapaz até <strong>de</strong> enxugar<br />
as lágrimas do meu rosto, e que,<br />
enquanto Sharett segurava o pergaminho<br />
para que eu o assinasse, se aproximou<br />
<strong>de</strong> mim um homem chamado<br />
David Zvi Pincus, pertencente ao partido<br />
religioso Mizrachi e tentou me<br />
acalmar. “Por que está chorando tanto,<br />
Golda?” perguntou. “Porque me<br />
parte o coração pensar em todos aqueles<br />
que <strong>de</strong>viam estar aqui hoje e não<br />
estão”, respondi, mas ainda assim não<br />
pu<strong>de</strong> parar <strong>de</strong> chorar.<br />
Apenas vinte e cinco membros do<br />
Conselho do Povo assinaram a Declaração<br />
a 14 <strong>de</strong> maio. Onze outros estavam<br />
em Jerusalém, e um nos Estados<br />
Unidos. O último a assinar foi Moshe<br />
Sharett. Comparado comigo; parecia<br />
muito controlado e calmo — como se<br />
estivesse apenas cumprindo uma formalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> rotlna. Posteriormente,<br />
quando certa vez estivemos conversando<br />
sobre esse dia, contou-me que ao<br />
inscrever seu nome no pergaminho, sentiu-se<br />
como num penhasco, com uma<br />
ventania ao redor e nada em que se segurar<br />
exceto sua <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> não<br />
ser jogado abaixo no mar revolto — mas<br />
nada disso transpareceu na ocasião.<br />
Depois que a Orquestra Filarmônica<br />
da Palestina tocou a Ha-Tikvah, Ben-<br />
Gurion pela terceira vez bateu com seu<br />
martelo: “O Estado <strong>de</strong> Israel está<br />
estabelecido. Está encerrada a sessão.”<br />
Trocamos apertos <strong>de</strong> mão e abraçamonos.<br />
Israel era uma realida<strong>de</strong>.<br />
Como era <strong>de</strong> esperar, a noite foi<br />
cheia <strong>de</strong> suspense. Fiquei no hotel, conversando<br />
com amigos. Alguém abriu<br />
uma garrafa <strong>de</strong> vinho e erguemos um<br />
brin<strong>de</strong> ao Estado. Alguns dos convidados<br />
e seus jovens acompanhantes da<br />
Haganah cantaram e dançaram, e ouvimos<br />
gente rindo e cantando na rua.<br />
Sabíamos, porém, que a meia-noite o<br />
Mandato terminaria, o Alto-Comissário<br />
britânico zarparia, o último soldado<br />
britânico <strong>de</strong>ixaria a Palestina, e estávamos<br />
certos <strong>de</strong> que os exércitos árabes<br />
cruzariam as fronteiras do Estado<br />
que acabáramos <strong>de</strong> fundar. Agora éramos<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mas em poucas<br />
horas estaríamos em guerra. Não só não<br />
me sentia alegre, como estava mesmo<br />
muito assustada — e com boas razões.<br />
Ajuda assim, há uma gran<strong>de</strong> diferença<br />
entre estar assustada e não ter fé, e<br />
embora toda a população judaica do<br />
Estado renascido só totalizasse 650.000,<br />
eu sabia com certeza naquela noite que<br />
nos havíamos entrincheirado e que ninguém<br />
jamais seria capaz <strong>de</strong> nos dispersar<br />
ou <strong>de</strong>slocar novamente.<br />
Creio, contudo, que foi só na manhã<br />
seguinte que realmente compreendi<br />
o que havia ocorrido no Museu <strong>de</strong><br />
Tel-Aviv. Três acontecimentos separados,<br />
mas estreitamente ligados me fizeram<br />
ver a verda<strong>de</strong> como nenhuma<br />
outra coisa o po<strong>de</strong>ria ter feito, e compreendi,<br />
talvez pela primeira vez, que<br />
nada voltaria a ser igual. Não para mim,<br />
nem para o povo ju<strong>de</strong>u, e nem para o<br />
Oriente Médio. Em primeiro lugar, logo<br />
antes do alvorecer no sábado, vi pelas<br />
janelas do meu quarto o que po<strong>de</strong>ria<br />
ser chamado o inicio formal da Guerra<br />
da In<strong>de</strong>pendência: quatro Spitfires<br />
egípcios sobrevoando a cida<strong>de</strong> para<br />
bombar<strong>de</strong>ar a usina elétrica e o aeroporto<br />
<strong>de</strong> Tel-Aviv no que foi o primeiro<br />
ataque aéreo da guerra. Depois, um<br />
pouco mais tar<strong>de</strong>, vi o primeiro barco<br />
carregado <strong>de</strong> imigrantes ju<strong>de</strong>us — não<br />
mais ilegais - entrar, livre e orgolhosamente,<br />
no porto <strong>de</strong> Tel-Aviv. Ninguém<br />
mais os caçava, ou enxotava, ou castigava<br />
por retornar ao lar. A vergonhosa<br />
era dos certificados e da aritmética<br />
humana havia terminado, e enquanto<br />
ali estive, ao sol, meus olhos fixos na-<br />
quele navio (uma velha embarcação<br />
grega chamada Teti), senti que preço<br />
algum que nos fosse exigido por essa<br />
dádiva po<strong>de</strong>ria ser alto <strong>de</strong>mais. O primeiro<br />
imigrante legal a <strong>de</strong>sembarcar no<br />
Estado <strong>de</strong> Israel foi um ancião cansado e<br />
mal vestido chamado Samuel Brand, um<br />
sobrevivente <strong>de</strong> Buchenwald. Em sua mão<br />
segurava um papel amarrotado. Dizia<br />
apenas: “Por meio <strong>de</strong>sta é concedido o<br />
direito <strong>de</strong> se estabelecer em lsrael”, mas<br />
era assinado pelo Departamento <strong>de</strong> Imigração<br />
do Estado, e foi o primeiro visto<br />
<strong>de</strong> entrada por nós emitido.<br />
E <strong>de</strong>pois, é claro, houve o maravilhoso<br />
momento do nosso ingresso<br />
formal na família das nações. Poucos<br />
minutos após a meia-noite, na noite<br />
<strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> maio, meu telefone tocou. Não<br />
parara <strong>de</strong> tocar, e ao correr para atendê-lo<br />
fiquei pensando que noticia ruim<br />
ouviria agora. Mas a voz do outro lado<br />
parecia jubilosa. “Golda? Está ouvindo?<br />
Truman nos reconheceu!” Não me<br />
recordo do que disse ou fiz, mas lembro-me<br />
<strong>de</strong> como me senti. Era como<br />
num milagre que veio no momento <strong>de</strong><br />
nossa maior vulnerabilida<strong>de</strong>, na véspera<br />
da invasão, e fui tomada <strong>de</strong> alegria<br />
e alívio. De certo modo, não obstante<br />
todo Israel se rejubilasse e <strong>de</strong>sse graças,<br />
crejo que o que o Presi<strong>de</strong>nte Truman<br />
fez naquela noite po<strong>de</strong> ter significado<br />
mais para mim do que para a<br />
maioria dos meus colegas, porque eu<br />
era entre nós a americana, aquela que<br />
mais sabia sobre os Estados Unidos, sua<br />
história e seu povo, a única que crescera<br />
naquela gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia. E embora<br />
tenha ficado tão admirada quanto<br />
os <strong>de</strong>mais pela rapi<strong>de</strong>z do reconhecimento,<br />
não me surpreen<strong>de</strong>u nem um pouco<br />
o impulso bom e generoso que o motivou.<br />
Relembrando, penso que, como a<br />
maioria dos milagres, foi esse provavelmente<br />
causado por duas coisas muito<br />
simples: o fato <strong>de</strong> Henry Truman compreen<strong>de</strong>r<br />
e respeitar a nossa campanha<br />
pela in<strong>de</strong>pendência por ser o tipo <strong>de</strong><br />
homem que, sob circunstâncias diferentes,<br />
po<strong>de</strong>ria muito bem ter sido um dos<br />
nossos; e a profunda impressão que lhe<br />
causara Chaim Weizmann, a quem havia<br />
recebido em Washington e que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ra<br />
nossa causa e explicara nossa situação<br />
<strong>de</strong> um modo como ninguém antes<br />
jamais fizera na Casa Branca. O trabalho<br />
<strong>de</strong> Weizmann foi <strong>de</strong> um valor incálculavel.<br />
O reconhecimento americano foi<br />
o que <strong>de</strong> melhor nos po<strong>de</strong>ria ter acontecido<br />
naquela noite.<br />
Quanto ao reconhecimento soviético,<br />
que se seguiu ao americano, possuía<br />
outras raizes. Não tenho agora<br />
mais dúvida alguma <strong>de</strong> que a principal<br />
razão soviética foi tirar os britânicos<br />
do Oriente Médio. Mas no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong><br />
todos os <strong>de</strong>bates ocorridos nas Nações<br />
Unidas no outono <strong>de</strong> 1947, me parecera<br />
que o bloco soviético nos apoiava<br />
também <strong>de</strong>vido ao terrivel preço que<br />
os próprios russos haviam pago na guerra<br />
mundial e seu conseqüentemente<br />
profundo sentimento <strong>de</strong> que os ju<strong>de</strong>us,<br />
que do mesmo modo haviam tão cruelmente<br />
sofrido nas mãos dos nazistas,<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
mereciam ter seu Estado. Por mais<br />
radicalmente que a atitu<strong>de</strong> soviética<br />
tenha mudado nas duas e meia décadas<br />
subseqüentes, não posso agora falsear<br />
o quadro como então o via. Não<br />
fossem as armas e munições que pu<strong>de</strong>mos<br />
comprar na Tchecoslováquia, e<br />
transportar através da lugoslávia e outros<br />
países balcânicos, naqueles dias<br />
negros do inicio da guerra, e não sei<br />
se teríamos podido resistir até o refluxo<br />
da maré, confome aconteceu em junho<br />
<strong>de</strong> 1948. Durante as seis primeiras<br />
semanas da Guerra da In<strong>de</strong>pendência,<br />
<strong>de</strong>pendéramos em gran<strong>de</strong> parte (embora<br />
não inteiramente, é claro) das granadas,<br />
metralhadoras, balas - e até<br />
aviões — que a Haganah pu<strong>de</strong>ra comprar<br />
na Europa Oriental, numa ocasião<br />
em que mesmo os Estados Unidos haviam<br />
<strong>de</strong>cretado um embargo à venda<br />
ou envio <strong>de</strong> armas ao Oriente Médio.<br />
Não se po<strong>de</strong>, nem se <strong>de</strong>ve, tentar apagar<br />
o passado simplesmente porque não<br />
se ajusta ao presente, e permanece o<br />
fato <strong>de</strong> que, muito embora a União<br />
Soviética se voltasse tão selvagemente<br />
contra nós nos anos seguintes, o reconhecimento<br />
soviético do Estado <strong>de</strong><br />
Israel, a 18 <strong>de</strong> maio, nos foi imensamente<br />
significativo. As duas maiores<br />
potências do mundo se haviam unido,<br />
pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Segunda<br />
Guerra Mundial para apoiar o Estado<br />
ju<strong>de</strong>u, e embora ainda estivéssemos em<br />
perigo mortal, sabíamos, finalmente,<br />
que não estávamos sós. E foi com o<br />
conhecimento disso — combinado com<br />
simples necessida<strong>de</strong> — que encontramos<br />
a força espiritual, se não material,<br />
que nos conduziria à vitória.<br />
13<br />
Golda Meyr foi personagem e testemunha do nascimento <strong>de</strong> Israel
14<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
Receitas com grife<br />
Elka Kertzmann z“l, nascida em Curitiba, filha <strong>de</strong><br />
Otília e Bernardo Rosenmann, irmã <strong>de</strong> Manoel z”l,<br />
Yara, Max e Gilberto. Casou-se com Nahum e teve<br />
três filhas: Zorá, Kátia e Cíntia. Foi exímia cozinheira,<br />
dom que herdou da família.<br />
Bolo <strong>de</strong> semente<br />
<strong>de</strong> papoula<br />
INGREDIENTES:<br />
<strong>•</strong> 12 ovos;<br />
<strong>•</strong> 3 xícaras <strong>de</strong> açúcar;<br />
<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> nozes moídas; separar algumas<br />
nozes inteiras para enfeitar;<br />
<strong>•</strong> 400 g <strong>de</strong> semente <strong>de</strong> papoula;<br />
<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> passas;<br />
<strong>•</strong> 4 colheres <strong>de</strong> sopa <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> matzá.<br />
INGREDIENTES PARA A COBERTURA:<br />
<strong>•</strong> 400 g <strong>de</strong> chocolate meio amargo;<br />
