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Edição do Dia 13 de Fevereiro de 2012

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<strong>Edição</strong> <strong>do</strong> <strong>Dia</strong> <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong>


Índice<br />

<strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

Jurisprudência<br />

Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s<br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

TJDFT faz semana <strong>de</strong> Conciliação<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Segurança<br />

TJDFT | Vara da infância e da Juventu<strong>de</strong> - VIJ<br />

Em discussão, o direito às visitas íntimas<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Política<br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

E o passa<strong>do</strong> será aberto ao público...<br />

Folha <strong>de</strong> São Paulo/SP - Mun<strong>do</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

É suicídio <strong>de</strong>smoralizar o Judiciário<br />

Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s<br />

JUDICIÁRIO | Ministério Público <strong>do</strong> Trabalho<br />

Indício <strong>de</strong> sabotagem no metrô<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Servi<strong>do</strong>res lesa<strong>do</strong>s<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Os caminhos <strong>de</strong> San Tiago Dantas (X)<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

Publicações<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Direitos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Comentários ao código civil <strong>de</strong> 2002<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

Direito Trabalhista<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Aviso prévio proporcional po<strong>de</strong> não ser aplica<strong>do</strong> ao emprega<strong>do</strong><br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

O perfil constitucional <strong>do</strong> juiz republicano no projeto <strong>do</strong> novo CPC<br />

Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s<br />

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JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

6,6 mil CNHs suspensas<br />

Correio Braziliense/DF - Política<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

De olho nos gran<strong>de</strong>s crimes<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Cláudio Humberto<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Cláudio Humberto<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Cida<strong>de</strong>s<br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

Quase 30% faltam às provas<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Gilberto Amaral<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Do Alto da Torre<br />

JUDICIÁRIO | Justiça Eleitoral<br />

PSD CORRE ATRÁS DO TEMPO DE TV<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Política & Po<strong>de</strong>r<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Julgamento será retoma<strong>do</strong> na quarta<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Economia<br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

CNJ prepara cruzada para cobrar R$ 84 bi<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Ponto <strong>do</strong> Servi<strong>do</strong>r<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

ASSEMBLEIA GERAL<br />

Folha <strong>de</strong> São Paulo/SP - Po<strong>de</strong>r<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Folha.com<br />

Folha <strong>de</strong> São Paulo/SP - Po<strong>de</strong>r<br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Procura<strong>do</strong>r pe<strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ação contra Calmon<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Nacional<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Justiça <strong>de</strong>bate regras para leilão <strong>de</strong> precatório<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Carlos Alberto Sar<strong>de</strong>nberg<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Quanto <strong>de</strong>ve ganhar um juiz?<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Nacional<br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Metrópole<br />

JUDICIÁRIO | OAB<br />

Seus Direitos<br />

O Globo/RJ - Rio<br />

JUDICIÁRIO | Tribunais <strong>de</strong> Justiça<br />

PM é preso por roubo <strong>de</strong> celular<br />

O Globo/RJ - O País<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

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Pai viúvo ganha licença-maternida<strong>de</strong><br />

Valor Econômico/SP - Legislação & Tributos<br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

Pessoa Jurídica e a empresa individual<br />

Valor Econômico/SP - Legislação & Tributos<br />

JUDICIÁRIO | Justiça Fe<strong>de</strong>ral<br />

Folha <strong>de</strong> salário é consi<strong>de</strong>rada insumo<br />

Valor Econômico/SP - Legislação & Tributos<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Destaques<br />

Valor Econômico/SP - Brasil<br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Proposta limita po<strong>de</strong>r da Justiça em <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong><br />

Revista Época/SP - tempo<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

O homem que processou o Brasil<br />

Revista Época/SP - Colunistas<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

A Praça Castro Alves é mesmo <strong>do</strong> povo?<br />

Revista Época/SP - Primeiro Plano<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Vão criar juízo<br />

Revista Isto É/SP - Brasil<br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

TJ con<strong>de</strong>na amigo <strong>de</strong> Alckmin a <strong>de</strong>volver recursos<br />

Revista Isto É/SP - Colunistas<br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior <strong>do</strong> Trabalho<br />

Justiça - A indústria ataca<br />

Revista Isto É/SP - Colunistas<br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

STJ - Bati<strong>do</strong> o martelo<br />

Revista Isto É/SP - Brasil<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Lí<strong>de</strong>r sem limites<br />

Revista Isto É/SP - Brasil<br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

Punição <strong>de</strong>morada<br />

Revista Isto É/SP - Brasil Confi<strong>de</strong>ncial<br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Rápidas<br />

Revista Isto É/SP - Brasil Confi<strong>de</strong>ncial<br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

