15.04.2013 Views

Edição do Dia 13 de Fevereiro de 2012

Edição do Dia 13 de Fevereiro de 2012

Edição do Dia 13 de Fevereiro de 2012

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

que se preten<strong>de</strong> tornar a realida<strong>de</strong> íntima <strong>do</strong><br />

conhecimento, ativida<strong>de</strong> que se exerce num plano<br />

relativiza<strong>do</strong> pelas agruras que grassam no juízo da<br />

subjetivida<strong>de</strong>, sob a influência <strong>de</strong> elementos e<br />

fatores, enriqueci<strong>do</strong>s pela evolução <strong>do</strong> conforto<br />

científico, mas nunca <strong>de</strong>finitivo.<br />

Na presunção, opera-se ativida<strong>de</strong> cognitiva muito<br />

refinada e sofisticada, resultante <strong>de</strong> processo em<br />

que se combinam recursos objetivos e subjetivos<br />

para a <strong>de</strong>monstração da verda<strong>de</strong>. Em <strong>de</strong>corrência<br />

da presunção, po<strong>de</strong>-se ter, também, juízo<br />

conclusivo, estea<strong>do</strong> em indício ou suposição, fruto,<br />

porém, <strong>de</strong> mescla <strong>de</strong> elementos indiciários fortes<br />

que autorizam a presunção <strong>de</strong> verossimilhança da<br />

premissa <strong>de</strong> que, com a quitação da última parcela,<br />

se supõem pagas as quotas anteriores.<br />

Na presunção, somam-se, geralmente, fatos,<br />

basea<strong>do</strong>s em provas opacificadas ou turvadas,<br />

mas que, reunidas — a prova da obrigação em<br />

quotas periódicas e o pagamento da última parcela<br />

—, se prestam a formar o convencimento<br />

necessário à afirmação segun<strong>do</strong> a qual houve a<br />

satisfação plena da obrigação.<br />

Para concluir-se que todas as parcelas anteriores<br />

foram solvidas, cabe, pois, a conjectura com base<br />

no conjunto <strong>de</strong> fatos existentes — a prova da<br />

obrigação em quotas periódicas e o pagamento da<br />

última parcela —, agrupamento que conflui para a<br />

consolidação da premissa com que se finaliza o<br />

processo <strong>de</strong> conhecimento, construída pelo<br />

exercício da ativida<strong>de</strong> racional, sem flertar com o<br />

imaginário.<br />

Advirta-se, contu<strong>do</strong>, que presumir não é supor<br />

estimula<strong>do</strong> pela ficção, sem fixação ao mun<strong>do</strong> real<br />

on<strong>de</strong> se formam as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s revela<strong>do</strong>ras <strong>do</strong><br />

objeto <strong>do</strong> conhecimento, que se confun<strong>de</strong> no fato<br />

jurídico que importa à solução <strong>de</strong> uma controvérsia<br />

<strong>de</strong> natureza legal. Deve a presunção se basear na<br />

conjugação <strong>de</strong> indícios rijos que se forjam e se<br />

dispõem à interligação, para a formação <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> conhecimento, acessível apenas pela<br />

articulação <strong>de</strong> fatos até então segrega<strong>do</strong>s ou<br />

secciona<strong>do</strong>s, mas que se amalgamam como<br />

resulta<strong>do</strong> da ativida<strong>de</strong> cognitiva.<br />

Assim é que se confirma o fato da quitação total<br />

pela coligação <strong>do</strong>s indícios objetivos, <strong>de</strong> que<br />

resulta a presunção. A presunção é atributo <strong>do</strong><br />

julga<strong>do</strong>r, em ambiente administrativo ou judicial —,<br />

como premissa conclusiva que recolhe os indícios<br />

apresenta<strong>do</strong>s pelas partes, à falta <strong>de</strong> prova cabal.<br />