<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> chocolate ao leite;<br />
<strong>•</strong> 4 colheres <strong>de</strong> sopa <strong>de</strong> água;<br />
<strong>•</strong> 2 colheres <strong>de</strong> margarina;<br />
<strong>•</strong> creme <strong>de</strong> leite (opcional).<br />
MODO DE FAZER:<br />
Bater as 12 gemas com as 3 xícaras <strong>de</strong> açúcar até<br />
ficar bem fofo e claro. Bater as 12 claras em neve.<br />
No liquidificador bater as nozes com a semente<br />
<strong>de</strong> papoula. Misturar tudo bem <strong>de</strong>vagar e ir<br />
acrescentando as passas e farinha <strong>de</strong> matzá. Untar<br />
uma forma <strong>de</strong> abrir com azeite e farinha <strong>de</strong> matzá<br />
e <strong>de</strong>ixar assar por mais ou menos 40 minutos. Vá<br />
testando com um palito para não secar <strong>de</strong>mais. O<br />
bolo escurece por causa da papoula, não pense<br />
que está queimando. Desenformar o bolo <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> morno.<br />
Derreter o chocolate em banho-maria com a água<br />
e a margarina. Misturar o creme <strong>de</strong> leite. Cobrir o<br />
bolo com esta mistura e enfeitar dos lados e em<br />
cima com as nozes.<br />
Gelatina <strong>de</strong> abacaxi<br />
INGREDIENTES:<br />
<strong>•</strong> 3 pacotes <strong>de</strong> gelatina <strong>de</strong> abacaxi;<br />
<strong>•</strong> 1 xícara <strong>de</strong> água fervendo;<br />
<strong>•</strong> 1 lata <strong>de</strong> abacaxi em calda;<br />
<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> uva Itália;<br />
<strong>•</strong> 60 g <strong>de</strong> nozes picadas;<br />
<strong>•</strong> 1 lata <strong>de</strong> creme <strong>de</strong> leite.<br />
MODO DE FAZER:<br />
Misture a gelatina com a água fervendo e a<br />
calda do abacaxi. Colocar na gela<strong>de</strong>ira até ficar<br />
em ponto <strong>de</strong> clara. Misturar o abacaxi picado,<br />
as nozes, as uvas e por último o creme <strong>de</strong> leite.<br />
Colocar em um pirex ou forma untada e <strong>de</strong>ixar<br />
24 horas na gela<strong>de</strong>ira.<br />
“Ser contra a guerra é muito fácil”<br />
Deborah Berlinck, <strong>de</strong> Paris Por que tanta manifestação a fa-<br />
Médico carismático que virou um dos<br />
políticos mais <strong>de</strong>stacados da França,<br />
Bernard Kouchner, ex-ministro <strong>de</strong> François<br />
Mitterrand e um dos fundadores da<br />
organização humanitária Médicos sem<br />
Fronteiras, está na contramão <strong>de</strong> seu<br />
país: apoiou a guerra contra o Iraque.<br />
Em entrevista ao jornal O Globo, Kouchner,<br />
inventor do conceito <strong>de</strong> “direito<br />
<strong>de</strong> ingerência humanitária” — segundo<br />
o qual <strong>de</strong>mocracias têm o direito e<br />
o <strong>de</strong>ver moral <strong>de</strong> intervir em outra nação<br />
em nome da proteção dos direitos<br />
humanos — chama os pacifistas <strong>de</strong><br />
simplistas e ignorantes, e critica duramente<br />
a França, a quem acusa <strong>de</strong><br />
apoiar ditadores. Foi ele, com o brasileiro<br />
Sérgio Vieira <strong>de</strong> Mello, alto comissário<br />
da ONU para direitos humanos,<br />
que comandou a transição no Kosovo,<br />
<strong>de</strong>pois da guerra.<br />
Esta guerra era mesmo necessária?<br />
Bernard Kouchner: Não necessariamente.<br />
Se a comunida<strong>de</strong> internacional<br />
estivesse unida, teria muito mais peso<br />
e força para levar Saddam Hussein a<br />
<strong>de</strong>ixar o po<strong>de</strong>r. O gran<strong>de</strong> erro dos americanos<br />
foi ir à guerra antes <strong>de</strong> passar<br />
pela ONU. E o gran<strong>de</strong> erro <strong>de</strong> franceses,<br />
alemães e russos foi ameaçar um<br />
veto antes que negociações e conferências<br />
internacionais tivessem acontecido.<br />
Os dois lados erraram por terem<br />
parado a diplomacia. Além disso,<br />
os manifestantes pacifistas <strong>de</strong>ram a<br />
Saddam razões para temporizar e esperar<br />
que a guerra não fosse acontecer.<br />
Os pacifistas erraram feio, então?<br />
Kouchner: Eles não enten<strong>de</strong>ram<br />
nada. Recuamos 30 anos em matéria <strong>de</strong><br />
direitos humanos. Se Saddam não era<br />
o flagelo <strong>de</strong> seu povo, então os pacifistas<br />
não estavam informados, não são<br />
educados, ou o quê? Ora, é muito fácil<br />
ser contra a guerra. Eu também sou contra<br />
a guerra. Mas se perguntarmos aos<br />
iraquianos sua opinião, eles dirão: nós<br />
queremos nos livrar <strong>de</strong> Saddam. Quinhentos<br />
mil mortos, para eles, chega!<br />
Como não havia saída diplomática,<br />
então, a guerra era necessária...<br />
Kouchner: Não sei. Não tentamos<br />
até o final. No Kosovo, a diplomacia<br />
fez todo o seu papel. Americanos, franceses,<br />
ingleses, italianos, todos estavam<br />
<strong>de</strong> acordo.<br />
Os lí<strong>de</strong>res árabes dizem que não é<br />
possível impor uma <strong>de</strong>mocracia oci<strong>de</strong>ntal<br />
na região, que eles têm a sua<br />
forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia.<br />
Kouchner: São sempre os ditadores<br />
que dizem isso. Não existem só extremistas<br />
nos países árabes. Há uma população<br />
que <strong>de</strong>seja ser livre. E a imensa<br />
maioria dos árabes quer isso. Portanto,<br />
eles terão a <strong>de</strong>mocracia um dia.<br />
vor <strong>de</strong> Saddam na região? Por que<br />
tanto ódio dos americanos?<br />
Kouchner: Talvez porque os americanos<br />
sejam muito fortes e arrogantes.<br />
Os EUA viraram o bo<strong>de</strong> expiatório. Necessitamos<br />
<strong>de</strong> um inimigo. Os franceses<br />
não sabiam mais por qual motivo<br />
<strong>de</strong>sceriam às ruas para se manifestar.<br />
Agora, há: achamos George W.<br />
Bush! No espírito simplista dos pacifistas,<br />
Saddam era um lí<strong>de</strong>r árabe, um<br />
lí<strong>de</strong>r do Terceiro Mundo. Portanto, ele<br />
era progressista.<br />
Como isso se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou?<br />
Kouchner: As pessoas não sabem <strong>de</strong><br />
nada. Os jornalistas mentiram. As ca<strong>de</strong>ias<br />
<strong>de</strong> TV foram horríveis. Queriam dar<br />
razão à Chirac, que teve apoio <strong>de</strong> 90%<br />
dos franceses, dos quais 32% diziam que<br />
queriam a vitória <strong>de</strong> Saddam. É preciso<br />
ser muito mal informado para dizer isso,<br />
não? Hoje sou um dos traidores da Europa.<br />
Os franceses me consi<strong>de</strong>raram um<br />
“vamos à guerra!”. Eu conheço a guerra<br />
muito mais do que todas essas pessoas<br />
que se manifestaram. Vivi guerras há 40<br />
anos, como médico. Eu não po<strong>de</strong>ria ser<br />
a favor <strong>de</strong> uma guerra. Mas eu tinha que<br />
ser contra Saddam.<br />
Por que houve oposição quase unânime<br />
no país à guerra? O que há <strong>de</strong><br />
diferente na visão dos franceses?<br />
Kouchner: Arrogância, talvez. Duas<br />
socieda<strong>de</strong>s oferecem um mo<strong>de</strong>lo para<br />
o mundo: os EUA e a França. A França<br />
tem, freqüentemente, razão. Mas não<br />
sempre. Há muita arrogância e <strong>de</strong>sconhecimento.<br />
Os franceses consi<strong>de</strong>ram<br />
que é normal que árabes e muçulmanos<br />
fiquem sob uma ditadura. As pessoas<br />
lembravam <strong>de</strong> Saddam como nosso<br />
aliado contra os americanos. Foi esse<br />
o homem que nos <strong>de</strong>u os maiores contratos<br />
<strong>de</strong> armas. Era o nosso cliente.<br />
Chirac tinha escolha? Os Estados<br />
Unidos estavam tão <strong>de</strong>terminados...<br />
Kouchner: Tínhamos que ter estado<br />
com os americanos até o final, mesmo<br />
que não fôssemos participar da guerra.<br />
Para resistir ao maior país do mundo,<br />
é preciso estar com ele. Se somos<br />
contra, temos que ser fortes e ter um<br />
gran<strong>de</strong> Exército. Não é o caso da França.<br />
Havia uma forma mais inteligente:<br />
se servir da força do outro, especialmente<br />
com essa administração americana.<br />
Transformamos o Conselho <strong>de</strong> Segurança<br />
num ringue, fizemos um gran<strong>de</strong><br />
discurso e fomos aplaudidos.<br />
Com base na sua experiência no Kosovo,<br />
o que os americanos <strong>de</strong>vem evitar?<br />
Kouchner: Precisam evitar um po<strong>de</strong>r<br />
monolítico americano. É preciso que<br />
dêem a palavra não apenas à oposição<br />
iraquiana do exterior, como aos iraquianos<br />
do interior.<br />
Como o senhor vê as ameaças dos<br />
EUA contra a Síria?<br />
Kouchner: Uma <strong>de</strong>mocracia na Síria<br />
me pareceria melhor do que a ditadura<br />
da família Al-Assad. Pergunte aos sírios:<br />
ele foram massacrados durante<br />
anos. Não acho que o povo árabe esteja<br />
con<strong>de</strong>nado à ditadura e ao sub<strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Os árabes são como os outros:<br />
é preciso dar a eles a sua chance.<br />
Seu conceito <strong>de</strong> ingerência se aplica<br />
nesta guerra?<br />
Kouchner: Deveria ter sido aplicado<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Saddam assassinou, bombar<strong>de</strong>ou<br />
e matou os curdos com armas<br />
químicas. Cem mil mortos.<br />
O senhor o encontrou?<br />
Kouchner: Sim, uma vez. Passei pelo<br />
serviço secreto iraquiano com freqüência<br />
para construir hospitais para os<br />
curdos. Des<strong>de</strong> 1974, ajudo a população.<br />
Saddam, pessoalmente, era um<br />
homem impressionante, como todos os<br />
tiranos. Um homem que parecia quase<br />
humano. Mas via-se no olhar das pessoas<br />
ao seu redor que reinava o terror.<br />
Houve um atentado contra mim e Danielle<br />
Mitterrand em 1992 quando fomos<br />
ver o bombar<strong>de</strong>io químico. Havia<br />
20 mortos ao nosso redor. Durante três<br />
horas <strong>de</strong>saparecemos, e todos pensavam<br />
que estávamos mortos. Sim, ele<br />
tentou matar a mulher do presi<strong>de</strong>nte<br />
da República francesa! Mas Danielle<br />
falou besteira agora: disse, em outras<br />
palavras, “vocês curdos têm direito à<br />
liberda<strong>de</strong>, mas não das mãos dos americanos”.<br />
Ora! Só a vítima tem o direito<br />
<strong>de</strong> recusar a mão <strong>de</strong> quem lhe esten<strong>de</strong>.<br />
A França vai pagar caro?<br />
Kouchner: Vai per<strong>de</strong>r muito. Mas ao<br />
mesmo tempo vai ganhar uma aura junto<br />
ao Terceiro Mundo. Pois eu prefiro<br />
me aliar a Bush do que a Putin, o flagelo<br />
dos chechenos. Não é verda<strong>de</strong> que<br />
sejam terroristas. É uma vergonha. Nós,<br />
o país dos direitos humanos, preferimos<br />
Putin! Nós recusamos a guerra contra o<br />
Iraque, criticando os americanos. E Saddam<br />
havia prometido 20% a 30% à<br />
TotalFinalElf (francesa) para a empresa<br />
explorar o petróleo... Que hipocrisia é<br />
essa? Não po<strong>de</strong>mos nos aliar a Putin e<br />
ter uma política contra nossos aliados<br />
tradicionais, os EUA. Nós, o país dos direitos<br />
humanos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos o torturador<br />
contra as vítimas. O médico (Bush)<br />
po<strong>de</strong> não ser bom: é arrogante, e talvez<br />
estúpido, mas quando você tem uma tuberculose,<br />
só o doente po<strong>de</strong> dizer que<br />
não quer o médico.<br />
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Segurança para animais<br />
