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procurar alguma coisa. Quem o visse ali parado, naquela atitude de ansi<strong>os</strong>a<br />
investigação, teria curi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de em saber o que se passava nas circunvoluções<br />
do seu cérebro <strong>selva</strong>gem. Estaria ele à procura de Tarzan? Seria Tantor<br />
capaz de avaliar o serviço que o homem-macaco lhe prestara? Sobre este<br />
último ponto não podia haver dúvi<strong>da</strong>, mas igual certeza não era p<strong>os</strong>sível<br />
na verificação d<strong>os</strong> sentiment<strong>os</strong> do elefante para com o seu salvador. A gratidão<br />
estaria dentro <strong>da</strong>s p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>des afetivas do gigante <strong>da</strong> floresta? Teria<br />
sido ele capaz de arriscar a vi<strong>da</strong> para salvar o amigo ou seria capaz de compreender<br />
o perigo que este correra para impedir a sua morte?<br />
O leitor certamente duvi<strong>da</strong>rá disso. Aliás, mesmo quem conhece<br />
bem <strong>os</strong> elefantes poderia m<strong>os</strong>trar a mesma dúvi<strong>da</strong>. Ingleses que têm caçado<br />
muito na índia com elefantes dirão que nunca viram nenhum desses<br />
animais correr em socorro de um homem, por mais amigo que este sempre<br />
se tivesse m<strong>os</strong>trado dele. É, portanto improvável que Tantor jamais se tivesse<br />
disp<strong>os</strong>to a vencer o medo que lhe inspiravam <strong>os</strong> negr<strong>os</strong> para acudir<br />
a Tarzan.<br />
A gritaria d<strong>os</strong> <strong>selva</strong>gens em fúria, que na aldeia ululavam diante de<br />
Tarzan, chegava a<strong>os</strong> ouvid<strong>os</strong> do elefante e já o fazia ro<strong>da</strong>r sobre as patas em<br />
preparativ<strong>os</strong> de uma nova fuga. Mas alguma coisa o detinha e sempre com<br />
a tromba ergui<strong>da</strong> continuou a an<strong>da</strong>r à ro<strong>da</strong>, <strong>da</strong>ndo um grito agudo.<br />
Em segui<strong>da</strong> parou e ficou atento a escutar.<br />
Na aldeia d<strong>os</strong> negr<strong>os</strong>, onde a autori<strong>da</strong>de severa de Mbonga aquietara<br />
a sua gente, o grito de Tantor não foi ouvido pel<strong>os</strong> <strong>selva</strong>gens. Mas a Tarzan<br />
d<strong>os</strong> Macac<strong>os</strong> não passou despercebido e o prisioneiro compreendeu bem<br />
o que ele significava.<br />
Os negr<strong>os</strong> conduziram o prisioneiro para uma cabana onde, bem<br />
guar<strong>da</strong>do, ele ficaria à espera <strong>da</strong> orgia noturna que lhe deveria anunciar a<br />
morte sobrecarrega<strong>da</strong> de torment<strong>os</strong>. Ao ouvir o grito distante de Tantor,<br />
Tarzan respondeu com um brado terrível que repercutiu pela aldeia, levando<br />
o medo a<strong>os</strong> negr<strong>os</strong> superstici<strong>os</strong><strong>os</strong> e fazendo com que <strong>os</strong> seus guar<strong>da</strong>s<br />
se afastassem atemorizad<strong>os</strong> dele, apesar de seus braç<strong>os</strong> se acharem soli<strong>da</strong>mente<br />
amarrad<strong>os</strong>.<br />
E enquanto o rapaz parava imóvel procurando ouvir alguma coisa,<br />
<strong>os</strong> <strong>selva</strong>gens se conservavam a distância com <strong>os</strong> chuç<strong>os</strong> em riste. Instantes<br />
após, um ronco longínquo respondeu ao grito de Tarzan, que evidentemente<br />
satisfeito pr<strong>os</strong>seguiu no seu caminho para a cabana onde o iam encarcerar.<br />
A tarde foi-se passando e o homem-macaco ia percebendo na aldeia<br />
a azáfama d<strong>os</strong> preparativ<strong>os</strong> para a festa noturna. Pela porta <strong>da</strong> cabana via as<br />
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