A Semiótica do Regional no Pensamento Geoestratégico Brasileiro
A Semiótica do Regional no Pensamento Geoestratégico Brasileiro
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O intuito é elaborar um quadro de esquemas cognitivos relaciona<strong>do</strong>s à evolução histórica <strong>do</strong><br />
enlace entre regionalismo e segurança, para, posteriormente, avaliar a influência desses esquemas<br />
na constituição de políticas de atores coletivos e de caracterizações <strong>do</strong> espaço regional.<br />
A leitura transcendental <strong>do</strong> conceito de região que apregoa a história das ideias remete à<br />
opção por trabalhar com perío<strong>do</strong>s temporais longos e varia<strong>do</strong>s. Em virtude da hegemonia, da<br />
filosofia de ciência positivista – que advoga especialização temática e temporal <strong>do</strong> esforço<br />
científico –, faz-se necessário defender a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> longo prazo nesta pesquisa. Nesse senti<strong>do</strong>, o<br />
trabalho de Paul Pierson (2004) apresenta oportunas considerações, ao argumentar, com riqueza<br />
de exemplos, que fenôme<strong>no</strong>s sociais e políticos podem ser motiva<strong>do</strong>s por causas de curto e de<br />
longo prazo.<br />
A estruturação de esquemas cognitivos, como foi dito, deve-se a processo de longo prazo,<br />
permitin<strong>do</strong>-lhes manifestação pulsante. Esquemas cognitivos, vez cria<strong>do</strong>s, podem passar longos<br />
perío<strong>do</strong>s sem gerar efeitos e, repentinamente, ser resgata<strong>do</strong>s pelo nível da agência. A delimitação<br />
<strong>do</strong> horizonte de longo prazo está em consonância, portanto, com a propriedade de histerese <strong>do</strong><br />
habitus apontada por Bourdieu (Opt.cit). Mesmo na ausência de seu impulso original, categorias<br />
simbólicas perpetuam-se <strong>no</strong> substrato intersubjetivo a espera de ser reivindicadas pela<br />
identificação subjetiva e pragmática social.<br />
Para sair <strong>do</strong> nível abstrato, cito o exemplo <strong>do</strong> sig<strong>no</strong> da rivalidade entre Brasil e Argentina,<br />
manipula<strong>do</strong> caótica e seletivamente na narrativa histórica sul-americana, emergin<strong>do</strong> e<br />
submergin<strong>do</strong> como variável de valor constitutivo ao variar-se o contexto de apreciação analítica.<br />
É impossível precisar quan<strong>do</strong> surgiu a mítica da rivalidade entre Brasil e Argentina, assim como é<br />
impossível determinar quan<strong>do</strong> foi superada. Trata-se de construto ideacional que se transforma<br />
conforme muda o contexto pessoal e histórico.<br />
É preciso ter em mente, ademais, a crítica articulada por Quentin Skinner à história das<br />
ideias. Skinner salienta a importância de trabalhar as ideias levan<strong>do</strong>-se em conta seus contextos de<br />
origem (FERES JR, 2005), compon<strong>do</strong> o que, em análise <strong>do</strong> discurso, se entende por Pragmática<br />
Discursiva. Para Skinner, a melhor solução para análises desse tipo seria passar de uma história de<br />
ideias para uma história de autores e conceitos.<br />
Não obstante a crítica de Skinner, sua proposta meto<strong>do</strong>lógica não serve para fundamentar<br />
esta pesquisa, que enfatiza relações entre variáveis não causais. É certo que se deve tomar<br />
cuida<strong>do</strong> extra, <strong>no</strong> manuseio das fontes escolhidas, para interpretar corretamente o senti<strong>do</strong><br />
contextual das ideias, contu<strong>do</strong> as ideias utilizadas em <strong>do</strong>cumentos estatais, muitas vezes, não têm<br />
autor individual determina<strong>do</strong>, aproximan<strong>do</strong>-se ao que Michel Foucault (2000) chama de murmúrio<br />
anônimo, a compor o núcleo de seu méto<strong>do</strong> de análise <strong>do</strong> discurso. No méto<strong>do</strong> analítico de<br />
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