UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ...
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A riqueza vanguardista latinoamericana é gigantesca, calcada numa tradi<br />
ção imagética forte oriunda do choque entre o chiaroscuro do Velho Mundo barro<br />
co e a magia inscrita na pele dos jaguares da cultura précolombiana. Dessa fu<br />
são indissolúvel nasce uma literatura de tintas verdadeiramente genuínas, concre<br />
tizando com clareza o espírito cosmopolita (ou “mestiço”, nas palavras de Sérgio<br />
Lima), tornando a América (e principalmente a América hispânica) a base para<br />
prática surrealista dita autêntica, após a diáspora do grupo que ocorreu com a<br />
irrupção da Segunda Guerra Mundial. Por “autêntica”, deve se levar em conside<br />
ração os critérios estabelecidos por Jean Schuster, membro tardio do movimento,<br />
no texto “A diáspora surrealista na América durante a Segunda Guerra Mundial”:<br />
“a) atividade coletiva, b) duradoura, c) ligada à história contemporânea, d) e isenta<br />
de preocupação proselitista.” (1999, 108) Nesse momento, a América recebia os<br />
principais ativistas do grupo francês, espalhados como a explosão de uma bomba<br />
de fragmentação, confrontandose pessoalmente com o imaginário forte que daria<br />
um novo vigor ao movimento surrealista. Não que a idéia de “cosmopolitismo” te<br />
nha sido recebida de braços abertos do lado de cá do Atlântico, uma vez que a<br />
América Latina, incluindo o Brasil, ainda estava no afã de iníciodeséculo da bus<br />
ca pela identidade nacional – entretanto, e agora excluindo o Brasil, havia um<br />
grande e importante número de artistas que enxergavam mais além do cabresto<br />
institucional, comungando com a idéia defendida pelo poeta mexicano Octavio<br />
Paz, este também um surrealista à sua maneira:<br />
Uma literatura nasce sempre frente a uma realidade histórica e,<br />
freqüentemente, contra e sa realidade. A literatura hispano<br />
americana não é uma exceção à regra. Seu caráter singular resi<br />
de no fato de que a realidade contra a qual se levanta é uma u<br />
topia. No sa literatura é a resposta da realidade real dos ameri<br />
canos à realidade utópica da América. Antes de ter existência<br />
histórica própria, começamos por ser uma idéia européia. Não é<br />
po sível entendernos se se esquece de que somos um capítulo<br />
da histórica das utopias européias. (PAZ, 1996, p. 126127)<br />
A HispanoAmérica não estava estagnada durante o momento em que a<br />
roda da fortuna da crise cultural girava enlouquecidamente como uma máquina<br />
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