14.04.2013 Views

A Semiótica do Regional no Pensamento Geoestratégico Brasileiro

A Semiótica do Regional no Pensamento Geoestratégico Brasileiro

A Semiótica do Regional no Pensamento Geoestratégico Brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CAPÍTULO II: SEMIÓTICA: ANÁLISE E LIMIAR<br />

<strong>Semiótica</strong> é um campo epistêmico multidisciplinar que estuda o conteú<strong>do</strong> simbólico da<br />

realidade social 6 . Devi<strong>do</strong> aos imperativos de comunicação e de organização, as coletividades<br />

humanas erigem estruturas e cadeias de símbolos (ou sig<strong>no</strong>s). Os símbolos podem ser percebi<strong>do</strong>s<br />

de maneira isolada (palavra, imagem, ideias) ou interconectada (textos, filmes, discursos, ideias<br />

complexas). Assim, as estruturas simbólicas são linguagens próprias das realidades social e mental<br />

(2ª e 3ª hipóstases).<br />

Neste Capítulo, tratarei <strong>do</strong>s fundamentos da semiótica e de seu limiar. Antes, contu<strong>do</strong>,<br />

faz-se mister discutir conceitualmente tanto o sig<strong>no</strong>, que é a unidade de análise <strong>do</strong> campo, quanto<br />

sistemas simbólicos.<br />

Para Ferdinand Saussure (2000), to<strong>do</strong> sig<strong>no</strong> constitui estrutura binária entre significante e<br />

significa<strong>do</strong>. Para Charles Peirce (1958), o fundamental acerca de sig<strong>no</strong>s é que estes inexistem sem<br />

agente capaz de interpretá-los, de relacionar a representação ao objeto representa<strong>do</strong>. A figura <strong>do</strong><br />

emissor é, na definição de Peirce (1958), pouco relevante para a constituição de sig<strong>no</strong>s, que,<br />

produtos da sociedade, impactam os indivíduos, por vezes como se tivessem realidade objetiva.<br />

Segun<strong>do</strong> Nietzsche (1995), entretanto, é imprescindível o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo e <strong>do</strong>s mecanismos<br />

de criação de sig<strong>no</strong>s, vez que estes estão imbuí<strong>do</strong>s de considerações de poder que tendem a<br />

perpetuar-se socialmente. Os questionamentos levanta<strong>do</strong>s por Nietzsche foram aborda<strong>do</strong>s<br />

sistematicamente por Michel Foucault (2004b), para quem as dinâmicas de poder seriam inerentes<br />

a qualquer interação humana, sobretu<strong>do</strong> nas ideacionais. Para Umberto Eco (1976), a definição<br />

de sig<strong>no</strong> imporia, ademais, a figura de emissor huma<strong>no</strong>, responsável pela codificação de fatos e<br />

de fenôme<strong>no</strong>s, segun<strong>do</strong> sistemas de referenciação convenciona<strong>do</strong>s socialmente.<br />

É com base em elementos materiais da convencionalidade <strong>do</strong> sig<strong>no</strong> que teóricos<br />

marxistas como Louis Althusser os identificam como partes da superestrutura de <strong>do</strong>minação<br />

social (MATHERON, 1997). A estruturação social <strong>do</strong> poder, ademais, é evidentemente<br />

condicionada por objetos materiais cuja valorização, troca ou estoque dependem de ideias<br />

compartilhadas. Apesar da inegável complexidade na distinção entre idealismo e realismo<br />

filosóficos, cumpre levantar a ponderação de Estevão Martins (2007) de que, se sig<strong>no</strong>s são<br />

incorpora<strong>do</strong>s ao substrato social por mecanismos de poder, também os mecanismos de poder e<br />

os poderosos devem suas existências às culturas de poder de uma sociedade.<br />

6<br />

Relativamente consensual, essa definição genérica é interpretada de maneiras variadas de mo<strong>do</strong> a incorporar<br />

fenôme<strong>no</strong>s diferentes como objeto de estu<strong>do</strong>. Essa discussão será apresentada adiante sob a égide <strong>do</strong> conceito de<br />

limiar semiótico.<br />

8

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!