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VISÃO JUDAICA • abril de 2003 • Nissan / Iyar • 5763

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<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

1


2<br />

editorial<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

Publicação mensal in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

EMPRESA JORNALÍSTICA <strong>VISÃO</strong><br />

<strong>JUDAICA</strong> LTDA.<br />

Redação, Administração e Publicida<strong>de</strong><br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Curitiba <strong>•</strong> PR <strong>•</strong> Brasil<br />

Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />

Diretora <strong>de</strong> Operações<br />

e Marketing<br />

SHEILLA FIGLARZ<br />

Diretor <strong>de</strong> Redação<br />

SZYJA B. LORBER<br />

Diretora Comercial<br />

HANA KLEINER<br />

Criação e Diagramação<br />

SONIA OLESKOVICZ<br />

Colaboram nesta edição:<br />

Ali Kamel, Aristi<strong>de</strong> Bro<strong>de</strong>schi,<br />

David Stratton, Déborah Berlink,<br />

Edda Bergmann, Herman Glanz,<br />

L. Alha<strong>de</strong>ff, Moshe Rosenblatt,<br />

Nahum Sirotsky, Pilar Rahola,<br />

Shmuel Lemle, Vittorio Corinaldi<br />

e Yossi Groisseoign.<br />

Os artigos assinados não representam<br />

necessariamente a opinião do jornal<br />

lição que po<strong>de</strong>mos tirar da guerra contra<br />

o Iraque, é uma lição semi-esquecida<br />

nos confins da memória. Muitos<br />

<strong>de</strong> nós apren<strong>de</strong>mos a enxergar o que não<br />

queríamos ver: que o anti-semitismo não<br />

tem fronteiras, não tem i<strong>de</strong>ologia — todos se juntam<br />

contra os ju<strong>de</strong>us — direita e esquerda, mais o<br />

fundamentalismo <strong>de</strong> alguns dignitários religiosos,<br />

sejam islâmicos ou cristãos, num ódio irracional,<br />

que se pensava já <strong>de</strong>finitivamente enterrado com a<br />

<strong>de</strong>rrocada do nazi-fascismo na Segunda Guerra. O<br />

arcebispo <strong>de</strong> Porto Alegre nega os números e significado<br />

do Holocausto. Em São Paulo, um lí<strong>de</strong>r da<br />

comunida<strong>de</strong> muçulmana chama os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> “câncer<br />

da humanida<strong>de</strong>”. Na França, jovens ju<strong>de</strong>us que participavam<br />

<strong>de</strong> uma manifestação contra a guerra são<br />

violentamente agredidos com barras <strong>de</strong> ferro. Na Inglaterra,<br />

uma jovem ostenta uma bandana na testa<br />

on<strong>de</strong> se lê: “matem os ju<strong>de</strong>us”. Intolerância? Ódio?<br />

Preconceito? Anti-semitismo? Ou será isso tudo junto<br />

o produto <strong>de</strong> milênios da ju<strong>de</strong>ufobia?<br />

Finda a guerra no Iraque, parece haver solução<br />

para o conflito israelense-palestino. Visão Judaica<br />

Nossa capa<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Intolerância, guerra e paz<br />

A capa reproduz o quadro cujo título é “Reza<br />

no Muro”, pintado com a técnica óleo sobre tela,<br />

e dimensões 60cm x 80 cm, criação <strong>de</strong> Aristi<strong>de</strong><br />

Bro<strong>de</strong>schi e que pertence a coleção particular.<br />

Aristi<strong>de</strong> Bro<strong>de</strong>schi nasceu em Bucareste,<br />

Romênia. É Arquiteto e Artista Plástico e vive<br />

em Curitiba <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1978. Já <strong>de</strong>senvolveu trabalhos<br />

em várias técnicas, <strong>de</strong>ntre elas pintura, gravura e tapeçaria.<br />

Recebeu premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão<br />

espalhadas por vários países e tem no judaísmo, uma <strong>de</strong> suas principais fontes<br />

<strong>de</strong> inspiração. É colaborador das capas do jornal Visão Judaica.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Notas <strong>de</strong> Falecimento<br />

Acendimento das<br />

velas <strong>de</strong> shabat em<br />

Curitiba em maio<br />

sempre <strong>de</strong>ixou clara sua posição <strong>de</strong> entendimento<br />

ao direito dos palestinos <strong>de</strong> possuírem seu território<br />

e sua autonomia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o direito <strong>de</strong> Israel<br />

existir fosse respeitado. A ONU, aliás, já preconizava<br />

isso em 1948 quando votou pela partilha da Palestina.<br />

O “roadmap”, o caminho da paz, traçado<br />

pelos norte-americanos com apoios russo e francês,<br />

da ONU e da União Européia, consiste numa ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> medidas concretas <strong>de</strong> lado a lado e simultâneas,<br />

está aí. O fim <strong>de</strong>ve ser um estado palestino e um<br />

Israel <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> fronteiras reconhecidas por todos<br />

os paises árabes e acordos <strong>de</strong> paz.<br />

Com a queda <strong>de</strong> Bagdá o mundo <strong>de</strong>spertou para<br />

um outro problema, que ninguém mencionava e que<br />

ainda não vem obtendo espaço necessário na mídia<br />

internacional. Des<strong>de</strong> a Guerra dos Seis Dias, em 1967,<br />

em que Israel se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u <strong>de</strong> um ataque <strong>de</strong>stinado<br />

a esmagá-lo não se falou em outra coisa a não ser<br />

na criação da Palestina. Mas por que será que nunca<br />

vimos na imprensa um único clamor por um Estado<br />

curdo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. É um povo como os outros, que<br />

tem sua história, sua cultura, seus valores e só não<br />

países e também sofre perseguições no Iraque, na<br />

Turquia, no Irã e na Síria. O primeiro-ministro israelense,<br />

Ariel Sharon, mais uma vez <strong>de</strong>clara sua disposição<br />

<strong>de</strong> conviver um estado palestino.<br />

Talvez consiga Abu Mazen, o primeiro-ministro<br />

indicado para o processo <strong>de</strong> reformas do governo<br />

palestino e sua <strong>de</strong>mocratização, que aceitou o cargo<br />

com a condição <strong>de</strong> assumi-lo com todos os po<strong>de</strong>res<br />

a ele inerentes, embora Arafat estivesse resistindo,<br />

pois tem o hábito do po<strong>de</strong>r do qual é difícil se<br />

livrar. Irá a Washington para receber o prestigio da<br />

Casa Branca. E então começarão as negociações. Seu<br />

primeiro teste será se impor aos grupos extremistas<br />

para obter o cessar-fogo. Será o primeiro passo do<br />

caminho da paz.<br />

O período a que correspon<strong>de</strong> esta edição <strong>de</strong><br />

Visão Judaica inclui Iom Hashoá (Dia do Holocausto),<br />

Iom Hazicaron (Dia da Recordação), Iom Haatsmaut<br />

(Dia da In<strong>de</strong>pendência) e Lag Baomer, um evento<br />

que, como os <strong>de</strong>mais, é explicado em matérias<br />

especiais neste número. Boa leitura!<br />

tem seu território. É um povo que vive em outros A Redação<br />

Faleceu prematuramente, no dia 9 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong>, a querida amiga Silvia<br />

Mazer. A seus filhos, pais e irmãs pedimos bênçãos <strong>de</strong> paz.<br />

Com pesar, o Ministério das Relações Exteriores israelense informou sobre o<br />

falecimento do Sr. Michael Shavit, esposo da ex-cônsul geral <strong>de</strong> Israel em São<br />

Paulo, Sra. Dorit Shavit, ocorrido dia 6 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong>, em Jerusalém.<br />

DATA HORA<br />

2/5 17h28<br />

9/5 17h23<br />

16/5 17h19<br />

23/5 17h17<br />

30/5 17h15<br />

29 <strong>de</strong> <strong>abril</strong><br />

<strong>•</strong> Iom Hashoá (Dia do Holocausto)<br />

6 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>•</strong> Iom Hazicaron (Dia da Recordação)<br />

7 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>•</strong> Iom Haatsmaut (Dia da In<strong>de</strong>pendência)<br />

16 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>•</strong> Pessach Sheni (Segunda Páscoa)<br />

20 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>•</strong> Lag Baomer<br />

Datas importantes<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

CRISTÃOS CELEBRAM<br />

FESTA <strong>JUDAICA</strong><br />

Nos dias 14 e 15 <strong>de</strong> <strong>abril</strong>, 430<br />

cristãos celebraram a Páscoa judaica<br />

na sua forma tradicional. Professores<br />

e funcionários dos Colégios<br />

Madre Cléia e Santa Maria (Marista),<br />

<strong>de</strong> Curitiba, pu<strong>de</strong>ram, na semana<br />

em que se comemora o acontecimento<br />

mais importante do cristianismo,<br />

conhecer as origens da fé cristã.<br />

Os diretores e orientadores dos colégios<br />

optaram pela celebração original<br />

do Pessach, pois na opinião <strong>de</strong>les,<br />

está é a maneira mais correta <strong>de</strong><br />

se conhecer a festa judaica conforme<br />

a sua tradição secular, evitando assim,<br />

as conhecidas adaptações “judaico-cristãs”<br />

do Pessach, que fatalmente<br />

corrompem e pouco traduzem<br />

o espírito da Festa.<br />

Na opinião do professor Antonio<br />

Carlos Coelho, que orientou o trabalho<br />

nas duas instituições <strong>de</strong> ensino,<br />

a iniciativa da direção dos dois colégios<br />

tem um importante significado:<br />

ao se reconhecer e acolher a rica<br />

herança judaica legada ao mundo<br />

cristão, principalmente neste momento<br />

em que os sentimentos <strong>de</strong> intolerância<br />

e anti-semitismo são tão<br />

presentes, contribui em muito para<br />

a eliminação <strong>de</strong> preconceitos e,<br />

quando isto acontece num ambiente<br />

educacional, certamente haverá<br />

reflexos positivos na educação dos<br />

alunos.


Pilar Rahola *<br />

uando Hermann Broch, em<br />

plena loucura hitlerista lançou<br />

sua terrível asseveração<br />

— “o pior crime da Europa<br />

é a indiferença” —,<br />

construiu algo mais que<br />

uma frase histórica. Lançou um dardo ao<br />

mesmo coração da consciência européia,<br />

forçando-a a olhar-se no espelho e encontrar-se<br />

consigo mesma.<br />

A Europa era indiferente na superfície<br />

porque era culpada na profundida<strong>de</strong>.<br />

A ju<strong>de</strong>ufobia não era uma contingência<br />

histórica. De alguma maneira, o ódio aos<br />

ju<strong>de</strong>us tinha sido fundado na Europa.<br />

Hitler não foi mais que o último<br />

elo <strong>de</strong> um processo progressivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição<br />

da alma judia que dava forma<br />

à alma européia.<br />

É certo isso? Estou infelizmente convencida<br />

disto, e é esta convicção que<br />

me leva a escrever estas linhas. A convicção<br />

<strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> um corpo europeu<br />

que cometeu o pior crime da humanida<strong>de</strong>:<br />

o extermínio industrializado <strong>de</strong><br />

uma cultura inteira. E que, apesar disto,<br />

não foi vacinado contra o seu próprio<br />

ódio. A Europa se livrou dos ju<strong>de</strong>us, mas<br />

não da ju<strong>de</strong>ufobia.<br />

Isso explica sua histeria acrítica<br />

pró-palestina, sua esquerda ferozmente<br />

anti-judaica, sua macabra banalização<br />

da Shoá. Seus intelectuais vulgares<br />

tão amantes da liberda<strong>de</strong>, que foram<br />

amando intelectualmente todos os<br />

ditadores da história: Mao, Stalin, Pot<br />

Pol e agora o Arafat.<br />

Saramago seria o exemplo mais notável<br />

do que em 1884 Bebel tipificou<br />

como “o socialismo dos imbecis”. E é<br />

aquele que po<strong>de</strong> escrever como os anjos<br />

e pensar como os idiotas...<br />

A Europa é Kafka e Heine. Ela é Freud,<br />

Marx e Einstein. A Europa não se explica<br />

sem o ju<strong>de</strong>u e, ao mesmo tempo, sempre<br />

foi explicada contra o ju<strong>de</strong>u. Quer dizer,<br />

contra si mesma.<br />

Igual ao seu antiamericanismo patológico,<br />

tão <strong>de</strong>sleal com os milhares<br />

<strong>de</strong> jovens americanos que per<strong>de</strong>ram a<br />

vida libertando-a <strong>de</strong> suas mais profundas<br />

misérias, seu anti-semitismo é também<br />

patológico.<br />

Eu escrevo a favor do Israel porque<br />

sou européia, e não esqueço da responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Europa em tudo aquilo<br />

acontece ao mundo ju<strong>de</strong>u. Da Europa é a<br />

responsabilida<strong>de</strong> pela criação do Estado<br />

<strong>de</strong> Israel. É a Europa que escreve em 1896<br />

“Der Ju<strong>de</strong>nstaat”, pela mão <strong>de</strong> Theodor<br />

Herzl. É a Europa que envia em 1906 um<br />

jovem proveniente da Polônia russa, o<br />

mítico David Grin mítico, posteriormen-<br />

A Ju<strong>de</strong>ufobia européia<br />

te hebraizado como Ben Gurion.<br />

Filhos dos progroms, a diáspora e a<br />

<strong>de</strong>struição sistemática <strong>de</strong> seu povo é a<br />

Europa que envia milhares <strong>de</strong> jovens para<br />

aquela terra sem povo para dotá-la <strong>de</strong><br />

um povo sem terra.<br />

Po<strong>de</strong> a Europa outorgar-se um papel<br />

moral no conflito do Oriente Médio sem<br />

partir <strong>de</strong> sua radical, monstruosa, gigantesca<br />

imoralida<strong>de</strong> histórica? Com sua<br />

opção sem críticas ao vitimário palestino,<br />

a Europa se exorciza <strong>de</strong> sua própria<br />

culpa: faz-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>do acusador, bela<br />

maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser culpada.<br />

A banalização da Shoá faz parte <strong>de</strong>ste<br />

mesmo processo. É necessário dizer<br />

aos saramagos do mundo que banalizar<br />

as vítimas da Shoá é uma forma <strong>de</strong> tornar<br />

a matá-las.<br />

A propósito: se as 52 vítimas palestinas<br />

<strong>de</strong> Jenin, mais as 23 vítimas israelenses<br />

— ou essas não contam? — são<br />

comparáveis ao Holocausto... A que são<br />

comparáveis o quase milhão <strong>de</strong> pessoas,<br />

vítimas do sangrento processo <strong>de</strong> islamização<br />

do Sudão, ou as 20 mil vítimas<br />

da rebelião esmagada na cida<strong>de</strong> síria <strong>de</strong><br />

Hama, mortas por Hafez Assad, ou os 100<br />

mil que tem em seu macabro registro o<br />

terrorismo islâmico argelino? A que seria<br />

comparável a <strong>de</strong>struição sistemática<br />

<strong>de</strong> povoados <strong>de</strong> cristãos libaneses pelas<br />

mãos das facções palestinas?<br />

Para que se per<strong>de</strong>r em números,<br />

se o que move a indignação, o protesto,<br />

o escândalo e reclamação ante<br />

a sempre atenta ONU — aquela que<br />

acabou tendo como secretário geral<br />

o nazi Kurt Waldheim — é exclusivamente<br />

a culpa judaica?<br />

É Claro, não esqueço <strong>de</strong> um aspecto<br />

básico: a ignorância. O Oriente Médio é<br />

o mais famoso e o mais mal conhecido.<br />

A superposição <strong>de</strong> mentiras chegou a ser<br />

tão notável, persistente e minuciosa que<br />

conseguiu moldar uma verda<strong>de</strong> paralela.<br />

Da negação do Holocausto culpado,<br />

qual filho natural do mesmo processo<br />

<strong>de</strong> distorção, a negação da violência<br />

palestina. Assim, enquanto as<br />

vítimas israelenses não existem, as<br />

palestinas são revestidas <strong>de</strong> uma auréola<br />

épica que as engran<strong>de</strong>ce.<br />

Não existem as vítimas judias porque<br />

são judias e, por isso, são responsáveis<br />

por sua própria morte.<br />

No maniqueísmo oficial no qual milita<br />

a gramática da imprensa européia,<br />

as vítimas só po<strong>de</strong>m ser palestinas. E os<br />

assassinos, só ju<strong>de</strong>us. Qualquer dado que<br />

mu<strong>de</strong> esta dualida<strong>de</strong> perfeitamente travada,<br />

simplesmente é ignorado.<br />

E assim criamos uma nova linguagem<br />

para um novo épico. Aos assassinos fanáticos<br />

palestinos os chamamos <strong>de</strong> mili-<br />

cianos. No são loucos cheios <strong>de</strong> ódio,<br />

senão resistentes. Às bombas indiscriminadas<br />

cozidas na cozinha do ódio as chamamos<br />

ações <strong>de</strong> luta.<br />

Ao próprio ódio planejado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

mesmíssima autorida<strong>de</strong> palestina, estruturado<br />

como um pensamento coletivo,<br />

ódio nas escolas, nas festas, nas canções,<br />

na vida; isso não é ódio, senão<br />

simples ressentimento.<br />

Tampouco existe um Arafat violento<br />

e totalitário, ainda que sua biografia terrorista<br />

seja tão ampla como as centenas<br />

<strong>de</strong> mortos que <strong>de</strong>coram seu caminho. Esse<br />

lí<strong>de</strong>r cego que <strong>de</strong>struiu todas as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> paz, tão abraçado à causa palestina<br />

como alérgico a um Estado palestino,<br />

esse personagem que nunca quis<br />

um pacto com Israel, senão seu extermínio,<br />

e que mereceu o <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> um Clinton<br />

que se sentiu atraiçoado.<br />

É isso que os meios <strong>de</strong> comunicação<br />

europeus podiam ter feito, um festim com<br />

as violações palestinas aos acordos <strong>de</strong> Oslo.<br />

E essas <strong>de</strong>núncias contra Arafat por<br />

corrupção com as ajudas européia têm sido<br />

publicadas inclusive no Kuwait. E isso resulta<br />

nos pedidos <strong>de</strong> julgamento por crimes<br />

contra a humanida<strong>de</strong>, pois Arafat leva<br />

algumas malas sangrentas às costas.<br />

Mas no jornalismo que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> que a<br />

ocupação da basílica <strong>de</strong> Belém por 150<br />

terroristas armados até os <strong>de</strong>ntes não é<br />

uma ocupação terrorista, senão o assédio<br />

do exército israelense contra um lugar<br />

sagrado… nesse jornalismo… que interesses<br />

têm a informação e a verda<strong>de</strong>?<br />

Escrevo a favor <strong>de</strong> Israel porque não<br />

aceito que a <strong>de</strong>fesa da causa palestina<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

VJ INDICA<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

seja a <strong>de</strong>sculpa para uma nova explosão<br />

anti-semita. Porque me repugna a cegueira<br />

<strong>de</strong> uma esquerda, minha esquerda, que<br />

não consegue vislumbrar o enorme perigo<br />

da nova cara do totalitarismo: o integrismo<br />

islâmico.<br />

A Europa é responsável direta por<br />

alimentar a ju<strong>de</strong>ufobia em seu interior,<br />

<strong>de</strong> permiti-la em seu exterior e <strong>de</strong><br />

que a paz naquele lugar, não<br />

seja, por hora, nem um horizonte<br />

distante...<br />

Os palestinos se sentem<br />

legitimados em seu ódio<br />

porque a Europa o legitima<br />

dia-a-dia.<br />

“Am Israel chai be Israel”<br />

(“O povo <strong>de</strong> Israel vive em Israel”).<br />

Era o 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

1948, e a frase pronunciada por Ben<br />

Gurion terminava um ciclo <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> anos <strong>de</strong> diáspora, perseguições,<br />

morte e resistência.<br />

Nada impediria que vivesse em franca<br />

vizinhança o povo palestino. Um povo<br />

que chegou massa a esses <strong>de</strong>sertos precisamente<br />

porque os ju<strong>de</strong>us chegaram.<br />

Mais <strong>de</strong> 50 anos <strong>de</strong>pois os palestinos,<br />

contudo, ainda não enten<strong>de</strong>ram que<br />

Israel tem o direito <strong>de</strong> existir. Por muita<br />

camaradagem <strong>de</strong> salão que recebam dos<br />

aliados europeus, sua única possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ganhar a razão histórica é enten<strong>de</strong>ndo<br />

isto.<br />

(Agra<strong>de</strong>cemos a Juan Carlos Gordon que<br />

nos fez chegar o texto completo do artigo<br />

do qual resumimos estes conceitos<br />

principais).<br />

LIVROS<br />

Ao catalogar <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> receitas das mais variadas<br />

vertentes da culinária judaica, torna acessíveis sabores<br />

antigos e riquíssimos, que carregam não apenas as<br />

tradições patrícias, mas os temperos das regiões pelas<br />

quais a civilização <strong>de</strong> Abraão vem se dispersando ao<br />

longo <strong>de</strong> 2000 anos. Adicionando <strong>de</strong>mocraticamente o<br />

frugal pão caseiro <strong>de</strong> Shabat aos aromas das estepes<br />

russas (com suas ervas misteriosas) ou os fortes temperos<br />

do oriente árabe às vitrines bovinas das <strong>de</strong>lis americanas,<br />

Márcia oferece-nos um banquete pantagruélico.<br />

E isto é só o tira-gosto... Pesquisadora faminta e<br />

apaixonada, compulsivamente curiosa, Márcia não se<br />

contenta com pouco. Além <strong>de</strong> dissertar saboroso anedotário<br />

alusivo ao universo que percorre, e antes <strong>de</strong> entrar<br />

nas receitas propriamente ditas, disseca o calendário <strong>de</strong><br />

festas judaicas, explicando como cada qual tem o seu<br />

cardápio particular, pleno <strong>de</strong> simbolismos e correlações<br />

milenares.<br />

* Pilar Rahola é ex<strong>de</strong>putada<br />

espanhola,<br />

feminista histórica e<br />

conhecida critica na<br />

Europa. Resi<strong>de</strong> em<br />

Madrid.<br />

Cozinha Judaica<br />

3<br />

5000 ANOS DE HISTÓRIAS E<br />

GASTRONOMIA<br />

Marcia Algranti<br />

Ed. Record


Fotos: Cesar Brustolin/SMCS<br />

4<br />

(Extraído<br />

do site <strong>de</strong><br />

Meor a<br />

Shabat)<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

intenção <strong>de</strong>ste artigo é<br />

transmitir a beleza, o profundo<br />

significado, a ética,<br />

a tradição, a importância e<br />

o carinho que a Torá e o judaísmo<br />

têm por nós.<br />

Já em relação ao Shemá, provavelmente<br />

a mais famosa das preces judaicas,<br />

muitos perguntam: por que<br />

tem ele um papel tão importante na<br />

vida <strong>de</strong> um ju<strong>de</strong>u e o que significa?<br />

O rabino Shraga Simmons elucidou<br />

esta pergunta num artigo escrito<br />

em, inglês recentemente.<br />

O Shemá é uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> fé,<br />

uma promessa <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao D-us<br />

Único. É falado quando louvamos D-us<br />

e quando Lhe suplicamos algo. É a primeira<br />

prece que a criança judia apren<strong>de</strong><br />

a recitar. Também são as últimas palavras<br />

que recitamos antes <strong>de</strong> partir<br />

para o Mundo Vindouro.<br />

Em todas as gerações o grito do<br />

Shemá sempre simbolizou um manifesto<br />

<strong>de</strong> fé, mesmo nas situações mais<br />

graves. Com o Shemá em seus lábios,<br />

os ju<strong>de</strong>us aceitaram o martírio nas fogueiras<br />

da Inquisição e nas câmaras <strong>de</strong><br />

gás nazistas.<br />

Somos or<strong>de</strong>nados a recitar o Shemá<br />

duas vezes ao dia: <strong>de</strong> manhã e à noite.<br />

Esta exigência é <strong>de</strong>rivada do versículo:<br />

“E você <strong>de</strong>ve recitá-lo, quando se <strong>de</strong>itar<br />

e quando se levantar (Deuteronômio<br />

6:7)”. O Talmud no Tratado Brachót<br />

A participação da população em eventos<br />

esportivos e <strong>de</strong> lazer é gran<strong>de</strong> em Curitiba.<br />

De janeiro a março <strong>de</strong>ste ano foram registrados<br />

363 mil atendimentos, número que equivale<br />

a cerca <strong>de</strong> 23% da população da cida<strong>de</strong>.<br />

A divulgação do balanço do primeiro trimestre<br />

mostra que o número <strong>de</strong> atendimentos<br />

neste período representa quase 25% do total<br />

O Shemá Israel<br />

(página 10b) nos explica que “... quando<br />

se <strong>de</strong>itar e quando se levantar” não<br />

se refere à posição literal do corpo (<strong>de</strong>itado<br />

ou em pé), mas sim se refere ao<br />

horário em que <strong>de</strong>ve ser recitado.<br />

Tecnicamente falando, o horário<br />

para recitarmos o Shemá inicia-se ao<br />

anoitecer (cerca <strong>de</strong> 40 minutos após o<br />

pôr-do-sol) e vai até a meia-noite (ou,<br />

se necessário, até a aurora do dia seguinte),<br />

O horário para o Shemá matutino<br />

inicia-se cerca <strong>de</strong> uma hora antes<br />

do nascer do sol e continua até aproximadamente<br />

3 horas após o amanhecer.<br />

O Shemá é composto <strong>de</strong> três parágrafos<br />

<strong>de</strong> nossa Torá. O primeiro parágrafo<br />

(Deuteronômio 6:4-9) contém o conceito<br />

<strong>de</strong> amarmos a D-us, estudar Torá<br />

e transmitir a tradição judaica às nossas<br />

crianças. Também se refere a mitzvá<br />

<strong>de</strong> os homens colocarem tefilin e <strong>de</strong><br />

colocarmos mezuzá em nossas portas.<br />

Enquanto rezamos, o tefilin fica posicionado<br />

junto ao coração e ao cérebro,<br />

<strong>de</strong>monstrando que todas nossas emoções<br />

e pensamentos são dirigidas a Dus.<br />

O pergaminho da mezuzá (sim, o<br />

principal é o pergaminho e não a caixinha)<br />

é afixado ao batente <strong>de</strong> nossas<br />

portas, <strong>de</strong>monstrando que temos segurança<br />

que é D-us quem protege nossos<br />

lares e proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todas e quaisquer<br />

coisas não boas.<br />

O segundo parágrafo (Devarim<br />

11:13-21) relata as conseqüências positivas<br />

<strong>de</strong> cumprirmos as mitzvót e as<br />

conseqüências negativas se não. O terceiro<br />

parágrafo (Bamidbár 15:37-41)<br />

fala especificamente sobre a mitzvá <strong>de</strong><br />

os homens vestirem tsitsit e sobre o<br />

Êxodo do Egito. Tsitsit são fios <strong>de</strong> lã<br />

que <strong>de</strong>vem ser presos em roupas que<br />

possuam quatro cantos, e sua função é<br />

lembrar-nos dos 613 mandamentos contidos<br />

na Torá.<br />

O tema principal do primeiro versículo<br />

(Shemá Israel, Hashém Elokeinu,<br />

Hashém Ehad - Ouça, ó Israel: o Eterno<br />

é Nosso D-us, o Eterno é Único) é a<br />

<strong>de</strong>claração da unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D-us. Além<br />

disto, se olharmos como o versículo em<br />

hebraico está escrito, constataremos que<br />

as letras hebraicas “Ain” e “Dalet” estão<br />

ampliadas em relação às <strong>de</strong>mais.<br />

Estas duas letras formam a palavra hebraica<br />

“Ed”, que significa “testemunha”.<br />

Ao recitarmos o Shemá, estamos testemunhando<br />

sobre a Unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D-us.<br />

Por que a “unicida<strong>de</strong>” é um conceito<br />

tão central na fé judaica? Faz alguma<br />

diferença se D-us é um e não três?<br />

A resposta é que os eventos que ocorrem<br />

diariamente em nosso mundo parecem<br />

mascarar a idéia <strong>de</strong> que D-us é<br />

Um. Um dia acordamos e tudo está bem.<br />

No dia seguinte po<strong>de</strong> estar tudo <strong>de</strong><br />

cabeça para baixo. O que aconteceu?<br />

Será possível que o mesmo D-us que<br />

nos dá tantas coisas boas num dia,<br />

possa fazer tudo dar errado no outro?<br />

Todos sabemos que D-us é bom, então,<br />

como po<strong>de</strong> haver tanta dor? Seria ape-<br />

nas um caso <strong>de</strong> “má sorte”?<br />

O Shemá é nossa <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que<br />

tudo vem Dele e apenas Dele. A confusão<br />

resulta <strong>de</strong> nossa percepção limitada<br />

da realida<strong>de</strong>. Uma maneira <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />

a unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D-us é imaginar<br />

um raio <strong>de</strong> luz brilhando sobre um prisma.<br />

Mesmo que estejamos vendo as<br />

muitas cores do espectro, na verda<strong>de</strong><br />

todas emanam <strong>de</strong> um mesmo feixe <strong>de</strong><br />

luz. Assim também, mesmo que pareça<br />

que alguns eventos não são obra <strong>de</strong> D-us<br />

e sim do “azar” ou outra força qualquer,<br />

na verda<strong>de</strong> tudo vem <strong>de</strong> um Único<br />

D-us. Muitas vezes não enten<strong>de</strong>mos,<br />

mas no gran<strong>de</strong> “projeto” celestial tudo<br />

vem para o bem, pois Ele sabe o que é<br />

melhor para nós.<br />

Quando recitamos o Shemá, costumamos<br />

fechar os olhos e cobri-los com<br />

a mão direita. O motivo disto é que<br />

assim bloqueamos nossa percepção da<br />

realida<strong>de</strong> e reconhecemos a realida<strong>de</strong><br />

Dele. A outra ocasião na tradição judaica<br />

em que os olhos são especificamente<br />

fechados é quando se parte <strong>de</strong>ste<br />

mundo. Da mesma forma que no final<br />

dos dias enten<strong>de</strong>remos como coisas<br />

“ruins” na verda<strong>de</strong> foram “boas”, assim<br />

também nos esforçamos, durante<br />

o Shemá, para atingir este nível <strong>de</strong> percepção<br />

e entendimento.<br />

Tudo isto tem um gran<strong>de</strong> propósito:<br />

lembrar-nos que não estamos sozinhos<br />

e que todos temos uma meta a<br />

ser atingida na vida.<br />

Ações esportivas atraem a população curitibana<br />

No 1º trimestre do ano foram 363 mil atendimentos em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esporte e lazer<br />