Cabe à parte interessada apresentar ou discorrer<br />

sobre os indícios e ao julga<strong>do</strong>r firmar a presunção,<br />

que lhe autoriza a <strong>de</strong>cidir pela existência ou<br />

inexistência da quitação total. Recor<strong>de</strong>-se que os<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

indícios associa<strong>do</strong>s pela ativida<strong>de</strong> cognitiva se<br />

limitam à realida<strong>de</strong> posta nos autos <strong>do</strong> processo,<br />

porque a presunção se traduz no convencimento<br />

interna<strong>do</strong> <strong>do</strong> fato jurídico.<br />

No entanto, admite-se que um fato jurídico fora <strong>do</strong>s<br />

autos, quan<strong>do</strong> público, notório e inquestionável,<br />

aju<strong>de</strong> a compor a ativida<strong>de</strong> cognitiva, como mais<br />

um elemento que corrobora na i<strong>de</strong>ntificação da<br />

verda<strong>de</strong>. Há <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> presunção: a) presunção<br />

legal ou ficta; e b) presunção real. Na presunção<br />

legal ou ficta, por força da disposição da lei ou <strong>do</strong><br />

próprio negócio jurídico, recolhe-se o fato jurídico<br />

como verda<strong>de</strong>, haja vista que se emprestam ao<br />

acontecimento jurídico os atributos da<br />

verossimilhança, pela constatação <strong>de</strong> uma<br />

circunstância integrativa <strong>do</strong> pressuposto fático. Já<br />

na presunção real, exerce-se um raciocínio teci<strong>do</strong><br />

com base na existência <strong>de</strong> indícios fragmenta<strong>do</strong>s<br />

ou segrega<strong>do</strong>s, mas cuja união ou composição<br />

autoriza a conclusão que qualifica o pressuposto<br />

da verda<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato jurídico.<br />

Na presunção legal, a lei se encarrega <strong>de</strong> acolher o<br />

fato como verda<strong>de</strong>iro; na presunção real, o julga<strong>do</strong>r<br />

se põe em ativida<strong>de</strong> cognitiva complexa e rigorosa,<br />

para se convencer da autenticida<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato jurídico,<br />

com supedâneo nos elementos indiciários<br />

apresenta<strong>do</strong>s.<br />

Como to<strong>do</strong> meio <strong>de</strong> prova, suscetível ao embate e<br />

à controvérsia, a presunção, ainda que legal, po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>safiada pela produção <strong>de</strong> outra prova que<br />

<strong>de</strong>sautora uma das premissas usadas para a<br />

fixação da suposição ou da verda<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato<br />

jurídico.<br />

Certamente, na presunção real, o julga<strong>do</strong>r se<br />

esforça e trabalha com mais dificulda<strong>de</strong> para<br />

vencer as adversida<strong>de</strong>s naturais, típicas <strong>do</strong>s juízos<br />

forma<strong>do</strong>s sob a inspiração <strong>de</strong> elementos<br />

indiciários, razão por que se lhe exige re<strong>do</strong>brada<br />

cautela ao construir a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>do</strong><br />

fato jurídico. Num negócio jurídico em pagamento<br />

em quotas periódicas, a presunção <strong>de</strong> quitação das<br />

parcelas anteriores, se houver prova <strong>de</strong><br />

adimplemento da última parcela, tem natureza legal<br />

ou ficta, sujeita, ao <strong>de</strong>safio da prova contrária. Mas<br />

a presunção não se forma pela disposição<br />

subjetiva <strong>de</strong> o intérprete vasculhar apenas os<br />

elementos indiciários, aparta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />

objetiva que o auxilie no engenho <strong>do</strong> juízo <strong>de</strong><br />

convencimento.<br />

Urge, pois, que se confirme o pagamento da última<br />

parcela, encargo por cuja incumbência respon<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r. Observe-se, ainda, que as obrigações<br />

previstas para pagamento em partes ou em quotas<br />

trazem peculiarida<strong>de</strong>s que viabilizam a formação<br />

<strong>de</strong> juízos errôneos quanto ao adimplemento.<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!