Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ficha sumário bibliografia<br />
tema 2<br />
eu mesmo quiser sustentar minha crença de que as videiras <strong>da</strong> chácara de meu avô têm uvas<br />
maduras, basta ir até o local, verificá-las e atestar assim a minha opinião. As observações parecem<br />
ter um poder brutal, capaz de nocautear o descrente que com ela se confronte: o valor <strong>da</strong>s<br />
testemunhas oculares, por exemplo, é óbvio para a aferição de responsabili<strong>da</strong>des em tribunais,<br />
e se registros filma<strong>do</strong>s de uma ação, ou um número de testemunhas idôneas asseverar a culpabili<strong>da</strong>de<br />
de um acusa<strong>do</strong>, ele será considera<strong>do</strong> culpa<strong>do</strong>, independentemente <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de de<br />
sua negação. Lembremos a expressão: “Contra fatos não há argumentos”, queren<strong>do</strong> isso dizer<br />
que não importa que evidências possam ser aduzi<strong>da</strong>s, se as observações indicarem uma direção,<br />
na<strong>da</strong> há que possa contradizê-las . Mas seria mesmo assim?<br />
Uma hipótese subjacente à confiança absoluta no poder fun<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> observação repousa<br />
na idéia de que existem observações puras de fatos puros. Nesses termos, o procedimento de<br />
checagem e eventual chancela de nossas crenças é direto, bastan<strong>do</strong> que elas sejam coteja<strong>da</strong>s<br />
com as observações, isto é, com nossa experiência – aqui entendi<strong>da</strong> como o conjunto <strong>da</strong>s observações<br />
potenciais de certa comuni<strong>da</strong>de. As observações seriam, desse mo<strong>do</strong>, em condições<br />
normais, uma pedra de toque praticamente indiscutível para a fun<strong>da</strong>mentação imparcial de<br />
nosso universo cognitivo, posto que haveria uma separação clara e radical entre as afirmações<br />
que estamos consideran<strong>do</strong> e as observações que são utiliza<strong>da</strong>s para avaliá-las. No entanto,<br />
embora sedutora e aparentemente próxima ao senso comum, essa separação profun<strong>da</strong> entre<br />
observação e crenças está longe de ser evidente e, ao menos no cenário corrente <strong>da</strong> epistemologia,<br />
é francamente questiona<strong>da</strong>, como veremos a seguir.<br />
2.1 – A tese <strong>da</strong> impregnação/contaminação teórica <strong>da</strong><br />
observação<br />
Entre os expoentes <strong>da</strong> crítica recente ao postula<strong>do</strong> <strong>da</strong> independência ou pureza <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />
observacionais encontramos nomes como os <strong>do</strong>s filósofos Norwood R. Hanson (l971) e<br />
Thomas S. Kuhn (1962/2003) que desenvolveram em alguns textos hoje clássicos – seguin<strong>do</strong><br />
uma longa tradição filosófica cujo expoente é o físico, historia<strong>do</strong>r <strong>da</strong> ciência e filósofo Pierre<br />
Duhem (1906) –, a chama<strong>da</strong> “tese <strong>da</strong> contaminação/impregnação teórica <strong>da</strong> observação” e<br />
expuseram o impacto que isso teria para o processo de escolha de teorias científicas. Esses<br />
autores identificam o conteú<strong>do</strong> teórico de constatações bem estabeleci<strong>da</strong>s <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong><br />
17<br />
TEMAS<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
<strong>Unesp</strong>/Redefor • Módulo I • Disciplina 02