Uma empresa israelense <strong>de</strong>senvolveu um kit para garantir a segurança<br />
<strong>de</strong> animais <strong>de</strong> estimação em caso <strong>de</strong> ataques nucleares, biológicos<br />
e químicos. Ele inclui bolhas plásticas que vão vedar os<br />
animais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> gaiolas, filtros <strong>de</strong> ar e ventoinhas que garantirão<br />
o fornecimento <strong>de</strong> ar puro.<br />
Sexo do bebê na 3ª semana <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z<br />
Segundo uma pesquisa realizada por especialistas israelenses, na<br />
terceira semana <strong>de</strong> gestação os médicos vão conseguir <strong>de</strong>finir com<br />
precisão o sexo do bebê. Isto será possível porque eles <strong>de</strong>scobriram<br />
que, quando a mulher tem um feto feminino, o nível do hormônio<br />
HCG neste período é mais alto 18,5% do que quando o bebê é do<br />
sexo masculino. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar precocemente este<br />
resultado po<strong>de</strong>rá ajudar casais que correm perigo <strong>de</strong> dar a luz a<br />
crianças com doenças genéticas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do sexo.<br />
Sensores para diabéticos<br />
Pesquisadores da Universida<strong>de</strong> Hebraica <strong>de</strong> Jerusalém <strong>de</strong>senvolveram<br />
sensores minúsculos capazes <strong>de</strong> medir a taxa <strong>de</strong> glicose no<br />
sangue <strong>de</strong> pacientes diabéticos. Resultados experimentais mostraram<br />
que essa tecnologia é capaz <strong>de</strong> gerar resultados mais seguros<br />
do que os processos atualmente existentes.<br />
Celulares mais baratos e melhores<br />
Pesquisadores do Technion – Instituto Israelense <strong>de</strong> Tecnologia –<br />
<strong>de</strong>senvolveram um novo material para antenas celulares. Eles estimam<br />
o mercado potencial para o material em cerca <strong>de</strong> US$ 200 a<br />
300 milhões por ano. Os pesquisadores, Yachin Cohen, Dmitry Rein<br />
e Lev Vichansky disseram que o material é barato, e feito da mesma<br />
matéria-prima usada para toalhas <strong>de</strong> mesa e ataduras higiênicas,<br />
fibras <strong>de</strong> polipropileno, que são comprimidas por um processo<br />
especial em folhas duras e inteiras, nas quais são acrescentadas<br />
folhas finas <strong>de</strong> cobre. O novo material po<strong>de</strong> transmitir sinais <strong>de</strong><br />
microondas. As antenas <strong>de</strong> polipropileno substituirão as atuais antenas<br />
existentes, e custarão um quinto <strong>de</strong> seu preço. O novo material<br />
é seguro, amigável ao meio ambiente e reciclável. As patentes<br />
já estão registradas.<br />
Classificador ótico <strong>de</strong> flores<br />
A companhia Shelach, do kibutz Alumim, acaba <strong>de</strong> colocar no mercado<br />
israelense uma maquina adaptada ao consumidor, com o nome<br />
Floratech. O equipamento po<strong>de</strong> selecionar 80% <strong>de</strong> todos os tipos <strong>de</strong><br />
flores no mundo. O produto, <strong>de</strong> tecnologia ótica, foi <strong>de</strong>senvolvido<br />
para economizar recursos e evitar o uso manual prejudicial e para<br />
melhorar a inspeção da classificação. A Floratech po<strong>de</strong> classificar<br />
cerca <strong>de</strong> cinco mil flores por hora.<br />
Nobel israelense<br />
O Prêmio Nobel <strong>de</strong> Economia concedido no ano passado pela Aca<strong>de</strong>mia<br />
<strong>de</strong> Estocolmo, na Suécia, foi dividido entre dois professores<br />
norte-americanos, Vernon Smith e Daniel Kahneman por seus trabalhos<br />
<strong>de</strong>senvolvidos na área da Ciência Econômica Psicológica. O<br />
que pouca gente sabe, entretanto, é que um <strong>de</strong>les, Kahneman, <strong>de</strong><br />
68 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, é israelense e nasceu em Tel Aviv. Ele se formou<br />
na Universida<strong>de</strong> Hebraica <strong>de</strong> Jerusalém, on<strong>de</strong> estudou psicologia e<br />
matemática, e foi para os Estados Unidos on<strong>de</strong> se doutorou em<br />
psicologia pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Berkeley, em 1961. Atualmente ele<br />
leciona em Princeton.<br />
A partir da direita: Fani Lerner, Diva Gomes, Marlene<br />
Pereira, Débora Dias, Lenita Ferraz (representando<br />
também Berlinda Hosken <strong>de</strong> Novaes) e Egípcialinda<br />
Parigot <strong>de</strong> Souza<br />
<strong>•</strong> A Na’amat Pioneiras realizará jantar, em<br />
beneficio do Instituto Paranaense <strong>de</strong> Cegos, no<br />
dia 17 <strong>de</strong> maio, em comemoração ao Dia das<br />
Mães, com show <strong>de</strong> Música Popular Brasileira.<br />
com Ana Cascardo e Paulinho Sabag. O evento<br />
acontecerá no Citrus Restaurante (Parthenon<br />
Aspen) à Rua Dr. Pedrosa, 208, às 20h.<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
<strong>•</strong> Para alegria das famílias Kessel, Wahrhaftig e<br />
Figlarz, nosso querido Beni está estudando numa<br />
Yeshivá em Jerusalém e recebendo muitos<br />
elogios do Rebe responsável pelos seus estudos,<br />
sem nunca esquecer que tudo começou em<br />
Curitiba com o Rabino Yossef Dubrawski (Fitche).<br />
<strong>•</strong> E falando em Fitche, mazal tov ao Rabino e a Sra.<br />
Tila pelo belíssimo casamento da sua filha Heidi<br />
e Menachem Men<strong>de</strong>l, <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> rabinos<br />
que se <strong>de</strong>dica às yeshivot do Beit Chabad em<br />
Nova Iorque. A cerimônia religiosa aconteceu nas<br />
escadarias da sinagoga do 770, ao ar livre, numa<br />
temperatura que foi um <strong>de</strong>safio para os noivos e<br />
seus convidados. O espírito da alegria e <strong>de</strong> paz<br />
reinou durante toda a cerimônia e na festa on<strong>de</strong><br />
muito se dançou e comemorou.<br />
<strong>•</strong> Entre 27 e 30 <strong>de</strong> março passado, atletas da<br />
Escola Israelita Brasileira “Salomão Guelmann”<br />
estiveram em São Paulo participando dos III<br />
Jogos Macabeus Infantis on<strong>de</strong> os resultados<br />
alcançados pelos curitibanos foram mais uma vez<br />
excepcionais: no Futebol Soçaite Masculino<br />
Júnior, 2º lugar; no Han<strong>de</strong>bol Feminino Júnior,<br />
3º lugar; no Tênis Categoria Mini, 3º lugar; e no<br />
Tênis Categoria Júnior, 4º lugar.<br />
<strong>•</strong> Segundo os organizadores da Macabíada, o<br />
comportamento dos nossos atletas foi<br />
consi<strong>de</strong>rado exemplar por todos os participantes<br />
inclusive a equipe do hotel. Ricardo Smargowicz<br />
e Daniel Singer ganharam premiação pela<br />
organização do apartamento e comportamento.<br />
Marcella Ferraro e Melissa Brami conquistaram a<br />
mesma premiação pelo feminino. A escola<br />
agra<strong>de</strong>ceu os professores do CIP pela garra<br />
<strong>de</strong>monstrada por todos durante os jogos e o<br />
espírito <strong>de</strong> equipe que foi a marca registrada<br />
<strong>de</strong>ssa viagem.<br />
<strong>•</strong> O <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> jóias Rodrigo Alarcón abriu sua<br />
primeira loja no Design Center em pleno coração<br />
do Batel. Desejamos muito sucesso.<br />
<strong>•</strong> Michelle Lipatin e Eduardo Garcia casaram-se no<br />
dia 22 <strong>de</strong> março no Clube Curitibano. Aos noivos<br />
e suas famílias nossos votos <strong>de</strong> mazal tov.<br />
<strong>•</strong> No dia 13 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> aconteceu um chá<br />
realizado pelas Na’amat Pioneiras no<br />
Hotel Bourbon, em beneficio do<br />
Instituto Paranaense <strong>de</strong> Cegos. Foram<br />
homenageadas todas as ex-primeiras<br />
damas do Paraná e presenteadas com<br />
uma linda pomba da paz, executada<br />
pelo <strong>de</strong>signer Rodrigo Alarcón. Em<br />
nome das Pioneiras falaram as Sras.<br />
Geni Aizemberg e Marina Hasson, e<br />
pelas homenageadas a Sra. Fani<br />
Lerner. O show ficou por conta dos<br />
Meninos Cantores <strong>de</strong> Angola que são<br />
abrigados pelo Instituto. Foi uma<br />
tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas emoções on<strong>de</strong> reinou<br />
muita solidarieda<strong>de</strong>.<br />
15<br />
<strong>•</strong> Helena Kessel comemorou na segunda noite <strong>de</strong><br />
Pêssach, junto com toda sua família, seu último<br />
aniversário como acadêmica <strong>de</strong> Direito. Le shaná<br />
abá já será advogada. Parabéns!<br />
<strong>•</strong> Frida Goldstein, mãe do lí<strong>de</strong>r espiritual da<br />
comunida<strong>de</strong> Samy, promoveu um curso <strong>de</strong><br />
culinária <strong>de</strong> Pêssach para 25 mulheres da<br />
comunida<strong>de</strong>. O que chamou a atenção foi o<br />
número <strong>de</strong> jovens que participaram. Kol ha<br />
kavod.<br />
<strong>•</strong> Fernando Henrique Cardoso volta a ser presi<strong>de</strong>nte<br />
– <strong>de</strong>sta vez, da Casa da Cultura <strong>de</strong> Israel. FHC<br />
tomou posse na inauguração da nova se<strong>de</strong> da<br />
entida<strong>de</strong>, na tar<strong>de</strong> do dia 15 <strong>de</strong> <strong>abril</strong>. Com ele,<br />
trabalharão os empresários José Mindlin,<br />
presi<strong>de</strong>nte do Conselho, e David Feffer,<br />
presi<strong>de</strong>nte executivo.<br />
<strong>•</strong> Completando quatro meses,<br />
Ana Clara Kleiner faz a<br />
alegria <strong>de</strong> seus pais, Cíntia e<br />
Cláudio e <strong>de</strong> toda sua família<br />
que está curtindo esta<br />
boneca.<br />
A partir da direita: Marina<br />
Hasson, presi<strong>de</strong>nte da Na'Amat<br />
Pioneiras, Geni Aizemberg,<br />
presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra e a<br />
pioneira Célia Galbinski.<br />
<strong>•</strong> Sempre prestativa e atenciosa, além da gran<strong>de</strong><br />
competência, Silvia, da Ví<strong>de</strong>o Mania, continua a<br />
ter no seu acervo os lançamentos em VHS e DVD<br />
dos filmes mais selecionados <strong>de</strong> Curitiba.<br />
<strong>•</strong> Uma cerimônia para lembrar o Iom Hashoá foi<br />
realizada na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> domingo, 27/04, na<br />
Sinagoga Francisco Frischmann, organizada pela<br />
Kehilá e pelo Habonim Dror.<br />
<strong>•</strong> A agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> 4.3.3 Comunicação vai<br />
estar em novas instalações a partir do dia 1º <strong>de</strong><br />
maio. Segundo o diretor, André Strauss, o momento<br />
é <strong>de</strong> plena expansão. A agência que conta com<br />
filial no interior preten<strong>de</strong> ter maior visibilida<strong>de</strong> em<br />
Curitiba, apostando no mercado local.<br />
<strong>•</strong> Cristianismo e Judaísmo em Perspectiva, é o tema<br />
<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> três conferências que serão<br />
realizadas nos dias 5 e 6 e maio no Auditório<br />
Maria Montessori (Prédio do Centro <strong>de</strong> Teologia e<br />
Ciência Humanas - PUC), às 19h30. O tema<br />
será apresentado, no dia 5, pelos professores<br />
Evaristo Eduardo <strong>de</strong> Miranda e José Manoel Schorr<br />
Malca, co-autores do Livro “ Os Sábios Fariseus:<br />
reparar uma injustiça” publicado pela Editora<br />
Loyola, que foi recentemente lançado na Itália e<br />
na França. No dia 6 falará o professor Antonio<br />
Carlos Coelho, autor do livro “Encontro Marcados<br />
com Deus”, editado pelas Paulinas.