Toma lá dá cá<br />

Revista Isto É/SP - Brasil Confi<strong>de</strong>ncial<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Com atraso<br />

Revista Isto É Dinheiro/SP - Po<strong>de</strong>r<br />

JUDICIÁRIO | Justiça Eleitoral<br />

Cena <strong>do</strong> Planalto - Sob nova direção<br />

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Revista Isto É Dinheiro/SP - Dinheiro na Semana<br />

JUDICIÁRIO | Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

Volks é con<strong>de</strong>nada em R$ 1 milhão<br />

Revista Isto É Dinheiro/SP - Negócios<br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

O caça<strong>do</strong>r <strong>de</strong> sucata<br />

Revista Veja/SP - Panorama<br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

Coluna radar<br />

Revista Veja/SP - Leitor<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Magistra<strong>do</strong>s e CNJ<br />

Revista Veja/SP - Brasil<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

PODER, SEXO E CORRUPÇÃO<br />

Revista Veja/SP - Panorama<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

SobeDesce<br />

Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s<br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | Infância e Juventu<strong>de</strong><br />

A<strong>do</strong>lescentes embriagam e abusam<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Do Alto da Torre (Eduar<strong>do</strong> Brito)<br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | OAB-DF<br />

LUA DE MEL CAUSÍDICA<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Do Alto da Torre (Eduar<strong>do</strong> Brito)<br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | Lei Maria da Penha<br />

COM DIREITO A LAGOSTA<br />

Índice Remissivo por Assunto<br />

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JURISPRUDÊNCIA ORGANIZADA SOB A<br />

RESPONSABILIDADE DE “ALCOFORADO<br />

ADVOGADOS ASSOCIADOS S/C”, DE BRASÍLIA<br />

PESQUISA: ERIKA DUTRA<br />

CIVIL<br />

RECURSO ESPECIAL Nº 963.472 - RS<br />

(2007/0144019-5)<br />

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO<br />

RECORRENTE : RONALDO GONÇALVES DOS<br />

SANTOS<br />

ADVOGADO : MARIA ELISA PEREIRA SOARES<br />

DE MORAES<br />

RECORRIDO : PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE<br />

CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL - PUC<br />

ADVOGADA : LAURA MACEDO SITTONI E<br />

OUTRO(S)<br />

EMENTA — DIREITO CIVIL. RECURSO<br />

ESPECIAL. DÉBITO RELATIVO A<br />

MENSALIDADES ESCOLARES. EMISSÃO DE<br />

NOTAS PROMISSÓRIAS. NOVAÇÃO.<br />

POSSIBILIDADE. ANÁLISE A RESPEITO DA<br />

OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO, RELATIVA À<br />

OBRIGAÇÃO ANTERIOR. DESCABIMENTO. 1.<br />

Os requisitos essenciais à configuração da<br />

novação são: a intenção <strong>de</strong> novar, a preexistência<br />

<strong>de</strong> obrigação e a criação <strong>de</strong> nova obrigação,<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser também reconhecida em razão da<br />

evi<strong>de</strong>nte incompatibilida<strong>de</strong> da nova obrigação com<br />

a anterior. 2. Não po<strong>de</strong> ser excluída a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a novação ocorrer por meio da emissão <strong>de</strong><br />

títulos <strong>de</strong> crédito, sen<strong>do</strong> necessária a análise das<br />

circunstâncias e eventuais elementos <strong>do</strong> caso para<br />

verificação quanto a sua incidência. 3. Assim, o<br />

acórdão da Corte local aponta o animus novandi,<br />

sen<strong>do</strong> consigna<strong>do</strong> que há <strong>do</strong>cumento colaciona<strong>do</strong><br />

aos autos pela ré — sem impugnação pelo autor<br />

—, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a celebração <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> entre as<br />

partes, resultan<strong>do</strong> na extinção da obrigação<br />

anterior e que, "mediante a emissão da nota<br />

promissória houve novação <strong>do</strong> débito, tu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com o disposto no inc. I <strong>do</strong> art. 999 <strong>do</strong><br />

Código Civil <strong>de</strong> 1916, correspon<strong>de</strong>nte ao inc. I <strong>do</strong><br />

art. 360 <strong>do</strong> Código Civil <strong>de</strong> 2002". 4. Desse mo<strong>do</strong>,<br />

não é cabível a análise a respeito da alegada<br />

prescrição da obrigação anterior, porque extinta em<br />

consequência da novação objetiva. 5. Recurso<br />

especial não provi<strong>do</strong>.<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

