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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ...

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Richard Madoc foi invadido por idéias. Sua mente pululava de novas histó­<br />

rias, roteiros, romances, filmes, todos ao mesmo tempo, acometendo o escritor<br />

“agraciado” por um desespero insuportável, uma necessidade tão premente de<br />

escrever tudo o que vinha a sua mente em frangalhos que, no meio da rua, passa<br />

a escrever nas paredes, com os próprios dedos, em letras de sangue, até que<br />

estes se reduzissem a tocos sangrentos e deformados. Até que Calíope fosse<br />

restituída e sua mente, de repente, se esvaziasse por completo, as idéias o aban­<br />

donando. Com isso, “Calíope” se torna a visão pervertida sobre a “exaltação às<br />

musas”, que compõem a introdução dos poemas épicos. Richard Madoc não pe­<br />

diu a permissão de Calíope para que pudesse contar as suas histórias; ele sim­<br />

plesmente invadiu a fonte e forçou uma inspiração que lhe era vedada.<br />

“Calíope” é o exato oposto do que Gaiman quer mostrar ao inserir William<br />

Shakespeare na saga de Sandman. Como foi visto acima, num trecho da história<br />

“Homens de boa fé”, editada no volume Casa de bonecas, o Sonho se aproxima<br />

em pessoa do poeta, que se considera um fracasso, e lhe oferece o acesso ao<br />

seu reino, uma vez que reconhecera nele um instrumento ideal para seus desíg­<br />

nios. Shakespeare torna­se, assim, um personagem de destaque na série, ainda<br />

que só apareça três vezes ao longo da saga. Sua modesta e coadjuvante apari­<br />

ção em “Homens de boa­fé” é a primeira delas.<br />

A segunda acontece em “Sonho de uma noite de verão”, editada em Terra<br />

dos sonhos, história ganhadora do World Fiction Awards de 1991 na categoria de<br />

melhor “short fiction”, sendo o primeiro gibi a ganhar tal prêmio. Nessa história fica<br />

claro, então, que o misterioso patrono de William Shakespeare lhe encomendara<br />

duas peças específicas, para pagar o dom que fora concedido ao dramaturgo: a<br />

primeira delas seria Sonho de uma noite verão, e é em torno de sua primeira en­<br />

cenação, realizada ao ar livre, que o conto se desenrola. Acontece que o público<br />

que chega para assisti­la, os convidados pessoais do Sonho, são ninguém mais,<br />

ninguém menos, os próprios personagens da peça – Oberon, rei das fadas, e sua<br />

esposa, Titânia, acompanhados por Puck e todo o seu séquito fantástico. Um mi­<br />

se en abime de proporções fantásticas, onde os mais irreais personagens podem<br />

assistir a sua própria história contada por mortais, rendendo­se à estranha magia<br />

do teatro, embevecidos mesmo ao questionar a fidelidade da farsa encenada em<br />

relação aos “fatos reais”. Diz Puck: “isso é magnífico... e é verdade! Nunca acon­<br />

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