Centro <strong>de</strong> Aprimoramento <strong>de</strong> Talentos<br />

Esportivos, CATES - Crianças<br />

apren<strong>de</strong>m a jogar futebol no Conjunto<br />

Dia<strong>de</strong>ma, área da Regional Portão<br />

registrado no ano passado, <strong>de</strong> 1,2 milhão.<br />

Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esporte e lazer são <strong>de</strong>senvolvidas<br />

nos mais diversos pontos da cida<strong>de</strong> através<br />

das Administrações Regionais e em programas específicos<br />

como o <strong>de</strong> Aprimoramento <strong>de</strong> Talentos<br />

Esportivos (Cates) e o CuritibaAtiva que empreen<strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> incentivo à prática esportiva<br />

regular aliada a uma dieta saudável.<br />

“O índice <strong>de</strong> atendimentos<br />

mostra que as ações da secretaria<br />

são aguardadas com expectativa<br />

e vêm tendo excelente<br />

resposta da população”, diz o<br />

secretário Juliano Borghetti,<br />

lembrando que a programação<br />

mais intensa começa realmente<br />

a partir <strong>de</strong> março.<br />

CATES – Voltado a crianças e<br />

Lançamento da sexta edição do<br />

Curitibativa Verão, Praça Oswaldo Cruz,<br />

Centro<br />

adolescentes, o Cates registrou, só nos três primeiros<br />

meses do ano, 14 mil atendimentos. São<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas em quadras esportivas<br />

instaladas em praças, escolas, Ruas da Cidadania<br />

e associações comunitárias. Criado em agosto <strong>de</strong><br />

1998, o Cates reúne em torno <strong>de</strong> 15 mil crianças<br />

e adolescentes que apren<strong>de</strong>m técnicas <strong>de</strong> até 12<br />

modalida<strong>de</strong>s esportivas.<br />

O secretário lembra que o Cates é um programa<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance social que beneficia comunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> baixa renda em bairros on<strong>de</strong> o aprendizado<br />

<strong>de</strong> técnicas esportivas serve <strong>de</strong> incentivo<br />

à geração habitualmente excluída do ranking <strong>de</strong><br />

novos talentos. Neste ano, afirma, o programa<br />

<strong>de</strong>verá ser ampliado, com a inclusão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> remo, canoagem e ciclismo. Atualmente,<br />

as crianças e adolescentes e adolescentes que<br />

participam do Cates têm aulas <strong>de</strong> vôlei, basquete,<br />

natação, tênis <strong>de</strong> mesa, xadrez e atletismo.


<strong>VISÃO</strong>panorâmica<br />

<strong>•</strong> Yossi Groisseoign <strong>•</strong><br />

Justiça não falha<br />

O terrorista palestino Abu Abbas,<br />

lí<strong>de</strong>r da Frente <strong>de</strong> Libertação da Palestina<br />

(FLP), uma das organizações radicais<br />

que cometem atentados contra israelenses,<br />

e i<strong>de</strong>alizador do seqüestro<br />

do navio italiano Achille Lauro, em<br />

outubro <strong>de</strong> 1985 foi capturado dia 14<br />

<strong>de</strong> <strong>abril</strong> pelos EUA a 80 km a oeste <strong>de</strong><br />

Bagdá, quando voltava da fronteira do<br />

Iraque com a Síria, on<strong>de</strong> tentava se<br />

refugiar, mas teve sua passagem barrada.<br />

Também teriam sido <strong>de</strong>tidos colaboradores<br />

<strong>de</strong> Abbas em um campo <strong>de</strong><br />

treinamento, on<strong>de</strong> teriam ainda sido<br />

apreendidos armas e documentos. O seqüestro<br />

do Achille Lauro, com 400 passageiros<br />

e tripulantes, aconteceu no<br />

Mediterrâneo, na costa do Egito, quando<br />

quatro palestinos fortemente armados<br />

tomaram o navio que se dirigia a<br />

Israel e exigiram que 50 terroristas prisioneiros<br />

fossem libertados.<br />

Justiça II<br />

Para mostrar que não estavam brincando,<br />

os comandados <strong>de</strong> Abbas mataram<br />

a tiros um passageiro ju<strong>de</strong>u. Leon<br />

Klinghoffer, um norte-americano <strong>de</strong> 69<br />

anos e portador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física,<br />

e o jogaram ao mar, com a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

rodas. Após um impasse <strong>de</strong> dois dias,<br />

os terroristas se entregaram ás autorida<strong>de</strong>s<br />

egípcias sob a garantia <strong>de</strong> que<br />

seriam levados à Tunísia e libertados.<br />

Chegaram a embarcar num avião, mas<br />

este foi interceptado por jatos militares<br />

americanos que forçaram o avião a<br />

aterrissar na Sicília (Itália), on<strong>de</strong> as<br />

autorida<strong>de</strong>s, entretanto, <strong>de</strong>ixaram Abbas<br />

escapar. Ele foi julgado e con<strong>de</strong>nado<br />

à revelia pela justiça italiana a<br />

prisão perpétua, mas se escon<strong>de</strong>u em<br />

Gaza e <strong>de</strong>pois no Iraque.<br />

Embaixador do Brasil foi da OLP<br />

Nomeado novo embaixador do Brasil<br />

em Cuba pelo governo Lula, o ex<strong>de</strong>putado<br />

Til<strong>de</strong>n Santiago foi padre e<br />

militante da Aliança Libertadora Nacional<br />

(ALN) organização terrorista que<br />

atuou durante o regime militar no País.<br />

Quando morou em Israel, Santiago, trabalhou<br />

em um kibutz, mas militava na<br />

Organização pela Libertação da Palestina<br />

(OLP). Como se vê, o terrorismo o<br />

atraia. A propósito, o ditador Fi<strong>de</strong>l<br />

Castro, que mantém boas relações com<br />

Brasília aproveitou o <strong>de</strong>svio da atenção<br />

do mundo com a Guerra do Iraque<br />

e con<strong>de</strong>nou por “crime <strong>de</strong> pensamento”<br />

mais <strong>de</strong> 80 opositores a prisão, com<br />

penas <strong>de</strong> 6 a 28 anos, além mandar<br />

fuzilar três pessoas acusadas <strong>de</strong> seqües-<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

trar um barco com o objetivo <strong>de</strong> fugir<br />

do regime para Miami. Santiago está<br />

mesmo em casa, ou seja, com o terror.<br />

Israel con<strong>de</strong>na quatro a prisão<br />

perpétua<br />

Como em Israel não existe pena <strong>de</strong><br />

morte, nem para os crimes mais hediondos<br />

(a única exceção foi o nazista<br />

Adolf Eichman), um tribunal con<strong>de</strong>nou,<br />

há duas semanas, quatro palestinos a<br />

29 penas <strong>de</strong> prisão perpétua cada um<br />

por terem organizado em 2002 o atentado<br />

suicida terrorista em Netânia, cida<strong>de</strong><br />

litorânea ao norte <strong>de</strong> Tel Aviv, em<br />

Israel, no pior ataque já acontecido<br />

durante a Intifada. Foi durante o jantar<br />

<strong>de</strong> Páscoa (Pessach) num hotel,<br />

matando 29 pessoas, além do homembomba.<br />

As 29 con<strong>de</strong>nações dos assassinos<br />

foram por cada uma das pessoas<br />

que tiveram suas vidas tiradas.<br />

Rabino eleitos<br />

Os rabinos Yona Metzger e Shlomo<br />

Amar foram eleitos novos rabinos-chefes<br />

ashkenazi e sefaradi, respectivamente,<br />

há quinze dias, em Israel. Metzger<br />

ganhou o apoio <strong>de</strong> 63 dos 150<br />

membros do comitê eleitoral e Amar<br />

venceu com confortáveis 124 votos. O<br />

comitê abrange 80 rabinos e 70 representantes<br />

do público, incluindo membros<br />

da Knesset e prefeitos.<br />

Pedida captura <strong>de</strong> diplomatas<br />

iranianos<br />

A justiça argentina pediu em março<br />

à Interpol a captura <strong>de</strong> quatro diplomatas<br />

iranianos por sua suposta<br />

participação no atentado contra a<br />

AMIA, em Buenos Aires, em 1994 que<br />

<strong>de</strong>ixou um saldo <strong>de</strong> 85 mortos. A or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> prisão foi <strong>de</strong>cretada após as<br />

investigações da Secretaria <strong>de</strong> Inteligência<br />

do Estado, que indicaram<br />

uma presumida conexão entre os funcionários<br />

iranianos e o atentado que<br />

reduziu a escombros a Associação<br />

Mutual Israelita Argentina (AMIA). O<br />

Irã <strong>de</strong>smentiu reiteradas vezes sua<br />

vinculação com o ataque. Dos quatro<br />

diplomatas iranianos cuja prisão foi<br />

solicitada, três estavam na Argentina<br />

no momento que ocorreu o ataque<br />

com um carro-bomba. O pedido<br />

é <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> um <strong>de</strong>spacho do juiz<br />

Juan José Galeano, no processo <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> 400 páginas, on<strong>de</strong> os funcionários<br />

argentinos sustentam acusações<br />

do tipo i<strong>de</strong>ológico, logístico e<br />

<strong>de</strong> execução do atentado.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Captura II<br />

A justiça argentina também solicitou<br />

colaboração internacional a<br />

outros países para que se concretizem<br />

as <strong>de</strong>tenções e que dêem lugar<br />

às correspon<strong>de</strong>ntes extradições. Em<br />

1992, uma outra explosão <strong>de</strong>struiu a<br />

Embaixada <strong>de</strong> Israel em Buenos Aires,<br />

com um saldo <strong>de</strong> 29 mortos e<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> feridos. A pesar da extensa<br />

e questionada investigação, os ataques<br />

à AMIA e à Embaixada não foram<br />

esclarecidos. A comunida<strong>de</strong> judaica<br />

da Argentina é a maior da América<br />

Latina e a sétima do mundo com<br />

cerca <strong>de</strong> 300 mil membros.<br />

Embaixador <strong>de</strong> Israel volta a<br />

Bruxelas<br />

O embaixador <strong>de</strong> Israel na Bélgica,<br />

Yehudi Kenar, voltará em breve<br />

para Bruxelas após o parlamento belga<br />

ter feito uma emenda que modificou<br />

a lei que autorizava o julgamento,<br />

por crimes <strong>de</strong> guerra, do primeiro-ministro<br />

israelense, Ariel Sharon,<br />

pelos supostos massacres <strong>de</strong> palestinos<br />

nos campos <strong>de</strong> Sabra e Shatila,<br />

em 1982. O Ministério israelense <strong>de</strong><br />

Relações Exteriores, informou que a<br />

<strong>de</strong>cisão reflete novas circunstâncias,<br />

em referência às emendas efetuadas<br />

parlamento belga. Israel havia convocado<br />

seu embaixador no dia 12 <strong>de</strong><br />

fevereiro, após uma sentença judicial,<br />

em Bruxelas, abrindo possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

processar Sharon pelos massacres<br />

<strong>de</strong>pois que per<strong>de</strong>sse sua imunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> primeiro-ministro.<br />

Bruxelas II<br />

A <strong>de</strong>cisão do tribunal belga foi<br />

classificada como escandalosa pelo<br />

governo israelense que lembrou à Bélgica<br />

seu passado <strong>de</strong> massacres no<br />

Congo e acusou o país <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar<br />

levar por sentimentos anti-semitas.<br />

O Parlamento belga, reconhecendo o<br />

erro, fez uma emenda na lei que autorizava<br />

o julgamento e conce<strong>de</strong>u aos<br />

seus tribunais a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar<br />

casos semelhantes aos <strong>de</strong> Sharon —<br />

que é inocente das acusações — somente<br />

quando envolverem países não<strong>de</strong>mocráticos<br />

e que não oferecerem a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um julgamento justo.<br />

Com a emenda, o procurador-geral<br />

do Estado belga também <strong>de</strong>verá<br />

aprovar qualquer processo sobre crimes<br />

<strong>de</strong> guerra ocorridos fora da Bélgica,<br />

mesmo que o queixoso não tenha<br />

nacionalida<strong>de</strong> belga ou viva naquele<br />

país. A nova legislação afetará<br />

outros processos judiciais pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> resolução na Bélgica, como os que<br />

correm contra o lí<strong>de</strong>r palestino Yasser<br />

Arafat e o cubano Fi<strong>de</strong>l Castro.<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Aposentadoria<br />

Simon Wiesenthal, que ficou conhecido<br />

como “caçador <strong>de</strong> nazistas” por<br />

sua <strong>de</strong>dicação ao esclarecimento <strong>de</strong><br />

crimes do nacional-socialismo, anunciou<br />

sua retirada da vida ativa aos 95<br />

anos. “Encontrei os genocidas que persegui<br />

e sobrevivi a todos eles”, <strong>de</strong>clarou<br />

ele. O agora ex-chefe do Centro <strong>de</strong><br />

Documentação <strong>de</strong> Viena ressaltou que,<br />

se houvesse algum criminoso ainda não<br />

<strong>de</strong>scoberto, este teria que estar muito<br />

velho para ser levado aos tribunais,<br />

com o que <strong>de</strong>u por encerrado o trabalho<br />

<strong>de</strong> sua vida. Uma das gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Wiesenthal, segundo disse,<br />

foi explicar à opinião pública os<br />

crimes do nazismo, já que continuam<br />

existindo associações e grupos que<br />

negam o Holocausto.<br />

A favor da paz<br />

O ministro do Exterior da Síria, Faruk<br />

Al-Chareh, acolheu favoravelmente<br />

as mais recentes <strong>de</strong>clarações do presi<strong>de</strong>nte<br />

norte-americano, George W.<br />

Bush, segundo a qual a Síria mostrava<br />

sinais <strong>de</strong> cooperação. “A Síria sempre<br />

quis o diálogo com os Estados Unidos<br />

e não procura a confrontação”, <strong>de</strong>clarou<br />

Al-Chareh em entrevista à imprensa.<br />

O chefe da diplomacia síria disse<br />

ainda que o seu país é a favor <strong>de</strong> ‘uma<br />

paz justa e global’ no conflito árabeisraelense,<br />

“sempre se opôs às guerras<br />

e foi um elemento <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> na<br />

região”.<br />

Turismo no Iraque<br />

As agências <strong>de</strong> viagem israelenses<br />

já estão ven<strong>de</strong>ndo pacotes turísticos<br />

para o Iraque: a ida é <strong>de</strong> ônibus pela<br />

Jordânia e a volta <strong>de</strong> avião. Oito dias<br />

custam US$ 700. O ex-vice primeiro<br />

ministro <strong>de</strong> Saddam Hussein, Tarek<br />

Aziz, que agora está preso e que vivia<br />

acusando Israel <strong>de</strong> ser o or<strong>de</strong>nador da<br />

guerra <strong>de</strong> Bush contra<br />

o Iraque, “porque<br />

estava <strong>de</strong> olho no seu<br />

petróleo”, agora tem<br />

mais um motivo para<br />

suas lamúrias: vai dizer<br />

que os israelenses<br />

provocaram a guerra<br />

porque queriam conhecer<br />

o “paraíso”<br />

iraquiano (!) Mais<br />

uma noticia sobre o<br />

Iraque: as peças <strong>de</strong><br />

valor do museu <strong>de</strong><br />

Bagdá estão bem<br />

guardadas em salas<br />

especiais como em<br />

qualquer museu do<br />

mundo. Portanto, os<br />

saques nao foram<br />

tão vultosos como o<br />

noticiado.<br />

5


6<br />

* Edda<br />

Bergmann é<br />

presi<strong>de</strong>nte da<br />

B’nai B’rith<br />

do Brasil<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

A ONU, a UNRWA e os<br />

campos <strong>de</strong> refugiados<br />

Organização das Nações Unidas<br />

resolveu ajudar os refugiados<br />

no mundo através da UNRWA1 ,<br />

um dos <strong>de</strong>sdobramentos oficiais<br />

da organização específicos para<br />

este fim, que <strong>de</strong>veria ajudar <strong>de</strong> forma<br />

provisória e por um curto período <strong>de</strong> tempo<br />

os refugiados <strong>de</strong> guerra ou catástrofes.<br />

O dinheiro para isso, como <strong>de</strong> toda a<br />

ONU em geral vem em gran<strong>de</strong> parte dos<br />

Estados Unidos.<br />

Muitos foram os povos ajudados em ocasiões<br />

e situações diferentes e diferenciados<br />

por tempos <strong>de</strong>terminados, até a solução<br />

dos problemas que geralmente<br />

eram <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> situações provisórias<br />

diferenciadas e resolvidas num <strong>de</strong>terminado<br />

espaço <strong>de</strong> tempo.<br />

Todas as vítimas do Holocausto que<br />

sobreviveram após experiências dolorosas<br />

e inimagináveis foram absorvidas por este<br />

ou aquele país; ajudados pelas comunida<strong>de</strong>s<br />

judaicas e por organismos <strong>de</strong> assistência<br />

psicológica e comunitária.<br />

A enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us refugiados<br />

dos países árabes foram absorvidos<br />

por Israel ou por outras comunida<strong>de</strong>s judaicas<br />

do mundo.<br />

Os refugiados políticos no mundo se estabeleceram<br />

neste ou naquele país tornando-se<br />

responsáveis por suas próprias vidas<br />

e sobrevivência. E não foram poucos os<br />

refugiados que vagaram pelo mundo e ainda<br />

hoje o fazem a procura <strong>de</strong> abrigo e <strong>de</strong><br />

melhores condições <strong>de</strong> vida.<br />

Haja vista para os países africanos e<br />

outros on<strong>de</strong> ou há falta <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> sobrevivência,<br />

ou há regimes <strong>de</strong>spóticos e mandatários<br />

dos <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> suas populações<br />

não permitindo que os ventos da liberda<strong>de</strong><br />

soprem sem a violência e os <strong>de</strong>smandos do<br />

po<strong>de</strong>r absolutista e caótico.<br />

Mas em nenhum outro lugar existiram<br />

campos <strong>de</strong> refugiados sustentados pela<br />

UNRWA há quase 60 anos, como no Líbano,<br />

na Faixa <strong>de</strong> Gaza e na Cisjordânia.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente o espaço ficou muito pequeno<br />

para o crescimento populacional ha-<br />

Edda Bergmann *<br />

vido em números reais. E todas estas gerações<br />

foram privadas <strong>de</strong> uma vida normal e<br />

produtiva, ao ponto <strong>de</strong> prover ao próprio<br />

sustento para continuar a receber da UN-<br />

RWA a quota “per capita” por habitante, a<br />

mais <strong>de</strong>nsa população do mundo por metro<br />

quadrado.<br />

O que se podia esperar <strong>de</strong> tudo isso, a<br />

não ser o que realmente aconteceu. Sem<br />

visão do futuro político ou <strong>de</strong> trabalho,<br />

com baixo nível <strong>de</strong> motivação, em conhecimento<br />

da vida em liberda<strong>de</strong> plena, presos<br />

e ligados a famílias numerosíssimas e<br />

sem uma visão <strong>de</strong> mundo ampliada.<br />

O ódio exacerbou-se. Na realida<strong>de</strong> os<br />

campos <strong>de</strong> refugiados sustentados pela<br />

UNRWA e por vias indiretas pelos Estados<br />

Unidos não são o lugar mais agradável ou<br />

saudável para se viver, para se transformar<br />

em cidadãos felizes, realizados e livres. Não<br />

é o clima psicológico i<strong>de</strong>al para <strong>de</strong>senvolver<br />

crianças para se tornarem adultos. É<br />

um clima <strong>de</strong> ódio e mal estar, <strong>de</strong> revolta e<br />

<strong>de</strong> agressão contra o mundo.<br />

Perguntamos nós o por quê <strong>de</strong> tudo<br />

isso? Será só pelo dinheiro “per capita” ou<br />

se recebido da UNRWA e indiretamente da<br />

ONU? Por que não foram absorvidos pelas<br />

populações locais? Por que não se tornaram<br />

cidadãos plenos, <strong>de</strong> plenos direitos e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s perante o mundo?<br />

Por que foram conservados como cidadãos<br />

<strong>de</strong> segunda classe por seus próprios<br />

irmãos e hoje constituem uma população<br />

enorme <strong>de</strong> pessoas comprometidas<br />

com um <strong>de</strong>stino sem visão do presente<br />

e do futuro? O que aconteceria se a<br />

UNRWA <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> existir?<br />

Fala-se do Fome Zero, assistencialismo<br />

não, é preciso ensinar a pescar e não dar o<br />

peixe! Hoje, a Jihad Islâmica encontra um<br />

outro meio para conseguir dinheiro para<br />

as famílias: ven<strong>de</strong>-se o filho ou filha como<br />

terrorista suicida e a família recebe a recompensa<br />

em dinheiro líquido em dólares.<br />

Será que uma coisa não é resultado<br />

da outra? A <strong>de</strong>turpação dos valores<br />

sem dúvida o é.<br />

1 – UNRWA – literalmente United Nations Refugees on War Agency, em português Agência das Nações<br />

Unidas para Refugiados <strong>de</strong> Guerra, mas que atualmente é conhecida por Agência da Onu para assistência<br />

e ajuda aos palestinos no Oriente Médio.<br />

Se você não recebeu seu exemplar <strong>de</strong> Visão Judaica, entre em<br />

contato conosco pelo telefone 3018-8018 ou então pelo e-mail<br />

Arte em Tel Aviv Vittorio Corinaldi<br />

Foi inaugurada em Tel Aviv, numa das galerias <strong>de</strong> arte<br />

da cida<strong>de</strong>, uma exposição dos últimos trabalhos do pintor<br />

e escultor Benjamin Buchbin<strong>de</strong>r.<br />

Este fato, além <strong>de</strong> constituir uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

que Israel continua tendo uma ativa vida cultural também<br />

nestes tempos agitados, merece ser salientado em Visão<br />

Judaica porque o artista – um dos veteranos da Aliá brasileira,<br />

é conhecido pela coletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, on<strong>de</strong> expôs<br />

anos atrás.<br />

Buchbin<strong>de</strong>r é uma figura incomum no quadro dos artistas<br />

israelenses: dono <strong>de</strong> um talento excepcional e <strong>de</strong><br />

uma habilida<strong>de</strong> profissional evi<strong>de</strong>nte, não se preocupou,<br />

nos muitos anos <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>, em “aparecer” e em<br />

figurar nas colunas da crônica ou da crítica: sua produção,<br />

que amonta quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> obras, parece<br />

respon<strong>de</strong>r apenas a seu impulso criativo, obe<strong>de</strong>cendo a<br />

uma disciplina metódica e constante, <strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> qualquer<br />

intenção exibicionística.<br />

Apesar <strong>de</strong>ste contingente <strong>de</strong> anonimato e modéstia,<br />

Buchbin<strong>de</strong>r levou seu trabalho a variados setores, incluindo<br />

além da pintura e escultura, também a cerâmica, com<br />

a qual se distingue por obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, mosaicos e<br />

murais. Nestes ele estabelece uma ligação sensível também<br />

com a arquitetura, pondo em valor focos <strong>de</strong> perspectiva<br />

que esta oferece.<br />

No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua longa ativida<strong>de</strong>, Buchbin<strong>de</strong>r<br />

passou naturalmente por mudanças estilísticas e <strong>de</strong><br />

fontes <strong>de</strong> inspiração. Mas estas nunca se relacionam a<br />

“modas” ou a subscrição automática <strong>de</strong> postulados <strong>de</strong>sta<br />

ou daquela escola, nem partem <strong>de</strong> exercícios filosóficos<br />

<strong>de</strong> duvidoso valor intelectual. Ele se concentra muito mais<br />

na transmissão <strong>de</strong> emoções simples e puras, instigadas<br />

pela observação <strong>de</strong>talhada e minuciosa da natureza, da<br />

anatomia, do movimento <strong>de</strong> corpos humanos e animais.<br />

Seu tratamento gráfico <strong>de</strong>stes temas baseia-se num<br />

experiente domínio do <strong>de</strong>senho ou da prática da escultura,<br />

num conhecimento artesanal que o aproxima dos mestres<br />

clássicos, e num uso equilibrado e <strong>de</strong>licado das cores.<br />

Mas se sua obra não se inclui na corrente do abstracionismo<br />

e mantém constante uma expressão eminentemente<br />

figurativa, nem porisso ela <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser basicamente<br />

mo<strong>de</strong>rna e atual, assimilável ao gosto e aos padrões<br />

contemporâneos.<br />

Buchbin<strong>de</strong>r, que realizou pessoalmente a revolução do<br />

renascimento judaico através do Sionismo e da Aliá, não<br />

traduz esta experiência, nem revela suas raízes judaicas,<br />

na sua expressão artística: não encontraremos nele sinais<br />

<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntificação panfletistica com nosso <strong>de</strong>stino histórico.<br />

Sua inspiração é universal, não “folclórica”; estética<br />

e poética, não militante ou socialmente combativa.<br />

Mas <strong>de</strong>vido à autenticida<strong>de</strong> e à verda<strong>de</strong> intrínseca do<br />

autor, e <strong>de</strong>vido ao caráter essencialmente israelense <strong>de</strong><br />

sua trajetória, seu trabalho se coloca como um marco original<br />

e obrigatório <strong>de</strong> nossa cultura em formação.<br />

E como ju<strong>de</strong>us provenientes do Brasil, é motivo <strong>de</strong><br />

satisfação po<strong>de</strong>rmos registrar uma contribuição <strong>de</strong> fonte<br />

brasileira para essa cultura.<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br * Vittorio Corinaldi é arquiteto e mora em Tel Aviv, Israel.