16<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
O Mapa da Infâmia<br />
* Herman Glanz<br />
é representante do Likud<br />
no Rio <strong>de</strong> Janeiro, foi um dos<br />
fundadores do Grupo Universitário<br />
Hebraico do Brasil, foi diretor da<br />
FIERJ e exerceu cargos na<br />
Organização Sionista do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e do Brasil. Atualmente é<br />
secretário do Comitê Eleitoral<br />
Regional da Organização Sionista<br />
do Brasil e 1° secretário da<br />
Chevra Kadishá do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Herman Glanz*<br />
jogo acabou. A guerra <strong>de</strong><br />
Bush ao Iraque ainda ocupando<br />
o cenário político<br />
mundial, mas também está<br />
na Or<strong>de</strong>m do Dia o Mapa da<br />
Estrada da Paz (o tal Road Map), o<br />
plano <strong>de</strong> paz do Quarteto, isto é, um<br />
processo <strong>de</strong> paz para Israel e palestinos,<br />
sob a égi<strong>de</strong> dos quatro: Estados<br />
Unidos, União Européia,<br />
Rússia e ONU. Em síntese,<br />
um plano <strong>de</strong> paz<br />
em que Israel se<br />
ren<strong>de</strong> ao terror<br />
e se forma um<br />
Estado palestinoin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
e<br />
soberano.<br />
Por que<br />
será que os<br />
Estados Unidos<br />
e a Inglaterra<br />
não prepararam<br />
um Mapa da<br />
Estrada da paz para<br />
Saddam Hussein? Por<br />
que será que preferiram a guerra<br />
a Saddam Hussein, a guerra ao<br />
terror e ao povo do Iraque? Por que<br />
não foram propostas soluções <strong>de</strong> dois<br />
estados para dois povos, ou três estados<br />
para três povos, já que há curdos,<br />
xiitas e sunitas, nem um processo<br />
<strong>de</strong> paz, do tipo <strong>de</strong> Oslo, nem<br />
reunião do Quarteto, ou um Septeto,<br />
VJ INDICA<br />
FILMES DAVID<br />
O relato autobiográfico do cineasta Amos<br />
Gitai (Kadosh) em “O Dia do Perdão”<br />
oferece uma visão visceral e <strong>de</strong>vastadora<br />
sobre os horrores da guerra. Ele narra as<br />
experiências <strong>de</strong> uma pequena unida<strong>de</strong><br />
médica atuando na linha <strong>de</strong> frente da<br />
Guerra do Yom Kipur, em 1973, na qual<br />
forças sírias e egípcias lançaram um<br />
ataque surpresa contra Israel num dos<br />
dias mais sagrados do judaísmo - Yom<br />
Kipur, ou Dia do Perdão.<br />
As cenas iniciais do filme não<br />
preparam o espectador para o realismo<br />
extraordinário do material sobre a<br />
frente <strong>de</strong> batalha. Amos Gitai<br />
tinha apenas 23 anos quando a<br />
invasão surpresa aconteceu e ele<br />
viveu em primeira mão os<br />
acontecimentos retratados no<br />
filme, no qual é representado pelo<br />
personagem Weinraub (Liron<br />
incluindo-se a Índia, a China e a Arábia<br />
Saudita, por exemplo, nem tampouco<br />
penosas concessões – o presi<strong>de</strong>nte<br />
Bush <strong>de</strong>u a Saddam Hussein 48<br />
horas para cair fora, ou a guerra, que<br />
acabou em três semanas, expulsando<br />
Saddam, que, até agora, ninguém<br />
sabe para on<strong>de</strong> foi. Não foram propostas<br />
soluções que exigissem que<br />
Saddam nomeasse um Primeiro-Ministro,<br />
transferindo o po<strong>de</strong>r para esse<br />
Primeiro-Ministro, nem negociaram<br />
com Saddam, nem tampouco o compartilhamento<br />
da sua Bagdá como<br />
capital dos dois ou três estados in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
Por que os americanos<br />
não tomaram medidas a fim <strong>de</strong> construir<br />
um “ambiente confiável” para<br />
que Saddam concordasse em negociar?<br />
Por que será que os americanos<br />
preferiram o uso excessivo <strong>de</strong> força<br />
contra o fraco Iraque? Por que será<br />
que os americanos preferiram atirar<br />
primeiro, dizendo que <strong>de</strong>veriam, antes<br />
<strong>de</strong> tudo, garantir a vida dos seus<br />
soldados diante dos homicidas-suicidas-bombas,<br />
mas Israel <strong>de</strong>veria se<br />
abster <strong>de</strong>ssa prática? Por que será,<br />
que Saddam <strong>de</strong>veria ser caçado vivo<br />
ou morto diferentemente <strong>de</strong> Yasser<br />
Arafat? Em que o tirano Arafat difere<br />
do tirano Saddam? Afinal, Arafat já é<br />
sabido ser um terrorista, que matou<br />
muita gente, que vem espalhando o<br />
terror, e o presi<strong>de</strong>nte Bush, coerente<br />
em não dialogar com terroristas, nunca<br />
recebeu Arafat. Por que Saddam<br />
<strong>de</strong>veria sumir ou morrer e Arafat con-<br />
“Dia do Perdão” filma carnificina da guerra do Yom Kipur<br />
STRATTON<br />
Levo). Este é um intelectual <strong>de</strong>scabelado<br />
que subscreve a filosofia <strong>de</strong> Marcuse e<br />
rejeita o materialismo. Ele e seu amigo<br />
ruivo Tuso estão passando o feriado <strong>de</strong><br />
Yom Kipur na cida<strong>de</strong> tranqüila e <strong>de</strong>serta.<br />
Ao receberem a notícia do ataque, eles<br />
partem no Fiat velho <strong>de</strong> Weinraub para as<br />
colinas <strong>de</strong> Golã para se juntarem à<br />
unida<strong>de</strong> especial do Exército na qual<br />
foram alistados. Mas tudo é caos, as<br />
estradas estão bloqueadas e eles não<br />
conseguem encontrar a unida<strong>de</strong>. Eles<br />
topam com o Dr. Klauzner (Uri Ran<br />
Klauzner), um médico cujo carro quebrou,<br />
e lhe dão carona até uma base da Força<br />
Aérea, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m juntar-se a uma<br />
equipe improvisada <strong>de</strong> resgate que irá <strong>de</strong><br />
helicóptero até a linha <strong>de</strong> frente para<br />
levar socorro médico aos feridos.<br />
Poucas vezes na longa história dos<br />
filmes <strong>de</strong> guerra o espectador se viu<br />
tinuar? A resposta é uma só: Arafat<br />
mata ju<strong>de</strong>us. Por isso, um Mapa da<br />
Estrada da Paz para Israel com Arafat,<br />
e não houve um Mapa da Estrada<br />
da Paz para o Iraque... Infâmia<br />
Além do mais, Bush promove uma<br />
odiosa discriminação contra pessoas,<br />
ferindo direitos humanos. Exige que<br />
cesse a ampliação <strong>de</strong> assentamentos<br />
nas áreas <strong>de</strong>socupadas da Margem<br />
Oci<strong>de</strong>ntal, nome eufemístico para a<br />
Judéia e Samaria, como era chamada<br />
até antes da Guerra dos Seis Dias <strong>de</strong><br />
1967. Por caso é sabido que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1967, Israel erigiu 144 assentamentos<br />
e os palestinos 261 nas terras<br />
ocupadas? Por que os cidadãos <strong>de</strong><br />
Israel não têm o direito <strong>de</strong> se estabelecer<br />
em seu território, mas os<br />
palestinos <strong>de</strong>vem ter o direito <strong>de</strong> se<br />
estabelecer em território que ocuparam?<br />
Por acaso é sabido por que os<br />
palestinos se colocaram do lado <strong>de</strong><br />
Saddam Hussein? A explicação é simples:<br />
a maioria dos chamados “palestinos”<br />
são iraquianos que chegaram<br />
à Terra Santa, atraídos pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />
produzido pelo sionismo<br />
e trazidos pelos ingleses. Já falamos,<br />
certa vez da inversão dos fatos,<br />
em que a Terra Santa passou a Palestina<br />
árabe, passou a território ocupado<br />
por Israel, quando, pelo contrário,<br />
a Palestina sempre foi judaica.<br />
Mas, o que é esse tal <strong>de</strong> Road Map,<br />
o Mapa da Estrada da Paz? Bem, no<br />
final, um prêmio ao terror, que os<br />
Estados Unidos negam a Bagdá, mas<br />
tão diretamente no meio da<br />
carnificina. Gitai evita <strong>de</strong> propósito<br />
oferecer qualquer informação sobre o<br />
passado dos personagens. Sabemos<br />
praticamente nada sobre eles, exceto<br />
que a família <strong>de</strong> Tuso vem <strong>de</strong> Milão.<br />
Num momento <strong>de</strong> crise e caos nacional,<br />
o indivíduo fica em segundo plano<br />
diante da urgência do trabalho que<br />
precisa ser feito e esses médicos e sua<br />
equipe, <strong>de</strong> certo modo heróis, mas<br />
também apenas pessoas comuns que<br />
tentam fazer o melhor possível sob<br />
condições pavorosas, são extremamente<br />
reais. Assim como se nega a fazer uma<br />
narrativa convencional, Gitai tampouco<br />
oferece ao espectador não familiarizado<br />
com a história do Oriente Médio nas<br />
últimas décadas qualquer informação<br />
sobre o contexto político da situação, as<br />
razões do ataque ou suas repercussões.<br />
com Israel é diferente. O Road Map<br />
estabelece claramente um Estado<br />
palestino, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e soberano,<br />
com o máximo <strong>de</strong> contigüida<strong>de</strong>, que<br />
é mais do foi tratado nos Acordos <strong>de</strong><br />
Oslo. O Road Map não exige o reconhecimento<br />
do direito <strong>de</strong> Israel existir,<br />
nem que cessem os incitamentos<br />
contra Israel, nem que cesse a doutrinação<br />
do ódio a Israel, através,<br />
inclusive, do currículo e livros escolares.<br />
Não trata <strong>de</strong> fronteiras seguras,<br />
mas do retorno a 1967, fronteiras<br />
que Abba Eban, antigo Ministro<br />
do Exterior <strong>de</strong> Israel, chamava <strong>de</strong><br />
“fronteiras <strong>de</strong> Auschwitz”. Trata do<br />
problema dos chamados refugiados,<br />
segundo a Resolução 194 da ONU, e<br />
Jerusalém <strong>de</strong>verá ser compartilhada.<br />
Enfim, um prêmio ao terror. E mais,<br />
o problema fica internacionalizado,<br />
com a participação do Quarteto, on<strong>de</strong><br />
a maioria dos membros, já se posicionou<br />
contra Israel e on<strong>de</strong> a União<br />
Européia financia Arafat e sua administração<br />
corrupta. Ainda agora, o<br />
político israelense <strong>de</strong> esquerda, Yossi<br />
Beilin, um dos arquitetos dos fracassados<br />
Acordos <strong>de</strong> Oslo, escreveu:<br />
“<strong>de</strong> que adiantaram todas as medidas<br />
do governo Sharon contra Arafat,<br />
se Israel está sendo submetido<br />
à pressão do Road Map?” Não teria<br />
sido melhor agüentar o terror como<br />
fato consumado?<br />
Por isso fica um grito <strong>de</strong> indignação<br />
que se não po<strong>de</strong> calar: Infâmia<br />
e covardia!<br />
Insurreição<br />
DVD e VHS<br />
Heróis do seu tempo...e <strong>de</strong> todos os<br />
tempos, uma história inspiradora sobre<br />
a resistência à guerra.<br />
A Polônia foi o primeiro país<br />
conquistado por Hitler e os ju<strong>de</strong>us<br />
poloneses foram os que mais sofreram<br />
com isso. Em Varsóvia todos os ju<strong>de</strong>us<br />
foram confinados em um gueto. Sob a<br />
supervisão cruel <strong>de</strong> oficiais nazistas,<br />
milhares viviam em condições<br />
precárias. Um grupo não aceitou a<br />
situação. Esse grupo <strong>de</strong> bravos resistiu<br />
secretamente. Quando o gueto foi<br />
transferido para<br />
campos <strong>de</strong><br />
concentração, este<br />
grupo li<strong>de</strong>rado por<br />
More<strong>de</strong>chai Anilevitch,<br />
fez o que os nazistas<br />
menos esperavam.<br />
Eles resistiram.