Jurisprudência<br />

QUARTA TURMA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE<br />

JUSTIÇA<br />

Brasília, 25 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011 (data <strong>do</strong><br />

julgamento)<br />

Fonte: Publicada no DJE em 29/11/2011<br />

ADMINISTRATIVO<br />

RECURSO ESPECIAL Nº 753.534 - MT<br />

(2005/0086165-8)<br />

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA<br />

RECORRENTE : INSTITUTO DO PATRIMÔNIO<br />

HISTÓRICO E ARTÍSTICO<br />

NACIONAL - IPHAN<br />

PROCURADOR : MARIA JUSCILENE DE LIMA<br />

CAMPOS E OUTRO(S)<br />

RECORRIDO : SEBASTIÃO DA SILVA<br />

GREGÓRIO<br />

ADVOGADO : SEBASTIÃO DA SILVA GREGÓRIO<br />

(EM CAUSA PRÓPRIA)<br />

EMENTA — PROCESSO CIVIL.<br />

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.<br />

TOMBAMENTO PROVISÓRIO. EQUIPARAÇÃO<br />

AO DEFINITIVO. EFICÁCIA. 1. O ato <strong>de</strong><br />

tombamento, seja ele provisório ou <strong>de</strong>finitivo, tem<br />

por finalida<strong>de</strong> preservar o bem i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como<br />

<strong>de</strong> valor cultural, contrapon<strong>do</strong>-se, inclusive, aos<br />

interesses da proprieda<strong>de</strong> privada, não só limitan<strong>do</strong><br />

o exercício <strong>do</strong>s direitos inerentes ao bem, mas<br />

também obrigan<strong>do</strong> o proprietário às medidas<br />

necessárias à sua conservação. O tombamento<br />

provisório, portanto, possui caráter preventivo e<br />

assemelha-se ao <strong>de</strong>finitivo quanto às limitações<br />

inci<strong>de</strong>ntes sobre a utilização <strong>do</strong> bem tutela<strong>do</strong>, nos<br />

termos <strong>do</strong> parágrafo único <strong>do</strong> art. 10 <strong>do</strong><br />

Decreto-Lei nº 25/37. 2. O valor cultural<br />

pertencente ao bem é anterior ao próprio<br />

tombamento. A diferença é que, não existin<strong>do</strong><br />

qualquer ato <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público formalizan<strong>do</strong> a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protegê-lo, <strong>de</strong>scaberia<br />

responsabilizar o particular pela não conservação<br />

<strong>do</strong> patrimônio. O tombamento provisório, portanto,<br />

serve justamente como um reconhecimento público<br />

da valoração inerente ao bem. 3. As coisas<br />

tombadas não po<strong>de</strong>rão, nos termos <strong>do</strong> art. 17 <strong>do</strong><br />

Decreto-Lei nº 25/37, ser <strong>de</strong>struídas, <strong>de</strong>molidas ou<br />

mutiladas. O <strong>de</strong>scumprimento <strong>do</strong> aludi<strong>do</strong> preceito<br />

6


legal enseja, via <strong>de</strong> regra, o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> restituir a<br />

coisa ao status quo ante. Excepcionalmente, sen<strong>do</strong><br />

manifestamente inviável o restabelecimento <strong>do</strong><br />

bem ao seu formato original, autoriza-se a<br />

conversão da obrigação em perdas e danos. 4. À<br />

reforma <strong>do</strong> aresto recorri<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve seguir-se à<br />

<strong>de</strong>volução <strong>do</strong>s autos ao Tribunal a quo para que,<br />

respeita<strong>do</strong>s os parâmetros jurídicos ora<br />

estipula<strong>do</strong>s, prossiga o exame da apelação <strong>do</strong><br />

IPHAN e aplique o direito consoante o seu<br />

convencimento, com a análise das alegações das<br />

partes e das provas existentes. 5. Recurso especial<br />

provi<strong>do</strong> em parte.<br />

SEGUNDA TURMA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE<br />

JUSTIÇA<br />

Brasília, 25 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011 (data <strong>do</strong><br />

julgamento)<br />

Fonte: Publicada no DJE em 10/11/2011<br />

ADMINISTRATIVO<br />

RECURSO ESPECIAL Nº 1.183.324 - SP<br />

(2010/0035848-4)<br />

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI<br />

RECORRENTE : DANIEL MARTINS CARDOSO E<br />

OUTRO<br />

ADVOGADO : SORAIA FRIGNANI E OUTRO(S)<br />

RECORRIDO : ROGÉRIO ALVES PINATTI E<br />

OUTRO<br />

ADVOGADO : ELIANA E ASSI E OUTRO(S)<br />

EMENTA — CIVIL. CORRETAGEM. COMISSÃO.<br />

COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. NEGÓCIO NÃO<br />

CONCLUÍDO. RESULTADO ÚTIL. INEXISTÊNCIA.<br />

DESISTÊNCIA DO COMPRADOR. COMISSÃO<br />

INDEVIDA. HIPÓTESE DIVERSA DO<br />

ARREPENDIMENTO. 1. No regime anterior ao <strong>do</strong><br />

CC/02, a jurisprudência <strong>do</strong> STJ se consoli<strong>do</strong>u em<br />