O LEITOR ESCREVE<br />

“A Benção do porco”<br />

Prezados Senhores:<br />

Não há dúvida que o tema <strong>de</strong> Visão Judaica – Tevet/Shevet <strong>5763</strong> (<strong>de</strong>zembro<br />

2002) chega a nos surpreen<strong>de</strong>r não apenas no que foi abordado,<br />

como é difícil não <strong>de</strong>stacar a clareza na expressão do ponto <strong>de</strong> vista<br />

apresentado pelo Sr. André Segall (por sinal, consi<strong>de</strong>ro-o meu mestre).<br />

Quero acrescentar alguns pontos que me vieram à mente durante a<br />

leitura da crônica. Como o autor, também não tenho preconceito a homossexuais,<br />

tanto é que convivi com alguns assim classificados e assumidos.<br />

Quando se aborda em geral a temática das mitzvót, seu cumprimento<br />

ou não, salta-me a memória, durante a minha juventu<strong>de</strong>, quando me<br />

<strong>de</strong>dicava intensamente ao movimento juvenil da Congregação Israelita<br />

Paulista, a Chazit Noar Brasilait, aproximei-me do rabino mór, prof. dr.<br />

Rabino Fritz Pinkuss e comentei a respeito das mais diversas diferenças<br />

entre a forma <strong>de</strong> “ser ju<strong>de</strong>u”, alguns freqüentando sinagoga apenas nas<br />

gran<strong>de</strong>s festas; cashrut e não cashrut, comendo carne <strong>de</strong> porco ou não<br />

comendo (ah... Benção do porco) e assim por diante.<br />

A resposta que recebi prontamente foi que o importante não é a<br />

forma como se “é ju<strong>de</strong>u”, mas sim o sentimento <strong>de</strong> “ser ju<strong>de</strong>u”, a<br />

consciência <strong>de</strong> ser ju<strong>de</strong>u. Mas temos <strong>de</strong> reconhecer que muitas vezes são<br />

terceiros que nos fazem lembrar <strong>de</strong>sta condição (como ocorreu, por<br />

exemplo, com o nazismo).<br />

Por outro lado, o movimento Chabad, através do Rebe, iniciou<br />

um processo <strong>de</strong> conscientização, procurando levar o ju<strong>de</strong>u a valorizar<br />

e reconhecer a teshuvá, praticar as mitzvót, não importando se atinge<br />

as 613 ou não.<br />

Vemos que há outros movimentos, como os mencionados pelo André:<br />

liberais, reformistas, e outros, que queiram ou não os mais religiosos,<br />

movimentam uma quantida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> pessoas convencidas <strong>de</strong><br />

sua consciência judaica. Tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistir, meses atrás, um<br />

shabat na Congregação Israelita Paulista e confesso, fiquei espantado<br />

com o número <strong>de</strong> presentes, um serviço com coro, microfones... Bem <strong>de</strong><br />

acordo com as palavras do saudoso rabino, fundador daquela congregação.<br />

Os serviços realizados na nossa Sinagoga Frishmann também estão<br />

sendo privilegiados com uma ótima freqüência no shabat.<br />

Acredito, que uma das mitzvót mais importantes, e diria até mais<br />

bonita é conhecer a fundo a Torá, Talmud, Halachá e transmitir seus<br />

ensinamentos a um maior número <strong>de</strong> pessoas, possibilitando-lhes não<br />

apenas o conhecimento, mas também lhes dar a oportunida<strong>de</strong>, através<br />

do livre-arbítrio, <strong>de</strong> segui-las ou não. Para isso, não é necessário ser<br />

rabino <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>. O professor Samy é um perfeito exemplo<br />

disto e duvido que alguém possa questionar seus conhecimentos e a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmiti-los.<br />

Temos muita matéria a ser apresentada e discutida e o homossexualismo<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado, nem precisando ser mencionado.<br />

Tenho opinião formada, que <strong>de</strong> certa forma, sempre foi acatada<br />

durante o período que convivi com a CIP paulista e acredito que ainda<br />

seja. Em qualquer ativida<strong>de</strong> ligada ao movimento juvenil ou assunto<br />

judaico se procurou respeitar as leis da cashrut. Assim, na impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ter carne casher a alimentação oferecida não levava carne.<br />

Carne <strong>de</strong> origem suína, nem pensar. E quando havia carne (o que era<br />

raro), evitava-se misturar com laticínios. Se os participantes seguiam ou<br />

não a cashrut, era isso que prevalecia.<br />

Penso que os rabinos ou aqueles que se propõem a ser lí<strong>de</strong>res da<br />

nossa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser exemplos em ativida<strong>de</strong>s publicas.<br />

O André citou que o mesmo po<strong>de</strong>ria ser até rabino <strong>de</strong> outro segmento,<br />

mas creio que dificilmente alguma comunida<strong>de</strong> não-ortodoxa aceitaria<br />

como rabino este citado no artigo do André, sabendo <strong>de</strong> sua homossexualida<strong>de</strong><br />

assumida.<br />

Por isso quero repudiar a posição <strong>de</strong>sse rabino durante o <strong>de</strong>bate,<br />

que na minha opinião, <strong>de</strong>veria permanecer na sua condição não oficial,<br />

cabendo ao mesmo e à sua comunida<strong>de</strong> o mais discretamente possível<br />

resolver ou conviver com seu homossexualismo e não tentar ser uma<br />

continuida<strong>de</strong> do movimento mundial <strong>de</strong> reconhecimento gay, lutando<br />

pelos seus direitos civis e outras coisas afins. Acho que o rabino Steve<br />

G., pela postura apresentada, <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>spir-se <strong>de</strong> seu titulo <strong>de</strong> rabino<br />

ju<strong>de</strong>u. E se assim julgar correto, participar do movimento pelos gays sem<br />

envolver judaísmo no assunto.<br />

Leopoldo Ehrlich, Curitiba<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Conteúdo admirável<br />

Senhor Editor:<br />

É muito bom ver que Visão Judaica prossegue<br />

apresentando admirável conteúdo editorial em<br />

um projeto gráfico elogiável. Que conta<br />

com excelentes colaboradores, e que ainda vem<br />

ganhando novas páginas. Parabéns.<br />

Jubal Sérgio Dohms<br />

Diretor da Dohms Comunicação e webmaster do<br />

site do Instituto Ciência e Fé<br />

Cumprimentos para Coelho<br />

Caros amigos,<br />

Ao parabenizar esta competente equipe jornalística,<br />

<strong>de</strong>vo registrar meu especial cumprimento<br />

ao Coelho, amigo fiel e sensível às ações justas<br />

e honestas. Antônio Carlos Coelho foi <strong>de</strong> extrema<br />

felicida<strong>de</strong> e muito oportuno em seu artigo<br />

“No Dia da Paz Vereador per<strong>de</strong>u o Espírito da<br />

Cida<strong>de</strong>”.<br />

A essência estrutural do seu texto lembra-me<br />

Descartes: “Para alcançar a verda<strong>de</strong> é preciso,<br />

uma vez na vida, <strong>de</strong>sfazermo-nos <strong>de</strong> todas as<br />

opiniões que recebemos e reconstruir <strong>de</strong> novo e<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os fundamentos, todos os sistemas dos<br />

nossos conhecimentos”.<br />

É lamentável que o vereador em questão não<br />

leia Descartes.Parabéns ao Visão Judaica, parabéns<br />

meu amigo Coelho.<br />

Arquiteto Marco Alzamora, Curitiba<br />

Descobrindo o nome<br />

Senhores Redatores:<br />

Na edição nº 10, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2002, há<br />

uma foto, <strong>de</strong> 29/5/1957, <strong>de</strong> um trator <strong>de</strong>struído<br />

por uma mina. Gostaria <strong>de</strong> saber o nome do<br />

motorista morto, pois meu primo, Menachem<br />

Horpaczky, foi morto nesta época e nestas circunstâncias.<br />

Tommy Abraham Horpaczky – Curitiba<br />

NR: Na publicação original em inglês,<br />

“Wich came first: Terrorism or 'Occupation'?”,<br />

que utilizamos para a matéria<br />

publicada na edição <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> Visão<br />

Judaica, nada consta a respeito do nome do<br />

tratorista morto naquele atentado. Traduzimos<br />

fielmente o texto e as legendas. Nossa<br />

sugestão é que escreva diretamente e<br />

indague a respeito ao Israel Information<br />

Center, organismo que publicou o livreto.<br />

Acreditamos que tenha condições <strong>de</strong><br />

informar sobre a questão.<br />

Feliz Surpresa<br />

Prezado Senhores<br />

Solicito informações sobre como proce<strong>de</strong>r a<br />

assinatura do Jornal Visão Judaica. Tive a feliz<br />

surpresa <strong>de</strong> receber o periódico durante o ano <strong>de</strong><br />

2002 e, pelo respeito e consi<strong>de</strong>ração que sinto<br />

com relação à cultura e às tradições judaicas,<br />

gostaria <strong>de</strong> continuar em contato com esta formidável<br />

publicação. Aguardo o contato.<br />

Monica Letícia Hoffmann, Curitiba<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

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NR: Estivemos em férias em janeiro e<br />

fevereiro e o jornal retornou em março<br />

último. Por enquanto o jornal Visão Judaica<br />

é distribuído gratuitamente e já confirmamos<br />

seu nome na lista <strong>de</strong> pessoas que recebem<br />

mensalmente seus exemplares <strong>de</strong> VJ.<br />

Conteúdo excepcional<br />

Amigos:<br />

Parabéns e cumprimentos pelo jornal Visão<br />

Judaica. A edição nº 11 foi uma das melhores<br />

que eu já li. O conteúdo está excepcional.<br />

Pólos diferentes<br />

Prezados Senhores:<br />

Henrique Lerner - Curitiba<br />

Tenho recebido o jornal Visão Judaica e gostaria<br />

<strong>de</strong> ressaltar que o quadro colaboradores é excelente,<br />

os artigos têm consistência e sabedoria.<br />

Estou convicto que mais alguns meses será necessário<br />

aumentar o número <strong>de</strong> páginas <strong>de</strong>ste jornal.<br />

Meus amigos ju<strong>de</strong>us, sempre distintos, inteligentes<br />

e nobres <strong>de</strong> espírito, assim como os amigos<br />

<strong>de</strong> sangue árabe, igualmente corretos, bons<br />

e inteligentes, tive a sorte <strong>de</strong> os escolher.<br />

Um curioso fato que presenciei em Curitiba <strong>de</strong>sejo<br />

transmitir. Dos Estados Unidos veio uma senhora<br />

casada com um libanês, casal com vários<br />

anos <strong>de</strong> casamento, filhos já adultos e o que<br />

mais nos chamava a atenção eram os “pólos diferentes”,<br />

mas convivendo em perfeita harmonia.<br />

Seu primeiro pedido a mim quando <strong>de</strong> sua<br />

chegada a Curitiba foi visitar a Sinagoga da Rua<br />

Saldanha Marinho e a Escola Israelita da Rua<br />

Nilo Peçanha. Falava o inglês e o iídiche. Sua<br />

primeira pergunta foi por que as crianças não<br />

falavam o iídiche e só os mais idosos? Em seguida<br />

veio a clássica indagação: Os ju<strong>de</strong>us no Brasil<br />

são perseguidos? A resposta foi um solene não.<br />

Estavam eles felizes no Brasil.<br />

Sugiro um espaço para pessoas responsáveis<br />

do mundo árabe <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong>, para lermos<br />

nestas páginas seus sentimentos, suas críticas,<br />

<strong>de</strong>screvendo e salientando a amiza<strong>de</strong> fraternal<br />

existente entre nós.<br />

Francisco <strong>de</strong> Asevedo, Curitiba<br />

NR: Agra<strong>de</strong>cemos os elogios ao jornal e à<br />

equipe. E também o relato que da experiência<br />

que presenciou com o casal que visitou<br />

Curitiba. Quanto à sugestão, lembramos que<br />

o jornal é aberto a opiniões responsáveis, <strong>de</strong><br />

ju<strong>de</strong>us e não-ju<strong>de</strong>us, ainda que como o<br />

próprio título do jornal expressa,<br />

tratamos <strong>de</strong> difundir a visão judaica a<br />

respeito da vida e do mundo. A<br />

propósito, o jornal tem aberto suas<br />

páginas para textos <strong>de</strong> pessoas com<br />

ascendência árabe. Recentemente<br />

publicamos artigos <strong>de</strong> Joseph Farah e<br />

Khaled Abu Toameh, jornalistas<br />

conhecidos internacionalmente. Nesta<br />

edição publicamos artigo <strong>de</strong> Ali Kamel,<br />

diretor executivo da central <strong>de</strong> Jornalismo<br />

da TV Globo.<br />

Obs:<br />

A redação <strong>de</strong><br />

Visão Judaica, por<br />

questão <strong>de</strong><br />

espaço, po<strong>de</strong>rá<br />

resumir ou<br />

suprimir partes<br />

das cartas<br />

recebidas.<br />

7<br />

Para escrever ao jornal Visão Judaica basta<br />

passar um fax pelo telefone 3018-8018 ou um<br />

e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br


foto: arquivo<br />

8<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

Iom Hashoá<br />

Iom HaShoá ou Dia da<br />

Memória ao Heroísmo e<br />

ao Holocausto, é uma<br />

adição relativamente recente<br />

no Calendário Judaico.<br />

Suas formas <strong>de</strong> observância ainda<br />

estão evoluindo <strong>de</strong> várias maneiras<br />

distintas e pouca padronização<br />

sobre a melhor maneira <strong>de</strong> marcar<br />

esta data. Em Israel, Iom HaShoá é<br />

um feriado oficial.<br />

Na Diáspora, cada<br />

vez mais ju<strong>de</strong>us passam<br />

a observar este<br />

dia, como forma <strong>de</strong><br />

aprofundar seus conhecimentos<br />

e sua<br />

conexão com esta<br />

tragédia.<br />

Em Israel Iom<br />

HaShoá começa no<br />

fim da tar<strong>de</strong>, conforme<br />

o Calendário Judaico.<br />

Por toda Israel,<br />

todos os lugares<br />

<strong>de</strong> entretenimento e diversão permanecem<br />

fechados, exceto os que<br />

promovem ativida<strong>de</strong>s especiais relacionadas<br />

ao Holocausto. No fim da<br />

tar<strong>de</strong>, sirenes são soadas por todo o<br />

país, e todos param por dois minutos<br />

<strong>de</strong> silêncio para reflexão.<br />

O Yad Vashem, o Museu e a organização<br />

nacional para pesquisa<br />

e educação sobre o Holocausto<br />

promove diversos programas a cada<br />

ano. Geralmente, as escolas oferecem<br />

ativida<strong>de</strong>s especiais para seus<br />

alunos, sempre sobre temas relativos<br />

ao Holocausto.<br />

As cerimônias usualmente incluem<br />

atos <strong>de</strong> acendimento <strong>de</strong> velas<br />

em memória aos mortos, e palestras<br />

com sobreviventes. Algumas vezes,<br />

rezas também são recitadas em memória<br />

aos falecidos, além <strong>de</strong> poemas,<br />

textos e outras obras <strong>de</strong> vítimas do<br />

Holocausto são expostas. Freqüentemente<br />

os nomes <strong>de</strong> vítimas são lidos<br />

em voz alta, além <strong>de</strong> informações<br />

sobre as várias comunida<strong>de</strong>s judaicas<br />

<strong>de</strong>struídas durante o Holocausto.<br />

O Yad Vashem possui projetos internacionais<br />

para cadastrar e homenagear<br />

todas as vítimas do Holocausto.<br />

Na Diáspora<br />

Fora <strong>de</strong> Israel, o Holocausto se<br />

tornou mais divulgado e conhecido<br />

tanto para ju<strong>de</strong>us quanto não-ju<strong>de</strong>us,<br />

através da publicação <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong><br />

livros, museus e memoriais, e também<br />

através <strong>de</strong> filmes e séries <strong>de</strong> televisão.<br />

Com a ênfase da importância<br />

da lembrança da tragédia, cada<br />

vez mais pessoas aproveitam esta<br />

data como momento <strong>de</strong> reflexão e<br />

aprendizado sobre o Holocausto.<br />

Muitas comunida<strong>de</strong>s judaicas organizam<br />

suas próprias cerimônias. Em São<br />

Paulo a Associação dos Participantes<br />

da Marcha da Vida promove um significativo<br />

evento. Em Curitiba, houve<br />

cerimônia especial na sinagoga.<br />

Para aqueles que não têm a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> participar <strong>de</strong> alguma cerimônia<br />

comunitária, Iom HaShoá<br />

po<strong>de</strong> ser uma data para introspecção<br />

pessoal, para o acendimento <strong>de</strong> velas,<br />

para rezas memoriais, e para<br />

apren<strong>de</strong>r a história do Holocausto.<br />

Além <strong>de</strong> apenas lembrar as vítimas<br />

do Holocausto, po<strong>de</strong>mos também<br />

pensar em como fortalecer a vida e a<br />

comunida<strong>de</strong> judaica. O objetivo <strong>de</strong><br />

Hitler foi o <strong>de</strong> eliminar a vida judaica<br />

do planeta, e não <strong>de</strong>vemos darlhe<br />

uma vitória póstuma.<br />

O Arco <strong>de</strong> Tito, em Roma, comemora<br />

<strong>de</strong>struição da nação judaica e<br />

sua conquista pelos romanos. Hoje,<br />

os antigos romanos <strong>de</strong>sapareceram da<br />

face da Terra. Devemos lutar para que<br />

quando os sobreviventes do Holocausto<br />

não estiverem<br />

mais entre nós para lembrar-nos<br />

do que passaram,<br />

o povo ju<strong>de</strong>u continue<br />

a lembrá-los com dignida<strong>de</strong><br />

e continue fazendo<br />

seu papel na história.<br />

Uma das imagens<br />

mais conhecidas do<br />

período do<br />

Holocausto, quando<br />

os ju<strong>de</strong>us presos e<br />

<strong>de</strong>portadores para os<br />

campos <strong>de</strong> morte na<br />

Europa<br />

Adiado novamente julgamento do anti-semita Castan<br />

O julgamento do chamado ‘Caso Castan’, pelo Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

– STF foi mais uma vez adiado em função do pedido <strong>de</strong> vistas ao processo<br />

formulado pelo ministro Gilmar Men<strong>de</strong>s no dia 9/4. Os juízes Maurício Correia<br />

(que foi eleito presi<strong>de</strong>nte do Tribunal e assume o posto em maio) e<br />

Celso <strong>de</strong> Mello, votaram pela con<strong>de</strong>nação do réu, Siegfried Ellwanger Castan,<br />

conhecido como S. E. Castan, que até agora tem só um voto favorável,<br />

o do ministro-relator do processo Moreira Alves, o qual consi<strong>de</strong>rou não ser<br />

o anti-semitismo uma forma <strong>de</strong> racismo. Alves, o último juiz nomeado pela<br />

ditadura militar que vigorou no Brasil até meados dos anos 80, aposentouse<br />

e participou dia 15/4 <strong>de</strong> sua última sessão naquela alta corte <strong>de</strong> Justiça.<br />

Ellwanger vinha através <strong>de</strong> sua empresa — uma editora e livraria em<br />

Porto Alegre (RS) —, publicando livros com mensagens anti-semitas <strong>de</strong><br />

incitação ao sentimento <strong>de</strong> ódio, <strong>de</strong>sprezo e preconceito contra os ju<strong>de</strong>us,<br />

num estilo abertamente nazista.<br />

O Ministério Público do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong>nunciou Ellwanger por incitação<br />

ao racismo, num processo que resultou na sua con<strong>de</strong>nação pelo<br />

Tribunal <strong>de</strong> Justiça do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul a dois anos <strong>de</strong> prisão e o confisco<br />

<strong>de</strong> todos os exemplares dos sete livros mencionados no processo.<br />

A pena alternativa foi <strong>de</strong> quatro anos, com prestação <strong>de</strong> serviços a<br />

comunida<strong>de</strong> no primeiro ano e comparecimento trimestral ao juízo <strong>de</strong> execução<br />

no período subseqüente para informar e justificar suas ativida<strong>de</strong>s. A<br />

con<strong>de</strong>nação imposta pelo tribunal gaúcho foi confirmada pelo Superior Tribunal<br />

<strong>de</strong> Justiça e pelo STF, tendo transitado em julgado.<br />

Após a con<strong>de</strong>nação, o advogado do Ellwanger, Werner Becker, impetrou<br />

habeas corpus no Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça (STJ), sustentando que o<br />

anti-semitismo não é racismo e que os ju<strong>de</strong>us não constituem raça, e assim<br />

sendo, o crime seria prescritível. O STJ negou o pedido do impetrante. Em<br />

razão disto, o habeas corpus foi impetrado ao STF, citando uma <strong>de</strong>claração<br />

da Unesco sobre as diferenças raciais: “os muçulmanos, os ju<strong>de</strong>us não formam<br />

uma raça, assim como os católicos ou os protestantes...”. O impetrante<br />

alegou que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u como “raça” encontra sempre veemente<br />

repúdio <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> judaica, tanto pelos antropólogos ju<strong>de</strong>us,<br />

como pelos rabinos e pela sua intelectualida<strong>de</strong>.<br />

A “tese” do advogado Becker foi aceita pelo ministro-relator, Moreira<br />

Alves, do STF, mas o julgamento do habeas corpus foi suspenso em Plenário,<br />

em <strong>de</strong>zembro do ano passado, por um pedido <strong>de</strong> vista do ministro<br />

Maurício Corrêa, que divergiu do voto do relator, ministro Moreira Alves. No<br />

seu voto, Moreira Alves chegou à conclusão <strong>de</strong> que os ju<strong>de</strong>us não podiam<br />

ser consi<strong>de</strong>rados uma raça e <strong>de</strong>clarou extinta a punibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ellwanger,<br />

pois já teria ocorrido a prescrição do crime, que ainda segundo o ministro<br />

não podia ser qualificado como <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> racismo. Essa posição <strong>de</strong> Moreira<br />

Alves <strong>de</strong>ixou entre apreensiva e revoltada as comunida<strong>de</strong>s judaicas no Brasil,<br />

tendo este fato repercutido com intensida<strong>de</strong> no Exterior. Naquela ocasião,<br />

o ministro Maurício Corrêa, ao pedir vista dos autos, praticamente<br />

adiantou seu voto, dando a enten<strong>de</strong>r que o conceito <strong>de</strong> racismo <strong>de</strong>via ser<br />

mais abrangente, envolvendo preconceitos contra minorias, sejam eles por<br />

questão <strong>de</strong> cor <strong>de</strong> pele, etnia ou religião.<br />

Sharon prevê criação do Estado palestino<br />

Em entrevista ao jornal israelense “Ha’Aretz”, o primeiro-ministro israelense<br />

Ariel Sharon afirmou que a guerra dos Estados Unidos e o Reino Unido contra o<br />

Iraque “sacudiu” o mundo árabe e “existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar a paz<br />

(com os palestinos), antes do que as pessoas imaginam”.<br />

“Esta é uma oportunida<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r”, disse o chefe <strong>de</strong> governo,<br />

que repetiu sua disposição <strong>de</strong> fazer concessões, sem entrar em <strong>de</strong>talhes,<br />

insinuando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evacuar assentamentos ju<strong>de</strong>us no futuro próximo<br />

para obter a paz.<br />

Perguntado se aceitará a existência <strong>de</strong> “dois Estados para os dois povos”,<br />

Sharon respon<strong>de</strong>u: “Isto é o que terminará acontecendo. Haverá um Estado<br />

Palestino. Temos que ser realistas... Não creio que <strong>de</strong>vamos reger a vida <strong>de</strong><br />

outro povo”.<br />

Prosseguindo em suas <strong>de</strong>clarações ao jornal disse que está disposto a um<br />

“acordo permanente” <strong>de</strong> paz e não só a um “acordo interino <strong>de</strong> longo alcance”<br />

com os palestinos.<br />

Sharon quer negociar esse acordo com o governo palestino que está sendo<br />

formado por Mahmud Abás (Abu Mazen), o primeiro-ministro <strong>de</strong>signado pelo<br />

presi<strong>de</strong>nte da Autorida<strong>de</strong> Nacional Palestina, Yasser Arafat: “Já tenho 75 anos<br />

e não abrigo ambições políticas além <strong>de</strong> on<strong>de</strong> estou”. Sinto que minha meta é<br />

trazer paz e segurança a esta nação, e faço tremendos esforços; creio que é o<br />

que <strong>de</strong>vo <strong>de</strong>ixar atrás <strong>de</strong> mim, tratar <strong>de</strong> chegar a um acordo”, disse.


dia quatro <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong><br />

(neste ano cai no dia<br />

seis <strong>de</strong> maio), véspera<br />

do Dia da In<strong>de</strong>pendência,<br />

foi <strong>de</strong>finido em<br />

Israel, há 54 anos atrás,<br />

como o Dia <strong>de</strong> Recordação aos mortos<br />

nas batalhas para o estabelecimento<br />

do Estado <strong>de</strong> Israel em sua<br />

terra, e aos que caíram por sua pátria,<br />

na Guerra da In<strong>de</strong>pendência e<br />

também nas que a seguiram.<br />

De acordo com a lei, na noite do<br />

dia quatro <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> todos os locais <strong>de</strong><br />

entretenimento do país ficam fechados.<br />

As ban<strong>de</strong>iras são baixadas em<br />

todos os lugares públicos a meio<br />

mastro, velas <strong>de</strong> recordação são acesas<br />

em todos os edifícios públicos e<br />

nas sinagogas, as pessoas se reúnem<br />

nos cemitérios militares, e são realizados<br />

atos públicos <strong>de</strong> recordação.<br />

Des<strong>de</strong> 1965, o ato <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong>ste<br />

dia se realiza no Muro das Lamentações.<br />

Na oração <strong>de</strong> Shacharit, muitas<br />

sinagogas agregam uma oração especial<br />

por esta Recordação.<br />

Antes do meio-dia, se escuta em<br />

todo país o soar das sirenes por dois<br />

minutos, e todos os habitantes <strong>de</strong> Israel<br />

param suas ativida<strong>de</strong>s e permanecem<br />

em pé, em silêncio.<br />

Ao término <strong>de</strong> Iom Hazikaron,<br />

iniciam-se as comemorações <strong>de</strong><br />

Iom Haatzmaut.<br />

A data é <strong>de</strong> recordação por todos<br />

os que morreram em todas as guerras<br />

que Israel teve que suportar com seus<br />

vizinhos árabes. Sempre em minoria,<br />

enfrentando exércitos gran<strong>de</strong>s e numerosos,<br />

Israel lutou a Guerra da In<strong>de</strong>pendência<br />

(1948), a do Sinai<br />

(1956), a dos Seis Dias (1967), a <strong>de</strong><br />

Iom Kipur (1973), a Operação Paz na<br />

Galiléia (1982), a Intifada (1987), a<br />

Guerra do Golfo (1991) e Intifada <strong>de</strong><br />

Al Aksa (2000-2002).<br />

Palavras <strong>de</strong> Recordação<br />

Palavras do primeiro-ministro <strong>de</strong><br />

Israel, Ariel Sharon, no Ato do Dia<br />

<strong>de</strong> Recordação pelos Mortos nas Batalhas<br />

<strong>de</strong> Israel, no cemitério do<br />

Monte Herzl, em 2002.<br />

Excelentíssimos Senhor Presi<strong>de</strong>nte<br />

do Estado <strong>de</strong> Israel Famílias enlutadas<br />

Público em geral<br />

Em meu caminho para cá passei<br />

pelos meus companheiros que aqui<br />

jazem e membros do moshav em que<br />

nasci, estu<strong>de</strong>i e cresci. Não há aqui<br />

nesta colina uma quadra <strong>de</strong> sepulturas<br />

sequer em que eu não tenha conhecidos,<br />

companheiros, comandantes<br />

e comandados. Aqui com eles,<br />

nesta colina, jazem as memórias da<br />

minha infância, da juventu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> todas<br />

as batalhas <strong>de</strong> Israel em que participei,<br />

a alegria das vitórias e a dor<br />

da <strong>de</strong>rrota e o sofrimento profundo<br />

que sempre volta e me golpeia pela<br />

morte <strong>de</strong> companheiros, pelos talentos<br />

e sonhos que <strong>de</strong>sapareceram.<br />

Este monte elevado, que observa<br />

a nossa capital eterna, Jerusalém, encobre<br />

em seu solo os nossos heróis.<br />

Aqui e em todos os cemitérios militares<br />

através do país, e também nas<br />

profun<strong>de</strong>zas do mar, nos lugares conhecidos<br />

e naqueles que <strong>de</strong>sconhecemos,<br />

é o seu último <strong>de</strong>scanso.<br />

Hoje toda a nação se une, uma<br />

gran<strong>de</strong> família enlutada, com a memória<br />

<strong>de</strong> seus filhos e filhas que tombaram<br />

nas campanhas <strong>de</strong> Israel. Neste<br />

entar<strong>de</strong>cer novamente a nossa ban<strong>de</strong>ira<br />

estará totalmente hasteada no<br />

mastro e o milagre <strong>de</strong> nossa in<strong>de</strong>pendência<br />

será celebrado. Mas saberemos<br />

e lembraremos o preço, e reconheceremos<br />

a liberda<strong>de</strong> que foi<br />

adquirida à custa do sangue dos que<br />

tombaram, do gran<strong>de</strong> sofrimento da<br />

família enlutada, e da dor dos feridos<br />

e dos inválidos que levam em seu<br />

corpo as cicatrizes da guerra.<br />

A pára-quedista Hana Senesz, que<br />

saltou ao âmago do inferno nazista<br />

na Europa ocupada a fim <strong>de</strong> salvar<br />

irmãos do incêndio, escreveu com tal<br />

simplicida<strong>de</strong> poética:<br />

“Uma voz chamou, e eu fui, fui porque<br />

a voz chamou, fui para não cair.”<br />

Esta voz interior límpida e pura é<br />

o comando do coração. A or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

missão pelo renascimento do povo.<br />

Or<strong>de</strong>m para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o lar, para estabelecer<br />

um muro <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contra<br />

o inimigo e o perseguidor é um comando<br />

do coração que move combatentes<br />

a se voluntariar, a servir, a investir<br />

através do fogo, a arriscar a<br />

vida a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> guardar o<br />

Estado <strong>de</strong> Israel.<br />

Este comando, que é base <strong>de</strong> nossa<br />

vida nacional, não <strong>de</strong>ve ser contestado.<br />

Sem ele não teríamos o renascimento<br />

e existência ante aqueles<br />

que se erguem contra nós. Ele é a<br />

vela <strong>de</strong> recordação do heroísmo <strong>de</strong><br />

Israel, que suporta toda tempesta<strong>de</strong><br />

externa e todo espírito errante interior,<br />

e que jamais se apagará.<br />

Nos últimos meses encontrei novamente<br />

pessoas assim, pessoas<br />

como nós, pessoas comuns que aten<strong>de</strong>m<br />

ao comando do coração: Um soldado<br />

reservista que foi ferido em Jenin<br />

e que me disse: “Devo me recuperar<br />

e voltar”, o cidadão <strong>de</strong> Efrat<br />

que com seu corpo brecou um terrorista<br />

suicida e com isto salvou vidas,<br />

a policial <strong>de</strong> Kfar Saba que sai toda<br />

noite para patrulhar as ruas da cida<strong>de</strong><br />

para que nossas crianças possam<br />

dormir em segurança.<br />

Pessoas comuns que <strong>de</strong>ixaram as<br />

suas casas, seu trabalho, seus filhos.<br />

Pessoas comuns que conduzem a batalha<br />

da <strong>de</strong>fesa do lar na luta contra<br />

o terror, alertas também agora, que<br />

estão em seus postos, pessoas comuns,<br />

comandantes e soldados do<br />

Exército <strong>de</strong> Defesa <strong>de</strong> Israel da ativa<br />

e reservistas, soldados da Polícia <strong>de</strong><br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