m comemoração aos 60<br />
anos do Levante do<br />
Gueto <strong>de</strong> Varsóvia, a<br />
comunida<strong>de</strong> judaica<br />
gaúcha lançou o livro ‘O<br />
Dever da Memória’, dia 14/<br />
4, em Porto Alegre. Organizado pelo psicanalista<br />
Abrão Slavutzky, o livro traz<br />
ainda contribuições <strong>de</strong> Alberto Dines,<br />
Cintia Moscovich, Renato Mezan, Jacques<br />
A Wainberg, Mauricio Seligmann-<br />
Silva, Abrão Slavutzky, Moacyr Scliar,<br />
Voltaire Schilling e Isaac Starosta.<br />
Há 58 anos, durante a Segunda<br />
Guerra Mundial, em um dos períodos<br />
mais sanguinários da história da Humanida<strong>de</strong>,<br />
a perseguição aos ju<strong>de</strong>us<br />
assumia proporções inéditas nos países<br />
ocupados pela Alemanha. Fiel ao<br />
programa <strong>de</strong> eliminação dos ju<strong>de</strong>us,<br />
traçado em seu livro Mein Kampf, Hitler<br />
estava <strong>de</strong>terminado a atingir seus<br />
objetivos e realizar a sua obra. Gran<strong>de</strong><br />
parte dos que haviam sido <strong>de</strong>portados<br />
da Alemanha e da Áustria já haviam<br />
morrido nos campos <strong>de</strong> concentração,<br />
enquanto milhares <strong>de</strong> outros estavam<br />
a caminho do mesmo trágico fim.<br />
Em <strong>abril</strong> <strong>de</strong> 1943, os ju<strong>de</strong>us que<br />
foram levados para o gueto <strong>de</strong> Varsóvia<br />
lutaram bravamente com o Exército<br />
nazista e com a Gestapo, por suas<br />
vidas. Em 1939, a Gestapo havia criado<br />
um gueto compulsório que ficava<br />
isolado do resto da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Varsóvia<br />
por altos muros <strong>de</strong> tijolos.<br />
Os alemães pretendiam eliminar os<br />
ju<strong>de</strong>us que aí se encontravam aos poucos<br />
e por várias vias, como a fome, a<br />
expansão <strong>de</strong> doenças contagiosas, por<br />
causa do aglomerado <strong>de</strong> pessoas e também<br />
por meio <strong>de</strong> fuzilamentos compulsórios<br />
e aleatórios, o que fazia com que<br />
o terror sempre fosse permanente. Havia<br />
433 mil homens, mulheres e crianças<br />
concentradas neste local.<br />
A partir <strong>de</strong> 1942, começaram as<br />
<strong>de</strong>portações para os campos <strong>de</strong> concentração<br />
<strong>de</strong> Treblinka, Oswiecim, Maidanek<br />
e Bergen-Belsen. Esse fato é<br />
importante, pois quando chegaram ao<br />
gueto os primeiros relatos estarrecedores<br />
do extermínio em massa dos ju<strong>de</strong>us<br />
nos campos <strong>de</strong> morte, notícias<br />
essas trazidas por mensageiros clan<strong>de</strong>stinos<br />
poloneses e ju<strong>de</strong>us, o efeito foi<br />
dramático, mas unificador para os lutadores<br />
do gueto. Assim, a Organização<br />
<strong>de</strong> Combatentes Ju<strong>de</strong>us foi formada<br />
após uma conferência rápida, e<br />
preparou-se para o levante.<br />
Muitos já haviam morrido ou sido<br />
mortos e os que lutavam estavam há<br />
muito sem alimentação, já que os suprimentos<br />
haviam sido cortados – apesar<br />
da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> forças, durou<br />
42 dias e 5.000 homens do Exército<br />
Militar Alemão pereceram. Quase todos<br />
que participaram do levante morreram<br />
ao final, mas a força, a esperança e a<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver ficarão para sempre<br />
gravada na história da humanida<strong>de</strong>.<br />
A história judaica é marcada por<br />
tragédias que, apesar do tempo, às<br />
vezes apresentam entre si semelhanças<br />
perturbadoras. Dois acontecimentos<br />
históricos separados no tempo por<br />
18 séculos, a Batalha <strong>de</strong> Betar que<br />
marcou o trágico fim da segunda revolta<br />
dos ju<strong>de</strong>us contra Roma, e o Levante<br />
do Gueto <strong>de</strong> Varsóvia, assustam<br />
pela similarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns aspectos.<br />
Ambos registram a luta <strong>de</strong>sesperançada<br />
dos ju<strong>de</strong>us contra um inimigo implacável,<br />
com gigantesco po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição.<br />
No ano 135 da era comum, Simon<br />
Bar Kochba li<strong>de</strong>rou os ju<strong>de</strong>us contra o<br />
Império Romano; em 1943 coube ao jovem<br />
Mor<strong>de</strong>chai Anilevitch coor<strong>de</strong>nar, no<br />
Gueto <strong>de</strong> Varsóvia, a luta dos ju<strong>de</strong>us<br />
contra o po<strong>de</strong>roso exército alemão.<br />
No primeiro evento, os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>fendiam<br />
o direito <strong>de</strong> libertar seu próprio<br />
território do jugo do inimigo romano.<br />
No segundo, lutavam para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
princípios elementares dos direitos<br />
do homem, pisoteados e <strong>de</strong>sprezados<br />
abertamente em pleno século XX<br />
por monstros disfarçados <strong>de</strong> homens.<br />
Entre estes dois momentos históricos,<br />
a parte que tocou ao povo ju<strong>de</strong>u disperso<br />
na Diáspora foi calcada na perseverança<br />
e resignação e na esperança<br />
<strong>de</strong> um dia ver, finalmente, a justiça<br />
triunfar sobre o ódio – um ódio que fora<br />
disseminado pela Europa, durante 18<br />
séculos, através <strong>de</strong> ensinamentos cristãos<br />
baseados em calúnias e <strong>de</strong>sprezo.<br />
Mas as raízes <strong>de</strong>sse mal já estavam tão<br />
enqusitadas que o povo ju<strong>de</strong>u, mais uma<br />
vez, teve que vivenciar as trágicas conseqüências<br />
do preconceito.<br />
Quando o governo alemão instalouse<br />
na Polônia, em outubro <strong>de</strong> 1939, uma<br />
<strong>de</strong> suas primeiras providências foi<br />
transferir e aprisionar, no exíguo espaço<br />
do antigo bairro ju<strong>de</strong>u, os 400 mil<br />
ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> Varsóvia. Um bairro que em<br />
condições normais tinha a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> abrigar apenas 60 mil pessoas. Um<br />
muro foi rapidamente levantado para<br />
isolar completamente o bairro, que se<br />
tornou um “gueto” no sentido mais exato<br />
e nefasto da palavra. Aos ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong><br />
Varsóvia presos no gueto se somaram<br />
rapidamente 100 mil outros, evacuados<br />
<strong>de</strong> povoados vizinhos. Toda essa população<br />
vivia em condições subumanas. Em<br />
cada cômodo disponível viviam em média<br />
13 pessoas, enquanto gran<strong>de</strong> parte<br />
da população sequer tinha um abrigo.<br />
No dia 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1943, Himmler,<br />
então chefe supremo da Gestapo,<br />
chegou, <strong>de</strong> surpresa à Varsóvia, indo<br />
até o gueto. Logo se seguiu a or<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>struí-lo e exterminar todos os seus<br />
habitantes. Assim, no dia 18 <strong>de</strong> janeiro<br />
<strong>de</strong> 1943, vários batalhões da SS marcharam<br />
rumo ao gueto, mas, pela primeira<br />
vez, os alemães foram recebidos<br />
com o som <strong>de</strong> granadas e metralhadoras.<br />
Após sofrerem muitas baixas, as tropas<br />
da SS foram obrigadas a se retirar.<br />
Os lí<strong>de</strong>res do levante, encabeçados<br />
por Anilevitch, então com 24 anos, fizeram<br />
um apelo ao mundo exterior.<br />
Palavras carregadas <strong>de</strong> emoção foram<br />
transmitidas por uma rádio clan<strong>de</strong>stina:<br />
“Declaramos guerra à Alemanha, a<br />
<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra mais <strong>de</strong>sesperada<br />
que já foi feita. Organizamos a <strong>de</strong>fesa<br />
do gueto, não para que o gueto possa<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se, mas para que o mundo veja<br />
a nossa luta <strong>de</strong>sesperada como uma<br />
advertência e uma crítica”.<br />
Depois <strong>de</strong> uma trégua <strong>de</strong> três meses,<br />
em 19 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> 1943, forças alemãs<br />
e colaboracionistas poloneses,<br />
ucranianos e lituanos cercaram o gueto.<br />
Por duas vezes, os atacantes foram<br />
rechaçados, com inesperada força, pelas<br />
armas dos <strong>de</strong>fensores do gueto.<br />
Após sofrer perdas consi<strong>de</strong>ráveis, os<br />
atacantes acabaram fugindo <strong>de</strong> forma<br />
<strong>de</strong>sorganizada. Para os <strong>de</strong>fensores do<br />
gueto, o <strong>de</strong>sespero era sua força e no<br />
telhado mais alto tremulava a ban<strong>de</strong>ira<br />
azul e branca <strong>de</strong> Sion.<br />
Diante <strong>de</strong> tamanha resistência, o<br />
comandante alemão Jürgen Stroop recebeu<br />
or<strong>de</strong>m pessoal <strong>de</strong> Hitler <strong>de</strong> usar<br />
todos os meios para <strong>de</strong>struir o gueto:<br />
artilharia, blindados, lança-chamas, gás<br />
asfixiante. Era uma luta corpo a corpo<br />
nas ruas, nas casas, sala por sala, sobre<br />
os telhados, nos porões, nos esgotos.<br />
Finalmente, no ataque final, a aviação<br />
alemã interviu para acabar com os<br />
últimos focos <strong>de</strong> resistência.<br />
Em 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1943, Mor<strong>de</strong>chai<br />
Anilevitch, a esposa e seus companheiros<br />
tombaram, armas em punho, após recusarem-se<br />
a se ren<strong>de</strong>r, mesmo diante da<br />
promessa <strong>de</strong> terem suas vidas poupadas.<br />
Foi a repetição, após 18 séculos,<br />
do sacrifício heróico <strong>de</strong> Betar. Em 16<br />
<strong>de</strong> maio, o general Stroop enviou um<br />
telegrama a Hitler: “O bairro ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />
Varsóvia não existe mais”. Este general<br />
<strong>de</strong> “Herrenvolle” (categoria tão aclamada<br />
pelos nazistas) estava orgulhoso<br />
<strong>de</strong> seu feito. Para festejar, mandou dinamitar<br />
a gran<strong>de</strong> sinagoga <strong>de</strong> Varsóvia,<br />
“comemorando”, assim, a fase final<br />
da exterminação daquela que havia<br />
sido uma das gran<strong>de</strong>s comunida<strong>de</strong>s judaicas<br />
da Europa.<br />
Ao mesmo tempo, Schmuel Zigemboim,<br />
único ju<strong>de</strong>u membro do Conselho<br />
polonês exilado em Londres, suicidou-se<br />
para protestar contra aquilo que chamou<br />
<strong>de</strong> “conspiração do silêncio”. Em uma nota<br />
enviada à imprensa, dizia: “Ao assistir<br />
sem reação alguma à matança <strong>de</strong> milhões<br />
<strong>de</strong> seres inocentes e in<strong>de</strong>fesos, os países<br />
livres do mundo oci<strong>de</strong>ntal tornaram-se<br />
cúmplices dos assassinos”.<br />
Esta acusação era dirigida também<br />
à resistência polonesa, que ignorou os<br />
apelos feitos pelos moradores do gueto.<br />
Exceto alguns patriotas – que o Yad<br />
Vashem mais tar<strong>de</strong> homenagearia — os<br />
poloneses, em sua gran<strong>de</strong> maioria, preferiram<br />
<strong>de</strong>ixar o “problema ju<strong>de</strong>u” por<br />
conta dos alemães. Quando algumas<br />
centenas <strong>de</strong> sobreviventes do gueto pu-<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
O Levante do Gueto Varsóvia<br />
<strong>de</strong>ram juntar-se à resistência, em sua<br />
maioria polonesa, muitos foram assassinados<br />
<strong>de</strong> forma vil por fascistas poloneses<br />
que colaboravam com os nazistas.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, quando eles mesmos<br />
pediram ajuda aos russos, estes<br />
tiveram a mesma atitu<strong>de</strong>: fingiram<br />
não ouvir, permitindo aos<br />
alemães massacrar sem pieda<strong>de</strong><br />
150 mil poloneses.<br />
Mas as acusações mais amargas<br />
foram feitas aos dirigentes do<br />
mundo livre. Por que os aliados não<br />
bombar<strong>de</strong>aram as estradas <strong>de</strong> ferro e<br />
