A visão de relacionamentos afetivos e conjugalidade em
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Os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> e mulher construídos pelo capitalismo, segundo Luz<br />
(1982), eram, no caso do hom<strong>em</strong>, “um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ser humano racional, forte e,<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po, egoísta e disciplinador” (p. 16), enquanto que, no caso da<br />
mulher, “era <strong>de</strong> ‘uma santa’, aquela que contrapõe a frieza da or<strong>de</strong>m estatal:<br />
sensível, <strong>em</strong>otiva, generosa e imaginativa, simples e pura (s<strong>em</strong> <strong>de</strong>sejos), fiel e<br />
honesta” (p. 16). Estes papéis tomaram forma com a i<strong>de</strong>ologia romântica da<br />
“paixão”, do amor “eterno”, “verda<strong>de</strong>iro” e “único”, próprio do casamento.<br />
Para Vaitsman (1994), a família conjugal mo<strong>de</strong>rna estruturou-se a partir <strong>de</strong><br />
uma relação hierárquica entre homens e mulheres, <strong>de</strong> uma di<strong>visão</strong> sexual do<br />
trabalho que impedia o exercício da liberda<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre os<br />
sexos. Assim, <strong>em</strong>bora o individualismo burguês tenha pregado como princípio<br />
um conjunto <strong>de</strong> valores universalistas, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> indivíduos do<br />
sexo masculino e f<strong>em</strong>inino acabou por legitimar relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre<br />
homens e mulheres, tanto na esfera pública quanto na esfera privada.<br />
No século XVIII na Europa, a concepção <strong>de</strong> indivíduo da burguesia, pelo<br />
menos <strong>em</strong> tese, estava diretamente relacionada à liberda<strong>de</strong> e à ausência <strong>de</strong><br />
qualquer tipo <strong>de</strong> restrição sobre as potencialida<strong>de</strong>s humanas. Contudo,<br />
segundo Vaitsman (1994), na prática, na i<strong>de</strong>ologia mo<strong>de</strong>rna do século XVIII<br />
europeu a humanida<strong>de</strong> foi nomeada como um substantivo masculino. No<br />
casamento e na família mo<strong>de</strong>rnos, a liberda<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>, <strong>de</strong> modo geral,<br />
transformou a diferença entre os sexos <strong>em</strong> dominação.<br />
Deste modo, até o final do século XVIII, quando se falava <strong>de</strong> amor no<br />
casamento, tratava-se <strong>de</strong> um amor entre companheiros que estava mais ligado<br />
às responsabilida<strong>de</strong>s mútuas <strong>de</strong> maridos e esposas pelos cuidados da família.<br />
A promoção do amor, como aponta Gid<strong>de</strong>ns (2003), tornou-se<br />
predominant<strong>em</strong>ente uma tarefa das mulheres. Nas palavras <strong>de</strong>ste autor, “as<br />
idéias sobre o amor romântico estavam claramente associadas à subordinação<br />
da mulher ao lar e ao seu relativo isolamento do mundo exterior” (Gid<strong>de</strong>ns,<br />
2003, p.54).<br />
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