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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ...

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sobrevida das velhas metrópoles, ainda forte em seus muitos matizes primitivos,<br />

receberia o surrealismo e o faria prosperar, afinal.<br />

No Brasil, país que apresentara uma forte resistência aos ideais surrealis­<br />

tas – ideais estes que feriam sua moral conservadora e positivista nas suas mais<br />

profundas raízes (dos outros), surgiria um poeta­xamã, pronto para fazer sua re­<br />

volução pessoal na literatura brasileira, fazendo de sua poesia o tambor mágico<br />

que o faria cruzar céu e inferno, carregando o poder divino da cura xamânica pela<br />

palavra.<br />

Roberto Piva não esteve sozinho nessa empreitada. Fora nutrido pelos he­<br />

róis martirizados pelo ideal socialista, pelos defensores do amor louco de Paris e<br />

aqueles que fundiram sua mística barroca e indígena ao ideal cosmopolita do sur­<br />

realismo, pelos beats santificados pela música e pela viagem interior. E, clara­<br />

mente, pelos pioneiros da revolução surrealista no Brasil, como Jorge de Lima,<br />

criador de cosmos através do caos da palavra.<br />

Em visita ao Brasil, Jean­Paul Sartre, o arqui­vilão de André Breton e seus<br />

companheiros, declarara que “o Brasil é um país surrealista” (frase mais elegante<br />

do que “o Brasil não é um país sério”, do General de Gaulle) ao descobrir que o<br />

motorista de sua Kombi era também soldado da polícia militar e contrabandista.<br />

Esta visão pejorativa do surrealismo, que o quer sinônimo de tudo o que for ama­<br />

lucado e sem sentido, para ter sido o adotado pela intelligentsia nacional, que var­<br />

rera todas as tentativas surreais no país para debaixo do tapete.<br />

Da primeira obra, Paranóia, até uma das suas últimas publicações, Ciclo­<br />

nes, Roberto Piva assumira uma posição mística para sua obra, fundindo em seu<br />

cadinho de alquimista da selva os eflúvios da geração beat, a psicodelia, a magia<br />

dita “primitiva” e a posição combativa dos surreais.<br />

A proposta desta pesquisa é apresentar as trilhas traçadas por essa aven­<br />

tura, culminando na fusão experimental que é a poesia de Roberto Piva, um poeta<br />

que finalmente tocara o espírito daquele homem das cavernas, ou talvez mesmo<br />

do bisão aprisionado por suas tintas.<br />

A missão da poesia é criar um mundo novo a cada poema. E, para haver a<br />

ordenada harmonia do cosmos, é preciso que se propague o caos.<br />

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