as pontes para impedir o transporte<br />
para as câmaras <strong>de</strong> gás quando já sabiam<br />
do que acontecia? A esta pergunta<br />
ninguém respon<strong>de</strong>u ainda. Todos podiam<br />
ter feito muito para impedir ou pelo<br />
menos retardar o genocídio mais monstruoso<br />
da História. Mas nada fizeram. E<br />
só enxergaram a terrível realida<strong>de</strong> da barbárie<br />
nazista, quando já era tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> presenciaram os campos <strong>de</strong> morte,<br />
os fornos crematórios ainda fumegantes,<br />
os restos humanos empilhados.<br />
Quando o monstro nazista foi abatido,<br />
o mundo, estarrecido, gritou:<br />
“Nunca mais”. As nações livres juraram<br />
ser, no futuro, vigilantes quanto a qualquer<br />
nova tentativa <strong>de</strong> crime contra a<br />
humanida<strong>de</strong>. Mas, infelizmente, por várias<br />
vezes, este juramento não foi cumprido<br />
e crimes contra a humanida<strong>de</strong> foram<br />
e são cometidos até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />
Extraído<br />
<strong>de</strong> um artigo <strong>de</strong><br />
L. Alha<strong>de</strong>ff e<br />
publicado em<br />
Los Nuestros.<br />
17<br />
Há sessenta anos atrás o Gueto <strong>de</strong> Varsóvia não existia mais. Mas jamais<br />
<strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> existir lição imanente do heroísmo na luta contra a opressão e a<br />
injustiça. Para toda a Eternida<strong>de</strong>.<br />
Muro construído pelos nazistas no meio da rua para isolar os ju<strong>de</strong>us<br />
no Gueto <strong>de</strong> Varsóvia<br />
Fotos: arquivo
18<br />
* Shmuel Lemle é<br />
professor do<br />
Centro <strong>de</strong> Cabala<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
(www.kabbalah.<br />
com)<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
Rabi Shimon bar Yochai,<br />
o autor do Zohar Shmuel Lemle *<br />
o dia 18 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> comemoramos a festa <strong>de</strong> Lag Ba’Omer. Para os<br />
estudantes <strong>de</strong> Cabala, essa é uma das datas mais importantes do<br />
ano, por marcar o dia da Hilulá (aniversário <strong>de</strong> falecimento) <strong>de</strong><br />
Rabi Shimon bar Yochai, o autor do Zohar, fonte básica <strong>de</strong> toda a<br />
sabedoria cabalística.<br />
O Zohar explica que Rabi Shimon bar Yochai <strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong>ixar o mundo<br />
nesse dia, abrindo para nós uma janela cósmica para nos conectarmos<br />
com energia positiva <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong> conhecido como<br />
“a contagem do Omer”. Durante os 49 dias entre Pessach e Shavuot, a cada<br />
dia nos conectamos com uma energia diferente, construíndo um receptor<br />
para receber a Luz da Torá, que representa a imortalida<strong>de</strong> e o fim <strong>de</strong> todas as<br />
formas <strong>de</strong> caos, na festa <strong>de</strong> Shavuot.<br />
O Zohar explica que antes do êxodo do Egito os ju<strong>de</strong>us tinham atingido o<br />
49º portão ou nível <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong>. Se uma pessoa alcança o 50º e último<br />
portão <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong>, a escuridão é total e não há mais possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
retornar para o lado positivo. A pessoa se torna totalmente negativa. Os ju<strong>de</strong>us,<br />
portanto estavam num nível muito baixo. O Zohar explica que o Criador<br />
injetou então <strong>de</strong>z doses <strong>de</strong> energia, conhecidas como as <strong>de</strong>z pragas, que quebraram<br />
as cascas <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong> que nos prendiam na escuridão do Egito.<br />
Quando esta energia foi injetada no cosmos, os filhos <strong>de</strong> Israel alcançaram a<br />
liberda<strong>de</strong>. A cada ano, na noite <strong>de</strong> Pessach, a lua cheia do mês <strong>de</strong> <strong>Nissan</strong>, esta<br />
mesma energia é injetada no universo e po<strong>de</strong>mos nos libertar <strong>de</strong> nossa própria<br />
negativida<strong>de</strong> interna, <strong>de</strong> nossa escravidão ao egoísmo, ao ego, aos nossos<br />
vícios e limitações. No entanto, nós não merecemos receber essa energia, por<br />
estarmos num nível tão baixo. A energia que entra em Pessach é uma dádiva<br />
que o Criador nos conce<strong>de</strong> a cada ano porque sem isso não temos chance<br />
alguma contra as forças da escuridão e da ignorância. Mas como não a merecemos,<br />
no dia seguinte a Luz vai embora. Temos então que trabalhar para<br />
merecer a Luz <strong>de</strong> volta em Shavuot, e receber a Torá.<br />
Cabalisticamente, a Torá representa a energia das Dez Sefirot, a Árvore da<br />
Vida, os níveis <strong>de</strong> revelação da Luz do Criador que po<strong>de</strong>m eliminar totalmente o<br />
caos e a escuridão <strong>de</strong> nossas vidas. É por isso que em Shavuot lemos na Torá os<br />
Asseret Ha’Dibrot – erradamente traduzidos como “Dez Mandamentos”, mas que<br />
na verda<strong>de</strong> são <strong>de</strong>z pronunciamentos ou <strong>de</strong>z falas. Na verda<strong>de</strong> os Dez Pronunciamentos<br />
são a revelação da totalida<strong>de</strong> da Força da Luz do Criador, representada<br />
pelas Dez Sefirot. Por isso se diz que quando a Torá foi revelada no Monte<br />
Sinai a humanida<strong>de</strong> atingiu a imortalida<strong>de</strong>, e a morte foi eliminada para sempre.<br />
Infelizmente, <strong>de</strong>vido ao inci<strong>de</strong>nte do bezerro <strong>de</strong> ouro, o anjo da morte recuperou<br />
seu domínio sobre a humanida<strong>de</strong>.<br />
O período da contagem do Omer nos permite construir um receptor, por<br />
nosso próprio mérito e esforço, para receber a Luz da imortalida<strong>de</strong> que é<br />
injetada no cosmos e em nossas almas em Shavuot. Shavuot é o dia 50, a<br />
culminação <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> sete semanas, ou 49 dias, em que contamos<br />
cada dia, entrando em contato com a energia disponível então. O Zohar explica<br />
que nós somos um receptor para a Luz do Criador. Temos uma conexão mais<br />
direta com as sete Sefirot inferiores da Árvore da Vida. Cada uma <strong>de</strong>ssas sete<br />
Sefirot contém <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si as sete Sefirot novamente. Daí, enten<strong>de</strong>mos que<br />
nas sete semanas do Omer estamos nos conectando com essas 49 diferentes<br />
energias. Como a Luz revelada em Pessach foi embora, é um período <strong>de</strong> ausência<br />
<strong>de</strong> Luz. Rabi Shimon bar Yochai escolheu <strong>de</strong>ixar este mundo físico neste<br />
período para nos proporcionar uma janela positiva no meio <strong>de</strong> uma época<br />
negativa. Sabemos que as almas dos tzadikim retornam a este mundo para<br />
nos ajudar no dia <strong>de</strong> seu aniversário <strong>de</strong> falecimento. Especialmente no dia 18<br />
<strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> <strong>de</strong> cada ano temos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber diretamente a energia <strong>de</strong><br />
Rabi Shimon bar Yochai, que revelou ao mundo a alma e o segredo interno da<br />
Torá e da vida.<br />
Sobre Rabi Shimon, está escrito no Zohar que o anjo da morte foi protestar<br />
com o Criador, alegando não estar conseguindo levar a cabo sua missão<br />
<strong>de</strong> fornecer livre arbítrio ao ser humano, porque não somente Rabi Shimon<br />
o sobrepujava em todas as suas investidas contra ele, mas ainda o perseguia<br />
a cada vez que tentava <strong>de</strong>safiar os homens. Ele solicitava então ao<br />
Criador que Rabi Shimon fosse retirado do mundo, porque com a presença<br />
<strong>de</strong> Rabi Shimon bar Yochai entre nós o Satan não podia cumprir sua<br />
missão. O Criador teve que acatar o pedido do Satan, para que o livre<br />
arbítrio continuasse existindo, e por isso Rabi Shimon bar Yochai <strong>de</strong>cidiu<br />
sair do mundo em 18 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong>.<br />
Aqueles <strong>de</strong> nós que quiserem receber a energia <strong>de</strong> uma alma tão elevada<br />
nessa data, que po<strong>de</strong> nos ajudar a remover totalmente o caos <strong>de</strong> nossas vidas,<br />
po<strong>de</strong>mos estudar o Zohar, especialmente a seção conhecida como Idra Zuta,<br />
que <strong>de</strong>screve a partida <strong>de</strong> Rabi Shimon <strong>de</strong>ste plano físico, ilusório.<br />
Os Tiranistas mentirosos<br />
Dedico esse artigo a Michael Kelly,<br />
um dos mais famosos colunistas<br />
do jornal “The Washington Post”. Michael<br />
se voluntarizou a ser jornalista<br />
na guerra “Iraqi Freedom” e foi morto<br />
lá há uns dias atrás. Em 26 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 2001, alguns dias após o<br />
ataque terrorista ao WTC e ao Pentágono,<br />
Michael publicou um artigo<br />
chamado “Pacifist Claptrap”. Partes<br />
<strong>de</strong>ste meu artigo foram traduzidas<br />
daquele artigo.<br />
O mundo está cheio <strong>de</strong> tiranos.<br />
Cada um pior do que o outro. Cada<br />
um mais cruel do que o outro. Cada<br />
um cometendo mais atrocida<strong>de</strong>s contra<br />
o seu próprio povo, do que o outro.<br />
Cada um causando mais guerras<br />
contra os vizinhos do que o outro.<br />
Um fato, porém passa <strong>de</strong>spercebido.<br />
Todos os pacifistas do mundo<br />
inteiro, nunca saem em manifestações<br />
contra esses tiranos. Os pacifistas sabem<br />
muito bem que os tiranos não<br />
dão a mínima para o que eles pensam<br />
ou <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> pensar. Mais ainda, lí<strong>de</strong>res<br />
pacifistas no mundo inteiro, po<strong>de</strong>m<br />
ser assassinados por emissários<br />
<strong>de</strong>sses tiranos. Então, não se trata <strong>de</strong><br />
hipocrisia. Trata-se <strong>de</strong> medo!<br />
Em 1942, o escritor George Orwell<br />
escreveu no “Partisan Review”, da Inglaterra:<br />
“Pacifismo é objetivamente<br />
pró-fascista. Isso faz sentido da forma<br />
mais elementar possível. Se você<br />
evita os esforços <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> um lado,<br />
automaticamente você ajuda o outro<br />
lado. Não ha nenhuma maneira <strong>de</strong> você<br />
ficar neutro, como nessa guerra (se referiu<br />
a Segunda Guerra Mundial) porque<br />
na prática, quem não esta comigo<br />
está contra mim’“.<br />
Esse artigo irritou muito os pacifistas<br />
da Inglaterra, mas a lógica <strong>de</strong><br />
Orwell era irrefutável. Os nazistas<br />
queriam que a Inglaterra não lutasse.<br />
Se a Inglaterra não lutasse, os nazistas<br />
a conquistariam, sem dúvida alguma.<br />
Os pacifistas ingleses queriam<br />
que a Inglaterra não lutasse. Os pacifistas<br />
ingleses estavam então, do lado<br />
da vitória dos nazistas contra os ingleses.<br />
Assim, os pacifistas ingleses<br />
eram invariavelmente pró-fascistas.<br />
A mesma lógica se aplica agora.<br />
Terroristas bem organizados atacaram<br />
os Estados Unidos da América. Esses<br />
grupos querem que os americanos não<br />
lutem contra eles. Os pacifistas americanos<br />
e os do mundo inteiro, querem<br />
que os americanos não lutem contra<br />
os terroristas. Se a América não<br />
lutar, os terroristas atacarão <strong>de</strong> novo<br />
e agora nós sabemos que esses ataques<br />
po<strong>de</strong>m custar a vida <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> pessoas. Assim, os pacifistas americanos<br />
e os do mundo inteiro, estão<br />
do lado dos futuros terroristas, assassinos-genocidas.<br />
Esses pacifistas<br />
Moshe Rosenblatt *<br />
são, inevitavelmente e objetivamente<br />
pró-terrorismo.<br />
O presi<strong>de</strong>nte Bush disse: Uma<br />