Iom Hazikaron - o Dia da Recordação<br />

Israel e da Polícia <strong>de</strong> Fronteiras, pessoas<br />

dos serviços <strong>de</strong> segurança e do<br />

Mossad, pára-médicos do Maguen<br />

David Adom, os médicos e enfermeiros<br />

dos hospitais, os bombeiros,<br />

os voluntários da Guarda Civil, todos<br />

se voluntariam.<br />

Pessoas comuns, do campo e<br />

da cida<strong>de</strong>, que usam kipá, provenientes<br />

do kibutz, ju<strong>de</strong>us,<br />

drusos, beduínos, circassianos,<br />

novos imigrantes e nativos,<br />

pessoas comuns<br />

que são a<br />

prova tão vigorosa<br />

e tocante<br />

para quem esqueceu<br />

quão<br />

forte é este<br />

povo, quanto<br />

somos firmes.<br />

Pessoas comuns,<br />

mas tão<br />

especiais.<br />

Hoje, junto com os senhores, silenciaremos<br />

o atropelo da rotina ante<br />

o peso da memória e ouviremos e estaremos<br />

atentos ao silêncio. E seja a<br />

lembrança <strong>de</strong> nossos companheiros<br />

caídos pura e isenta <strong>de</strong> qualquer disputa<br />

e divergência, sublime e sagrada<br />

como o mérito <strong>de</strong> seu sacrifício.<br />

Unamo-nos, lembremos e prometamos<br />

cuidar <strong>de</strong> um Estado <strong>de</strong> Israel bom,<br />

coeso, forte e justo, e comprometamo-nos<br />

a fazer tudo a fim <strong>de</strong> eliminar<br />

a guerra <strong>de</strong> nossa terra e instalar<br />

nela a segurança e a paz.<br />

Que a memória dos mortos nas<br />

lutas <strong>de</strong> Israel seja inscrita em nosso<br />

coração para sempre. Sejam a<br />

sua lembrança e o seu sacrifício um<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> coragem, <strong>de</strong> fé na eternida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Israel.<br />

9


10<br />

Do livro<br />

Minha Vida,<br />

<strong>de</strong> Golda Meir,<br />

Edição brasileira<br />

<strong>de</strong> Bloch<br />

Editores.<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

primeira vez que encontrei<br />

Abdullah fol no início <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1947. Ele concordara<br />

em se encontrar comigo<br />

— na minha qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> chefe do Departamento Político<br />

da Agência Judaica — numa casa<br />

em Naharayim (às margens do Jordão),<br />

on<strong>de</strong> a Palestine Electric Corporation<br />

tinha uma usina hidrelétrica. Fui com<br />

um dos nossos peritos em assuntos árabes<br />

— Eliahu Sasson. Bebemos as costumeiras<br />

xícaras cerimoniais <strong>de</strong> café e<br />

<strong>de</strong>pois começamos a falar. Abdullah era<br />

um homem <strong>de</strong> baixa estatura, belo porte<br />

e gran<strong>de</strong> encanto. Não tardou a ir<br />

direto ao assunto: ele não se associaria<br />

a qualquer ataque árabe contra nós.<br />

Disse que permaneceria sempre nosso<br />

amigo e que, como nós, queria paz acima<br />

<strong>de</strong> tudo. Afinal <strong>de</strong> contas, tínhamos<br />

um inimigo comum, o mufti <strong>de</strong> Jerusalém,<br />

Haj Amin eI-Husseini. E não<br />

só isso, sugeriu ainda que voltássemos<br />

a nos encontrar, após a votacão nas Nações<br />

Unidas.<br />

Outro <strong>de</strong> nossos especialistas em<br />

assuntos árabes, Ezra Danin, que antes<br />

já se encontrara freqüentemente com<br />

Abdullah, ínstruiu-me sobre a concepção<br />

geral do rei a respeito do papel<br />

dos ju<strong>de</strong>us. Era a <strong>de</strong> que a Providêncía<br />

os havia dispersado pelo<br />

mundo oci<strong>de</strong>ntal para que pu<strong>de</strong>ssem<br />

absorver a cultura européia e<br />

trazê-la <strong>de</strong> volta consigo ao Oriente<br />

Médio, assim revigorando a<br />

área. Quanto a se po<strong>de</strong>r confiar nele,<br />

Danin tinha dúvidas. De qualquer maneira,<br />

dísse, Abdullah era certamente<br />

sincero em suas expressões <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>,<br />

embora não se sentisse, <strong>de</strong> modo algum,<br />

obrigado em relação às mesmas.<br />

Por todos os meses <strong>de</strong> janeiro e fevereiro<br />

mantivernos contato com Abdullah,<br />

em geral através dos bons ofícios<br />

<strong>de</strong> um amigo mútuo, pelo qual eu<br />

podia enviar mensagens diretas ao rei.<br />

À medida que se passavam as semanas,<br />

O dia em que Israel nasceu<br />

tomavam-se minhas mensagens mais<br />

preocupadas. O ar estava pesado com<br />

suposições, e havia rumores <strong>de</strong> que, não<br />

obstante a promessa que me fizera, Abdullah<br />

estava prestes a se juntar à Liga Árabe.<br />

“Era isto mesmo?” Perguntei. A resposta<br />

<strong>de</strong> Amman foi pronta e negativa.<br />

O Rei Abdullah estava estarrecido<br />

e sentido com minha pergunta. Pediume<br />

que lembrasse três coisas: que ele<br />

era um beduíno e, portanto, um homem<br />

honrado; que era um rei e, portanto,<br />

duplamente honrado; e, finalmente,<br />

que jamais quebraria uma promessa<br />

feita a uma muIher. Desse modo<br />

não havia justificativa alguma para<br />

minha preocupação.<br />

Sabíamos, porém que não era bem<br />

assim. Na primeira semana <strong>de</strong> maio não<br />

havia mais dúvidas <strong>de</strong> que Abdullah,<br />

não obstante todas as garantias, se<br />

unira à Liga Árabe. Debatemos os prós<br />

e contras <strong>de</strong> solicitar outro encontro<br />

antes que fosse tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. Talvez<br />

pu<strong>de</strong>sse ser persuadido a mudar <strong>de</strong> idéia<br />

no último instante. Se não, talvez pudéssemos,<br />

pelo menos, saber <strong>de</strong>le quão<br />

profundamente estavam ele próprio e<br />

sua Legião Árabe, treinada e comandada<br />

por britânicos, comprometidos com<br />

a guerra contra nós. Muita coisa estava<br />

na balança: não só era a Legião, sem<br />

termos <strong>de</strong> comparação, o melhor exército<br />

árabe da área, mas também havia<br />

outra consi<strong>de</strong>ração vital. Se, por algum<br />

milagre, a Transjordânia ficasse fora da<br />

guerra, seria multo mais difícil ao exército<br />

iraquiano entrar na Palestina e juntar-se<br />

ao ataque contra nós. Ben-Gurion<br />

foi <strong>de</strong> opinião que nada tínhamos a<br />

per<strong>de</strong>r tentando <strong>de</strong> novo, e então solicitei<br />

um segundo encontro, e pedi a Ezra<br />

Danin que me acompanhasse.<br />

Foi uma longa, longa série <strong>de</strong> viagens<br />

<strong>de</strong> carro pela noite a<strong>de</strong>ntro. Primeiro<br />

em um, <strong>de</strong>pois saindo <strong>de</strong>sse para<br />

outro, por alguns quilômetros mais, e<br />

por fim, em Naharayim, num terceiro.<br />

O tempo todo não nos falamos. Eu con-<br />

Depois <strong>de</strong> sua experiência diplomática, Golda retornou a Israel, assumindo a<br />

pasta do Trabalho<br />

fiava plenamente na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ezra<br />

<strong>de</strong> nos fazer passar em seguranca pelas<br />

linhas inimigas, e estava preocupada<br />

<strong>de</strong>mais com o resultado <strong>de</strong> nossa<br />

rnissão para pensar no que aconteceria<br />

se, D-us nos livre, nos pegassem.<br />

Por sorte, embora tivéssemos <strong>de</strong> nos<br />

i<strong>de</strong>ntificar diversas vezes, chegamos ao<br />

lugar <strong>de</strong> encontro na hora, e não <strong>de</strong>scobertos.<br />

O homem que nos conduziria a<br />

Abdullah era um dos seus mais leais colaboradores,<br />

um beduíno que o reí havia<br />

adotado e criado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, e que<br />

estava habituado a executar incumbências<br />

perigosas para seu soberano.<br />

Em seu carro, suas janelas cobertas<br />

por um grosso tecido negro, levounos<br />

à sua casa. Enquanto aguardávamos<br />

que Abdullah aparecesse, conversei<br />

com a inteligente e atraente esposa<br />

do nosso guia, que vinha <strong>de</strong> uma<br />

abastada família turca e queixou a mim,<br />

amargamente, da terrível monotonia <strong>de</strong><br />

sua vida na Transjordânia. Lembro-me<br />

que me ocorreu que a essa altura um<br />

pouco <strong>de</strong> monotonia até que me faria<br />

bem, mas apenas balancei a cabeça<br />

compreensivamente.<br />

E então Abdullah entrou. Estava<br />

muito pálido e parecía sob gran<strong>de</strong> tensão.<br />

Ezra serviu <strong>de</strong> intérprete e falamos<br />

durante aproximadamente uma<br />

hora. Iniciei a conversação abordando<br />

logo o assunto. “Apesar <strong>de</strong> tudo, quebrou<br />

a promessa que me fez?” perguntei-lhe.<br />

Não respon<strong>de</strong>u diretamente à<br />

minha pergunta. Em vez disso falou:<br />

“Quando fiz aquela promessa, pensei<br />

estar controlando meu próprio <strong>de</strong>stino<br />

e po<strong>de</strong>r fazer o que achava certo. De<br />

então para cá, porém, aprendi que a<br />

coisa era outra.” Prosseguiu dizendo<br />

que antes estivera só, mas agora “sou<br />

um <strong>de</strong>ntre cinco”, os outros quatro,<br />

presumimos, sendo Egito, Síria, Líbano<br />

e Iraque. Não obstante, achava que a<br />

guerra podia ser evitada.<br />

“Por que estão com tanta pressa <strong>de</strong><br />

proclamar seu Estado?” indagou. “Por<br />

que essa precipitação? Vocês são tão<br />

impacientes!” Disse-lhe não achar que<br />

um povo que esperou 2.000 anos podia<br />

ser <strong>de</strong>scrito como estando com pressa,<br />

e ele pareceu concordar.<br />

“Se formos à guerra, lutaremos e<br />

venceremos”<br />

“Não compreen<strong>de</strong>”, disse eu, “que<br />

nós somos seus únicos aliados nesta<br />

região? Os outros são todos seus inimigos.”<br />

“Sim”, respon<strong>de</strong>u. “Sei disso.<br />

Mas o que posso fazer? Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mim.” Então eu Ihe disse: “Deve<br />

saber que se formos forçados à guerra,<br />

lutaremos e venceremos. Ele <strong>de</strong>u um<br />

suspiro e novamente falou: “Sim, sei<br />

disso. Vocês têm o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> lutar. Mas<br />

porque não esperam alguns anos? Desistarn<br />

<strong>de</strong> suas exigências <strong>de</strong> livre imigração.<br />

Assumirei o controle <strong>de</strong> todo o<br />

país e vocês serão representados ern<br />

meu parlamento. Eu os tratarel muito<br />

bern e não haverá guerra.”<br />

Tentei explicar-Ihe que seu plano<br />

era impossivel. “É <strong>de</strong> seu conhecimento<br />

tudo que temos feito e como temos<br />

trabalhado arduamente”, disse eu.<br />

“Pensa que fizemos tudo isso apenas<br />

para sermos representados num parlamento<br />

estrangeiro? Sabe o que querernos<br />

e a que aspiramos. Se não po<strong>de</strong><br />

nos oferecer nada mais, então haverá<br />

guerra e nós venceremos. Mas talvez<br />

possamos nos encontrar novamente —<br />

após a guerra e <strong>de</strong>pois que houver um<br />

Estado ju<strong>de</strong>u.”


“Confia <strong>de</strong>mais em seus tanques”,<br />

disse Danin. “Não tem amigos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />

no mundo árabe, e esmagaremos<br />

os seus tanques assim como foi esmagada<br />

a Linha Maginot.” Foram palavras<br />

muito corajosas, especialmente porque<br />

Danin conhecia muito bem o estado <strong>de</strong><br />

nossos blindados. Mas AbdulIah tornou-se<br />

mais sério e novamente falou<br />

que sabia que tínhamos <strong>de</strong> cumprir<br />

nosso <strong>de</strong>ver. Acrescentou também,<br />

creio que pesarosamente, que os acontecimentos<br />

teriam <strong>de</strong> seguir o seu curso.<br />

Todos nós acabaríamos sabendo o<br />

que o <strong>de</strong>stino nos reservava.<br />

Obviamente nada mais havia a dizer.<br />

Quis sair, mas Danin e Abdullah<br />

haviam iniciado uma nova conversa.<br />

“Espero que permaneçamos em contato<br />

mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> começada a guerra”,<br />

disse Danin. “Claro”, respon<strong>de</strong>u<br />

Abdullah. “Precisa vir me ver”. “Mas como<br />

po<strong>de</strong>rei alcançá-lo?” perguntou Danin.<br />

“Oh, confio que encontrara um caminho”,<br />

disse Abdullah com um sorriso. E então<br />

Danin censurou-o por não tomar precauções<br />

a<strong>de</strong>quadas. “Reza na mesquita”,<br />

disse ele a Abdullah, “e permite que seus<br />

súditos beijem a bainha <strong>de</strong> seus trajes.<br />

Um dia algum perverso lhe fará mal. Chegou<br />

a hora <strong>de</strong> proibir esse costume, em<br />

benefício da segurança.” Abdullah estava<br />

visivelmente chocado. “Jamais me tornarei<br />

prisioneiro dos meus próprios guardas”,<br />

disse muito severamente a Danin.<br />

“Nasci beduíno, um homem livre, e livre<br />

permanecerei. Que aqueles que querern<br />

me matar tentem fazê-lo. Não vou<br />

me acorrentar.” Então se <strong>de</strong>spediu <strong>de</strong><br />

nós e se retirou.<br />

Suponho que Danin e eu <strong>de</strong>vemos<br />

ter andado cerca <strong>de</strong> meia hora antes<br />

que um jovem membro da Haganah, <strong>de</strong><br />

Naharayim — que estivera esperando<br />

por nós a noite inteira numa ansieda<strong>de</strong><br />

febril — subitamente nos localizasse.<br />

No escuro não pu<strong>de</strong> ver seu rosto, mas<br />

creio que jamais segurei a mão <strong>de</strong> alguém<br />

tão firmemente e com tanto alívio.<br />

Levou-nos, com facilida<strong>de</strong>, por<br />

colinas e wadis, <strong>de</strong> volta a Naharayim.<br />

Vi-o <strong>de</strong> novo, poucos anos atrás, quando<br />

um homem <strong>de</strong> meia-ida<strong>de</strong> se aproximou<br />

<strong>de</strong> mim no vestíbulo <strong>de</strong> um hotel<br />

em Jerusalém. “Senhora Meir”, perguntou,<br />

“não me reconhece?” Rebusquei<br />

em minha mente mas não consegui<br />

<strong>de</strong> forma alguma localizá-lo até que<br />

me sorriu muito docemente e disse. “Fui<br />

eu que lhe mostrei o caminho <strong>de</strong> volta<br />

a Naharayim naquela noite.”<br />

Nunca mais, porém, voltei a ver<br />

Abdullah, muito embora, após a Guerra<br />

<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência, houvesse com ele<br />

prolongadas negociações. Posteriormente<br />

me contaram que, referindo-se<br />

a mim, dissera. “Se houve uma pessoa<br />

responsável pela guerra, foi ela, porque<br />

foi orgulhosa <strong>de</strong>mais para aceitar<br />

a oferta que lhe fiz.” Devo dizer que<br />

quando penso no que nos teria acontecido<br />

como uma minoria protegida no<br />

reino <strong>de</strong> um monarca árabe que seria<br />

ele próprio assassinado por árabes <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> apenas dois anos, não posso me<br />

Capa da edição brasileira do livro <strong>de</strong> Golda<br />

arrepen<strong>de</strong>r do fato <strong>de</strong> naquela noite ter<br />

<strong>de</strong>ixado Abdullah tão <strong>de</strong>cepcionado.<br />

Desejaria, contudo, que ele tivesse tido<br />

a bravura suficiente para ficar fora da<br />

guerra. Teria sido muito melhor para<br />

ele — e para nós — se ele houvesse<br />

sido um pouco mais orgulhoso.<br />

De qualquer maneira, fui levada <strong>de</strong><br />

carro <strong>de</strong> Naharayim direto para Tel-Aviv.<br />

Na manhã seguinte haveria uma runião<br />

na se<strong>de</strong> do Mapai — durante toda aquela<br />

semana, é claro, as reuniões se sucediam<br />

quase que incessantemente —<br />

e sabia que Ben-Gurion estaria presente.<br />

Quando entrei no recinto, ele levantou<br />

sua cabeça, me encarou e disse:<br />

“Nu?” (Então?) Sentei-me e redigi<br />

um bilhete. “Não <strong>de</strong>u certo”, escrevi.<br />

“Haverá guerra. De Mafrak, Ezra e eu<br />

vimos as concentrações <strong>de</strong> tropas e as<br />

luzes.” Mal pu<strong>de</strong> suportar ver o rosto<br />

<strong>de</strong> Ben-Gurion enquanto lia o bilhete,<br />

mas, graças a D-us, ele não mudou sua<br />

opinião — nem a nossa.<br />

Dentro <strong>de</strong> dois dias a <strong>de</strong>cisão final<br />

teria <strong>de</strong> ser tomada: <strong>de</strong>via ou não ser<br />

proclamado um Estado ju<strong>de</strong>u? Depois<br />

que eu relatei minha conversa com<br />

Abdullah, várias pessoas do Minhelet<br />

HaAm (ao pé da letra, a Administração<br />

do Povo), constituído por membros da<br />

Agência Judaica, do Va’ad Leumi e <strong>de</strong><br />

diversos pequenos partidos e grupos,<br />

e que <strong>de</strong>pois se tornaria o Governo Provisório<br />

<strong>de</strong> Israel, pressionaram Ben-<br />

Gurion para um último exame da situação.<br />

Queriam saber qual era a avaliação<br />

da Haganah na hora H. Aí Ben-Gurion<br />

rnandou chamar dois homens: Yigael<br />

Vadin, que era o chefe <strong>de</strong> operações<br />

da Haganah, e Israel Galili, que<br />

era seu comandante em chefe <strong>de</strong> facto.<br />

Suas respostas foram praticamente<br />

idênticas — e aterradoras. Disseram<br />

que podíamos ter certeza <strong>de</strong> apenas<br />

duas coisas: os britânicos iam cair fora<br />

e os árabes iam invadir. E <strong>de</strong>pois? Ficaram<br />

ambos calados. Mas após um<br />

minuto, Yadin disse: “O melhor que po-<br />

<strong>de</strong>mos lhes dizer é que temos uma chance<br />

<strong>de</strong> meio a meio. São iguais as probabilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> vitória e <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota.”<br />

E foi com essa nota animadora que<br />

se tomou a <strong>de</strong>cisão final. Na sexta-feira,<br />

14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1948, (5 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> <strong>de</strong><br />

5708, segundo o calendário hebraico),<br />

nasceria o Estado ju<strong>de</strong>u, sua população<br />

totalizando 650.000, suas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou não o ishuv enfrentar<br />

o ataque <strong>de</strong> cinco exércitos regulares<br />

árabes ativamente auxiliados pelo<br />

milhão <strong>de</strong> árabes da Palestina.<br />

De acordo com o plano original, eu<br />

<strong>de</strong>veria retornar a Jerusalém na quinta-feira<br />

e ali permanecer. Desnecessário<br />

dizer que queria muito ficar em Tel-<br />

Aviv, pelo menos o tempo suficiente<br />

para assistir a cerimônia da proclamação<br />

— cuja hora e local estavam<br />

sendo mantidos em segredo (exceto<br />

para os cerca <strong>de</strong> 200 convidados), até<br />

aproximadamente uma hora antes do<br />

acontecimento. Durante toda a quartafeira<br />

esperei, <strong>de</strong>sesperando, que Ben-<br />

Gurion ce<strong>de</strong>sse, mas ele se mostrou inflexível.<br />

“Você tem <strong>de</strong> voltar a Jerusalém”,<br />

disse-me. E assim, na quinta-feira,<br />

13 <strong>de</strong> maio, estava eu novamente<br />

naquele pequeno teco-teco, O piloto<br />

recebera or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> me levar a Jerusalém<br />

e voltar imediatamente a Tel-Aviv<br />

com Yitzhak Gruenbaum, que seria o<br />

ministro do Interior no Governo<br />

Provisório. Mas tão logo passamos a<br />

planície costeira e alcançamos os montes<br />

da Judéia, começou o motor a se<br />

comportar <strong>de</strong> maneira extremamente<br />

alarmante. Eu estava sentada ao lado<br />

do piloto (aqueles aviõezinhos — que<br />

afetuosamente chamávamos <strong>de</strong> “Primus”<br />

[marca <strong>de</strong> fogareiro a querosene]<br />

— só tinham dois lugares), e podia ver<br />

que mesmo ele estava muito nervoso.<br />

O motor parecia que ia se soltar do<br />

avião, <strong>de</strong> modo que não fiquei realmente<br />

surpresa quando o piloto, apologeticamente,<br />

me disse: “Lamento muito,<br />

mas não creio que possa transpor os<br />

montes. Terei <strong>de</strong> voltar.” Deu meia-volta<br />

corn o avião, mas o motor continuava<br />

a fazer ruídos pavorosos, e notei que o<br />

piloto estava olhando muito para bai-<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

galvão<br />

xo. Eu não disse uma palavra. Após algum<br />

tempo o motor se recuperou um<br />

pouco e ele me perguntou: “Sabe o que<br />

está acontecendo?” “Sim”, disse eu, E<br />

ele: “Eu estava procurando a melhor<br />

al<strong>de</strong>ia árabe para pousarmos.” Isso,<br />

reparem bem, foi a 13 <strong>de</strong> maio. Depois<br />

acrescentou: “Mas agora penso que<br />

posso <strong>de</strong>scer em Ben Shemen.” A essa<br />

altura o motor melhorou mais um pouquinho.<br />

“‘Não”, disse ele, “acho que<br />

posso conseguir voltar a Tel-Aviv.”<br />

Assim me foi possível, afinal, assistir<br />

à cerimônia, e o pobre do Yitzhak<br />

Gruenbaum teve <strong>de</strong> ficar em Jerusalém<br />

e só pô<strong>de</strong> assinar a Declaração<br />

<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>pois do primeiro.<br />

cessar-fogo.<br />

Na manhã <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> maio partícipei<br />

<strong>de</strong> uma reunião do Conselho Nacional<br />

em que <strong>de</strong>víarnos <strong>de</strong>cidir sobre o nome<br />

do Estado e o texto final da Declaração.<br />

O texto <strong>de</strong>u mais problemas do que<br />

o nome, porque houve uma divergência<br />

<strong>de</strong> última hora a respeito da inclusão<br />

<strong>de</strong> uma referência a D-us. Na realida<strong>de</strong><br />

a questão fora levantada no dia anterior.<br />

A última frase, conforme finalmente<br />

submetida ao pequeno subcomitê<br />

encarregado <strong>de</strong> redigir a versão final<br />

da proclamação, começava com as<br />

seguintes palavras: “Confiantes na Rocha<br />

<strong>de</strong> Israel, apomos nossas assinaturas<br />

a esta Declaração...” Ben-Gurion<br />

havia esperado que a expressão Rocha<br />

<strong>de</strong> Israel fosse suficientemente ambígua<br />

para satisfazer aqueles ju<strong>de</strong>us aos<br />

quais era inconcebível que o documento<br />

estabelecendo o Estado ju<strong>de</strong>u não contivesse<br />

qualquer referência a D-us —<br />

bem como aos que, com certeza, objetariarn<br />

vigorosamente à menor insinuação<br />

<strong>de</strong> clericalismo na <strong>de</strong>claração.<br />

Os princípios fundarnentais do<br />

Estado <strong>de</strong> Israel<br />

Não foi, porém, fácil chegar a um<br />

acordo. O porta-voz dos partidos religiosos,<br />

Rabino Fishman-Maimon, exigiu<br />

que a referência a D-us fosse inequívoca<br />

e disse que só aprovaria a Rocha<br />

<strong>de</strong> Israel no caso <strong>de</strong> serem acrescentadas<br />

as palavras “e seu Re<strong>de</strong>ntor”,<br />

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<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

enquanto que Aaron Zisling, da ala esquerda<br />

do Partido Trabalhista estava<br />

não menos <strong>de</strong>cidido na direção oposta.<br />

Disse ele: “Não posso assinar um<br />

documento que <strong>de</strong> algum modo se refira<br />

a um D-us em que não acredito.”<br />

Ben-Gurion levou quase que a manhã<br />

inteira para persuadir Maimon e Zisling<br />

que Rocha <strong>de</strong> Israel tinha na realida<strong>de</strong><br />

um duplo significado: embora para<br />

muitos ju<strong>de</strong>us, talvez a maioria significasse<br />

D-us, po<strong>de</strong>ria também ser consi<strong>de</strong>rada<br />

como uma referência simbólica<br />

e leiga à força do povo ju<strong>de</strong>u. Por<br />

fim, Maimon concordou em não incluir<br />

no texto a palavra Re<strong>de</strong>ntor, muito<br />

embora, <strong>de</strong> maneira bastante engraçada,<br />

a primeira tradução em língua inglesa<br />

da Declaração, naquele dia para<br />

publicação no exterior, não contivesse<br />

referência alguma à Rocha <strong>de</strong> Israel,<br />

uma vez que o censor militar havia eliminado,<br />

como precaução <strong>de</strong> segurança,<br />

todo o último parágrafo porque<br />

mencionava hora e local da cerimônia.<br />

Todavia a discussão em si; embora<br />

não sendo no que se esperaria fosse<br />

um futuro primeiro-ministro gastar seu<br />

tempo, poucas horas antes <strong>de</strong> procla-<br />

mar a in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> um novo Estado<br />

