Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ficha sumário bibliografia<br />
tema 4<br />
Nesse contexto, a ação é concebi<strong>da</strong> como o efeito corporal, externo, <strong>da</strong> intenção mental, interna,<br />
que atuaria como causa <strong>da</strong> ação poden<strong>do</strong> compor redes intencionais de eventos. Quan<strong>do</strong><br />
escovamos os dentes de manhã antes de sair para o trabalho, por exemplo, a ação de escovar os<br />
dentes seria apenas uma parte de uma longa sucessão de ações intencionais voluntárias anteriores:<br />
querer comer, beber, estu<strong>da</strong>r, trabalhar, aju<strong>da</strong>r a família, dentre muitas outras.<br />
Embora a <strong>do</strong>utrina <strong>da</strong> anteriori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> conhecimento em relação à ação tenha si<strong>do</strong> <strong>do</strong>minante<br />
na filosofia até recentemente, ela é objeto de questionamento na contemporanei<strong>da</strong>de.<br />
Começa a tomar forma a hipótese de que ação e conhecimento se encontram intrinsecamente<br />
conecta<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que a sua separação acarreta conseqüências ain<strong>da</strong> pouco analisa<strong>da</strong>s pela<br />
tradição filosófica. Uma <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong> separação entre conhecimento e ação diz respeito<br />
à distinção entre “saber que” e “saber como” (Ryle, 1949/2000). O primeiro caracteriza<br />
o saber cumulativo, proposicional, abstrato, que envolve a capaci<strong>da</strong>de de produzir conceitos e<br />
de teorizar independente <strong>da</strong> ação. O segun<strong>do</strong> caracteriza a habili<strong>da</strong>de incorpora<strong>da</strong> e situa<strong>da</strong><br />
de aperfeiçoar mo<strong>do</strong>s de agir adequa<strong>do</strong>s às condições ambientais na resolução de problemas.<br />
Quan<strong>do</strong> realizamos qualquer ação que envolve conhecimento, Ryle enfatiza, não fazemos<br />
duas coisas: primeiro pensamos e depois pomos o pensamento em prática, mas agimos habili<strong>do</strong>samente<br />
pura e simplesmente. Nesse senti<strong>do</strong>, a ação que envolve conhecimento incorpora<br />
procedimentos especiais, mas não necessariamente antecedentes teórico-proposicionais. Mas em<br />
que consistem tais procedimentos especiais? Eles envolvem práticas cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sas, que visam o<br />
aperfeiçoamento de hábitos através <strong>da</strong> aprendizagem focaliza<strong>da</strong> na percepção e superação de<br />
erros.<br />
Para Ryle, estamos tão habitua<strong>do</strong>s a explicar as ações habili<strong>do</strong>sas recorren<strong>do</strong> à tradição dualista,<br />
que a crença de que o pensamento resulta de uma razão ou mente substancialmente distinta<br />
<strong>do</strong> corpo que as antecipam ‘contagiou’ nossa visão de mun<strong>do</strong>, nosso autoconhecimento e<br />
hábitos lingüísticos. Ele argumenta que, mesmo que desconheçamos muitos aspectos <strong>do</strong>s processos<br />
envolvi<strong>do</strong>s na ação habili<strong>do</strong>sa e sua relação com as aptidões mentais, podemos admitir<br />
que ela, em geral, não ocorre como conseqüência de um coman<strong>do</strong> prévio <strong>da</strong><strong>do</strong> pela mente. A<br />
ação habili<strong>do</strong>sa pode ser adequa<strong>da</strong>mente compreendi<strong>da</strong> como uma rede de disposições adquiri<strong>da</strong>s<br />
ao longo de um processo de aprendizagem (individual e coletiva) que não se esgota no<br />
momento de sua realização, mas possui uma história evolutiva.<br />
40<br />
TEMAS<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
<strong>Unesp</strong>/Redefor • Módulo I • Disciplina 02