guerra foi <strong>de</strong>clarada. Agora, ou você<br />
está <strong>de</strong>sse lado ou do outro lado. Ou<br />
você está do lado que vai fazer o necessário<br />
para capturar ou matar os que<br />
controlam o dinheiro e/ou hospedam<br />
os terroristas ou você é contra fazer<br />
isso. Se você é contra, você esta permitindo<br />
aos terroristas a continuar os<br />
ataques <strong>de</strong>les contra a América. De<br />
fato, você está dizendo: eu acredito<br />
que é melhor <strong>de</strong>ixar mais americanos<br />
— talvez muitíssimos mais americanos<br />
— serem assassinados, do que<br />
capturar ou matar os assassinos.<br />
A Alemanha <strong>de</strong>cidiu ficar neutra,<br />
haja vista o passado hitleriano <strong>de</strong>la.<br />
Decidiram não entrar mais em guerras.<br />
Eles dizem que essa é a lição que<br />
eles apren<strong>de</strong>ram do passado vergonhoso.<br />
Na verda<strong>de</strong>, essa <strong>de</strong>cisão é<br />
ainda mais vergonhosa. A lição da<br />
época hitleriana não é que <strong>de</strong>vemos<br />
evitar guerras. A lição correta é que<br />
<strong>de</strong>vemos lutar contra tiranias, contra<br />
todos os tipos <strong>de</strong> hitlers, pequenos e<br />
gran<strong>de</strong>s, mais cruéis ou menos cruéis.<br />
Só os regimes <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong>vem<br />
existir no mundo. Essa é a gran<strong>de</strong> lição<br />
das duas guerras mundiais.<br />
Como já escrevi no passado, nenhuma<br />
guerra do mundo foi causada<br />
por um conflito qualquer, por mais sério<br />
que seja o conflito. Todas as guerras<br />
do mundo foram causadas pela mera<br />
existência <strong>de</strong> tiranos. A prova disso é<br />
que nunca houve uma só guerra entre<br />
duas <strong>de</strong>mocracias (quando as duas eram<br />
<strong>de</strong>mocráticas). Numa guerra entre dois<br />
tiranos (Iraque x Irã) não há razão <strong>de</strong><br />
se torcer pela vitória <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les ou<br />
tentar ajudar a um <strong>de</strong>les. Numa guerra<br />
entre uma <strong>de</strong>mocracia e uma tirania, a<br />
<strong>de</strong>mocracia tem sempre razão e a tirania<br />
está sempre errada — invariavelmente.<br />
Devemos sempre ajudar a <strong>de</strong>mocracia<br />
a vencer a tirania.<br />
Os pacifistas <strong>de</strong>vem parar <strong>de</strong> fazer<br />
manifestações contra a guerra,<br />
pois essas <strong>de</strong>monstrações são sempre<br />
contra o lado <strong>de</strong>mocrático e nunca<br />
contra o lado tirânico. Pacifistas são<br />
somente as pessoas que saem em<br />
guerra contra as tiranias! Pacifistas<br />
que fazem manifestações contra <strong>de</strong>mocracias<br />
são, na verda<strong>de</strong>, guerricistas!<br />
Chamo esses pacifistas <strong>de</strong> “tiranistas<br />
mentirosos”. O uso que eles<br />
fazem da palavra “pacifismo” é a gran<strong>de</strong><br />
mentira <strong>de</strong>les e eles sabem disso<br />
muito bem.<br />
Por isso, os pacifistas do mundo<br />
inteiro, são simplesmente criminosos,<br />
pois eles incitam os tiranos e os terroristas,<br />
sendo responsáveis por inúmeras<br />
mortes <strong>de</strong> pessoas inocentes.<br />
Abaixo os tiranistas mentirosos!<br />
* Moshe Rosenblatt mora em Ha<strong>de</strong>ra, Israel
A guerra <strong>de</strong> Bush: o<br />
haxixe e o homem-bomba<br />
Ali Kamel*<br />
Semanas passadas, o Arnaldo Jabor saiu-se com a seguinte tirada<br />
na TV Globo: “Sabem por que aquela bomba gigante chamase<br />
a mãe <strong>de</strong> todas as bombas? Porque vai gerar milhares <strong>de</strong> homensbomba”.<br />
Parecia profecia, porque, já no dia seguinte, um militar<br />
suicida iraquiano explodiu o carro em que estava, matando quatro<br />
soldados americanos. E o ministro das Relações Exteriores do Iraque,<br />
o cristão Tarik Aziz, <strong>de</strong>u as boas-vindas a quatro mil homensbomba<br />
que teriam chegado ao Iraque para combater os EUA. Tudo<br />
isso me fez pensar que fenômeno leva alguém a se matar para matar<br />
outras pessoas.<br />
A mesma pergunta se fizeram os muçulmanos do século XI quando<br />
pela primeira vez o fenômeno irrompeu naqueles lados do mundo,<br />
pelas mãos <strong>de</strong> uma seita que se dizia também muçulmana. E,<br />
diante da loucura do expediente, que contrariava todos<br />
os ensinamentos do Alcorão, a resposta encontrada foi uma só:<br />
haxixe, eles só podiam fazer aquela loucura drogados. Nunca se<br />
provou a tese, mas os muçulmanos apelidaram os a<strong>de</strong>ptos daquele<br />
método <strong>de</strong> os “Hashshashin” (os que fumam haxixe), palavra que<br />
entrou em muitas línguas como “assassinos”.<br />
Os suicidas pertenciam a uma seita fundada, em 1090, por Hassan<br />
e-Sabbah, um persa xiita que tomou a si o projeto <strong>de</strong> restabelecer<br />
o califado, restituindo-lhe a glória como no tempo do Profeta.<br />
O mundo islâmico, no ano <strong>de</strong> seu nascimento, em 1048, era xiita:<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 932, um po<strong>de</strong>roso grupo xiita, os Buwayhidas, dominava<br />
Bagdá e ditava suas leis ao próprio califa, que era sunita. No Egito,<br />
um outro grupo xiita, os fatímidas, chefiava um segundo califado.<br />
Mas as coisas logo começaram a mudar. Em 1055, os turcos<br />
seldjúcidas, sunitas, invadiram Bagdá, perseguindo os xiitas e<br />
fazendo prevalecer a crença sunita (o califa continuou a ser<br />
uma figura <strong>de</strong>corativa, sem po<strong>de</strong>r real). Anos <strong>de</strong>pois, no Egito, o<br />
califa xiita também passou a ser uma marionete nas mãos do seu vizir<br />
armênio. Hassan quis pôr um fim a isso, aliando-se a Nizar, o filho<br />
mais velho do califa do Egito. Seu plano? Ataques suicidas contra<br />
seus oponentes.<br />
O crime <strong>de</strong>via acontecer à luz do dia, no lugar mais<br />
movimentado da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> preferência numa mesquita bem cheia<br />
durante as orações <strong>de</strong> sexta-feira. Para que o ato tivesse ampla<br />
repercussão e provocasse medo. O primeiro crime aconteceu em 1092<br />
e teve como alvo ninguém menos do que Nizam el-Mulk, o<br />
vizir turco que durante trinta anos organizara o po<strong>de</strong>r sunita.<br />
Ele foi assassinado por um a<strong>de</strong>pto <strong>de</strong> Hassan em 14 <strong>de</strong> outubro<br />
<strong>de</strong> 1092. Apesar do sucesso da empreitada, o plano <strong>de</strong> restituir a<br />
glória ao califado fracassou, pois Nizar, o filho do antigo<br />
califa xiita, não conseguiu tomar o po<strong>de</strong>r no Egito e foi emparedado<br />
vivo. Hassan não <strong>de</strong>sistiu, porém. Ele organizou cada vez<br />
mais a sua seita com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir seus oponentes sunitas.<br />
Seus crimes seguiram sempre a mesma técnica suicida: seus<br />
a<strong>de</strong>ptos disfarçavam-se como pessoas comuns, pedintes, mercadores,<br />
crentes e, quando a vítima passava à sua frente, enfiavam-lhes<br />
a adaga até que morressem. Faziam isso sabendo que seriam mortos<br />
imediatamente, pois agiam sozinhos, sem possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Mas tinham sempre um sorriso nos lábios, porque acreditavam<br />
piamente em tudo o que Hassan lhes dizia: não morrerão,<br />
mas entrarão direto no paraíso, terão autorização para ver a<br />
face <strong>de</strong> Deus, disporão dos serviços <strong>de</strong> 72 virgens e po<strong>de</strong>rão indicar<br />
outros setenta parentes para que entrem também no paraíso.<br />
A seita aterrorizou o Oriente Médio por mais <strong>de</strong> 150 anos, tutelou,<br />
pelo terror, muitos emires, até serem exterminados <strong>de</strong> vez pelos<br />
mongóis e sultões mamelucos.<br />
De vez? Bem o método <strong>de</strong>les ressurgiu em 1983, no Líbano e,<br />
agora, ironia da História, seus a<strong>de</strong>ptos vivem o seu ápice com a al-<br />
Qaeda, <strong>de</strong> Osama bin La<strong>de</strong>n, e seus congêneres do grupo Hamas e<br />
Jihad Islâmica, todos ultra-ordoxos sunitas, os inimigos contra os<br />
quais se batia a seita <strong>de</strong> Hassan el-Sabbah. Como uma crença da<br />
Ida<strong>de</strong> Média po<strong>de</strong> ser revivida em pleno século XXI é assunto para<br />
outro artigo.<br />
* Ali Kamel é jornalista e diretor executivo da Central <strong>de</strong> Jornalismo da TV Globo<br />
(De Israel) — Arafat é o mais matreiro<br />
dos lí<strong>de</strong>res árabes. Para o mundo ele<br />
se submeteu á pressões árabes, européias<br />
e americanas e conce<strong>de</strong>u o que Abu Mazen<br />
queria que era contar com Dahlan,<br />
<strong>de</strong> Gaza, como o homem para cuidar do<br />
setor <strong>de</strong> segurança do novo governo palestino.<br />
Chegou-se a uma solução salomonica<br />
como se sabe. Abu Mazen ficou<br />
primeiro ministro e ministro do Interior.<br />
Dahlan numa posição <strong>de</strong> chefia das forças<br />
<strong>de</strong> segurança, isto é, com po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />
ministro sem o titulo.<br />
Conhecendo-se como Arafat funciona,<br />
e se lembrando o sorriso que ostentou<br />
no final do drama, ele saiu vencedor <strong>de</strong><br />
uma jogada altamente maliciosa e inteligente.<br />
Ameaçando não aprovar o pedido<br />
<strong>de</strong> Abu Mazen criou o receio <strong>de</strong> que se<br />
per<strong>de</strong>ria a chance <strong>de</strong> retomada do processo<br />
<strong>de</strong> paz. Esperando até o último<br />
minuto para recuar. conseguiu, na pratica,<br />
que americanos, europeus, árabes,<br />
oferecessem um aval <strong>de</strong>les a que continue<br />
na posição <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte, e retomar<br />
conversas com ele o que os americanos<br />
haviam suspendido <strong>de</strong>finitivamente há um<br />
ano ou mais. Fora qualificado <strong>de</strong> irrelevante.<br />
Conseguiu mais que foi manifestação<br />
americana, européia, árabe <strong>de</strong> tácito<br />
e publico apoio, no escuro, ao plano<br />
<strong>de</strong> paz dos Estados Unidos, o “roadmap”.<br />
O mundo reconheceu que Arafat tem o<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> impedir o entendimento.<br />
A <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> um primeiro ministro<br />
e um gabinete foi reconhecida como<br />
a abertura do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização<br />
do que virá a ser o primeiro governo<br />
do Estado palestino a surgir. É bom <strong>de</strong><br />
jogo o velho Arafat.<br />
Breve, logo após os americanos divulgarem<br />
o ”roadmap”, o que <strong>de</strong>ve acontecer<br />
na próxima semana. Abu Mazen será<br />
convidado á Casa Branca para conversar<br />
com o presi<strong>de</strong>nte Bush. E terá seu primeiro<br />
encontro <strong>de</strong> trabalho com Sharon,<br />
o primeiro ministro <strong>de</strong> Israel, que está<br />
sob a promessa publica <strong>de</strong> tudo fazer para<br />
se chegar a uma paz.<br />
Claro que existem as condicionais. Israel<br />
não negocia coisa alguma se continuarem<br />
os ataques terroristas. Abu Mazen<br />
já con<strong>de</strong>nou o atentado recente, na<br />
estação <strong>de</strong> trem da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Kefar Sabá.<br />
E ganhou pontos com um simples conjunto<br />
<strong>de</strong> palavras. Dahlan é homem <strong>de</strong><br />
enfrentar os grupos extremistas que sabem<br />
disto.<br />
Sharon já disse que não vingará o<br />
atentado <strong>de</strong> quinta. Não conta pontos.<br />
O processo começará mesmo <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> divulgado o plano <strong>de</strong> paz <strong>de</strong> Washington<br />
e da conversa <strong>de</strong> Abu Mazen com<br />
Bush. Só então se saberá se o governo<br />
palestino assumirá controlar os grupos<br />
