Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Teoria do Conhecimento d02 - Acervo Digital da Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ficha sumário bibliografia<br />
Figura 7 – David Hume<br />
http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Hume<br />
tema 3<br />
Antes de apresentar o raciocínio abdutivo, cabe ressaltar um problema inerente ao raciocínio<br />
indutivo que já foi levanta<strong>do</strong> por muitos filósofos, especialmente por David Hume (1973). Ele<br />
argumenta que boa parte de nosso raciocínio depende de conclusões que esboçamos a partir de<br />
experiências limita<strong>da</strong>s e que servem como guias práticos para experiências futuras. Contu<strong>do</strong>,<br />
ele argumenta que não temos garantias lógicas de que o futuro será como o passa<strong>do</strong>. Ain<strong>da</strong> que<br />
estejamos justifica<strong>do</strong>s em nossas generalizações <strong>do</strong> ponto de vista psicológico ou pragmático,<br />
o mesmo não ocorre em termos de necessi<strong>da</strong>de lógica. Assim, por exemplo, quan<strong>do</strong> colocamos<br />
água para ferver, temos a expectativa de que ela ferva quan<strong>do</strong> sua temperatura alcance 100<br />
° centígra<strong>do</strong>s. Mas, se vamos a La Paz, onde nunca estivemos antes, e realizamos o mesmo<br />
procedimento para a fervura <strong>da</strong> água, com as mesmas expectativas que temos em São Paulo,<br />
veremos nossos esforços frustra<strong>do</strong>s porque a água ferve a 80°. Isto ocorre, como sabemos agora,<br />
porque em grandes altitudes a temperatura de fervura <strong>da</strong> água se altera. Este exemplo permite<br />
perceber que nossas generalizações indutivas, ain<strong>da</strong> que justifica<strong>da</strong>s na perspectiva psicológica,<br />
precisam constantes ajustes e não podem ser considera<strong>da</strong>s permanentemente justifica<strong>da</strong>s: afinal,<br />
não temos garantia lógica que justifique a crença sobre a necessi<strong>da</strong>de de a natureza se<br />
comportar no futuro como se comportou no passa<strong>do</strong>.<br />
A história <strong>da</strong> ciência está repleta de exemplos de generalizações que tiveram que ser aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s<br />
porque se descobriam casos particulares não cobertos por elas. O mais célebre exemplo,<br />
já apresenta<strong>do</strong> no Tópico 1.2 <strong>do</strong> Tema 1, é o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> geocentrismo.<br />
Em suma, de acor<strong>do</strong> com o MND, as explicações científicas se fun<strong>da</strong>mentam no raciocínio<br />
dedutivo partin<strong>do</strong> de leis gerais e de condições iniciais bem estabeleci<strong>da</strong>s, o que possibilita a<br />
conclusão sobre o evento a ser explica<strong>do</strong>. Essa explicação, por sua vez, pode ser corrobora<strong>da</strong><br />
através <strong>da</strong> indução, mas tal ativi<strong>da</strong>de precisa ser constantemente verifica<strong>da</strong>, consideran<strong>do</strong>-se<br />
a possibili<strong>da</strong>de de erros. As teses científicas, mesmo quan<strong>do</strong> justifica<strong>da</strong>s, podem vir a ser falsea<strong>da</strong>s<br />
à luz de novas descobertas (a discussão sobre o falibilismo será retoma<strong>da</strong> na disciplina<br />
Filosofia <strong>da</strong> Ciência).<br />
Se, por um la<strong>do</strong>, a dedução e a indução constituem mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de justificação cognitiva,<br />
o desenvolvimento <strong>do</strong> conhecimento parece exigir algo além de tais mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des. Isso porque<br />
26<br />
TEMAS<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
<strong>Unesp</strong>/Redefor • Módulo I • Disciplina 02