Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
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ficha sumário bibliografia<br />
tema1<br />
Um exemplo bem conheci<strong>do</strong> de elaboração de um tal sistema foi <strong>da</strong><strong>do</strong> por Johannes Kepler<br />
(1571-1630) na explicação <strong>da</strong> órbita elíptica <strong>do</strong> movimento de Marte. Até o século XVII, o<br />
movimento <strong>do</strong>s astros era entendi<strong>do</strong> como expressão <strong>da</strong> perfeição divina e considera<strong>do</strong> circular.<br />
Como ressalta Norwood R. Hanson (1958), Kepler, na tentativa de verificar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />
registra<strong>do</strong>s por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte, encontrou dificul<strong>da</strong>des<br />
aparentemente insuperáveis até o momento em que elaborou um novo sistema explicativo.<br />
Ao aban<strong>do</strong>nar os pressupostos geocêntricos <strong>do</strong> sistema explicativo ptolomaico, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong><br />
em seu lugar a cosmologia copernicana, Kepler propôs um novo conjunto de hipóteses que<br />
fun<strong>da</strong>mentou um sistema heliocêntrico, a partir <strong>do</strong> qual os <strong>da</strong><strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s por Ticho Brahe<br />
puderam ser compreendi<strong>do</strong>s e explica<strong>do</strong>s. Além disso, a partir desse novo sistema, a previsão<br />
<strong>da</strong>s posições de Marte pôde ser efetivamente realiza<strong>da</strong> e empiricamente corrobora<strong>da</strong>.<br />
Figura 2 – Tycho Brahe<br />
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tycho_brahe<br />
A habili<strong>da</strong>de de construir sistemas explicativos, racionalmente justifica<strong>do</strong>s, e em certos<br />
casos, empiricamente corrobora<strong>do</strong>s distinguiria, nessa perspectiva, o conhecimento <strong>da</strong> mera<br />
opinião: o, conhecimento, assim, seria crença ver<strong>da</strong>deira racionalmente justifica<strong>da</strong> no interior<br />
de um sistema explicativo.<br />
A concepção denomina<strong>da</strong> sistêmica <strong>do</strong> conhecimento é apenas uma <strong>da</strong>s várias tentativas de<br />
enfrentar as dificul<strong>da</strong>des levanta<strong>da</strong>s pelo problema <strong>do</strong> Teeteto. Alternativas a esta concepção são<br />
ofereci<strong>da</strong>s, na antigui<strong>da</strong>de, por céticos como Crátilo (século V a.C.), por filósofos relativistas,<br />
como Protágoras (480 a 410 a.C.) e, na contemporanei<strong>da</strong>de, por Richard Rorty (1931-2007),<br />
entre outros. Mesmo com as diferentes perspectivas a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s por esses filósofos, entendemos<br />
que o problema <strong>da</strong> distinção entre o conhecimento e a opinião ver<strong>da</strong>deira ain<strong>da</strong> se coloca. No<br />
caso <strong>da</strong> proposta sistêmica, como saber se um sistema será adequa<strong>do</strong> para explicar racionalmente<br />
novos eventos? Que critério de relevância a<strong>do</strong>taremos para isso? Afinal, a história <strong>da</strong><br />
ciência mostra que, não por acaso, o sistema ptolomaico, apesar de equivoca<strong>do</strong>, perdurou por<br />
muitos séculos. A dificul<strong>da</strong>de de explicitar um critério de relevância, segun<strong>do</strong> o qual uma explicação<br />
possa ser considera<strong>da</strong> racionalmente justifica<strong>da</strong>, traz de volta o problema <strong>do</strong> Teeteto,<br />
que permanece não resolvi<strong>do</strong>.<br />
7<br />
TEMAS<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
<strong>Unesp</strong>/Redefor • Módulo I • Disciplina 02