reputar <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong> a obrigação assumida pelos<br />

corretores, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que a não concretização <strong>do</strong><br />

negócio jurídico inicia<strong>do</strong> com sua participação não<br />

lhe dá direito a remuneração. 2.. Após o CC/02, a<br />

disposição contida em seu art. 725, segunda parte,<br />

dá novos contornos à discussão, visto que, nas<br />

hipóteses <strong>de</strong> arrependimento das partes, a<br />

comissão por corretagem permanece <strong>de</strong>vida. Há,<br />

inclusive, prece<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> STJ <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> o<br />

pagamento <strong>de</strong> comissão em hipótese <strong>de</strong><br />

arrependimento. 3. Pelo novo regime, <strong>de</strong>ve-se<br />

refletir sobre o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong><br />

útil, a partir <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> mediação <strong>do</strong> corretor. A<br />

mera aproximação das partes, para que se inicie o<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

processo <strong>de</strong> negociação no senti<strong>do</strong> da compra <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> bem, não justifica o pagamento <strong>de</strong><br />

comissão. A <strong>de</strong>sistência, portanto, antes <strong>de</strong><br />

concretiza<strong>do</strong> o negócio, permanece possível. 4.<br />

Num contrato <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> imóveis é<br />

natural que, após o pagamento <strong>de</strong> pequeno sinal,<br />

as partes requisitem certidões umas das outras a<br />

fim <strong>de</strong> verificar a conveniência <strong>de</strong> efetivamente<br />

levarem a efeito o negócio jurídico, ten<strong>do</strong> em vista<br />

os riscos <strong>de</strong> inadimplemento, <strong>de</strong> ina<strong>de</strong>quação <strong>do</strong><br />

imóvel ou mesmo <strong>de</strong> evição. Essas providências se<br />

encontram no campo das tratativas, e a não<br />

realização <strong>do</strong> negócio por força <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>ssas certidões implica mera <strong>de</strong>sistência,<br />

não arrependimento, sen<strong>do</strong>, assim, inexigível a<br />

comissão por corretagem. 5. Recurso especial não<br />

provi<strong>do</strong>.<br />

TERCEIRA TURMA DO SUPERIOR TRIBUNAL<br />

DE JUSTIÇA<br />

Brasília, 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011 (data <strong>do</strong><br />

julgamento)<br />

Fonte: Publicada no DJE em 10/11/2011<br />

JURISPRUDÊNCIA ORGANIZADA SOB A<br />

RESPONSABILIDADE DA SUBSECRETARIA DE<br />

DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA DO<br />

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL<br />

PESQUISA: ALESSANDRO SOARES MACHADO,<br />

MARCELO FONTES CONTAEFER E PAULA<br />

CASARES MARCELINO<br />

ADMINISTRATIVO<br />

JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA.<br />

RECONHECIMENTO DE VÍNCULO<br />

EMPREGATÍCIO ENTRE A ADMINISTRAÇÃO<br />

PÚBLICA E PRESTADORES DE SERVIÇOS<br />

VOLUNTÁRIOS. IMPOSSIBILIDADE.<br />

PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DA<br />

LEI N. 10.029/00. NEGADO PROVIMENTO AO<br />

RECURSO. SENTENÇA MANTIDA. Os autores<br />

alegam, em síntese, que foram aprova<strong>do</strong>s em<br />

processo seletivo para prestação <strong>de</strong> serviço<br />

voluntário na Polícia Militar <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />

organiza<strong>do</strong> por edital com previsão legal na Lei n.<br />

10.029/00, na Lei Distrital n. 3.398/04 e no Decreto<br />

n. 28.362/07, contu<strong>do</strong>, o referi<strong>do</strong> serviço voluntário<br />

não conferiu vínculo empregatício, nem qualquer<br />

obrigação <strong>de</strong> natureza trabalhista, o que afronta o<br />

art. 37, I, II e IX da CF. Requerem o<br />

reconhecimento <strong>do</strong> vínculo empregatício com o<br />

pagamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os direitos trabalhistas e<br />

alternativamente con<strong>de</strong>nar o Requeri<strong>do</strong> ao<br />

pagamento <strong>do</strong>s valores que fazem jus<br />

relativamente a título in<strong>de</strong>nizatório. O d. Juiz <strong>de</strong><br />