extremistas, como Hamas, Jihad e outros.<br />
Abu Mazen só terá a ganhar. Conseguirá<br />
a proclamação da existência <strong>de</strong> um Estado<br />
palestino, ajuda internacional, simpatias.<br />
Sharon terá <strong>de</strong> fazer concessões<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
No caminho da paz?<br />
Nahum Sirotsky *<br />
territoriais substanciais.<br />
Um arranjo para o conflito israelense<br />
palestino é fundamental na estratégia<br />
americana para o Oriente Médio. Pacificando<br />
o Iraque, que precisam colocar no<br />
caminho <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong>mocrático, ficam<br />
na posição <strong>de</strong> controlarem políticas<br />
do mundo árabe mesmo enfrentando séria<br />
resistência como já acontece. Os árabes<br />
se sentem humilhados com a <strong>de</strong>rrota.<br />
País algum se levantará em armas, pois<br />
os americanos mostraram po<strong>de</strong>rio inimitável<br />
e invencível. A guerra no Iraque foi<br />
um passeio. Do lado da chamada Coligação<br />
houve proporcionalmente mais jornalistas<br />
mortos do que soldados. Mas, se<br />
fosse resolvido o conflito israelense-palestino,<br />
que é o que mais os humilha, <strong>de</strong><br />
forma a satisfazer sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
presença em Jerusalém, da qual, pela tradição<br />
do Islã, Maomé ascen<strong>de</strong>u aos céus<br />
e recebeu diretamente <strong>de</strong> Deus (Alá) o<br />
Corão, o Último dos Testamentos, por<br />
<strong>de</strong>finição, o mais completo, eles se sentirão<br />
um tanto compensados. No conjunto,<br />
os 22 paises da Liga Árabe têm um<br />
território 640 vezes maior e 60 vezes mais<br />
população do que o estado ju<strong>de</strong>u. E no<br />
momento os americanos estão em situação<br />
i<strong>de</strong>al para pressionarem Sharon. Israel<br />
está economicamente falida. O próprio<br />
Sharon <strong>de</strong>clarou que não saberia se<br />
o país po<strong>de</strong>ria sustentar a atual situação<br />
por muito mais tempo.<br />
Precisa dos dólares para se recuperar.<br />
Os americanos indicam que serão avalistas<br />
<strong>de</strong> empréstimo internacional pretendido<br />
por Israel. Mas até agora não se manifestaram<br />
com medidas praticas. Provavelmente<br />
pressionarão Israel a substanciais<br />
concessões para se chegar a um entendimento<br />
com os palestinos. As pesquisas<br />
indicam que israelenses favoreceriam<br />
gran<strong>de</strong>s concessões aos palestinos<br />
para po<strong>de</strong>rem viver em paz na região. O<br />
plano americano prevê que em troca das<br />
concessões necessárias Israel teria suas<br />
fronteiras reconhecidas por todos os paises<br />
árabes que assinariam tratados <strong>de</strong> paz.<br />
Mas os israelenses não confiam nos árabes<br />
e esses não confiam nos israelenses. E existem<br />
concessões, como o reconhecimento<br />
do direito <strong>de</strong> retorno, que Israel não fará.<br />
Teria <strong>de</strong> receber milhões <strong>de</strong> palestinos que<br />
logo seriam a maioria e acabariam com o<br />
Estado ju<strong>de</strong>u pelo voto. Pelo menos é o<br />
que se pensa aqui. Seria suicídio.<br />
A paz é o sonho dos israelenses, o<br />
que está proclamado em todas as sua preces.<br />
Mas ainda é apenas um sonho. E se é<br />
verda<strong>de</strong>, como diz a sabedoria chinesa,<br />
que toda a viagem começa com um primeiro<br />
passo, não é menos verda<strong>de</strong> que<br />
po<strong>de</strong> ser tão longa que nunca se chegue<br />
aon<strong>de</strong> se quer.<br />
O maior teste da viabilida<strong>de</strong> da Pax americana<br />
é aqui. E não se po<strong>de</strong> prever que<br />
haverá sucesso. Sem resolverem o conflito<br />
israelense-palestino, que Bush prometeu <strong>de</strong><br />
pés juntos que o faria, nunca conseguirão<br />
se firmar no <strong>de</strong>sejado Oriente Médio.<br />
19
Reprodução <strong>de</strong> pintura <strong>de</strong> Michal Meron, Israel<br />
20<br />
<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />
Lag BaOmer é uma festivida<strong>de</strong><br />
do calendário judaico,<br />
que, como seu<br />
nome sugere, é celebrada<br />
no 33º dia das sete semanas<br />
da contagem do Omer, entre<br />
Pessach e Shavuot. Sua data no calendário<br />
hebraico é 18 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong>. Na época<br />
dos Templos, em Jerusalém, um omer<br />
(unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida) <strong>de</strong> cevada era oferecido<br />
por todos os agricultores <strong>de</strong> Israel<br />
no segundo dia <strong>de</strong> Pessach. Até que<br />
esta oferenda era feita, pães e grãos<br />
não podiam ser consumidos (Levítico:<br />
23-14). A partir <strong>de</strong>ste dia, os agricultores<br />
contavam então 49 dias até Shavuot,<br />
o festival da colheita, quando novamente<br />
peregrinavam à Jerusalém.<br />
A razão do semi-luto (não se fazem<br />
gran<strong>de</strong>s celebrações,<br />
nem se corta o<br />
cabelo) observado<br />
durante o período do<br />
Omer vem do Talmud,<br />
que <strong>de</strong>screve como<br />
uma praga matou os 24<br />
mil discípulos <strong>de</strong> Rabbi<br />
A festa <strong>de</strong> Lag BaOmer<br />
Akiva (no ano I da Era Comum). A praga<br />
cessou em Lag BaOmer. Foi também<br />
durante esse período, 350 anos atrás,<br />
que c orreram os massacres <strong>de</strong> Chmielnitzki<br />
na Rússia, Ucrânia e Polônia<br />
quando milhares <strong>de</strong> homens, mulheres<br />
e crianças ju<strong>de</strong>us foram mortos.<br />
Em Lag BaOmer, a revolta judaica<br />
li<strong>de</strong>rada por Bar Kochba assegurou uma<br />
vitória contra os romanos, após uma<br />
série <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotas. Rabbi Shimon Bar Iochai<br />
(autor do Zohar, primeiro livro da<br />
Cabala) morreu em Lag BaOmer. Cabalistas<br />
e hassidim se reúnem em seu<br />
túmulo, em Meron (na Galiléia - Israel),<br />
em Lag BaOmer acen<strong>de</strong>ndo fogueiras,<br />
realizando o primeiro corte <strong>de</strong> cabelo<br />
<strong>de</strong> seus filhos, dançando e cantando<br />
por toda a noite.<br />
As fogueiras são a principal maneira<br />
com que este dia é celebrado em<br />
Israel e na Diáspora, tanto por ju<strong>de</strong>us<br />
religiosos quanto pelos seculares. O<br />
fogo representa a conversão do material<br />
em energia, similar a um conceito<br />
cabalístico <strong>de</strong> faíscas <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>, inerentes<br />
ao mundo material.<br />
Durante a Contagem do Omer não<br />
se celebram casamentos ou outras festas,<br />
sendo que muitos costumam realizá-los<br />
em datas comemorativas como:<br />
Rosh Cho<strong>de</strong>sh (início do mês), Iom<br />
Haatsmaut (Dia da In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><br />
Israel) e Iom Ierushalaim (Dia da Reunificação<br />
<strong>de</strong> Jerusalém) - tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
do costume local. Isto porque, no<br />
século II E.C, no período entre Pessach<br />
e Shavuot, Bar Kochba e os discípulos<br />
<strong>de</strong> Rabbi Akiva sofreram uma grave<br />
<strong>de</strong>rrota em sua rebelião contra os romanos.<br />
O Talmud (Ievamot 62b) <strong>de</strong>screve<br />
este episódio não como uma <strong>de</strong>rrota<br />
militar, mas sim como uma epi<strong>de</strong>mia<br />
que irrompeu entre os soldados<br />
<strong>de</strong> Bar Kochba. Seja como for, 24 mil<br />
dos jovens seguidores <strong>de</strong> Rabbi Akiva<br />
per<strong>de</strong>ram a vida. Por este motivo, este<br />
período <strong>de</strong> sete semanas é marcado por<br />
luto parcial.<br />
Mas uma exceção à regra é Lag Ba<br />
Omer, a qual merece especial <strong>de</strong>staque.<br />
A palavra Lag, em hebraico, é formada<br />
por duas letras, lamed e guimel, cujo<br />
valor numérico (cada letra do alfabeto<br />
hebraico tem um valor) é 33. Portanto,<br />
Lag BaOmer significa o 33º dia da<br />
Contagem do Omer. Neste dia (o qual<br />
observamos até hoje), segundo a tradição,<br />
aconteceram alguns fatos muito<br />
significativos para o Povo Ju<strong>de</strong>u:<br />
1) O maná, alimento vindo dos<br />
céus e que alimentou o povo durante<br />
a travessia do <strong>de</strong>serto, começou a cair<br />
neste dia;<br />
2) A epi<strong>de</strong>mia que dizimava os jovens<br />
discípulos <strong>de</strong> Rabbi Akiva, cessou<br />
completamente;<br />
3) Rabbi Shimon Bar Yochai, autor<br />
do Zôhar - obra máxima da mística judaica<br />
- faleceu neste dia, pedindo para<br />
que sua passagem não fosse marcada por<br />
tristeza e <strong>de</strong>solação. Muito pelo contrário:<br />
exortou a seus discípulos que comemorassem<br />
esta data com alegria e júbilo.<br />
E é justamente <strong>de</strong>sta última personagem<br />
que provém os costumes <strong>de</strong> Lag<br />
BaOmer. Durante o domínio romano, os<br />
ju<strong>de</strong>us foram proibidos <strong>de</strong> estudar a<br />
Torá sob pena <strong>de</strong> morte. Rabi Shimon<br />
Bar Yochai, por sua vez, teve <strong>de</strong> refugiar-se<br />
em uma caverna nas montanhas<br />
da Galiléia, on<strong>de</strong> permaneceu por 13<br />
anos. Seus discípulos, para po<strong>de</strong>rem se<br />
encontrar com ele tinham <strong>de</strong> sair aos<br />
campos carregando arcos e flechas, fingindo<br />
que iam caçar. Desta forma, con-<br />
seguiam enganar os soldados romanos<br />
e continuavam a receber os ensinamentos<br />
<strong>de</strong> seu mestre. Por isso, em Israel,<br />
o feriado é comemorado com piqueniques,<br />
fogueiras e concursos e brinca<strong>de</strong>iras<br />
<strong>de</strong> arco e flecha para crianças,<br />
sendo que muitos visitam seu túmulo<br />
em Meron, tendo as fogueiras como tributo<br />
à sua memória. Uma outra explicação<br />
para o arco é que, segundo a lenda,<br />
o arco-íris, que não apareceu durante<br />
toda a sua vida, voltou a brilhar<br />
suas cores no céu neste dia. No dia da<br />
morte <strong>de</strong> Rabbi Shimon Bar Yochai ele<br />
ensinou seus estudantes muitas das lições<br />
escondidas da Torá. Neste dia o<br />
sol não se pôs e o dia não terminou<br />
até que ele não terminasse <strong>de</strong> ensinar<br />
tudo que D-us lhe permitira revelar.<br />
Mil anos <strong>de</strong>pois, durante as Cruzadas<br />
na França e Alemanha, comunida<strong>de</strong>s<br />
judaicas completas foram mortas<br />
durante o período do Omer. E nos anos<br />
<strong>de</strong> 1648 e 1649, Bogdan Chmielnitzki<br />
li<strong>de</strong>rou os cossacos russos no ataque e<br />
assassinato <strong>de</strong> 300 mil ju<strong>de</strong>us.<br />
O costume <strong>de</strong> Lag BaOmer das crianças<br />
brincarem com arcos e flechas <strong>de</strong><br />
brinquedo, recorda-nos <strong>de</strong> quando os<br />
romanos reinavam sobre a Terra <strong>de</strong> Israel.<br />
Os romanos não permitiam o estudo<br />
da Torá. Todos que fossem pegos<br />
estudando a Torá eram mortos. Rabbi<br />
Akiva não parou <strong>de</strong> ensinar a Torá. Ele<br />
dizia: “Ju<strong>de</strong>us sem a Torá são como<br />
peixes fora d’água! Devemos continuar<br />
estudando a Torá!”. Ele e seus estudantes<br />
se disfarçavam <strong>de</strong> caçadores, carregavam<br />
arcos e flechas no meio das<br />
florestas, e estudavam a Torá, às vezes<br />
escondidos em cavernas.<br />
Em várias comunida<strong>de</strong>s, garotos<br />
que ainda não tiveram seus cabelos<br />
cortados e atingiram a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 3 anos<br />
tem seu primeiro corte <strong>de</strong> cabelo em<br />
Lag BaOmer. Na Terra <strong>de</strong> Israel, muitas<br />
pessoas levam seus filhos a Meron,<br />
o local on<strong>de</strong> Rabbi Shimon Bar<br />
Iochai está enterrado, e lá cortam seus<br />
cabelos pela primeira vez.