A visão de relacionamentos afetivos e conjugalidade em
A visão de relacionamentos afetivos e conjugalidade em
A visão de relacionamentos afetivos e conjugalidade em
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Para o autor, nosso passado continua presente, isto é, ele não <strong>de</strong>saparece para dar<br />
lugar ao mo<strong>de</strong>rno, mas, antes, convive com ele, permanecendo, no interior dos<br />
sujeitos <strong>de</strong> forma invisível, <strong>em</strong> níveis distintos <strong>de</strong> consciência, gerando conflitos<br />
entre o que foi aprendido ao longo da vida e aquilo que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> dita como<br />
novo e i<strong>de</strong>al. Figueira (1987) usa, então, a expressão “mo<strong>de</strong>rnização reativa” para<br />
se referir ao que ele consi<strong>de</strong>ra uma falsa mo<strong>de</strong>rnização, tendo <strong>em</strong> vista, que ela<br />
está centrada apenas no conteúdo, mas não na forma, isto é, nas regras sobre<br />
como <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os agir ou nos comportar. Para ele, a mo<strong>de</strong>rnização verda<strong>de</strong>ira<br />
implicaria <strong>em</strong> uma transformação no interior mesmo do sujeito, da regra mesmo a<br />
ser por ele seguida e não apenas no seu conteúdo. Para fazer uso <strong>de</strong> um ex<strong>em</strong>plo<br />
por ele mencionado, uma mudança na forma seria uma mulher escolher se quer<br />
casar virg<strong>em</strong> ou não, e simplesmente substituir com regra supostamente “mo<strong>de</strong>rna”<br />
que estabelece que uma mulher não <strong>de</strong>ve mais se casar virg<strong>em</strong>.<br />
Com esse processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, ocorreu também um processo <strong>de</strong><br />
nuclearização e privatização das famílias brasileiras. Foi introduzido nelas um i<strong>de</strong>al<br />
<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, que transformou as relações hierárquicas, <strong>em</strong> que homens e<br />
mulheres eram percebidos como intrinsecamente diferentes, <strong>em</strong> relações<br />
igualitárias, <strong>em</strong> que os indivíduos são iguais e, portanto, têm direitos iguais. Po<strong>de</strong>-se<br />
observar, no entanto, que, apesar da existência <strong>de</strong>ste discurso <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
funções entre os sexos, o que se verifica na prática é, na verda<strong>de</strong>, uma disparida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> papéis (FIGEUEIRA, 87).<br />
As novas i<strong>de</strong>ologias cont<strong>em</strong>porâneas, como o igualitarismo e o individualismo,<br />
entram <strong>em</strong> conflito com os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> família tradicionais, b<strong>em</strong> como com as<br />
diferenças ainda existentes entre os sexos, que parec<strong>em</strong> estar muito enraizadas <strong>em</strong><br />
nossa cultura e que, assim, ainda permanec<strong>em</strong>. Estas questões po<strong>de</strong>m ser<br />
observadas nos resultados dos estudos <strong>de</strong>senvolvidos por Jablonski (2007) com<br />
homens e mulheres <strong>de</strong> classe média. Neles, o autor aponta, entre outras coisas,<br />
que “ambos, após se tornar<strong>em</strong> pais e mães, adotaram posturas mais tradicionais no<br />
que a tange seus papéis parentais e <strong>em</strong> suas divisões <strong>de</strong> trabalho doméstico,<br />
apesar <strong>de</strong> possíveis atitu<strong>de</strong>s igualitárias anteriores” (p.220). Em sua opinião, este<br />
discurso <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> só v<strong>em</strong> contribuir para aumentar os conflitos entre os<br />
cônjuges, porque cria expectativas para o casamento que, muitas vezes, não se<br />
48