7


Primeiro Grau julgou improce<strong>de</strong>nte os pedi<strong>do</strong>s<br />

formula<strong>do</strong>s pelos recorrentes, ao fundamento <strong>de</strong><br />

que a lei que rege a prestação <strong>de</strong> serviços<br />

voluntários não reconhece o vínculo empregatício<br />

entre presta<strong>do</strong>res e a Administração Pública. Os<br />

recorrentes, em se<strong>de</strong> recursal, sustentam a<br />

inconstitucionalida<strong>de</strong> da Lei n.º 10.029/00 e,<br />

consequentemente, da Lei Distrital n.º 3.394/04 que<br />

regulamenta a seleção para prestação <strong>de</strong> serviço<br />

voluntário da Polícia e <strong>do</strong> Corpo <strong>de</strong> Bombeiros <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral, com o objetivo <strong>de</strong> reconhecer o<br />

vínculo empregatício <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviços<br />

voluntários. A Administração Pública <strong>de</strong>ve<br />

obrigatoriamente se pautar pelo Princípio da<br />

Legalida<strong>de</strong>, que traduz uma aos , uma vez que o<br />

ato administrativo apenas será váli<strong>do</strong> se em<br />

consonância com a lei. Neste caso, o administra<strong>do</strong>,<br />

ao prestar o concurso para serviço voluntário,<br />

tomou conhecimento <strong>de</strong> todas as normas<br />

aplicáveis à espécie, principalmente <strong>de</strong> que a<br />

futura contratação não geraria vínculo<br />

empregatício, nem obrigação <strong>de</strong> natureza<br />

trabalhista, previ<strong>de</strong>nciária ou afim, com esteio no<br />

art. 1º, §2º, da Lei n. 10.029/00.Com efeito, a lei<br />

que regulamenta a contratação <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>r em<br />

caráter voluntário tanto para a Polícia Militar <strong>do</strong> DF,<br />

quanto para o Corpo <strong>de</strong> Bombeiros <strong>do</strong> DF, goza <strong>de</strong><br />

presunção <strong>de</strong> legalida<strong>de</strong>, porquanto tem seus<br />

efeitos normais e váli<strong>do</strong>s. A<strong>de</strong>mais, o Egrégio<br />

Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral não apreciou até o<br />

momento a constitucionalida<strong>de</strong> da Lei n. 10.029/00<br />

objeto da ADI n. 4173-8/600. Ante o exposto,<br />

NEGO PROVIMENTO ao recurso e mantenho a r.<br />

sentença recorrida. Venci<strong>do</strong>s os recorrentes,<br />

<strong>de</strong>verão arcar com custas processuais e honorários<br />

advocatícios, os quais fixo em R$ 200,00 (duzentos<br />

reais), cuja exigibilida<strong>de</strong> fica suspensa, face a<br />

gratuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> justiça que ora <strong>de</strong>firo, nos termos <strong>do</strong><br />

art. 12 da Lei 1.060/1950. Acórdão lavra<strong>do</strong><br />

conforme o art. 46 da Lei nº 9.099, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1995. (20110110795162ACJ, Relator<br />

HECTOR VALVERDE SANTANA, TERCEIRA<br />

TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

CÍVEIS E CRIMINAIS DO DF, julga<strong>do</strong> em<br />

<strong>13</strong>/12/2011, DJ 16/12/2011 p. 314)<br />

CONSTITUCIONAL<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL<br />

PÚBLICA. VLP – VEÍCULO LEVE SOBRE PNEUS<br />

- PROJETO CORREDOR EIXO SUL.<br />

LICENCIAMENTO AMBIENTAL.<br />

IRREGULARIDADES. INEXISTÊNCIA DE<br />

EIA/RIMA ESPECÍFICO. DANOS AMBIENTAIS.<br />

AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. 1. Inviável, em<br />

se<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipação <strong>de</strong> tutela, o sobrestamento<br />

das obras <strong>do</strong> VLP – Veículo Leve sobre Pneus -<br />

Projeto Corre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Transporte Coletivo Eixo Sul,<br />

em face da ausência <strong>de</strong> EIA/RIMA (Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Impacto Ambiental e Relatório <strong>de</strong> Impacto<br />

Ambiental) específico para o empreendimento. 2.<br />

<strong>Dia</strong>nte da relevância e urgência <strong>do</strong><br />

empreendimento para a solução <strong>do</strong>s graves<br />

problemas <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> urbana <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral, é razoável a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> uma visão<br />

sistêmica que possibilite o aproveitamento <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s anteriores, realiza<strong>do</strong>s para o licenciamento<br />

<strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Transporte Urbano PTU/DF –<br />

Brasília Integrada, para a obra <strong>do</strong> VLP – Veículo<br />

Leve sobre Pneus - Projeto Corre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Transporte<br />

Coletivo Eixo Sul, mediante elaboração <strong>de</strong> um<br />

RIAC – Relatório <strong>de</strong> Impacto Ambiental<br />

Complementar (Lei Distrital 1.869/98, 5º), aprova<strong>do</strong><br />

pelos órgãos competentes. 3. A questão envolve<br />

direitos fundamentais que não são inconciliáveis,<br />

mas, ao contrário, complementam-se, pois quanto<br />

melhor for o sistema <strong>de</strong> transporte coletivo <strong>de</strong> uma<br />

cida<strong>de</strong>, menores são os danos ambientais<br />

causa<strong>do</strong>s pelos problemas <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> urbana.<br />

4. O empreendimento não está sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong><br />

sem a elaboração <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s ambientais, como<br />

<strong>de</strong>monstra a Licença <strong>de</strong> Instalação, concedida<br />

apenas parcialmente, com restrições que<br />

condicionaram o início das obras, nos trechos mais<br />

sensíveis, ao cumprimento <strong>de</strong> exigências que<br />

visam à minimização e à compensação <strong>do</strong>s<br />

8


inevitáveis impactos ambientais. 5. Negou-se<br />

provimento ao agravo <strong>de</strong> instrumento interposto<br />

pelo autor. (20110020164827AGI, Relator SÉRGIO<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

ROCHA, 2ª Turma Cível, julga<strong>do</strong> em 30/11/2011,<br />

DJ 02/12/2011 p. 92)<br />

9


Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

TJDFT faz semana <strong>de</strong> Conciliação<br />

JUSTIÇA<br />

De hoje a sexta-feira, será realizada a 1ª Semana<br />

<strong>de</strong> Conciliação <strong>de</strong> <strong>2012</strong>. Haverá a promoção <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong>s entre o Cartão BRB e seus <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>res nas<br />

ações <strong>de</strong> todas as circunscrições judiciárias, e não<br />

apenas <strong>de</strong> Brasília. O Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral e <strong>do</strong>s Territórios (TJDFT) colocará<br />

à disposição 27 bancas <strong>de</strong> atendimento, das quais<br />

25 para processos que tramitam na primeira<br />

instância e duas para a segunda (autos em grau <strong>de</strong><br />

recurso). Até o momento, cerca <strong>de</strong> 1.100<br />

processos foram seleciona<strong>do</strong>s para a audiência <strong>de</strong><br />

conciliação. As partes envolvidas serão intimadas<br />

para comparecerem no dia e no horário marca<strong>do</strong>s.<br />

A audiência será realizada no 10º andar <strong>do</strong> Bloco<br />

A, das 12h às 19h (os últimos pregões estão<br />

marca<strong>do</strong>s para as 18h). O projeto visa promover e<br />

estimular a resolução pacífica <strong>de</strong> conflitos.<br />

10


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Segurança, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Vara da infância e da Juventu<strong>de</strong> - VIJ<br />

Em discussão, o direito às visitas íntimas<br />

Correr contra o tempo para normatizar to<strong>do</strong> um<br />

sistema <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> medidas socioeducativas<br />

não é fácil. A missão se torna ainda mais tortuosa<br />

quan<strong>do</strong> o cenário envolve o Distrito Fe<strong>de</strong>ral, que<br />

possui 30 internos para cada grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil<br />

habitantes, o maior índice <strong>do</strong> País. Em menos <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>is meses, uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações impostas<br />

pela lei que institui o Sistema Nacional <strong>de</strong><br />

Atendimento Socioeducativo (Sinase) <strong>de</strong>verá ser<br />

cumprida. Entre as medidas mais polêmicas está o<br />

direito a visitas íntimas.<br />

Há pelo menos <strong>13</strong> anos, o DF luta para evitar a<br />

explosão <strong>do</strong>s barris <strong>de</strong> pólvora em que se<br />

transformaram as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> internação. No<br />

perío<strong>do</strong> – pelo menos <strong>do</strong>s casos que se teve<br />

notícia –, 22 a<strong>do</strong>lescentes foram assassina<strong>do</strong>s<br />

pelos colegas quan<strong>do</strong> estavam sob a tutela <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>. Hoje, com quatro unida<strong>de</strong>s em<br />

funcionamento e 700 jovens interna<strong>do</strong>s, o sistema<br />

socioeducativo <strong>do</strong> DF começa a se rea<strong>de</strong>quar.<br />