— ainda mais ameaçado <strong>de</strong> invasão<br />

imediata — estava longe <strong>de</strong> ser simplesmente<br />

uma divergência em torno<br />

<strong>de</strong> terminologia. Estávamos todos profundamente<br />

cônscios do fato <strong>de</strong> que a<br />

Declaração não só exprimia o término<br />

formal, para os ju<strong>de</strong>us, <strong>de</strong> 2.000 anos<br />

sem pátria, como também expressava<br />

os princípios mais fundamentais do Estado<br />

<strong>de</strong> Israel. Por essa razão, toda e<br />

qualquer palavra importava muitíssimo.<br />

Aliás, meu bom amigo Zeev Sharef, o<br />

primeiro-secretário do futuro Govemo<br />

(que lançou os alicerces para a maquinaria<br />

<strong>de</strong> Governo) até achou tempo para<br />

provi<strong>de</strong>nciar que o pergaminho que iríamos<br />

assinar naquela tar<strong>de</strong> fosse levado<br />

às pressas para a caixa-forte do<br />

AngloPalestine Bank após a cerimônia,<br />

<strong>de</strong> modo que ao menos pu<strong>de</strong>sse ser preservado<br />

para a posterida<strong>de</strong> — mesmo<br />

que o Estado e nós não sobrevivêssemos<br />

por muito tempo.<br />

Por volta das 14 horas voltei ao meu<br />

hotel junto à praia, lavei os cabelos e<br />

pus meu melhor vestido preto. Depois<br />

me sentei por alguns minutos, em parte<br />

para tomar fôlego, em parte pensar<br />

— pela primeira vez nos úlimos dois<br />

ou três dias — nos fiIhos. Menachem<br />

encontrava-se então nos Estados Unidos<br />

— aluno da Escola <strong>de</strong> Música <strong>de</strong><br />

Manhatttan. Sabia que voltaria, agora<br />

que a guerra era inevitável, e perguntava<br />

a mim mesma quando e on<strong>de</strong> nos<br />

encontraíamos. Sarah estava em Revivim,<br />

e embora não muito longe em linha<br />

reta, estávamos isoladas uma da<br />

outra. Meses antes, bandos <strong>de</strong> árabes<br />

palestinenses e incursionistas armados<br />

do Egito haviam bloqueado a estrada<br />

que ligava o Neguev ao resto do país,<br />

e ainda estavarn sístematicamente explodindo<br />

ou cortando a maioria dos<br />

encanamentos que traziam água às vinte<br />

e sete colônia agrícolas então es-<br />

palhadas pelo Neguev. A Haganah fizera<br />

o possível para romper o sítio. Havia<br />

aberto uma písta. paralela à estrada<br />

principal, pela qual comboios conseguiam,<br />

<strong>de</strong> vez em quando, levar alimentos<br />

e água aos cerca <strong>de</strong> 1.000 colonos<br />

no sul. Mas quem sabia o que<br />

po<strong>de</strong>ria acontecer a Revivim, ou qualquer<br />

outro dos pequenos povoados do<br />

Neguev, mal armados e mal equipados,<br />

quando começasse a invasão egípcia,<br />

em vasta escala, <strong>de</strong> Israel, como era<br />

quase certo que ocorreria, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

apenas poucas horas? Tanto Sarah<br />

quanto seu marido Zechariah eram operadores<br />

<strong>de</strong> rádio em Revivim, o que possibilitara<br />

manter contato com eles. Mas<br />

por vários dias nada ouvira <strong>de</strong>les ou<br />

sobre eles, e estava extremamente preocupada.<br />

Era <strong>de</strong> jovens como esses, <strong>de</strong><br />

seu espírito e sua coragem, que <strong>de</strong>pendia<br />

o futuro do Neguev e, conseqüentemente,<br />

o <strong>de</strong> Israel, e eu tremia só<br />

em pensar que teriam <strong>de</strong> enfrentar as<br />

tropas invasoras do exército egípcio.<br />

Estava tão absorta pensando nos filhos<br />

que me lembro ter ficado momentaneamente<br />

surpresa quando tocou o<br />

telefone e me disseram que havia um<br />

carro à minha espera para me levar ao<br />

museu. Fora <strong>de</strong>cidido realizar a cerimônia<br />

no Museu <strong>de</strong> Tel-Aviv, no Boulevard<br />

Rothschild, não porque fosse um<br />

prédio muito imponente (o que não era<br />

mesmo) mas porque era suficientemente<br />

pequeno para ser falcilmente<br />

vigiado. Um dos prédios mais antigos<br />

<strong>de</strong> Tel-Avív, pertencera originariamente<br />

ao seu primeiro prefeito, que o doara<br />

à cida<strong>de</strong> para uso como museu <strong>de</strong><br />

arte. O grandioso total <strong>de</strong> aproximadamente<br />

200 dólares havia sido reservado<br />

a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>corá-lo a<strong>de</strong>quadamente<br />

para a cerimônia; os assoalhos foram<br />

limpos, os quadros com nus recatadamente<br />

cobertos, as janelas enegrecidas<br />

para o caso <strong>de</strong> um ataque aéreo, e<br />

um gran<strong>de</strong> retrato <strong>de</strong> Theodor<br />

Herzl pendurado por trás da mesa<br />

à qual se sentariam treze membros<br />

do Governo Provisório. Embora<br />

supostamente apenas os cerca<br />

<strong>de</strong> duzentos convidados soubessem<br />

dos <strong>de</strong>talhes, já havia uma<br />

gran<strong>de</strong> multidão do lado <strong>de</strong> fora<br />

do museu quando lá cheguei.<br />

Poucos minutos <strong>de</strong>pois, às 16<br />

horas em ponto, teve início a cerimônia.<br />

Ben-Gurion, <strong>de</strong> terno escuro<br />

e gravata, levantou-se e <strong>de</strong>u<br />

uma batida rápida com um martelo<br />

<strong>de</strong> tribunal. De acordo com o<br />

plano, seria esse o sinal para a<br />

orquestra, metida numa galeria do<br />

segundo andar, tocar a Ha-Tikvah.<br />

Mas algo <strong>de</strong>u errado, e não houve<br />

música. Espontaneamente nos<br />

pusernos <strong>de</strong> pé e cantamos nosso<br />

hino nacional. Então Ben-Gurion<br />

pigarreou, e disse tranquilamente:<br />

“Lerei agora o Pergaminho da<br />

In<strong>de</strong>pên<strong>de</strong>ncia.” Levou-lhe somente<br />

um quarto <strong>de</strong> hora a leitura<br />

<strong>de</strong> toda a Declaração. Leu-a<br />

lenta e muito claramente, e lembro-me<br />

<strong>de</strong> sua voz se alternando<br />

e elevando-se um pouco ao chegar ao<br />

décimo primeiro parágrafo:<br />

“Conseqüentemente, nós, membros<br />

do Conselho Nacional, representando o<br />

povo ju<strong>de</strong>u na Terra <strong>de</strong> Israel e o movimento<br />

sionista mundial, reunidos em solene<br />

assembléia hoje, dia do término do<br />

Mandato britânico para a Palestina, e,<br />

em virtu<strong>de</strong> dos direitos natural e histórico<br />

do povo ju<strong>de</strong>u e da resolução da<br />

Assembléia Geral das Nações Unidas,<br />

proclamamos, por meio <strong>de</strong>sta, o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> um Estado ju<strong>de</strong>u na Terra<br />

<strong>de</strong> Israel — o Estado <strong>de</strong> Israel.”<br />

O Estado <strong>de</strong> Israel! Meus olhos se<br />

encheram <strong>de</strong> lágrimas e minhas mãos<br />

tremeram. Conseguíramos faze-lo. Havíamos<br />

dado existência ao Estado ju<strong>de</strong>u<br />

— e eu, Golda Mabovitch Meyerson,<br />

vivera para ver esse dia. O que<br />

quer que acontecesse agora, qualquer<br />

que fosse o preço que qualquer um <strong>de</strong><br />

nós teria <strong>de</strong> pagar por isso, havíamos<br />

recriado o lar nacional judaico. Estava<br />

terminado o longo exílio. Desse dia em<br />

diante não mais viveríamos por tolerância<br />

na terra <strong>de</strong> nossos antepassados.<br />

Éramos agora uma nação igual às<br />

outras, donos — pela primeira vez em<br />

vinte séculos — <strong>de</strong> nosso próprio <strong>de</strong>stino.<br />

O sonho se tornara realida<strong>de</strong> tar<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mais para salvar aqueles que pereceram<br />

no Holocausto, mas não tar<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mais para as gerações futuras. Quase<br />

exatamente cinqüenta anos antes,<br />

após o encerramento do Primeiro Congresso<br />

Sionista na Basiléia, Theodor<br />

Herzl escrevera em seu diário: “Em Basiléia,<br />

fun<strong>de</strong>i o Estado ju<strong>de</strong>u. Se eu<br />

disser isso hoje, serei alvo <strong>de</strong> risos. Mas<br />

talvez daqui a cinco anos, e certamente<br />

daqui a cinqüenta, todos o verão.”<br />

E assim veio a acontecer.<br />

Enquanto Ben-Gurion lia, pensei<br />

novamente nos flihos e nas crianças<br />

que teriam, como suas vidas seriam diferentes<br />

da minha, e como minha própria<br />

vida seria diferente do que fora no<br />

passado. E pensei em meus colegas na<br />

Jerusalém sitiada, reunidos nos escritórios<br />

da Agência Judaica, ouvindo,<br />

em meio à estática, a cerimônia pelo<br />

rádio, enquanto eu, por simples aci<strong>de</strong>nte,<br />

estava no próprio museu. Parecia-me<br />

que ju<strong>de</strong>u algum no mundo jamais<br />

fora mais privilegiado do que eu<br />

naquela tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sexta-feira.<br />

Lágrimas incontidas por todos<br />

amigos ausentes<br />

E então, como se houvesse sido<br />

dado um sinal, nos pusemos <strong>de</strong> pé,<br />

chorando e aplaudindo, enquanto Ben-<br />

Gurion, única vez que sua voz se embargou,<br />

lia:<br />

“O Estado <strong>de</strong> Israel estará aberto à<br />

imigração judaica e ao retorno dos exilados.”<br />

Este era o próprio ângulo da<br />

Declaração, a razão da existência do<br />

Estado e o sentido <strong>de</strong> tudo. Recordome<br />

ter soluçado alto ao ouvir essas palavras<br />

faladas naquele pequeno salão,<br />

quente e apinhado. Bem-Gurion, porém,<br />

pediu or<strong>de</strong>m com seu martelo e


prosseguiu com a leitura:<br />

“Ainda que enfrentando uma brutal<br />

agressão, dirigimo-nos aos habitantes<br />

árabes do país no sentido <strong>de</strong> que<br />

se conservem em paz e participem do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do Estado, com base<br />

na completa e igual cidadania e representação<br />

justa em todas as suas instituições,<br />

provisórias e permanentes.”<br />

E: “Esten<strong>de</strong>mos a mão da paz e da<br />

boa vizinhanqa a todos os Estados que<br />

nos cercam e a seus povos, e convidamo-los<br />

a cooperar oom a nação judaica<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para o bem comum. O<br />

Estado <strong>de</strong> Israel está pronto a contribuir<br />

para o progresso <strong>de</strong> todo o Oriente<br />

Médio.”<br />

Ao terminar a leitura das 979 palavras<br />

hebraicas da Declarção, pediu Ben-<br />

Gurion que nos levantássemos para<br />

“aceitar o Pergaminho do estabelecimento<br />

do Estado ju<strong>de</strong>u”, e assim novamente<br />

nos pusemos <strong>de</strong> pé. E aí aconteceu<br />

algo não programado e muito comovente.<br />

De repente, o Rabino Fishman-Maimon<br />

se levantou e, com, voz<br />

trêmula, proferiu a tradicional oração<br />

hebraica <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento. “Louvado<br />

sejas Tu, Ó Senhor nosso D-us, Soberano<br />

do universo, que nos conservaste e<br />

trouxeste até este dia. Amém.” Era uma<br />

oração que eu ouvira muitas vezes, mas<br />

jamais teve para mim tanta significação<br />

como naquele dia.<br />

Antes que viessemos, cada um na<br />

sua vez, por or<strong>de</strong>m alfabética, assinar<br />

a Declaração, havia outra questão <strong>de</strong><br />

serviço a exigir nossa atenção. Ben-<br />

Gurion leu os prímeiros <strong>de</strong>cretos do<br />

novo Estado. O Livro Branco foi <strong>de</strong>clarado<br />

írrito e nulo, enquanto que, a fim<br />

<strong>de</strong> evitar urn vácuo jurídico, todos os<br />

<strong>de</strong>mais estatutos e regulamentos do<br />

Mandato foram <strong>de</strong>clarados válidos e<br />

temporariamente vigentes. Depois<br />

começaram as assinaturas. Quando me<br />

levantei <strong>de</strong> minha ca<strong>de</strong>ira para assinar<br />

o pergarninho, avistei Ada Golomb, <strong>de</strong><br />

pé, não multo longe <strong>de</strong> mim. Queria ir<br />

até on<strong>de</strong> ela estava, segurá-la em meus<br />

braços, e dizer-lhe que sabia que Eliahu<br />

e Dov <strong>de</strong>viam estar ali em meu lugar,<br />

mas não podia atrasar a fila dos<br />

signatários e assim fui direto ao centro<br />

da mesa, on<strong>de</strong> Ben-Gurion e Sharett<br />

estavam sentados com o pergaminho<br />

entre eles. Quanto ao momento em<br />

que apus a minha assinatura só lembro<br />

<strong>de</strong> estar chorando, incapaz até <strong>de</strong> enxugar<br />

as lágrimas do meu rosto, e que,<br />

enquanto Sharett segurava o pergaminho<br />

para que eu o assinasse, se aproximou<br />

<strong>de</strong> mim um homem chamado<br />

David Zvi Pincus, pertencente ao partido<br />

religioso Mizrachi e tentou me<br />

acalmar. “Por que está chorando tanto,<br />

Golda?” perguntou. “Porque me<br />

parte o coração pensar em todos aqueles<br />

que <strong>de</strong>viam estar aqui hoje e não<br />

estão”, respondi, mas ainda assim não<br />

pu<strong>de</strong> parar <strong>de</strong> chorar.<br />

Apenas vinte e cinco membros do<br />

Conselho do Povo assinaram a Declaração<br />

a 14 <strong>de</strong> maio. Onze outros estavam<br />

em Jerusalém, e um nos Estados<br />

Unidos. O último a assinar foi Moshe<br />

Sharett. Comparado comigo; parecia<br />

muito controlado e calmo — como se<br />

estivesse apenas cumprindo uma formalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> rotlna. Posteriormente,<br />

quando certa vez estivemos conversando<br />

sobre esse dia, contou-me que ao<br />

inscrever seu nome no pergaminho, sentiu-se<br />

como num penhasco, com uma<br />

ventania ao redor e nada em que se segurar<br />

exceto sua <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> não<br />

ser jogado abaixo no mar revolto — mas<br />

nada disso transpareceu na ocasião.<br />

Depois que a Orquestra Filarmônica<br />

da Palestina tocou a Ha-Tikvah, Ben-<br />

Gurion pela terceira vez bateu com seu<br />

martelo: “O Estado <strong>de</strong> Israel está<br />

estabelecido. Está encerrada a sessão.”<br />

Trocamos apertos <strong>de</strong> mão e abraçamonos.<br />

Israel era uma realida<strong>de</strong>.<br />

Como era <strong>de</strong> esperar, a noite foi<br />

cheia <strong>de</strong> suspense. Fiquei no hotel, conversando<br />

com amigos. Alguém abriu<br />

uma garrafa <strong>de</strong> vinho e erguemos um<br />

brin<strong>de</strong> ao Estado. Alguns dos convidados<br />

e seus jovens acompanhantes da<br />

Haganah cantaram e dançaram, e ouvimos<br />

gente rindo e cantando na rua.<br />

Sabíamos, porém, que a meia-noite o<br />

Mandato terminaria, o Alto-Comissário<br />

britânico zarparia, o último soldado<br />

britânico <strong>de</strong>ixaria a Palestina, e estávamos<br />

certos <strong>de</strong> que os exércitos árabes<br />

cruzariam as fronteiras do Estado<br />

que acabáramos <strong>de</strong> fundar. Agora éramos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mas em poucas<br />

horas estaríamos em guerra. Não só não<br />

me sentia alegre, como estava mesmo<br />

muito assustada — e com boas razões.<br />

Ajuda assim, há uma gran<strong>de</strong> diferença<br />

entre estar assustada e não ter fé, e<br />

embora toda a população judaica do<br />

Estado renascido só totalizasse 650.000,<br />

eu sabia com certeza naquela noite que<br />

nos havíamos entrincheirado e que ninguém<br />

jamais seria capaz <strong>de</strong> nos dispersar<br />

ou <strong>de</strong>slocar novamente.<br />

Creio, contudo, que foi só na manhã<br />

seguinte que realmente compreendi<br />

o que havia ocorrido no Museu <strong>de</strong><br />

Tel-Aviv. Três acontecimentos separados,<br />

mas estreitamente ligados me fizeram<br />

ver a verda<strong>de</strong> como nenhuma<br />

outra coisa o po<strong>de</strong>ria ter feito, e compreendi,<br />

talvez pela primeira vez, que<br />

nada voltaria a ser igual. Não para mim,<br />

nem para o povo ju<strong>de</strong>u, e nem para o<br />

Oriente Médio. Em primeiro lugar, logo<br />

antes do alvorecer no sábado, vi pelas<br />

janelas do meu quarto o que po<strong>de</strong>ria<br />

ser chamado o inicio formal da Guerra<br />

da In<strong>de</strong>pendência: quatro Spitfires<br />

egípcios sobrevoando a cida<strong>de</strong> para<br />

bombar<strong>de</strong>ar a usina elétrica e o aeroporto<br />

<strong>de</strong> Tel-Aviv no que foi o primeiro<br />

ataque aéreo da guerra. Depois, um<br />

pouco mais tar<strong>de</strong>, vi o primeiro barco<br />

carregado <strong>de</strong> imigrantes ju<strong>de</strong>us — não<br />

mais ilegais - entrar, livre e orgolhosamente,<br />

no porto <strong>de</strong> Tel-Aviv. Ninguém<br />

mais os caçava, ou enxotava, ou castigava<br />

por retornar ao lar. A vergonhosa<br />

era dos certificados e da aritmética<br />

humana havia terminado, e enquanto<br />

ali estive, ao sol, meus olhos fixos na-<br />

quele navio (uma velha embarcação<br />

grega chamada Teti), senti que preço<br />

algum que nos fosse exigido por essa<br />

dádiva po<strong>de</strong>ria ser alto <strong>de</strong>mais. O primeiro<br />

imigrante legal a <strong>de</strong>sembarcar no<br />

Estado <strong>de</strong> Israel foi um ancião cansado e<br />

mal vestido chamado Samuel Brand, um<br />

sobrevivente <strong>de</strong> Buchenwald. Em sua mão<br />

segurava um papel amarrotado. Dizia<br />

apenas: “Por meio <strong>de</strong>sta é concedido o<br />

direito <strong>de</strong> se estabelecer em lsrael”, mas<br />

era assinado pelo Departamento <strong>de</strong> Imigração<br />

do Estado, e foi o primeiro visto<br />

<strong>de</strong> entrada por nós emitido.<br />

E <strong>de</strong>pois, é claro, houve o maravilhoso<br />

momento do nosso ingresso<br />

formal na família das nações. Poucos<br />

minutos após a meia-noite, na noite<br />

<strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> maio, meu telefone tocou. Não<br />

parara <strong>de</strong> tocar, e ao correr para atendê-lo<br />

fiquei pensando que noticia ruim<br />

ouviria agora. Mas a voz do outro lado<br />

parecia jubilosa. “Golda? Está ouvindo?<br />

Truman nos reconheceu!” Não me<br />

recordo do que disse ou fiz, mas lembro-me<br />

<strong>de</strong> como me senti. Era como<br />

num milagre que veio no momento <strong>de</strong><br />

nossa maior vulnerabilida<strong>de</strong>, na véspera<br />

da invasão, e fui tomada <strong>de</strong> alegria<br />

e alívio. De certo modo, não obstante<br />

todo Israel se rejubilasse e <strong>de</strong>sse graças,<br />

crejo que o que o Presi<strong>de</strong>nte Truman<br />

fez naquela noite po<strong>de</strong> ter significado<br />

mais para mim do que para a<br />

maioria dos meus colegas, porque eu<br />

era entre nós a americana, aquela que<br />

mais sabia sobre os Estados Unidos, sua<br />

história e seu povo, a única que crescera<br />

naquela gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia. E embora<br />

tenha ficado tão admirada quanto<br />

os <strong>de</strong>mais pela rapi<strong>de</strong>z do reconhecimento,<br />

não me surpreen<strong>de</strong>u nem um pouco<br />

o impulso bom e generoso que o motivou.<br />

Relembrando, penso que, como a<br />

maioria dos milagres, foi esse provavelmente<br />

causado por duas coisas muito<br />

simples: o fato <strong>de</strong> Henry Truman compreen<strong>de</strong>r<br />

e respeitar a nossa campanha<br />

pela in<strong>de</strong>pendência por ser o tipo <strong>de</strong><br />

homem que, sob circunstâncias diferentes,<br />

po<strong>de</strong>ria muito bem ter sido um dos<br />

nossos; e a profunda impressão que lhe<br />

causara Chaim Weizmann, a quem havia<br />

recebido em Washington e que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ra<br />

nossa causa e explicara nossa situação<br />

<strong>de</strong> um modo como ninguém antes<br />

jamais fizera na Casa Branca. O trabalho<br />

<strong>de</strong> Weizmann foi <strong>de</strong> um valor incálculavel.<br />

O reconhecimento americano foi<br />

o que <strong>de</strong> melhor nos po<strong>de</strong>ria ter acontecido<br />

naquela noite.<br />

Quanto ao reconhecimento soviético,<br />

que se seguiu ao americano, possuía<br />

outras raizes. Não tenho agora<br />

mais dúvida alguma <strong>de</strong> que a principal<br />

razão soviética foi tirar os britânicos<br />

do Oriente Médio. Mas no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong><br />

todos os <strong>de</strong>bates ocorridos nas Nações<br />

Unidas no outono <strong>de</strong> 1947, me parecera<br />

que o bloco soviético nos apoiava<br />

também <strong>de</strong>vido ao terrivel preço que<br />

os próprios russos haviam pago na guerra<br />

mundial e seu conseqüentemente<br />

profundo sentimento <strong>de</strong> que os ju<strong>de</strong>us,<br />

que do mesmo modo haviam tão cruelmente<br />

sofrido nas mãos dos nazistas,<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

mereciam ter seu Estado. Por mais<br />

radicalmente que a atitu<strong>de</strong> soviética<br />

tenha mudado nas duas e meia décadas<br />

subseqüentes, não posso agora falsear<br />

o quadro como então o via. Não<br />

fossem as armas e munições que pu<strong>de</strong>mos<br />

comprar na Tchecoslováquia, e<br />

transportar através da lugoslávia e outros<br />

países balcânicos, naqueles dias<br />

negros do inicio da guerra, e não sei<br />

se teríamos podido resistir até o refluxo<br />

da maré, confome aconteceu em junho<br />

<strong>de</strong> 1948. Durante as seis primeiras<br />

semanas da Guerra da In<strong>de</strong>pendência,<br />

<strong>de</strong>pendéramos em gran<strong>de</strong> parte (embora<br />

não inteiramente, é claro) das granadas,<br />

metralhadoras, balas - e até<br />

aviões — que a Haganah pu<strong>de</strong>ra comprar<br />

na Europa Oriental, numa ocasião<br />

em que mesmo os Estados Unidos haviam<br />

<strong>de</strong>cretado um embargo à venda<br />

ou envio <strong>de</strong> armas ao Oriente Médio.<br />

Não se po<strong>de</strong>, nem se <strong>de</strong>ve, tentar apagar<br />

o passado simplesmente porque não<br />

se ajusta ao presente, e permanece o<br />

fato <strong>de</strong> que, muito embora a União<br />

Soviética se voltasse tão selvagemente<br />

contra nós nos anos seguintes, o reconhecimento<br />

soviético do Estado <strong>de</strong><br />

Israel, a 18 <strong>de</strong> maio, nos foi imensamente<br />

significativo. As duas maiores<br />

potências do mundo se haviam unido,<br />

pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Segunda<br />

Guerra Mundial para apoiar o Estado<br />

ju<strong>de</strong>u, e embora ainda estivéssemos em<br />

perigo mortal, sabíamos, finalmente,<br />

que não estávamos sós. E foi com o<br />

conhecimento disso — combinado com<br />

simples necessida<strong>de</strong> — que encontramos<br />

a força espiritual, se não material,<br />

que nos conduziria à vitória.<br />

13<br />

Golda Meyr foi personagem e testemunha do nascimento <strong>de</strong> Israel


14<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

Receitas com grife<br />

Elka Kertzmann z“l, nascida em Curitiba, filha <strong>de</strong><br />

Otília e Bernardo Rosenmann, irmã <strong>de</strong> Manoel z”l,<br />

Yara, Max e Gilberto. Casou-se com Nahum e teve<br />

três filhas: Zorá, Kátia e Cíntia. Foi exímia cozinheira,<br />

dom que herdou da família.<br />

Bolo <strong>de</strong> semente<br />

<strong>de</strong> papoula<br />

INGREDIENTES:<br />

<strong>•</strong> 12 ovos;<br />

<strong>•</strong> 3 xícaras <strong>de</strong> açúcar;<br />

<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> nozes moídas; separar algumas<br />

nozes inteiras para enfeitar;<br />

<strong>•</strong> 400 g <strong>de</strong> semente <strong>de</strong> papoula;<br />

<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> passas;<br />

<strong>•</strong> 4 colheres <strong>de</strong> sopa <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> matzá.<br />

INGREDIENTES PARA A COBERTURA:<br />

<strong>•</strong> 400 g <strong>de</strong> chocolate meio amargo;<br />

<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> chocolate ao leite;<br />

<strong>•</strong> 4 colheres <strong>de</strong> sopa <strong>de</strong> água;<br />

<strong>•</strong> 2 colheres <strong>de</strong> margarina;<br />

<strong>•</strong> creme <strong>de</strong> leite (opcional).<br />

MODO DE FAZER:<br />

Bater as 12 gemas com as 3 xícaras <strong>de</strong> açúcar até<br />

ficar bem fofo e claro. Bater as 12 claras em neve.<br />

No liquidificador bater as nozes com a semente<br />

<strong>de</strong> papoula. Misturar tudo bem <strong>de</strong>vagar e ir<br />

acrescentando as passas e farinha <strong>de</strong> matzá. Untar<br />

uma forma <strong>de</strong> abrir com azeite e farinha <strong>de</strong> matzá<br />

e <strong>de</strong>ixar assar por mais ou menos 40 minutos. Vá<br />

testando com um palito para não secar <strong>de</strong>mais. O<br />

bolo escurece por causa da papoula, não pense<br />

que está queimando. Desenformar o bolo <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> morno.<br />

Derreter o chocolate em banho-maria com a água<br />

e a margarina. Misturar o creme <strong>de</strong> leite. Cobrir o<br />

bolo com esta mistura e enfeitar dos lados e em<br />

cima com as nozes.<br />

Gelatina <strong>de</strong> abacaxi<br />

INGREDIENTES:<br />

<strong>•</strong> 3 pacotes <strong>de</strong> gelatina <strong>de</strong> abacaxi;<br />

<strong>•</strong> 1 xícara <strong>de</strong> água fervendo;<br />

<strong>•</strong> 1 lata <strong>de</strong> abacaxi em calda;<br />

<strong>•</strong> 100 g <strong>de</strong> uva Itália;<br />

<strong>•</strong> 60 g <strong>de</strong> nozes picadas;<br />

<strong>•</strong> 1 lata <strong>de</strong> creme <strong>de</strong> leite.<br />

MODO DE FAZER:<br />

Misture a gelatina com a água fervendo e a<br />

calda do abacaxi. Colocar na gela<strong>de</strong>ira até ficar<br />

em ponto <strong>de</strong> clara. Misturar o abacaxi picado,<br />

as nozes, as uvas e por último o creme <strong>de</strong> leite.<br />

Colocar em um pirex ou forma untada e <strong>de</strong>ixar<br />

24 horas na gela<strong>de</strong>ira.<br />

“Ser contra a guerra é muito fácil”<br />

Deborah Berlinck, <strong>de</strong> Paris Por que tanta manifestação a fa-<br />

