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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ...

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quer intervenção por parte das faculdades críticas, um monólogo<br />

consequentemente não obstruído pela ligeira inibição, e que era,<br />

tão rigorosamente quanto po sível, parecido com o pensamento<br />

falado. (BRETON, apud KLINGSÖHR­LEROY, 2007, p. 8)<br />

Essa técnica, junto com as de colagem e frottage das artes plásticas (“mis­<br />

tura” de imagens pré­existentes e desconexas, e o efeito obtido pelo “esfregamen­<br />

to” do instrumento de pintura na superfície sobre uma textura específica, nessa<br />

ordem), e também as experiências de “acaso objetivo” na poesia, das quais a<br />

mais conhecida é o “cadáver delicado” (cadavre exquis , nomee que se dá ao po­<br />

ema composto por versos escritos por diversos autores, sem o conhecimento pré­<br />

vio do verso anterior, tendo apenas como referência um mote pré­estabelecido –<br />

e às vezes nem isso), eram maneiras de alçar as forças criadoras ao campo do<br />

inconsciente, de certa forma “neutralizando” a autoria pessoal. Uma “morte do<br />

autor” barthesiana posta à prova na própria prática artística, e que, de certa for­<br />

ma, marca uma espécie de ruptura de André Breton com a idéia de “poeta como<br />

visionário” de Arthur Rimbaud, essas técnicas aproximam esse “não­autor” da<br />

idéia concebida de cogito do sonhador de Gaston Bachelard, anteriormente cita­<br />

da. A dita “frase de despertar”, ou incipit, advinda ao ser despertado do poeta ori­<br />

unda de um estágio mais superficial do sono (o momento de despertar), aproxi­<br />

ma­se da criação que vem através do “devaneio”, o sonho desperto (não­noturno)<br />

no qual, para Bachelard, o indivíduo preserva sua identidade o seu “sujeito”. Já a<br />

criação automática que se segue, “sem qualquer intervenção por parte das facul­<br />

dades críticas (no caso, a consciência ou um super­ego), acaba por estar relacio­<br />

nada ao sonho noturno, onde não é possível a existência de um “sujeito”, de um<br />

cogito, de um “pensamento” que o faça “ser”.<br />

Em tais sonhos o sonhador nunca encontrará uma garantia de<br />

sua existência. E ses sonhos noturnos, e ses sonhos de extre­<br />

ma noite, não podem ser experiências onde se formula um cogi­<br />

to. O sujeito perde neles o seu ser – são sonhos sem sujeito. (...)<br />

Mesmo que se trate de sonhos que, saídos da noite, podem ser<br />

desenvolvidos sobre o fio de uma história, alguém jamais nos di­<br />

rá qual é o ser verdadeiro da personagem arrebatadora? É ele<br />

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