Além da parte estrutural, os locais <strong>de</strong>verão contar<br />

com espaços para escola, lazer, esporte, saú<strong>de</strong> e<br />

convivência familiar.<br />

Apesar <strong>do</strong>s problemas, a subsecretária <strong>do</strong> sistema<br />

socioeducativo, Ludmila De Ávila, acredita que o<br />

DF conseguirá aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> Sinase.<br />

Consi<strong>de</strong>rada uma das imposições mais importantes<br />

pela Secretaria da Criança, que coor<strong>de</strong>na a área<br />

no DF, a educação <strong>do</strong>s interna<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ve ser<br />

constante. “O Sinase prevê que to<strong>do</strong>s os<br />

a<strong>do</strong>lescentes estejam matricula<strong>do</strong>s na re<strong>de</strong> pública<br />

<strong>de</strong> ensino. Ao contrário <strong>de</strong> muitos esta<strong>do</strong>s, todas<br />

as quatro unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> internação <strong>do</strong> DF contam<br />

com escolas”, disse.<br />

Ela lembra que outra medida, que <strong>de</strong>verá ser<br />

a<strong>do</strong>tada pelos diretores das unida<strong>de</strong>s, ajudará a<br />

monitorar os a<strong>do</strong>lescentes que estejam cumprin<strong>do</strong><br />

medidas como a liberda<strong>de</strong> assistida ou<br />

semi-liberda<strong>de</strong>. “Os históricos escolares po<strong>de</strong>rão<br />

ser requisita<strong>do</strong>s pelos diretores das unida<strong>de</strong>s para<br />

a confirmação da assiduida<strong>de</strong> nas aulas e<br />

<strong>de</strong>sempenho.”<br />

Ser casa<strong>do</strong> é requisito<br />

A questão das visitas íntimas <strong>de</strong>ntro das unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> internação está sen<strong>do</strong> vista com muita atenção<br />

pela Secretaria da Criança e pelos diretores das<br />

unida<strong>de</strong>s. To<strong>do</strong>s os a<strong>do</strong>lescentes cumprin<strong>do</strong><br />

medida socioeducativa que são casa<strong>do</strong>s ou vivem<br />

em união estável vão ter direito ao benefício. Na<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Internação <strong>do</strong> Recanto das Emas<br />

(Uire), o antigo Centro <strong>de</strong> Internação <strong>de</strong><br />

A<strong>do</strong>lescentes Granja das Oliveiras (Ciago) já<br />

<strong>de</strong>verá receber a visita <strong>de</strong> engenheiros que irão<br />

tocar o projeto <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s ambientes que<br />

serão usa<strong>do</strong>s pelos casais <strong>de</strong> jovens.<br />

O diretor da unida<strong>de</strong>, Gílson Braga, afirmou que<br />

to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s serão toma<strong>do</strong>s para que as<br />

normas <strong>do</strong> Sinase sejam cumpridas com to<strong>do</strong> o<br />

rigor exigi<strong>do</strong> pela nova lei. “Estamos com reuniões<br />

marcadas e alguns projetos estão em andamento.<br />

Não <strong>de</strong>veremos ter problemas para aten<strong>de</strong>r às<br />

exigências, principalmente no que se refere à parte<br />

social e <strong>de</strong> educação”, <strong>de</strong>stacou o diretor, que<br />

coor<strong>de</strong>na uma das unida<strong>de</strong>s que trabalha com a<br />

medida restritiva <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e abriga 150<br />

a<strong>do</strong>lescentes.<br />

ECA<br />

Na visão da Vara da Infância e da Juventu<strong>de</strong> (VIJ)<br />

muitas das <strong>de</strong>terminações <strong>do</strong> Sinase já eram<br />

previstas no Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente<br />

(ECA). Segun<strong>do</strong> a supervisora da Sessão <strong>de</strong><br />

Medidas Socioeducativas da Vara da Infância, Elda<br />

Pereira, há pontos cruciais para que o trabalho <strong>de</strong><br />

aplicação <strong>de</strong> medidas socioeducativas funcione no<br />

DF. “Um <strong>de</strong>les diz respeito ao controle e execução<br />

<strong>do</strong> Plano Individual <strong>de</strong> Atendimento (PIA), com a<br />

participação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, familiares e equipe<br />

técnica. O PIA tem <strong>de</strong> ser elabora<strong>do</strong> em até 15 dias<br />

após a entrada <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes no sistema. As<br />

audiências com juiz, promotor <strong>de</strong> Justiça e<br />

<strong>de</strong>fensor público serão importantes”, diz.<br />

11


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Política, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