Médico carismático que virou um dos<br />

políticos mais <strong>de</strong>stacados da França,<br />

Bernard Kouchner, ex-ministro <strong>de</strong> François<br />

Mitterrand e um dos fundadores da<br />

organização humanitária Médicos sem<br />

Fronteiras, está na contramão <strong>de</strong> seu<br />

país: apoiou a guerra contra o Iraque.<br />

Em entrevista ao jornal O Globo, Kouchner,<br />

inventor do conceito <strong>de</strong> “direito<br />

<strong>de</strong> ingerência humanitária” — segundo<br />

o qual <strong>de</strong>mocracias têm o direito e<br />

o <strong>de</strong>ver moral <strong>de</strong> intervir em outra nação<br />

em nome da proteção dos direitos<br />

humanos — chama os pacifistas <strong>de</strong><br />

simplistas e ignorantes, e critica duramente<br />

a França, a quem acusa <strong>de</strong><br />

apoiar ditadores. Foi ele, com o brasileiro<br />

Sérgio Vieira <strong>de</strong> Mello, alto comissário<br />

da ONU para direitos humanos,<br />

que comandou a transição no Kosovo,<br />

<strong>de</strong>pois da guerra.<br />

Esta guerra era mesmo necessária?<br />

Bernard Kouchner: Não necessariamente.<br />

Se a comunida<strong>de</strong> internacional<br />

estivesse unida, teria muito mais peso<br />

e força para levar Saddam Hussein a<br />

<strong>de</strong>ixar o po<strong>de</strong>r. O gran<strong>de</strong> erro dos americanos<br />

foi ir à guerra antes <strong>de</strong> passar<br />

pela ONU. E o gran<strong>de</strong> erro <strong>de</strong> franceses,<br />

alemães e russos foi ameaçar um<br />

veto antes que negociações e conferências<br />

internacionais tivessem acontecido.<br />

Os dois lados erraram por terem<br />

parado a diplomacia. Além disso,<br />

os manifestantes pacifistas <strong>de</strong>ram a<br />

Saddam razões para temporizar e esperar<br />

que a guerra não fosse acontecer.<br />

Os pacifistas erraram feio, então?<br />

Kouchner: Eles não enten<strong>de</strong>ram<br />

nada. Recuamos 30 anos em matéria <strong>de</strong><br />

direitos humanos. Se Saddam não era<br />

o flagelo <strong>de</strong> seu povo, então os pacifistas<br />

não estavam informados, não são<br />

educados, ou o quê? Ora, é muito fácil<br />

ser contra a guerra. Eu também sou contra<br />

a guerra. Mas se perguntarmos aos<br />

iraquianos sua opinião, eles dirão: nós<br />

queremos nos livrar <strong>de</strong> Saddam. Quinhentos<br />

mil mortos, para eles, chega!<br />

Como não havia saída diplomática,<br />

então, a guerra era necessária...<br />

Kouchner: Não sei. Não tentamos<br />

até o final. No Kosovo, a diplomacia<br />

fez todo o seu papel. Americanos, franceses,<br />

ingleses, italianos, todos estavam<br />

<strong>de</strong> acordo.<br />

Os lí<strong>de</strong>res árabes dizem que não é<br />

possível impor uma <strong>de</strong>mocracia oci<strong>de</strong>ntal<br />

na região, que eles têm a sua<br />

forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia.<br />

Kouchner: São sempre os ditadores<br />

que dizem isso. Não existem só extremistas<br />

nos países árabes. Há uma população<br />

que <strong>de</strong>seja ser livre. E a imensa<br />

maioria dos árabes quer isso. Portanto,<br />

eles terão a <strong>de</strong>mocracia um dia.<br />

vor <strong>de</strong> Saddam na região? Por que<br />

tanto ódio dos americanos?<br />

Kouchner: Talvez porque os americanos<br />

sejam muito fortes e arrogantes.<br />

Os EUA viraram o bo<strong>de</strong> expiatório. Necessitamos<br />

<strong>de</strong> um inimigo. Os franceses<br />

não sabiam mais por qual motivo<br />

<strong>de</strong>sceriam às ruas para se manifestar.<br />

Agora, há: achamos George W.<br />

Bush! No espírito simplista dos pacifistas,<br />

Saddam era um lí<strong>de</strong>r árabe, um<br />

lí<strong>de</strong>r do Terceiro Mundo. Portanto, ele<br />

era progressista.<br />

Como isso se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou?<br />

Kouchner: As pessoas não sabem <strong>de</strong><br />

nada. Os jornalistas mentiram. As ca<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> TV foram horríveis. Queriam dar<br />

razão à Chirac, que teve apoio <strong>de</strong> 90%<br />

dos franceses, dos quais 32% diziam que<br />

queriam a vitória <strong>de</strong> Saddam. É preciso<br />

ser muito mal informado para dizer isso,<br />

não? Hoje sou um dos traidores da Europa.<br />

Os franceses me consi<strong>de</strong>raram um<br />

“vamos à guerra!”. Eu conheço a guerra<br />

muito mais do que todas essas pessoas<br />

que se manifestaram. Vivi guerras há 40<br />

anos, como médico. Eu não po<strong>de</strong>ria ser<br />

a favor <strong>de</strong> uma guerra. Mas eu tinha que<br />

ser contra Saddam.<br />

Por que houve oposição quase unânime<br />

no país à guerra? O que há <strong>de</strong><br />

diferente na visão dos franceses?<br />

Kouchner: Arrogância, talvez. Duas<br />

socieda<strong>de</strong>s oferecem um mo<strong>de</strong>lo para<br />

o mundo: os EUA e a França. A França<br />

tem, freqüentemente, razão. Mas não<br />

sempre. Há muita arrogância e <strong>de</strong>sconhecimento.<br />

Os franceses consi<strong>de</strong>ram<br />

que é normal que árabes e muçulmanos<br />

fiquem sob uma ditadura. As pessoas<br />

lembravam <strong>de</strong> Saddam como nosso<br />

aliado contra os americanos. Foi esse<br />

o homem que nos <strong>de</strong>u os maiores contratos<br />

<strong>de</strong> armas. Era o nosso cliente.<br />

Chirac tinha escolha? Os Estados<br />

Unidos estavam tão <strong>de</strong>terminados...<br />

Kouchner: Tínhamos que ter estado<br />

com os americanos até o final, mesmo<br />

que não fôssemos participar da guerra.<br />

Para resistir ao maior país do mundo,<br />

é preciso estar com ele. Se somos<br />

contra, temos que ser fortes e ter um<br />

gran<strong>de</strong> Exército. Não é o caso da França.<br />

Havia uma forma mais inteligente:<br />

se servir da força do outro, especialmente<br />

com essa administração americana.<br />

Transformamos o Conselho <strong>de</strong> Segurança<br />

num ringue, fizemos um gran<strong>de</strong><br />

discurso e fomos aplaudidos.<br />

Com base na sua experiência no Kosovo,<br />

o que os americanos <strong>de</strong>vem evitar?<br />

Kouchner: Precisam evitar um po<strong>de</strong>r<br />

monolítico americano. É preciso que<br />

dêem a palavra não apenas à oposição<br />

iraquiana do exterior, como aos iraquianos<br />

do interior.<br />

Como o senhor vê as ameaças dos<br />

EUA contra a Síria?<br />

Kouchner: Uma <strong>de</strong>mocracia na Síria<br />

me pareceria melhor do que a ditadura<br />

da família Al-Assad. Pergunte aos sírios:<br />

ele foram massacrados durante<br />

anos. Não acho que o povo árabe esteja<br />

con<strong>de</strong>nado à ditadura e ao sub<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Os árabes são como os outros:<br />

é preciso dar a eles a sua chance.<br />

Seu conceito <strong>de</strong> ingerência se aplica<br />

nesta guerra?<br />

Kouchner: Deveria ter sido aplicado<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Saddam assassinou, bombar<strong>de</strong>ou<br />

e matou os curdos com armas<br />

químicas. Cem mil mortos.<br />

O senhor o encontrou?<br />

Kouchner: Sim, uma vez. Passei pelo<br />

serviço secreto iraquiano com freqüência<br />

para construir hospitais para os<br />

curdos. Des<strong>de</strong> 1974, ajudo a população.<br />

Saddam, pessoalmente, era um<br />

homem impressionante, como todos os<br />

tiranos. Um homem que parecia quase<br />

humano. Mas via-se no olhar das pessoas<br />

ao seu redor que reinava o terror.<br />

Houve um atentado contra mim e Danielle<br />

Mitterrand em 1992 quando fomos<br />

ver o bombar<strong>de</strong>io químico. Havia<br />

20 mortos ao nosso redor. Durante três<br />

horas <strong>de</strong>saparecemos, e todos pensavam<br />

que estávamos mortos. Sim, ele<br />

tentou matar a mulher do presi<strong>de</strong>nte<br />

da República francesa! Mas Danielle<br />

falou besteira agora: disse, em outras<br />

palavras, “vocês curdos têm direito à<br />

liberda<strong>de</strong>, mas não das mãos dos americanos”.<br />

Ora! Só a vítima tem o direito<br />

<strong>de</strong> recusar a mão <strong>de</strong> quem lhe esten<strong>de</strong>.<br />

A França vai pagar caro?<br />

Kouchner: Vai per<strong>de</strong>r muito. Mas ao<br />

mesmo tempo vai ganhar uma aura junto<br />

ao Terceiro Mundo. Pois eu prefiro<br />

me aliar a Bush do que a Putin, o flagelo<br />

dos chechenos. Não é verda<strong>de</strong> que<br />

sejam terroristas. É uma vergonha. Nós,<br />

o país dos direitos humanos, preferimos<br />

Putin! Nós recusamos a guerra contra o<br />

Iraque, criticando os americanos. E Saddam<br />

havia prometido 20% a 30% à<br />

TotalFinalElf (francesa) para a empresa<br />

explorar o petróleo... Que hipocrisia é<br />

essa? Não po<strong>de</strong>mos nos aliar a Putin e<br />

ter uma política contra nossos aliados<br />

tradicionais, os EUA. Nós, o país dos direitos<br />

humanos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos o torturador<br />

contra as vítimas. O médico (Bush)<br />

po<strong>de</strong> não ser bom: é arrogante, e talvez<br />

estúpido, mas quando você tem uma tuberculose,<br />

só o doente po<strong>de</strong> dizer que<br />

não quer o médico.<br />

ANUNCIE NO VJ<br />

3018-8018 visaojudaica@visaojudaica.com.br


OLHAR HIGH-TECH<br />

Segurança para animais<br />

Uma empresa israelense <strong>de</strong>senvolveu um kit para garantir a segurança<br />

<strong>de</strong> animais <strong>de</strong> estimação em caso <strong>de</strong> ataques nucleares, biológicos<br />

e químicos. Ele inclui bolhas plásticas que vão vedar os<br />

animais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> gaiolas, filtros <strong>de</strong> ar e ventoinhas que garantirão<br />

o fornecimento <strong>de</strong> ar puro.<br />

Sexo do bebê na 3ª semana <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z<br />

Segundo uma pesquisa realizada por especialistas israelenses, na<br />

terceira semana <strong>de</strong> gestação os médicos vão conseguir <strong>de</strong>finir com<br />

precisão o sexo do bebê. Isto será possível porque eles <strong>de</strong>scobriram<br />

que, quando a mulher tem um feto feminino, o nível do hormônio<br />

HCG neste período é mais alto 18,5% do que quando o bebê é do<br />

sexo masculino. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar precocemente este<br />

resultado po<strong>de</strong>rá ajudar casais que correm perigo <strong>de</strong> dar a luz a<br />

crianças com doenças genéticas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do sexo.<br />

Sensores para diabéticos<br />

Pesquisadores da Universida<strong>de</strong> Hebraica <strong>de</strong> Jerusalém <strong>de</strong>senvolveram<br />

sensores minúsculos capazes <strong>de</strong> medir a taxa <strong>de</strong> glicose no<br />

sangue <strong>de</strong> pacientes diabéticos. Resultados experimentais mostraram<br />

que essa tecnologia é capaz <strong>de</strong> gerar resultados mais seguros<br />

do que os processos atualmente existentes.<br />

Celulares mais baratos e melhores<br />

Pesquisadores do Technion – Instituto Israelense <strong>de</strong> Tecnologia –<br />

<strong>de</strong>senvolveram um novo material para antenas celulares. Eles estimam<br />

o mercado potencial para o material em cerca <strong>de</strong> US$ 200 a<br />

300 milhões por ano. Os pesquisadores, Yachin Cohen, Dmitry Rein<br />

e Lev Vichansky disseram que o material é barato, e feito da mesma<br />

matéria-prima usada para toalhas <strong>de</strong> mesa e ataduras higiênicas,<br />

fibras <strong>de</strong> polipropileno, que são comprimidas por um processo<br />

especial em folhas duras e inteiras, nas quais são acrescentadas<br />

folhas finas <strong>de</strong> cobre. O novo material po<strong>de</strong> transmitir sinais <strong>de</strong><br />

microondas. As antenas <strong>de</strong> polipropileno substituirão as atuais antenas<br />

existentes, e custarão um quinto <strong>de</strong> seu preço. O novo material<br />

é seguro, amigável ao meio ambiente e reciclável. As patentes<br />

já estão registradas.<br />

Classificador ótico <strong>de</strong> flores<br />

A companhia Shelach, do kibutz Alumim, acaba <strong>de</strong> colocar no mercado<br />

israelense uma maquina adaptada ao consumidor, com o nome<br />

Floratech. O equipamento po<strong>de</strong> selecionar 80% <strong>de</strong> todos os tipos <strong>de</strong><br />

flores no mundo. O produto, <strong>de</strong> tecnologia ótica, foi <strong>de</strong>senvolvido<br />

para economizar recursos e evitar o uso manual prejudicial e para<br />

melhorar a inspeção da classificação. A Floratech po<strong>de</strong> classificar<br />

cerca <strong>de</strong> cinco mil flores por hora.<br />

Nobel israelense<br />

O Prêmio Nobel <strong>de</strong> Economia concedido no ano passado pela Aca<strong>de</strong>mia<br />

<strong>de</strong> Estocolmo, na Suécia, foi dividido entre dois professores<br />

norte-americanos, Vernon Smith e Daniel Kahneman por seus trabalhos<br />

<strong>de</strong>senvolvidos na área da Ciência Econômica Psicológica. O<br />

que pouca gente sabe, entretanto, é que um <strong>de</strong>les, Kahneman, <strong>de</strong><br />

68 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, é israelense e nasceu em Tel Aviv. Ele se formou<br />

na Universida<strong>de</strong> Hebraica <strong>de</strong> Jerusalém, on<strong>de</strong> estudou psicologia e<br />

matemática, e foi para os Estados Unidos on<strong>de</strong> se doutorou em<br />

psicologia pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Berkeley, em 1961. Atualmente ele<br />

leciona em Princeton.<br />

A partir da direita: Fani Lerner, Diva Gomes, Marlene<br />

Pereira, Débora Dias, Lenita Ferraz (representando<br />

também Berlinda Hosken <strong>de</strong> Novaes) e Egípcialinda<br />

Parigot <strong>de</strong> Souza<br />

<strong>•</strong> A Na’amat Pioneiras realizará jantar, em<br />

beneficio do Instituto Paranaense <strong>de</strong> Cegos, no<br />

dia 17 <strong>de</strong> maio, em comemoração ao Dia das<br />

Mães, com show <strong>de</strong> Música Popular Brasileira.<br />

com Ana Cascardo e Paulinho Sabag. O evento<br />

acontecerá no Citrus Restaurante (Parthenon<br />

Aspen) à Rua Dr. Pedrosa, 208, às 20h.<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

<strong>•</strong> Para alegria das famílias Kessel, Wahrhaftig e<br />

Figlarz, nosso querido Beni está estudando numa<br />

Yeshivá em Jerusalém e recebendo muitos<br />

elogios do Rebe responsável pelos seus estudos,<br />

sem nunca esquecer que tudo começou em<br />

Curitiba com o Rabino Yossef Dubrawski (Fitche).<br />

<strong>•</strong> E falando em Fitche, mazal tov ao Rabino e a Sra.<br />

Tila pelo belíssimo casamento da sua filha Heidi<br />

e Menachem Men<strong>de</strong>l, <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> rabinos<br />

que se <strong>de</strong>dica às yeshivot do Beit Chabad em<br />

Nova Iorque. A cerimônia religiosa aconteceu nas<br />

escadarias da sinagoga do 770, ao ar livre, numa<br />

temperatura que foi um <strong>de</strong>safio para os noivos e<br />

seus convidados. O espírito da alegria e <strong>de</strong> paz<br />

reinou durante toda a cerimônia e na festa on<strong>de</strong><br />

muito se dançou e comemorou.<br />

<strong>•</strong> Entre 27 e 30 <strong>de</strong> março passado, atletas da<br />

Escola Israelita Brasileira “Salomão Guelmann”<br />

estiveram em São Paulo participando dos III<br />

Jogos Macabeus Infantis on<strong>de</strong> os resultados<br />

alcançados pelos curitibanos foram mais uma vez<br />

excepcionais: no Futebol Soçaite Masculino<br />

Júnior, 2º lugar; no Han<strong>de</strong>bol Feminino Júnior,<br />

3º lugar; no Tênis Categoria Mini, 3º lugar; e no<br />

Tênis Categoria Júnior, 4º lugar.<br />

<strong>•</strong> Segundo os organizadores da Macabíada, o<br />

comportamento dos nossos atletas foi<br />

consi<strong>de</strong>rado exemplar por todos os participantes<br />

inclusive a equipe do hotel. Ricardo Smargowicz<br />

e Daniel Singer ganharam premiação pela<br />

organização do apartamento e comportamento.<br />

Marcella Ferraro e Melissa Brami conquistaram a<br />

mesma premiação pelo feminino. A escola<br />

agra<strong>de</strong>ceu os professores do CIP pela garra<br />

<strong>de</strong>monstrada por todos durante os jogos e o<br />

espírito <strong>de</strong> equipe que foi a marca registrada<br />

<strong>de</strong>ssa viagem.<br />

<strong>•</strong> O <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> jóias Rodrigo Alarcón abriu sua<br />

primeira loja no Design Center em pleno coração<br />

do Batel. Desejamos muito sucesso.<br />

<strong>•</strong> Michelle Lipatin e Eduardo Garcia casaram-se no<br />

dia 22 <strong>de</strong> março no Clube Curitibano. Aos noivos<br />

e suas famílias nossos votos <strong>de</strong> mazal tov.<br />

<strong>•</strong> No dia 13 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> aconteceu um chá<br />

realizado pelas Na’amat Pioneiras no<br />

Hotel Bourbon, em beneficio do<br />

Instituto Paranaense <strong>de</strong> Cegos. Foram<br />

homenageadas todas as ex-primeiras<br />

damas do Paraná e presenteadas com<br />

uma linda pomba da paz, executada<br />

pelo <strong>de</strong>signer Rodrigo Alarcón. Em<br />

nome das Pioneiras falaram as Sras.<br />

Geni Aizemberg e Marina Hasson, e<br />

pelas homenageadas a Sra. Fani<br />

Lerner. O show ficou por conta dos<br />

Meninos Cantores <strong>de</strong> Angola que são<br />

abrigados pelo Instituto. Foi uma<br />

tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas emoções on<strong>de</strong> reinou<br />

muita solidarieda<strong>de</strong>.<br />

15<br />

<strong>•</strong> Helena Kessel comemorou na segunda noite <strong>de</strong><br />

Pêssach, junto com toda sua família, seu último<br />

aniversário como acadêmica <strong>de</strong> Direito. Le shaná<br />

abá já será advogada. Parabéns!<br />

<strong>•</strong> Frida Goldstein, mãe do lí<strong>de</strong>r espiritual da<br />

comunida<strong>de</strong> Samy, promoveu um curso <strong>de</strong><br />

culinária <strong>de</strong> Pêssach para 25 mulheres da<br />

comunida<strong>de</strong>. O que chamou a atenção foi o<br />

número <strong>de</strong> jovens que participaram. Kol ha<br />

kavod.<br />

<strong>•</strong> Fernando Henrique Cardoso volta a ser presi<strong>de</strong>nte<br />

– <strong>de</strong>sta vez, da Casa da Cultura <strong>de</strong> Israel. FHC<br />

tomou posse na inauguração da nova se<strong>de</strong> da<br />

entida<strong>de</strong>, na tar<strong>de</strong> do dia 15 <strong>de</strong> <strong>abril</strong>. Com ele,<br />

trabalharão os empresários José Mindlin,<br />

presi<strong>de</strong>nte do Conselho, e David Feffer,<br />

presi<strong>de</strong>nte executivo.<br />

<strong>•</strong> Completando quatro meses,<br />

Ana Clara Kleiner faz a<br />

alegria <strong>de</strong> seus pais, Cíntia e<br />

Cláudio e <strong>de</strong> toda sua família<br />

que está curtindo esta<br />

boneca.<br />

A partir da direita: Marina<br />

Hasson, presi<strong>de</strong>nte da Na'Amat<br />

Pioneiras, Geni Aizemberg,<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> honra e a<br />

pioneira Célia Galbinski.<br />

<strong>•</strong> Sempre prestativa e atenciosa, além da gran<strong>de</strong><br />

competência, Silvia, da Ví<strong>de</strong>o Mania, continua a<br />

ter no seu acervo os lançamentos em VHS e DVD<br />

dos filmes mais selecionados <strong>de</strong> Curitiba.<br />

<strong>•</strong> Uma cerimônia para lembrar o Iom Hashoá foi<br />

realizada na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> domingo, 27/04, na<br />

Sinagoga Francisco Frischmann, organizada pela<br />

Kehilá e pelo Habonim Dror.<br />

<strong>•</strong> A agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> 4.3.3 Comunicação vai<br />

estar em novas instalações a partir do dia 1º <strong>de</strong><br />

maio. Segundo o diretor, André Strauss, o momento<br />

é <strong>de</strong> plena expansão. A agência que conta com<br />

filial no interior preten<strong>de</strong> ter maior visibilida<strong>de</strong> em<br />

Curitiba, apostando no mercado local.<br />

<strong>•</strong> Cristianismo e Judaísmo em Perspectiva, é o tema<br />

<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> três conferências que serão<br />

realizadas nos dias 5 e 6 e maio no Auditório<br />

Maria Montessori (Prédio do Centro <strong>de</strong> Teologia e<br />

Ciência Humanas - PUC), às 19h30. O tema<br />

será apresentado, no dia 5, pelos professores<br />

Evaristo Eduardo <strong>de</strong> Miranda e José Manoel Schorr<br />

Malca, co-autores do Livro “ Os Sábios Fariseus:<br />

reparar uma injustiça” publicado pela Editora<br />

Loyola, que foi recentemente lançado na Itália e<br />

na França. No dia 6 falará o professor Antonio<br />

Carlos Coelho, autor do livro “Encontro Marcados<br />

com Deus”, editado pelas Paulinas.


16<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

O Mapa da Infâmia<br />

* Herman Glanz<br />

é representante do Likud<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro, foi um dos<br />

fundadores do Grupo Universitário<br />

Hebraico do Brasil, foi diretor da<br />

FIERJ e exerceu cargos na<br />

Organização Sionista do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e do Brasil. Atualmente é<br />

secretário do Comitê Eleitoral<br />

Regional da Organização Sionista<br />

do Brasil e 1° secretário da<br />

Chevra Kadishá do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Herman Glanz*<br />

jogo acabou. A guerra <strong>de</strong><br />

Bush ao Iraque ainda ocupando<br />

o cenário político<br />

mundial, mas também está<br />

na Or<strong>de</strong>m do Dia o Mapa da<br />

Estrada da Paz (o tal Road Map), o<br />

plano <strong>de</strong> paz do Quarteto, isto é, um<br />

processo <strong>de</strong> paz para Israel e palestinos,<br />

sob a égi<strong>de</strong> dos quatro: Estados<br />

Unidos, União Européia,<br />

Rússia e ONU. Em síntese,<br />

um plano <strong>de</strong> paz<br />

em que Israel se<br />

ren<strong>de</strong> ao terror<br />

e se forma um<br />

Estado palestinoin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

e<br />

soberano.<br />

Por que<br />

será que os<br />

Estados Unidos<br />

e a Inglaterra<br />

não prepararam<br />

um Mapa da<br />

Estrada da paz para<br />

Saddam Hussein? Por<br />

que será que preferiram a guerra<br />

a Saddam Hussein, a guerra ao<br />

terror e ao povo do Iraque? Por que<br />

não foram propostas soluções <strong>de</strong> dois<br />

estados para dois povos, ou três estados<br />

para três povos, já que há curdos,<br />

xiitas e sunitas, nem um processo<br />

<strong>de</strong> paz, do tipo <strong>de</strong> Oslo, nem<br />

reunião do Quarteto, ou um Septeto,<br />

VJ INDICA<br />

FILMES DAVID<br />

O relato autobiográfico do cineasta Amos<br />

Gitai (Kadosh) em “O Dia do Perdão”<br />

oferece uma visão visceral e <strong>de</strong>vastadora<br />

sobre os horrores da guerra. Ele narra as<br />

experiências <strong>de</strong> uma pequena unida<strong>de</strong><br />

médica atuando na linha <strong>de</strong> frente da<br />

Guerra do Yom Kipur, em 1973, na qual<br />

forças sírias e egípcias lançaram um<br />

ataque surpresa contra Israel num dos<br />

dias mais sagrados do judaísmo - Yom<br />

Kipur, ou Dia do Perdão.<br />

As cenas iniciais do filme não<br />

preparam o espectador para o realismo<br />

extraordinário do material sobre a<br />

frente <strong>de</strong> batalha. Amos Gitai<br />

tinha apenas 23 anos quando a<br />

invasão surpresa aconteceu e ele<br />

viveu em primeira mão os<br />

acontecimentos retratados no<br />

filme, no qual é representado pelo<br />

personagem Weinraub (Liron<br />

incluindo-se a Índia, a China e a Arábia<br />

Saudita, por exemplo, nem tampouco<br />

penosas concessões – o presi<strong>de</strong>nte<br />

Bush <strong>de</strong>u a Saddam Hussein 48<br />

horas para cair fora, ou a guerra, que<br />

acabou em três semanas, expulsando<br />

Saddam, que, até agora, ninguém<br />

sabe para on<strong>de</strong> foi. Não foram propostas<br />

soluções que exigissem que<br />

Saddam nomeasse um Primeiro-Ministro,<br />

transferindo o po<strong>de</strong>r para esse<br />

Primeiro-Ministro, nem negociaram<br />

com Saddam, nem tampouco o compartilhamento<br />

da sua Bagdá como<br />

capital dos dois ou três estados in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Por que os americanos<br />

não tomaram medidas a fim <strong>de</strong> construir<br />

um “ambiente confiável” para<br />

que Saddam concordasse em negociar?<br />

Por que será que os americanos<br />

preferiram o uso excessivo <strong>de</strong> força<br />

contra o fraco Iraque? Por que será<br />

que os americanos preferiram atirar<br />

primeiro, dizendo que <strong>de</strong>veriam, antes<br />

<strong>de</strong> tudo, garantir a vida dos seus<br />

soldados diante dos homicidas-suicidas-bombas,<br />

mas Israel <strong>de</strong>veria se<br />

abster <strong>de</strong>ssa prática? Por que será,<br />

que Saddam <strong>de</strong>veria ser caçado vivo<br />

ou morto diferentemente <strong>de</strong> Yasser<br />

Arafat? Em que o tirano Arafat difere<br />

do tirano Saddam? Afinal, Arafat já é<br />

sabido ser um terrorista, que matou<br />

muita gente, que vem espalhando o<br />

terror, e o presi<strong>de</strong>nte Bush, coerente<br />

em não dialogar com terroristas, nunca<br />

recebeu Arafat. Por que Saddam<br />

<strong>de</strong>veria sumir ou morrer e Arafat con-<br />

“Dia do Perdão” filma carnificina da guerra do Yom Kipur<br />

STRATTON<br />

Levo). Este é um intelectual <strong>de</strong>scabelado<br />

que subscreve a filosofia <strong>de</strong> Marcuse e<br />

rejeita o materialismo. Ele e seu amigo<br />

ruivo Tuso estão passando o feriado <strong>de</strong><br />

Yom Kipur na cida<strong>de</strong> tranqüila e <strong>de</strong>serta.<br />

Ao receberem a notícia do ataque, eles<br />

partem no Fiat velho <strong>de</strong> Weinraub para as<br />

colinas <strong>de</strong> Golã para se juntarem à<br />

unida<strong>de</strong> especial do Exército na qual<br />

foram alistados. Mas tudo é caos, as<br />

estradas estão bloqueadas e eles não<br />

conseguem encontrar a unida<strong>de</strong>. Eles<br />

topam com o Dr. Klauzner (Uri Ran<br />

Klauzner), um médico cujo carro quebrou,<br />

e lhe dão carona até uma base da Força<br />

Aérea, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m juntar-se a uma<br />

