A Semiótica do Regional no Pensamento Geoestratégico Brasileiro
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Essas teorias servem para racionalizar grande parte das ações estadunidenses durante a<br />
Guerra Fria, como a Guerra da Coreia e o engajamento <strong>no</strong> Vietnã, mas, sobretu<strong>do</strong>, explicam o<br />
cenário extraeuropeu da II Guerra Mundial, em que foram protagonistas EUA e Japão. Desde a<br />
Era Togunaga, o Japão ensaiava ampliar seu interesse nacional para um entor<strong>no</strong> regional asiático<br />
(YONUMATO, 1999), mas somente com a Restauração Meiji (1868) foi possível ao país<br />
empreender ocupação expansionista sobre China (1895) e Rússia (1905). Similarmente aos<br />
Esta<strong>do</strong>s ocidentais, o Japão incorporou pensamento de política espacial que valorizava o controle<br />
de territórios e recursos naturais estratégicos, de mo<strong>do</strong> que, na década de 1940, o país alçava seu<br />
expansionismo para as Índias Orientais Holandesas e outras terras sul-asiáticas. Dessa feita,<br />
formulou-se uma política japonesa para a criação de uma grande área de coprosperidade leste-<br />
asiática, que previa a ocupação militar como forma de iniciar processo de integração econômica<br />
assimétrica (LEAVIT, 2005). Os conflitos nesse segun<strong>do</strong> cenário da II Guerra Mundial<br />
redundam <strong>do</strong> choque geográfico entre as ambições geopolíticas de EUA e Japão.<br />
Com a formação de alianças ultramar e o desvio de recursos de territórios coloniza<strong>do</strong>s,<br />
houve engajamento planetário <strong>no</strong>s conflitos mundiais europeus, o que premeu por atualização<br />
das receitas de políticas estatais <strong>do</strong>s primeiros geopolíticos. Os recursos naturais e os territórios<br />
europeus não eram suficientes para garantir objetivos de segurança estatal em uma época em que<br />
o maior contingente militar voluntário <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (2,5 milhões de recrutas) pertencia às Índias<br />
Britânicas (MACHADO, 2009-10). Nesse senti<strong>do</strong>, o pensamento geopolítico <strong>do</strong> general Karl<br />
Haushofer (1869-1945) transcendeu a territorialidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para trabalhar com o conceito de<br />
panregiões. Para Haushofer (1931), as grandes potências da época manteriam equilíbrio de poder<br />
basea<strong>do</strong> em sua influência sobre grandes regiões <strong>do</strong> globo – EUA (Américas); Japão (Leste da<br />
Ásia); Rússia (Ásia Central); Inglaterra (Império Britânico, sem a Índia); Alemanha (zona<br />
euroafricana).<br />
Cumpre ressaltar que não há, <strong>no</strong> pensamento geopolítico clássico, imagens ontológicas<br />
bem estabelecidas que tratem especificamente <strong>do</strong> espaço regional, uma vez que a região é<br />
retratada como mero entor<strong>no</strong> passivo aos desenvolvimentos intraestatais. Esse pensamento, que<br />
apregoava o exercício de influência efetiva sobre grandes espaços regionais, criou esquemas<br />
cognitivos de alcance planetário e ainda hoje não supera<strong>do</strong>s. Ce<strong>do</strong>, identifica-se sua influência<br />
sobre a América Latina, que o Almte. Mahan (1918) enquadrava como periferia <strong>do</strong> poder<br />
estadunidense. De fato, o ambiente ideacional das Guerras Mundiais levou os EUA a<br />
institucionalizar um regime de segurança coletiva nas Américas. Nesse senti<strong>do</strong>, a Conferência<br />
Interamericana de Consolidação da Paz (Bue<strong>no</strong>s Aires, 1936) consiste <strong>no</strong> marco de inflexão na<br />
narrativa histórica da integração interamericana <strong>no</strong> início <strong>do</strong> século XX, uma vez que, ao<br />
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