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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ...

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e recriando um mundo novo numa poesia viva, emancipada, a criação verbal o­<br />

pondo­se à natureza viva, buscando assim uma autonomia demiúrgica através de<br />

uma linguagem única, de imagens fortes livres do sentimentalismo modernista,<br />

implodindo a sintaxe de uma maneira próxima à dadaísta. A obra­prima de Huido­<br />

bro, Altazor, é o mais glorioso fruto da aventura creacionista: um poema extenso,<br />

em uma queda vertiginosa, que desenrola uma cosmogonia invertida da lingua­<br />

gem, grandiosa e ainda assim limitada. Enquanto desenvolve­se rumo ao desfe­<br />

cho, a linguagem se purifica de seus excessos, de excrescências, de conectivos,<br />

de pontuações, jogando os espaços em branco, até se esfacelar num canto primi­<br />

tivo, cada vez mais próximo do canto dos pássaros, esvaziado, reduzido ao puro<br />

e simples som, transformado em uma linguagem primordial, adâmica, sagrada e<br />

universal. “O creacionismo é uma vasta operação de limpeza da linguagem, não<br />

só pela formação de um novo sistema de imagens e de uma rede de relações in­<br />

sólitas entre elas, mas também por reformar as leis que regem a estrutura do ver­<br />

so castelhano. Reformar? Mais apropriado seria dizer revolucionar.” (OVIEDO,<br />

2001, 311)<br />

A experiência de Vicente Huidobro não seria o primeiro exemplo de uma<br />

forte influência latino­americana na arte da antiga metrópole; vale a pena lembrar<br />

que Isidore Ducasse, o Conde de Lautréamont, um dos mais importantes precur­<br />

sores do surrealismo, nascera no Uruguai, viajando para a França numa idade em<br />

que sua formação cultural já estaria bem constituída. Apesar disso, José Ortega<br />

denuncia que a memória da presença de Huidobro em Paris, e o papel que cum­<br />

prira em meio às vanguardas, teria sido soterrada, e desconfia­se que isso se de­<br />

va à influência de Pierre Reverdy.<br />

Apesar disso, pelo que se pode depreender do testemunho de Jorge Luis<br />

Borges, a aventura americana do ultraísmo (de influência creacionista), não atraí­<br />

ra os poetas argentinos com a intensidade que poderia se esperar; a própria ex­<br />

periência pessoal de Borges foi um fracasso, e serve para ilustrar o lado de menor<br />

glamour da explosão vanguardista, pelo menos na Espanha. Sua frase final sobre<br />

o assunto não precisa de grandes elucubrações para se fazer entender: “depois<br />

de quase meio século, ainda continuo me esforçando para esquecer esse canhes­<br />

tro período de minha vida.” (BORGES, 2000, p. 70) Funes, o memorioso, não soa­<br />

ria mais infeliz que isso.<br />

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