equipe improvisada <strong>de</strong> resgate que irá <strong>de</strong><br />

helicóptero até a linha <strong>de</strong> frente para<br />

levar socorro médico aos feridos.<br />

Poucas vezes na longa história dos<br />

filmes <strong>de</strong> guerra o espectador se viu<br />

tinuar? A resposta é uma só: Arafat<br />

mata ju<strong>de</strong>us. Por isso, um Mapa da<br />

Estrada da Paz para Israel com Arafat,<br />

e não houve um Mapa da Estrada<br />

da Paz para o Iraque... Infâmia<br />

Além do mais, Bush promove uma<br />

odiosa discriminação contra pessoas,<br />

ferindo direitos humanos. Exige que<br />

cesse a ampliação <strong>de</strong> assentamentos<br />

nas áreas <strong>de</strong>socupadas da Margem<br />

Oci<strong>de</strong>ntal, nome eufemístico para a<br />

Judéia e Samaria, como era chamada<br />

até antes da Guerra dos Seis Dias <strong>de</strong><br />

1967. Por caso é sabido que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1967, Israel erigiu 144 assentamentos<br />

e os palestinos 261 nas terras<br />

ocupadas? Por que os cidadãos <strong>de</strong><br />

Israel não têm o direito <strong>de</strong> se estabelecer<br />

em seu território, mas os<br />

palestinos <strong>de</strong>vem ter o direito <strong>de</strong> se<br />

estabelecer em território que ocuparam?<br />

Por acaso é sabido por que os<br />

palestinos se colocaram do lado <strong>de</strong><br />

Saddam Hussein? A explicação é simples:<br />

a maioria dos chamados “palestinos”<br />

são iraquianos que chegaram<br />

à Terra Santa, atraídos pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

produzido pelo sionismo<br />

e trazidos pelos ingleses. Já falamos,<br />

certa vez da inversão dos fatos,<br />

em que a Terra Santa passou a Palestina<br />

árabe, passou a território ocupado<br />

por Israel, quando, pelo contrário,<br />

a Palestina sempre foi judaica.<br />

Mas, o que é esse tal <strong>de</strong> Road Map,<br />

o Mapa da Estrada da Paz? Bem, no<br />

final, um prêmio ao terror, que os<br />

Estados Unidos negam a Bagdá, mas<br />

tão diretamente no meio da<br />

carnificina. Gitai evita <strong>de</strong> propósito<br />

oferecer qualquer informação sobre o<br />

passado dos personagens. Sabemos<br />

praticamente nada sobre eles, exceto<br />

que a família <strong>de</strong> Tuso vem <strong>de</strong> Milão.<br />

Num momento <strong>de</strong> crise e caos nacional,<br />

o indivíduo fica em segundo plano<br />

diante da urgência do trabalho que<br />

precisa ser feito e esses médicos e sua<br />

equipe, <strong>de</strong> certo modo heróis, mas<br />

também apenas pessoas comuns que<br />

tentam fazer o melhor possível sob<br />

condições pavorosas, são extremamente<br />

reais. Assim como se nega a fazer uma<br />

narrativa convencional, Gitai tampouco<br />

oferece ao espectador não familiarizado<br />

com a história do Oriente Médio nas<br />

últimas décadas qualquer informação<br />

sobre o contexto político da situação, as<br />

razões do ataque ou suas repercussões.<br />

com Israel é diferente. O Road Map<br />

estabelece claramente um Estado<br />

palestino, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e soberano,<br />

com o máximo <strong>de</strong> contigüida<strong>de</strong>, que<br />

é mais do foi tratado nos Acordos <strong>de</strong><br />

Oslo. O Road Map não exige o reconhecimento<br />

do direito <strong>de</strong> Israel existir,<br />

nem que cessem os incitamentos<br />

contra Israel, nem que cesse a doutrinação<br />

do ódio a Israel, através,<br />

inclusive, do currículo e livros escolares.<br />

Não trata <strong>de</strong> fronteiras seguras,<br />

mas do retorno a 1967, fronteiras<br />

que Abba Eban, antigo Ministro<br />

do Exterior <strong>de</strong> Israel, chamava <strong>de</strong><br />

“fronteiras <strong>de</strong> Auschwitz”. Trata do<br />

problema dos chamados refugiados,<br />

segundo a Resolução 194 da ONU, e<br />

Jerusalém <strong>de</strong>verá ser compartilhada.<br />

Enfim, um prêmio ao terror. E mais,<br />

o problema fica internacionalizado,<br />

com a participação do Quarteto, on<strong>de</strong><br />

a maioria dos membros, já se posicionou<br />

contra Israel e on<strong>de</strong> a União<br />

Européia financia Arafat e sua administração<br />

corrupta. Ainda agora, o<br />

político israelense <strong>de</strong> esquerda, Yossi<br />

Beilin, um dos arquitetos dos fracassados<br />

Acordos <strong>de</strong> Oslo, escreveu:<br />

“<strong>de</strong> que adiantaram todas as medidas<br />

do governo Sharon contra Arafat,<br />

se Israel está sendo submetido<br />

à pressão do Road Map?” Não teria<br />

sido melhor agüentar o terror como<br />

fato consumado?<br />

Por isso fica um grito <strong>de</strong> indignação<br />

que se não po<strong>de</strong> calar: Infâmia<br />

e covardia!<br />

Insurreição<br />

DVD e VHS<br />

Heróis do seu tempo...e <strong>de</strong> todos os<br />

tempos, uma história inspiradora sobre<br />

a resistência à guerra.<br />

A Polônia foi o primeiro país<br />

conquistado por Hitler e os ju<strong>de</strong>us<br />

poloneses foram os que mais sofreram<br />

com isso. Em Varsóvia todos os ju<strong>de</strong>us<br />

foram confinados em um gueto. Sob a<br />

supervisão cruel <strong>de</strong> oficiais nazistas,<br />

milhares viviam em condições<br />

precárias. Um grupo não aceitou a<br />

situação. Esse grupo <strong>de</strong> bravos resistiu<br />

secretamente. Quando o gueto foi<br />

transferido para<br />

campos <strong>de</strong><br />

concentração, este<br />

grupo li<strong>de</strong>rado por<br />

More<strong>de</strong>chai Anilevitch,<br />

fez o que os nazistas<br />

menos esperavam.<br />

Eles resistiram.


m comemoração aos 60<br />

anos do Levante do<br />

Gueto <strong>de</strong> Varsóvia, a<br />

comunida<strong>de</strong> judaica<br />

gaúcha lançou o livro ‘O<br />

Dever da Memória’, dia 14/<br />

4, em Porto Alegre. Organizado pelo psicanalista<br />

Abrão Slavutzky, o livro traz<br />

ainda contribuições <strong>de</strong> Alberto Dines,<br />

Cintia Moscovich, Renato Mezan, Jacques<br />

A Wainberg, Mauricio Seligmann-<br />

Silva, Abrão Slavutzky, Moacyr Scliar,<br />

Voltaire Schilling e Isaac Starosta.<br />

Há 58 anos, durante a Segunda<br />

Guerra Mundial, em um dos períodos<br />

mais sanguinários da história da Humanida<strong>de</strong>,<br />

a perseguição aos ju<strong>de</strong>us<br />

assumia proporções inéditas nos países<br />

ocupados pela Alemanha. Fiel ao<br />

programa <strong>de</strong> eliminação dos ju<strong>de</strong>us,<br />

traçado em seu livro Mein Kampf, Hitler<br />

estava <strong>de</strong>terminado a atingir seus<br />

objetivos e realizar a sua obra. Gran<strong>de</strong><br />

parte dos que haviam sido <strong>de</strong>portados<br />

da Alemanha e da Áustria já haviam<br />

morrido nos campos <strong>de</strong> concentração,<br />

enquanto milhares <strong>de</strong> outros estavam<br />

a caminho do mesmo trágico fim.<br />

Em <strong>abril</strong> <strong>de</strong> 1943, os ju<strong>de</strong>us que<br />

foram levados para o gueto <strong>de</strong> Varsóvia<br />

lutaram bravamente com o Exército<br />

nazista e com a Gestapo, por suas<br />

vidas. Em 1939, a Gestapo havia criado<br />

um gueto compulsório que ficava<br />

isolado do resto da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Varsóvia<br />

por altos muros <strong>de</strong> tijolos.<br />

Os alemães pretendiam eliminar os<br />

ju<strong>de</strong>us que aí se encontravam aos poucos<br />

e por várias vias, como a fome, a<br />

expansão <strong>de</strong> doenças contagiosas, por<br />

causa do aglomerado <strong>de</strong> pessoas e também<br />

por meio <strong>de</strong> fuzilamentos compulsórios<br />

e aleatórios, o que fazia com que<br />

o terror sempre fosse permanente. Havia<br />

433 mil homens, mulheres e crianças<br />

concentradas neste local.<br />

A partir <strong>de</strong> 1942, começaram as<br />

<strong>de</strong>portações para os campos <strong>de</strong> concentração<br />

<strong>de</strong> Treblinka, Oswiecim, Maidanek<br />

e Bergen-Belsen. Esse fato é<br />

importante, pois quando chegaram ao<br />

gueto os primeiros relatos estarrecedores<br />

do extermínio em massa dos ju<strong>de</strong>us<br />

nos campos <strong>de</strong> morte, notícias<br />

essas trazidas por mensageiros clan<strong>de</strong>stinos<br />

poloneses e ju<strong>de</strong>us, o efeito foi<br />

dramático, mas unificador para os lutadores<br />

do gueto. Assim, a Organização<br />

<strong>de</strong> Combatentes Ju<strong>de</strong>us foi formada<br />

após uma conferência rápida, e<br />

preparou-se para o levante.<br />

Muitos já haviam morrido ou sido<br />

mortos e os que lutavam estavam há<br />

muito sem alimentação, já que os suprimentos<br />

haviam sido cortados – apesar<br />

da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> forças, durou<br />

42 dias e 5.000 homens do Exército<br />

Militar Alemão pereceram. Quase todos<br />

que participaram do levante morreram<br />

ao final, mas a força, a esperança e a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver ficarão para sempre<br />

gravada na história da humanida<strong>de</strong>.<br />

A história judaica é marcada por<br />

tragédias que, apesar do tempo, às<br />

vezes apresentam entre si semelhanças<br />

perturbadoras. Dois acontecimentos<br />

históricos separados no tempo por<br />

18 séculos, a Batalha <strong>de</strong> Betar que<br />

marcou o trágico fim da segunda revolta<br />

dos ju<strong>de</strong>us contra Roma, e o Levante<br />

do Gueto <strong>de</strong> Varsóvia, assustam<br />

pela similarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns aspectos.<br />

Ambos registram a luta <strong>de</strong>sesperançada<br />

dos ju<strong>de</strong>us contra um inimigo implacável,<br />

com gigantesco po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição.<br />

No ano 135 da era comum, Simon<br />

Bar Kochba li<strong>de</strong>rou os ju<strong>de</strong>us contra o<br />

Império Romano; em 1943 coube ao jovem<br />

Mor<strong>de</strong>chai Anilevitch coor<strong>de</strong>nar, no<br />

Gueto <strong>de</strong> Varsóvia, a luta dos ju<strong>de</strong>us<br />

contra o po<strong>de</strong>roso exército alemão.<br />

No primeiro evento, os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>fendiam<br />

o direito <strong>de</strong> libertar seu próprio<br />

território do jugo do inimigo romano.<br />

No segundo, lutavam para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

princípios elementares dos direitos<br />

do homem, pisoteados e <strong>de</strong>sprezados<br />

abertamente em pleno século XX<br />

por monstros disfarçados <strong>de</strong> homens.<br />

Entre estes dois momentos históricos,<br />

a parte que tocou ao povo ju<strong>de</strong>u disperso<br />

na Diáspora foi calcada na perseverança<br />

e resignação e na esperança<br />

<strong>de</strong> um dia ver, finalmente, a justiça<br />

triunfar sobre o ódio – um ódio que fora<br />

disseminado pela Europa, durante 18<br />

séculos, através <strong>de</strong> ensinamentos cristãos<br />

baseados em calúnias e <strong>de</strong>sprezo.<br />

Mas as raízes <strong>de</strong>sse mal já estavam tão<br />

enqusitadas que o povo ju<strong>de</strong>u, mais uma<br />

vez, teve que vivenciar as trágicas conseqüências<br />

do preconceito.<br />

Quando o governo alemão instalouse<br />

na Polônia, em outubro <strong>de</strong> 1939, uma<br />

<strong>de</strong> suas primeiras providências foi<br />

transferir e aprisionar, no exíguo espaço<br />

do antigo bairro ju<strong>de</strong>u, os 400 mil<br />

ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> Varsóvia. Um bairro que em<br />

condições normais tinha a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> abrigar apenas 60 mil pessoas. Um<br />

muro foi rapidamente levantado para<br />

isolar completamente o bairro, que se<br />

tornou um “gueto” no sentido mais exato<br />

e nefasto da palavra. Aos ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong><br />

Varsóvia presos no gueto se somaram<br />

rapidamente 100 mil outros, evacuados<br />

<strong>de</strong> povoados vizinhos. Toda essa população<br />

vivia em condições subumanas. Em<br />

cada cômodo disponível viviam em média<br />

13 pessoas, enquanto gran<strong>de</strong> parte<br />

da população sequer tinha um abrigo.<br />

No dia 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1943, Himmler,<br />

então chefe supremo da Gestapo,<br />

chegou, <strong>de</strong> surpresa à Varsóvia, indo<br />

até o gueto. Logo se seguiu a or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>struí-lo e exterminar todos os seus<br />

habitantes. Assim, no dia 18 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1943, vários batalhões da SS marcharam<br />

rumo ao gueto, mas, pela primeira<br />

vez, os alemães foram recebidos<br />

com o som <strong>de</strong> granadas e metralhadoras.<br />

Após sofrerem muitas baixas, as tropas<br />

da SS foram obrigadas a se retirar.<br />

Os lí<strong>de</strong>res do levante, encabeçados<br />

por Anilevitch, então com 24 anos, fizeram<br />

um apelo ao mundo exterior.<br />

Palavras carregadas <strong>de</strong> emoção foram<br />

transmitidas por uma rádio clan<strong>de</strong>stina:<br />

“Declaramos guerra à Alemanha, a<br />

<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra mais <strong>de</strong>sesperada<br />

que já foi feita. Organizamos a <strong>de</strong>fesa<br />

do gueto, não para que o gueto possa<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se, mas para que o mundo veja<br />

a nossa luta <strong>de</strong>sesperada como uma<br />

advertência e uma crítica”.<br />

Depois <strong>de</strong> uma trégua <strong>de</strong> três meses,<br />

em 19 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> 1943, forças alemãs<br />

e colaboracionistas poloneses,<br />

ucranianos e lituanos cercaram o gueto.<br />

Por duas vezes, os atacantes foram<br />

rechaçados, com inesperada força, pelas<br />

armas dos <strong>de</strong>fensores do gueto.<br />

Após sofrer perdas consi<strong>de</strong>ráveis, os<br />

atacantes acabaram fugindo <strong>de</strong> forma<br />

<strong>de</strong>sorganizada. Para os <strong>de</strong>fensores do<br />

gueto, o <strong>de</strong>sespero era sua força e no<br />

telhado mais alto tremulava a ban<strong>de</strong>ira<br />

azul e branca <strong>de</strong> Sion.<br />

Diante <strong>de</strong> tamanha resistência, o<br />

comandante alemão Jürgen Stroop recebeu<br />

or<strong>de</strong>m pessoal <strong>de</strong> Hitler <strong>de</strong> usar<br />

todos os meios para <strong>de</strong>struir o gueto:<br />

artilharia, blindados, lança-chamas, gás<br />

asfixiante. Era uma luta corpo a corpo<br />

nas ruas, nas casas, sala por sala, sobre<br />

os telhados, nos porões, nos esgotos.<br />

Finalmente, no ataque final, a aviação<br />

alemã interviu para acabar com os<br />

últimos focos <strong>de</strong> resistência.<br />

Em 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1943, Mor<strong>de</strong>chai<br />

Anilevitch, a esposa e seus companheiros<br />

tombaram, armas em punho, após recusarem-se<br />

a se ren<strong>de</strong>r, mesmo diante da<br />

promessa <strong>de</strong> terem suas vidas poupadas.<br />

Foi a repetição, após 18 séculos,<br />

do sacrifício heróico <strong>de</strong> Betar. Em 16<br />

<strong>de</strong> maio, o general Stroop enviou um<br />

telegrama a Hitler: “O bairro ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />

Varsóvia não existe mais”. Este general<br />

<strong>de</strong> “Herrenvolle” (categoria tão aclamada<br />

pelos nazistas) estava orgulhoso<br />

<strong>de</strong> seu feito. Para festejar, mandou dinamitar<br />

a gran<strong>de</strong> sinagoga <strong>de</strong> Varsóvia,<br />

“comemorando”, assim, a fase final<br />

da exterminação daquela que havia<br />

sido uma das gran<strong>de</strong>s comunida<strong>de</strong>s judaicas<br />

da Europa.<br />

Ao mesmo tempo, Schmuel Zigemboim,<br />

único ju<strong>de</strong>u membro do Conselho<br />

polonês exilado em Londres, suicidou-se<br />

para protestar contra aquilo que chamou<br />

<strong>de</strong> “conspiração do silêncio”. Em uma nota<br />

enviada à imprensa, dizia: “Ao assistir<br />

sem reação alguma à matança <strong>de</strong> milhões<br />

<strong>de</strong> seres inocentes e in<strong>de</strong>fesos, os países<br />

livres do mundo oci<strong>de</strong>ntal tornaram-se<br />

cúmplices dos assassinos”.<br />

Esta acusação era dirigida também<br />

à resistência polonesa, que ignorou os<br />

apelos feitos pelos moradores do gueto.<br />

Exceto alguns patriotas – que o Yad<br />

Vashem mais tar<strong>de</strong> homenagearia — os<br />

poloneses, em sua gran<strong>de</strong> maioria, preferiram<br />

<strong>de</strong>ixar o “problema ju<strong>de</strong>u” por<br />

conta dos alemães. Quando algumas<br />

centenas <strong>de</strong> sobreviventes do gueto pu-<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

O Levante do Gueto Varsóvia<br />

<strong>de</strong>ram juntar-se à resistência, em sua<br />

maioria polonesa, muitos foram assassinados<br />

<strong>de</strong> forma vil por fascistas poloneses<br />

que colaboravam com os nazistas.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, quando eles mesmos<br />

pediram ajuda aos russos, estes<br />

tiveram a mesma atitu<strong>de</strong>: fingiram<br />

não ouvir, permitindo aos<br />

alemães massacrar sem pieda<strong>de</strong><br />

150 mil poloneses.<br />

Mas as acusações mais amargas<br />

foram feitas aos dirigentes do<br />

mundo livre. Por que os aliados não<br />

bombar<strong>de</strong>aram as estradas <strong>de</strong> ferro e<br />

as pontes para impedir o transporte<br />

para as câmaras <strong>de</strong> gás quando já sabiam<br />

do que acontecia? A esta pergunta<br />

ninguém respon<strong>de</strong>u ainda. Todos podiam<br />

ter feito muito para impedir ou pelo<br />

menos retardar o genocídio mais monstruoso<br />

da História. Mas nada fizeram. E<br />

só enxergaram a terrível realida<strong>de</strong> da barbárie<br />

nazista, quando já era tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> presenciaram os campos <strong>de</strong> morte,<br />

os fornos crematórios ainda fumegantes,<br />

os restos humanos empilhados.<br />

Quando o monstro nazista foi abatido,<br />

o mundo, estarrecido, gritou:<br />

“Nunca mais”. As nações livres juraram<br />

ser, no futuro, vigilantes quanto a qualquer<br />

nova tentativa <strong>de</strong> crime contra a<br />

humanida<strong>de</strong>. Mas, infelizmente, por várias<br />

vezes, este juramento não foi cumprido<br />

e crimes contra a humanida<strong>de</strong> foram<br />

e são cometidos até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Extraído<br />

<strong>de</strong> um artigo <strong>de</strong><br />

L. Alha<strong>de</strong>ff e<br />

publicado em<br />

Los Nuestros.<br />

17<br />

Há sessenta anos atrás o Gueto <strong>de</strong> Varsóvia não existia mais. Mas jamais<br />

<strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> existir lição imanente do heroísmo na luta contra a opressão e a<br />

injustiça. Para toda a Eternida<strong>de</strong>.<br />

Muro construído pelos nazistas no meio da rua para isolar os ju<strong>de</strong>us<br />

no Gueto <strong>de</strong> Varsóvia<br />

Fotos: arquivo


18<br />

* Shmuel Lemle é<br />

professor do<br />

Centro <strong>de</strong> Cabala<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

(www.kabbalah.<br />

com)<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

Rabi Shimon bar Yochai,<br />

o autor do Zohar Shmuel Lemle *<br />

o dia 18 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> comemoramos a festa <strong>de</strong> Lag Ba’Omer. Para os<br />

estudantes <strong>de</strong> Cabala, essa é uma das datas mais importantes do<br />

ano, por marcar o dia da Hilulá (aniversário <strong>de</strong> falecimento) <strong>de</strong><br />

Rabi Shimon bar Yochai, o autor do Zohar, fonte básica <strong>de</strong> toda a<br />

sabedoria cabalística.<br />

O Zohar explica que Rabi Shimon bar Yochai <strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong>ixar o mundo<br />

nesse dia, abrindo para nós uma janela cósmica para nos conectarmos<br />

com energia positiva <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong> conhecido como<br />

“a contagem do Omer”. Durante os 49 dias entre Pessach e Shavuot, a cada<br />

dia nos conectamos com uma energia diferente, construíndo um receptor<br />

para receber a Luz da Torá, que representa a imortalida<strong>de</strong> e o fim <strong>de</strong> todas as<br />

formas <strong>de</strong> caos, na festa <strong>de</strong> Shavuot.<br />

O Zohar explica que antes do êxodo do Egito os ju<strong>de</strong>us tinham atingido o<br />

49º portão ou nível <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong>. Se uma pessoa alcança o 50º e último<br />

portão <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong>, a escuridão é total e não há mais possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

retornar para o lado positivo. A pessoa se torna totalmente negativa. Os ju<strong>de</strong>us,<br />

portanto estavam num nível muito baixo. O Zohar explica que o Criador<br />

injetou então <strong>de</strong>z doses <strong>de</strong> energia, conhecidas como as <strong>de</strong>z pragas, que quebraram<br />

as cascas <strong>de</strong> negativida<strong>de</strong> que nos prendiam na escuridão do Egito.<br />

Quando esta energia foi injetada no cosmos, os filhos <strong>de</strong> Israel alcançaram a<br />

liberda<strong>de</strong>. A cada ano, na noite <strong>de</strong> Pessach, a lua cheia do mês <strong>de</strong> <strong>Nissan</strong>, esta<br />

mesma energia é injetada no universo e po<strong>de</strong>mos nos libertar <strong>de</strong> nossa própria<br />

negativida<strong>de</strong> interna, <strong>de</strong> nossa escravidão ao egoísmo, ao ego, aos nossos<br />

vícios e limitações. No entanto, nós não merecemos receber essa energia, por<br />

estarmos num nível tão baixo. A energia que entra em Pessach é uma dádiva<br />

que o Criador nos conce<strong>de</strong> a cada ano porque sem isso não temos chance<br />

alguma contra as forças da escuridão e da ignorância. Mas como não a merecemos,<br />

no dia seguinte a Luz vai embora. Temos então que trabalhar para<br />

merecer a Luz <strong>de</strong> volta em Shavuot, e receber a Torá.<br />

Cabalisticamente, a Torá representa a energia das Dez Sefirot, a Árvore da<br />

Vida, os níveis <strong>de</strong> revelação da Luz do Criador que po<strong>de</strong>m eliminar totalmente o<br />

caos e a escuridão <strong>de</strong> nossas vidas. É por isso que em Shavuot lemos na Torá os<br />

Asseret Ha’Dibrot – erradamente traduzidos como “Dez Mandamentos”, mas que<br />

na verda<strong>de</strong> são <strong>de</strong>z pronunciamentos ou <strong>de</strong>z falas. Na verda<strong>de</strong> os Dez Pronunciamentos<br />

são a revelação da totalida<strong>de</strong> da Força da Luz do Criador, representada<br />

pelas Dez Sefirot. Por isso se diz que quando a Torá foi revelada no Monte<br />

Sinai a humanida<strong>de</strong> atingiu a imortalida<strong>de</strong>, e a morte foi eliminada para sempre.<br />

Infelizmente, <strong>de</strong>vido ao inci<strong>de</strong>nte do bezerro <strong>de</strong> ouro, o anjo da morte recuperou<br />

seu domínio sobre a humanida<strong>de</strong>.<br />

O período da contagem do Omer nos permite construir um receptor, por<br />

nosso próprio mérito e esforço, para receber a Luz da imortalida<strong>de</strong> que é<br />

injetada no cosmos e em nossas almas em Shavuot. Shavuot é o dia 50, a<br />

culminação <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> sete semanas, ou 49 dias, em que contamos<br />

cada dia, entrando em contato com a energia disponível então. O Zohar explica<br />

que nós somos um receptor para a Luz do Criador. Temos uma conexão mais<br />

direta com as sete Sefirot inferiores da Árvore da Vida. Cada uma <strong>de</strong>ssas sete<br />

Sefirot contém <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si as sete Sefirot novamente. Daí, enten<strong>de</strong>mos que<br />

nas sete semanas do Omer estamos nos conectando com essas 49 diferentes<br />

energias. Como a Luz revelada em Pessach foi embora, é um período <strong>de</strong> ausência<br />

<strong>de</strong> Luz. Rabi Shimon bar Yochai escolheu <strong>de</strong>ixar este mundo físico neste<br />

período para nos proporcionar uma janela positiva no meio <strong>de</strong> uma época<br />

negativa. Sabemos que as almas dos tzadikim retornam a este mundo para<br />

nos ajudar no dia <strong>de</strong> seu aniversário <strong>de</strong> falecimento. Especialmente no dia 18<br />

<strong>de</strong> <strong>Iyar</strong> <strong>de</strong> cada ano temos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber diretamente a energia <strong>de</strong><br />

Rabi Shimon bar Yochai, que revelou ao mundo a alma e o segredo interno da<br />

Torá e da vida.<br />

Sobre Rabi Shimon, está escrito no Zohar que o anjo da morte foi protestar<br />

com o Criador, alegando não estar conseguindo levar a cabo sua missão<br />

<strong>de</strong> fornecer livre arbítrio ao ser humano, porque não somente Rabi Shimon<br />

o sobrepujava em todas as suas investidas contra ele, mas ainda o perseguia<br />

a cada vez que tentava <strong>de</strong>safiar os homens. Ele solicitava então ao<br />

Criador que Rabi Shimon fosse retirado do mundo, porque com a presença<br />

<strong>de</strong> Rabi Shimon bar Yochai entre nós o Satan não podia cumprir sua<br />

missão. O Criador teve que acatar o pedido do Satan, para que o livre<br />

arbítrio continuasse existindo, e por isso Rabi Shimon bar Yochai <strong>de</strong>cidiu<br />

sair do mundo em 18 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong>.<br />

Aqueles <strong>de</strong> nós que quiserem receber a energia <strong>de</strong> uma alma tão elevada<br />

nessa data, que po<strong>de</strong> nos ajudar a remover totalmente o caos <strong>de</strong> nossas vidas,<br />

po<strong>de</strong>mos estudar o Zohar, especialmente a seção conhecida como Idra Zuta,<br />

que <strong>de</strong>screve a partida <strong>de</strong> Rabi Shimon <strong>de</strong>ste plano físico, ilusório.<br />

Os Tiranistas mentirosos<br />

Dedico esse artigo a Michael Kelly,<br />

um dos mais famosos colunistas<br />

do jornal “The Washington Post”. Michael<br />

se voluntarizou a ser jornalista<br />

na guerra “Iraqi Freedom” e foi morto<br />

lá há uns dias atrás. Em 26 <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 2001, alguns dias após o<br />

ataque terrorista ao WTC e ao Pentágono,<br />

Michael publicou um artigo<br />

chamado “Pacifist Claptrap”. Partes<br />

<strong>de</strong>ste meu artigo foram traduzidas<br />

daquele artigo.<br />

O mundo está cheio <strong>de</strong> tiranos.<br />

Cada um pior do que o outro. Cada<br />

um mais cruel do que o outro. Cada<br />

um cometendo mais atrocida<strong>de</strong>s contra<br />

o seu próprio povo, do que o outro.<br />

Cada um causando mais guerras<br />

contra os vizinhos do que o outro.<br />

Um fato, porém passa <strong>de</strong>spercebido.<br />

Todos os pacifistas do mundo<br />

inteiro, nunca saem em manifestações<br />

contra esses tiranos. Os pacifistas sabem<br />

muito bem que os tiranos não<br />

dão a mínima para o que eles pensam<br />

ou <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> pensar. Mais ainda, lí<strong>de</strong>res<br />

pacifistas no mundo inteiro, po<strong>de</strong>m<br />

ser assassinados por emissários<br />

<strong>de</strong>sses tiranos. Então, não se trata <strong>de</strong><br />

hipocrisia. Trata-se <strong>de</strong> medo!<br />

Em 1942, o escritor George Orwell<br />

escreveu no “Partisan Review”, da Inglaterra:<br />

“Pacifismo é objetivamente<br />

pró-fascista. Isso faz sentido da forma<br />

mais elementar possível. Se você<br />

evita os esforços <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> um lado,<br />

automaticamente você ajuda o outro<br />

lado. Não ha nenhuma maneira <strong>de</strong> você<br />

ficar neutro, como nessa guerra (se referiu<br />

a Segunda Guerra Mundial) porque<br />

na prática, quem não esta comigo<br />

está contra mim’“.<br />

Esse artigo irritou muito os pacifistas<br />

da Inglaterra, mas a lógica <strong>de</strong><br />

Orwell era irrefutável. Os nazistas<br />

queriam que a Inglaterra não lutasse.<br />

Se a Inglaterra não lutasse, os nazistas<br />

a conquistariam, sem dúvida alguma.<br />

Os pacifistas ingleses queriam<br />

que a Inglaterra não lutasse. Os pacifistas<br />

ingleses estavam então, do lado<br />

da vitória dos nazistas contra os ingleses.<br />

Assim, os pacifistas ingleses<br />

eram invariavelmente pró-fascistas.<br />

A mesma lógica se aplica agora.<br />

Terroristas bem organizados atacaram<br />

os Estados Unidos da América. Esses<br />

grupos querem que os americanos não<br />

lutem contra eles. Os pacifistas americanos<br />

e os do mundo inteiro, querem<br />

que os americanos não lutem contra<br />

os terroristas. Se a América não<br />

lutar, os terroristas atacarão <strong>de</strong> novo<br />

e agora nós sabemos que esses ataques<br />

po<strong>de</strong>m custar a vida <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> pessoas. Assim, os pacifistas americanos<br />

e os do mundo inteiro, estão<br />

do lado dos futuros terroristas, assassinos-genocidas.<br />

Esses pacifistas<br />

Moshe Rosenblatt *<br />

são, inevitavelmente e objetivamente<br />

pró-terrorismo.<br />

O presi<strong>de</strong>nte Bush disse: Uma<br />

guerra foi <strong>de</strong>clarada. Agora, ou você<br />

está <strong>de</strong>sse lado ou do outro lado. Ou<br />

você está do lado que vai fazer o necessário<br />

para capturar ou matar os que<br />

controlam o dinheiro e/ou hospedam<br />

os terroristas ou você é contra fazer<br />

isso. Se você é contra, você esta permitindo<br />

aos terroristas a continuar os<br />

ataques <strong>de</strong>les contra a América. De<br />

fato, você está dizendo: eu acredito<br />

que é melhor <strong>de</strong>ixar mais americanos<br />

— talvez muitíssimos mais americanos<br />

— serem assassinados, do que<br />

capturar ou matar os assassinos.<br />

A Alemanha <strong>de</strong>cidiu ficar neutra,<br />

haja vista o passado hitleriano <strong>de</strong>la.<br />

Decidiram não entrar mais em guerras.<br />

Eles dizem que essa é a lição que<br />

eles apren<strong>de</strong>ram do passado vergonhoso.<br />

Na verda<strong>de</strong>, essa <strong>de</strong>cisão é<br />

ainda mais vergonhosa. A lição da<br />

época hitleriana não é que <strong>de</strong>vemos<br />

evitar guerras. A lição correta é que<br />

<strong>de</strong>vemos lutar contra tiranias, contra<br />

todos os tipos <strong>de</strong> hitlers, pequenos e<br />

gran<strong>de</strong>s, mais cruéis ou menos cruéis.<br />

Só os regimes <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong>vem<br />

existir no mundo. Essa é a gran<strong>de</strong> lição<br />

das duas guerras mundiais.<br />

Como já escrevi no passado, nenhuma<br />

guerra do mundo foi causada<br />

por um conflito qualquer, por mais sério<br />

que seja o conflito. Todas as guerras<br />

do mundo foram causadas pela mera<br />

existência <strong>de</strong> tiranos. A prova disso é<br />

que nunca houve uma só guerra entre<br />

duas <strong>de</strong>mocracias (quando as duas eram<br />

<strong>de</strong>mocráticas). Numa guerra entre dois<br />

tiranos (Iraque x Irã) não há razão <strong>de</strong><br />

se torcer pela vitória <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les ou<br />

tentar ajudar a um <strong>de</strong>les. Numa guerra<br />

entre uma <strong>de</strong>mocracia e uma tirania, a<br />

<strong>de</strong>mocracia tem sempre razão e a tirania<br />

está sempre errada — invariavelmente.<br />

Devemos sempre ajudar a <strong>de</strong>mocracia<br />

a vencer a tirania.<br />

Os pacifistas <strong>de</strong>vem parar <strong>de</strong> fazer<br />

manifestações contra a guerra,<br />

pois essas <strong>de</strong>monstrações são sempre<br />

contra o lado <strong>de</strong>mocrático e nunca<br />

contra o lado tirânico. Pacifistas são<br />

somente as pessoas que saem em<br />

guerra contra as tiranias! Pacifistas<br />

que fazem manifestações contra <strong>de</strong>mocracias<br />

são, na verda<strong>de</strong>, guerricistas!<br />

Chamo esses pacifistas <strong>de</strong> “tiranistas<br />

mentirosos”. O uso que eles<br />

fazem da palavra “pacifismo” é a gran<strong>de</strong><br />

mentira <strong>de</strong>les e eles sabem disso<br />

muito bem.<br />

Por isso, os pacifistas do mundo<br />

inteiro, são simplesmente criminosos,<br />

pois eles incitam os tiranos e os terroristas,<br />

sendo responsáveis por inúmeras<br />

mortes <strong>de</strong> pessoas inocentes.<br />

Abaixo os tiranistas mentirosos!<br />

* Moshe Rosenblatt mora em Ha<strong>de</strong>ra, Israel


A guerra <strong>de</strong> Bush: o<br />

haxixe e o homem-bomba<br />

Ali Kamel*<br />

Semanas passadas, o Arnaldo Jabor saiu-se com a seguinte tirada<br />

na TV Globo: “Sabem por que aquela bomba gigante chamase<br />

a mãe <strong>de</strong> todas as bombas? Porque vai gerar milhares <strong>de</strong> homensbomba”.<br />

Parecia profecia, porque, já no dia seguinte, um militar<br />

suicida iraquiano explodiu o carro em que estava, matando quatro<br />

soldados americanos. E o ministro das Relações Exteriores do Iraque,<br />

o cristão Tarik Aziz, <strong>de</strong>u as boas-vindas a quatro mil homensbomba<br />

que teriam chegado ao Iraque para combater os EUA. Tudo<br />

isso me fez pensar que fenômeno leva alguém a se matar para matar<br />

outras pessoas.<br />

A mesma pergunta se fizeram os muçulmanos do século XI quando<br />

pela primeira vez o fenômeno irrompeu naqueles lados do mundo,<br />

pelas mãos <strong>de</strong> uma seita que se dizia também muçulmana. E,<br />

diante da loucura do expediente, que contrariava todos<br />

os ensinamentos do Alcorão, a resposta encontrada foi uma só:<br />

haxixe, eles só podiam fazer aquela loucura drogados. Nunca se<br />

provou a tese, mas os muçulmanos apelidaram os a<strong>de</strong>ptos daquele<br />

método <strong>de</strong> os “Hashshashin” (os que fumam haxixe), palavra que<br />

entrou em muitas línguas como “assassinos”.<br />

Os suicidas pertenciam a uma seita fundada, em 1090, por Hassan<br />

e-Sabbah, um persa xiita que tomou a si o projeto <strong>de</strong> restabelecer<br />

o califado, restituindo-lhe a glória como no tempo do Profeta.<br />

O mundo islâmico, no ano <strong>de</strong> seu nascimento, em 1048, era xiita:<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 932, um po<strong>de</strong>roso grupo xiita, os Buwayhidas, dominava<br />

Bagdá e ditava suas leis ao próprio califa, que era sunita. No Egito,<br />

um outro grupo xiita, os fatímidas, chefiava um segundo califado.<br />

Mas as coisas logo começaram a mudar. Em 1055, os turcos<br />

seldjúcidas, sunitas, invadiram Bagdá, perseguindo os xiitas e<br />

fazendo prevalecer a crença sunita (o califa continuou a ser<br />

uma figura <strong>de</strong>corativa, sem po<strong>de</strong>r real). Anos <strong>de</strong>pois, no Egito, o<br />

califa xiita também passou a ser uma marionete nas mãos do seu vizir<br />

armênio. Hassan quis pôr um fim a isso, aliando-se a Nizar, o filho<br />

mais velho do califa do Egito. Seu plano? Ataques suicidas contra<br />

seus oponentes.<br />

O crime <strong>de</strong>via acontecer à luz do dia, no lugar mais<br />

movimentado da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> preferência numa mesquita bem cheia<br />

durante as orações <strong>de</strong> sexta-feira. Para que o ato tivesse ampla<br />

repercussão e provocasse medo. O primeiro crime aconteceu em 1092<br />

e teve como alvo ninguém menos do que Nizam el-Mulk, o<br />

vizir turco que durante trinta anos organizara o po<strong>de</strong>r sunita.<br />

Ele foi assassinado por um a<strong>de</strong>pto <strong>de</strong> Hassan em 14 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1092. Apesar do sucesso da empreitada, o plano <strong>de</strong> restituir a<br />

glória ao califado fracassou, pois Nizar, o filho do antigo<br />

califa xiita, não conseguiu tomar o po<strong>de</strong>r no Egito e foi emparedado<br />

vivo. Hassan não <strong>de</strong>sistiu, porém. Ele organizou cada vez<br />

mais a sua seita com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir seus oponentes sunitas.<br />

Seus crimes seguiram sempre a mesma técnica suicida: seus<br />

a<strong>de</strong>ptos disfarçavam-se como pessoas comuns, pedintes, mercadores,<br />

crentes e, quando a vítima passava à sua frente, enfiavam-lhes<br />

a adaga até que morressem. Faziam isso sabendo que seriam mortos<br />

imediatamente, pois agiam sozinhos, sem possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Mas tinham sempre um sorriso nos lábios, porque acreditavam<br />

piamente em tudo o que Hassan lhes dizia: não morrerão,<br />

mas entrarão direto no paraíso, terão autorização para ver a<br />

face <strong>de</strong> Deus, disporão dos serviços <strong>de</strong> 72 virgens e po<strong>de</strong>rão indicar<br />

outros setenta parentes para que entrem também no paraíso.<br />

A seita aterrorizou o Oriente Médio por mais <strong>de</strong> 150 anos, tutelou,<br />

pelo terror, muitos emires, até serem exterminados <strong>de</strong> vez pelos<br />

mongóis e sultões mamelucos.<br />

De vez? Bem o método <strong>de</strong>les ressurgiu em 1983, no Líbano e,<br />

agora, ironia da História, seus a<strong>de</strong>ptos vivem o seu ápice com a al-<br />

Qaeda, <strong>de</strong> Osama bin La<strong>de</strong>n, e seus congêneres do grupo Hamas e<br />

Jihad Islâmica, todos ultra-ordoxos sunitas, os inimigos contra os<br />

quais se batia a seita <strong>de</strong> Hassan el-Sabbah. Como uma crença da<br />

Ida<strong>de</strong> Média po<strong>de</strong> ser revivida em pleno século XXI é assunto para<br />

outro artigo.<br />

* Ali Kamel é jornalista e diretor executivo da Central <strong>de</strong> Jornalismo da TV Globo<br />

(De Israel) — Arafat é o mais matreiro<br />

dos lí<strong>de</strong>res árabes. Para o mundo ele<br />

se submeteu á pressões árabes, européias<br />

e americanas e conce<strong>de</strong>u o que Abu Mazen<br />

queria que era contar com Dahlan,<br />

<strong>de</strong> Gaza, como o homem para cuidar do<br />

setor <strong>de</strong> segurança do novo governo palestino.<br />

Chegou-se a uma solução salomonica<br />

como se sabe. Abu Mazen ficou<br />

primeiro ministro e ministro do Interior.<br />

Dahlan numa posição <strong>de</strong> chefia das forças<br />

<strong>de</strong> segurança, isto é, com po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

ministro sem o titulo.<br />

Conhecendo-se como Arafat funciona,<br />

e se lembrando o sorriso que ostentou<br />

no final do drama, ele saiu vencedor <strong>de</strong><br />

uma jogada altamente maliciosa e inteligente.<br />

Ameaçando não aprovar o pedido<br />

<strong>de</strong> Abu Mazen criou o receio <strong>de</strong> que se<br />

per<strong>de</strong>ria a chance <strong>de</strong> retomada do processo<br />

<strong>de</strong> paz. Esperando até o último<br />

minuto para recuar. conseguiu, na pratica,<br />

que americanos, europeus, árabes,<br />

oferecessem um aval <strong>de</strong>les a que continue<br />

na posição <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte, e retomar<br />

conversas com ele o que os americanos<br />

haviam suspendido <strong>de</strong>finitivamente há um<br />

ano ou mais. Fora qualificado <strong>de</strong> irrelevante.<br />

Conseguiu mais que foi manifestação<br />

americana, européia, árabe <strong>de</strong> tácito<br />

e publico apoio, no escuro, ao plano<br />

<strong>de</strong> paz dos Estados Unidos, o “roadmap”.<br />

O mundo reconheceu que Arafat tem o<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> impedir o entendimento.<br />

A <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> um primeiro ministro<br />

e um gabinete foi reconhecida como<br />

a abertura do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização<br />

do que virá a ser o primeiro governo<br />

do Estado palestino a surgir. É bom <strong>de</strong><br />

jogo o velho Arafat.<br />

Breve, logo após os americanos divulgarem<br />

o ”roadmap”, o que <strong>de</strong>ve acontecer<br />

na próxima semana. Abu Mazen será<br />

convidado á Casa Branca para conversar<br />

com o presi<strong>de</strong>nte Bush. E terá seu primeiro<br />

encontro <strong>de</strong> trabalho com Sharon,<br />

o primeiro ministro <strong>de</strong> Israel, que está<br />

sob a promessa publica <strong>de</strong> tudo fazer para<br />

se chegar a uma paz.<br />

Claro que existem as condicionais. Israel<br />

não negocia coisa alguma se continuarem<br />

os ataques terroristas. Abu Mazen<br />

já con<strong>de</strong>nou o atentado recente, na<br />

estação <strong>de</strong> trem da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Kefar Sabá.<br />

E ganhou pontos com um simples conjunto<br />

<strong>de</strong> palavras. Dahlan é homem <strong>de</strong><br />

enfrentar os grupos extremistas que sabem<br />

disto.<br />

Sharon já disse que não vingará o<br />

atentado <strong>de</strong> quinta. Não conta pontos.<br />

O processo começará mesmo <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> divulgado o plano <strong>de</strong> paz <strong>de</strong> Washington<br />

e da conversa <strong>de</strong> Abu Mazen com<br />

Bush. Só então se saberá se o governo<br />

palestino assumirá controlar os grupos<br />

extremistas, como Hamas, Jihad e outros.<br />

Abu Mazen só terá a ganhar. Conseguirá<br />

a proclamação da existência <strong>de</strong> um Estado<br />

palestino, ajuda internacional, simpatias.<br />

Sharon terá <strong>de</strong> fazer concessões<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

No caminho da paz?<br />

Nahum Sirotsky *<br />

territoriais substanciais.<br />

Um arranjo para o conflito israelense<br />

palestino é fundamental na estratégia<br />

americana para o Oriente Médio. Pacificando<br />

o Iraque, que precisam colocar no<br />

caminho <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong>mocrático, ficam<br />

na posição <strong>de</strong> controlarem políticas<br />

do mundo árabe mesmo enfrentando séria<br />

resistência como já acontece. Os árabes<br />

se sentem humilhados com a <strong>de</strong>rrota.<br />

País algum se levantará em armas, pois<br />

os americanos mostraram po<strong>de</strong>rio inimitável<br />

e invencível. A guerra no Iraque foi<br />

um passeio. Do lado da chamada Coligação<br />

houve proporcionalmente mais jornalistas<br />

mortos do que soldados. Mas, se<br />

fosse resolvido o conflito israelense-palestino,<br />

que é o que mais os humilha, <strong>de</strong><br />

forma a satisfazer sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

presença em Jerusalém, da qual, pela tradição<br />

do Islã, Maomé ascen<strong>de</strong>u aos céus<br />

e recebeu diretamente <strong>de</strong> Deus (Alá) o<br />

Corão, o Último dos Testamentos, por<br />

<strong>de</strong>finição, o mais completo, eles se sentirão<br />

um tanto compensados. No conjunto,<br />

os 22 paises da Liga Árabe têm um<br />

território 640 vezes maior e 60 vezes mais<br />

população do que o estado ju<strong>de</strong>u. E no<br />

momento os americanos estão em situação<br />

i<strong>de</strong>al para pressionarem Sharon. Israel<br />

está economicamente falida. O próprio<br />

Sharon <strong>de</strong>clarou que não saberia se<br />

o país po<strong>de</strong>ria sustentar a atual situação<br />

por muito mais tempo.<br />

Precisa dos dólares para se recuperar.<br />

Os americanos indicam que serão avalistas<br />

<strong>de</strong> empréstimo internacional pretendido<br />

por Israel. Mas até agora não se manifestaram<br />

com medidas praticas. Provavelmente<br />

pressionarão Israel a substanciais<br />

concessões para se chegar a um entendimento<br />

com os palestinos. As pesquisas<br />

indicam que israelenses favoreceriam<br />

gran<strong>de</strong>s concessões aos palestinos<br />

para po<strong>de</strong>rem viver em paz na região. O<br />

plano americano prevê que em troca das<br />

concessões necessárias Israel teria suas<br />

fronteiras reconhecidas por todos os paises<br />

árabes que assinariam tratados <strong>de</strong> paz.<br />

Mas os israelenses não confiam nos árabes<br />

e esses não confiam nos israelenses. E existem<br />

concessões, como o reconhecimento<br />

do direito <strong>de</strong> retorno, que Israel não fará.<br />

Teria <strong>de</strong> receber milhões <strong>de</strong> palestinos que<br />

logo seriam a maioria e acabariam com o<br />

Estado ju<strong>de</strong>u pelo voto. Pelo menos é o<br />

que se pensa aqui. Seria suicídio.<br />

A paz é o sonho dos israelenses, o<br />

que está proclamado em todas as sua preces.<br />

Mas ainda é apenas um sonho. E se é<br />

verda<strong>de</strong>, como diz a sabedoria chinesa,<br />

que toda a viagem começa com um primeiro<br />

passo, não é menos verda<strong>de</strong> que<br />

po<strong>de</strong> ser tão longa que nunca se chegue<br />

aon<strong>de</strong> se quer.<br />

O maior teste da viabilida<strong>de</strong> da Pax americana<br />

é aqui. E não se po<strong>de</strong> prever que<br />

haverá sucesso. Sem resolverem o conflito<br />

israelense-palestino, que Bush prometeu <strong>de</strong><br />

pés juntos que o faria, nunca conseguirão<br />

se firmar no <strong>de</strong>sejado Oriente Médio.<br />

19


Reprodução <strong>de</strong> pintura <strong>de</strong> Michal Meron, Israel<br />

20<br />

<strong>VISÃO</strong> <strong>JUDAICA</strong> <strong>•</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2003</strong> <strong>•</strong> <strong>Nissan</strong> / <strong>Iyar</strong> <strong>•</strong> <strong>5763</strong><br />

Lag BaOmer é uma festivida<strong>de</strong><br />

do calendário judaico,<br />

que, como seu<br />

nome sugere, é celebrada<br />

no 33º dia das sete semanas<br />

da contagem do Omer, entre<br />

Pessach e Shavuot. Sua data no calendário<br />

hebraico é 18 <strong>de</strong> <strong>Iyar</strong>. Na época<br />

dos Templos, em Jerusalém, um omer<br />

(unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida) <strong>de</strong> cevada era oferecido<br />

por todos os agricultores <strong>de</strong> Israel<br />

no segundo dia <strong>de</strong> Pessach. Até que<br />

esta oferenda era feita, pães e grãos<br />

não podiam ser consumidos (Levítico:<br />

23-14). A partir <strong>de</strong>ste dia, os agricultores<br />

contavam então 49 dias até Shavuot,<br />

o festival da colheita, quando novamente<br />

peregrinavam à Jerusalém.<br />

A razão do semi-luto (não se fazem<br />

gran<strong>de</strong>s celebrações,<br />

nem se corta o<br />

cabelo) observado<br />

durante o período do<br />

Omer vem do Talmud,<br />

que <strong>de</strong>screve como<br />

uma praga matou os 24<br />

mil discípulos <strong>de</strong> Rabbi<br />

A festa <strong>de</strong> Lag BaOmer<br />

Akiva (no ano I da Era Comum). A praga<br />

cessou em Lag BaOmer. Foi também<br />

durante esse período, 350 anos atrás,<br />

que c orreram os massacres <strong>de</strong> Chmielnitzki<br />

na Rússia, Ucrânia e Polônia<br />

quando milhares <strong>de</strong> homens, mulheres<br />

e crianças ju<strong>de</strong>us foram mortos.<br />

Em Lag BaOmer, a revolta judaica<br />

li<strong>de</strong>rada por Bar Kochba assegurou uma<br />

vitória contra os romanos, após uma<br />

série <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotas. Rabbi Shimon Bar Iochai<br />

(autor do Zohar, primeiro livro da<br />

Cabala) morreu em Lag BaOmer. Cabalistas<br />

e hassidim se reúnem em seu<br />

túmulo, em Meron (na Galiléia - Israel),<br />

em Lag BaOmer acen<strong>de</strong>ndo fogueiras,<br />

realizando o primeiro corte <strong>de</strong> cabelo<br />

<strong>de</strong> seus filhos, dançando e cantando<br />

por toda a noite.<br />

As fogueiras são a principal maneira<br />

com que este dia é celebrado em<br />

Israel e na Diáspora, tanto por ju<strong>de</strong>us<br />

religiosos quanto pelos seculares. O<br />

fogo representa a conversão do material<br />

em energia, similar a um conceito<br />

cabalístico <strong>de</strong> faíscas <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>, inerentes<br />

ao mundo material.<br />

Durante a Contagem do Omer não<br />

se celebram casamentos ou outras festas,<br />

sendo que muitos costumam realizá-los<br />

em datas comemorativas como:<br />

Rosh Cho<strong>de</strong>sh (início do mês), Iom<br />

Haatsmaut (Dia da In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><br />

Israel) e Iom Ierushalaim (Dia da Reunificação<br />

<strong>de</strong> Jerusalém) - tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

do costume local. Isto porque, no<br />

século II E.C, no período entre Pessach<br />

e Shavuot, Bar Kochba e os discípulos<br />

<strong>de</strong> Rabbi Akiva sofreram uma grave<br />

<strong>de</strong>rrota em sua rebelião contra os romanos.<br />

O Talmud (Ievamot 62b) <strong>de</strong>screve<br />

este episódio não como uma <strong>de</strong>rrota<br />

militar, mas sim como uma epi<strong>de</strong>mia<br />

que irrompeu entre os soldados<br />

<strong>de</strong> Bar Kochba. Seja como for, 24 mil<br />

dos jovens seguidores <strong>de</strong> Rabbi Akiva<br />

per<strong>de</strong>ram a vida. Por este motivo, este<br />

período <strong>de</strong> sete semanas é marcado por<br />

luto parcial.<br />

Mas uma exceção à regra é Lag Ba<br />

Omer, a qual merece especial <strong>de</strong>staque.<br />

A palavra Lag, em hebraico, é formada<br />

por duas letras, lamed e guimel, cujo<br />

valor numérico (cada letra do alfabeto<br />

hebraico tem um valor) é 33. Portanto,<br />

Lag BaOmer significa o 33º dia da<br />

Contagem do Omer. Neste dia (o qual<br />

observamos até hoje), segundo a tradição,<br />

aconteceram alguns fatos muito<br />

significativos para o Povo Ju<strong>de</strong>u:<br />

1) O maná, alimento vindo dos<br />

céus e que alimentou o povo durante<br />

a travessia do <strong>de</strong>serto, começou a cair<br />

neste dia;<br />

2) A epi<strong>de</strong>mia que dizimava os jovens<br />

discípulos <strong>de</strong> Rabbi Akiva, cessou<br />

completamente;<br />

3) Rabbi Shimon Bar Yochai, autor<br />

do Zôhar - obra máxima da mística judaica<br />

- faleceu neste dia, pedindo para<br />

que sua passagem não fosse marcada por<br />

tristeza e <strong>de</strong>solação. Muito pelo contrário:<br />

exortou a seus discípulos que comemorassem<br />

esta data com alegria e júbilo.<br />

E é justamente <strong>de</strong>sta última personagem<br />

que provém os costumes <strong>de</strong> Lag<br />

BaOmer. Durante o domínio romano, os<br />

ju<strong>de</strong>us foram proibidos <strong>de</strong> estudar a<br />

Torá sob pena <strong>de</strong> morte. Rabi Shimon<br />

Bar Yochai, por sua vez, teve <strong>de</strong> refugiar-se<br />

em uma caverna nas montanhas<br />

da Galiléia, on<strong>de</strong> permaneceu por 13<br />

anos. Seus discípulos, para po<strong>de</strong>rem se<br />

encontrar com ele tinham <strong>de</strong> sair aos<br />

campos carregando arcos e flechas, fingindo<br />

que iam caçar. Desta forma, con-<br />

seguiam enganar os soldados romanos<br />

e continuavam a receber os ensinamentos<br />

<strong>de</strong> seu mestre. Por isso, em Israel,<br />

o feriado é comemorado com piqueniques,<br />

fogueiras e concursos e brinca<strong>de</strong>iras<br />

<strong>de</strong> arco e flecha para crianças,<br />

sendo que muitos visitam seu túmulo<br />

em Meron, tendo as fogueiras como tributo<br />

à sua memória. Uma outra explicação<br />

para o arco é que, segundo a lenda,<br />

o arco-íris, que não apareceu durante<br />

toda a sua vida, voltou a brilhar<br />

suas cores no céu neste dia. No dia da<br />

morte <strong>de</strong> Rabbi Shimon Bar Yochai ele<br />

ensinou seus estudantes muitas das lições<br />

escondidas da Torá. Neste dia o<br />

sol não se pôs e o dia não terminou<br />

até que ele não terminasse <strong>de</strong> ensinar<br />

tudo que D-us lhe permitira revelar.<br />

Mil anos <strong>de</strong>pois, durante as Cruzadas<br />

na França e Alemanha, comunida<strong>de</strong>s<br />

judaicas completas foram mortas<br />

durante o período do Omer. E nos anos<br />

<strong>de</strong> 1648 e 1649, Bogdan Chmielnitzki<br />

li<strong>de</strong>rou os cossacos russos no ataque e<br />

assassinato <strong>de</strong> 300 mil ju<strong>de</strong>us.<br />

O costume <strong>de</strong> Lag BaOmer das crianças<br />

brincarem com arcos e flechas <strong>de</strong><br />

brinquedo, recorda-nos <strong>de</strong> quando os<br />

romanos reinavam sobre a Terra <strong>de</strong> Israel.<br />

Os romanos não permitiam o estudo<br />

da Torá. Todos que fossem pegos<br />

estudando a Torá eram mortos. Rabbi<br />

Akiva não parou <strong>de</strong> ensinar a Torá. Ele<br />

dizia: “Ju<strong>de</strong>us sem a Torá são como<br />

peixes fora d’água! Devemos continuar<br />

estudando a Torá!”. Ele e seus estudantes<br />

se disfarçavam <strong>de</strong> caçadores, carregavam<br />

arcos e flechas no meio das<br />

florestas, e estudavam a Torá, às vezes<br />

escondidos em cavernas.<br />

Em várias comunida<strong>de</strong>s, garotos<br />

que ainda não tiveram seus cabelos<br />

cortados e atingiram a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 3 anos<br />

tem seu primeiro corte <strong>de</strong> cabelo em<br />

Lag BaOmer. Na Terra <strong>de</strong> Israel, muitas<br />

pessoas levam seus filhos a Meron,<br />

o local on<strong>de</strong> Rabbi Shimon Bar<br />

Iochai está enterrado, e lá cortam seus<br />

cabelos pela primeira vez.

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