E o passa<strong>do</strong> será aberto ao público...<br />

O Arquivo Público <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral possui cinco<br />

milhões <strong>de</strong> fotos, 60 mil <strong>do</strong>cumentos e quatro mil<br />

cartazes <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da ditadura militar. Apesar <strong>de</strong><br />

preservada, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>cumentos ainda<br />

não está mapeada e o conteú<strong>do</strong> ainda permanece<br />

esqueci<strong>do</strong>, distante da população.<br />

Segun<strong>do</strong> o superinten<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Arquivo Público,<br />

Gustavo Chauvet, a partir <strong>de</strong>ste ano será feita<br />

pesquisa para <strong>de</strong>scobrir e organizar as<br />

informações sobre o passa<strong>do</strong> da capital brasileira.<br />

O resgate não será apenas <strong>do</strong> tempo da ditadura,<br />

mas <strong>de</strong> toda a linha <strong>do</strong> tempo da capital brasileira.<br />

Dentro <strong>do</strong> Projeto Documentos Goyaz, inicia<strong>do</strong> no<br />

ano passa<strong>do</strong>, o órgão busca <strong>do</strong>cumentos relativos<br />

ao passa<strong>do</strong> no DF e em municípios vizinhos, in<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> acervos <strong>do</strong> século 19 até a década <strong>de</strong> 1990.<br />

Na edição <strong>de</strong> ontem o Jornal <strong>de</strong> Brasília mostrou<br />

resquícios da história <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> militar no prédio<br />

<strong>do</strong> Banco Nacional <strong>do</strong> Desenvolvimento (BNDES),<br />

no Setor Comercial Sul (SCS), atualmente utiliza<strong>do</strong><br />

pelo Instituto <strong>de</strong> Pesquisa Econômica Aplicada<br />

(Ipea). Para Chauvet, é preciso mais pesquisa<br />

sobre os fatos que ocorreram no DF ao longo da<br />

ditadura. Segun<strong>do</strong> o superinten<strong>de</strong>nte, o Arquivo<br />

Público <strong>de</strong>verá buscar mais informações sobre o<br />

perío<strong>do</strong>, inclusive junto aos órgãos <strong>do</strong> GDF.<br />

Na análise <strong>de</strong> Chauvet, a busca pelos <strong>de</strong>talhes da<br />

memória não é importante apenas para a pesquisa<br />

histórica, mas, também, na formação da cidadania.<br />

“A construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> histórica gera a<br />

construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo. Com a<br />

construção da história, o indivíduo po<strong>de</strong> se situar<br />

em grupos históricos e <strong>de</strong> uma maneira mais<br />

profunda construir a sua cidadania”, explica.<br />

O Arquivo Público também está digitalizan<strong>do</strong> o<br />

conteú<strong>do</strong>. A idéia é ter to<strong>do</strong> o acervo disponível em<br />

três anos. Entre os arquivos sobre a ditadura é<br />

possível ler <strong>do</strong>cumentos sobre o trabalho <strong>de</strong><br />

monitoramento sobre movimentos estudantis na<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília. “A maior parte <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>cumentos é sobre relatórios policiais e<br />

campanas. Eram relatórios <strong>de</strong> observação sobre<br />

quem achavam que pu<strong>de</strong>sse ser subversivo”, diz o<br />

coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Arquivo Permanente, Wilson Vieira<br />

Júnior.<br />

Para as comemorações <strong>do</strong>s 50 anos da UnB, o<br />

arquivo <strong>de</strong>verá fazer levantamento sobre a<br />

instituição. Um pente fino com <strong>de</strong>talhes sobre as<br />

histórias da universida<strong>de</strong> durante o regime militar.<br />

A partir <strong>de</strong> maio entrará em vigor a Lei <strong>de</strong> Acesso à<br />

Informação Pública. Com ela, o cidadão passará a<br />

ter direito a ter, física ou digitalmente, qualquer<br />

informação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público. Qualquer cidadão<br />

po<strong>de</strong>rá solicitar as informações. Além <strong>de</strong> digitalizar<br />

o material, o órgão prepara um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s,<br />

para consultas pela internet.<br />

Luta por justiça<br />

Jarbas Silva Marques. Jornalista. Historia<strong>do</strong>r.<br />

Professor. Preso político da ditadura militar por <strong>de</strong>z<br />

anos. Deti<strong>do</strong> em 1967, ele sobreviveu a severas<br />

sessões <strong>de</strong> tortura. Para Jarbas, a página da<br />

ditadura ainda não foi virada. Com a estimativa <strong>de</strong><br />

92 mil pessoas torturadas no País, ele consi<strong>de</strong>ra<br />

que respostas são necessárias. “Como eu tinha<br />

si<strong>do</strong> assessor parlamentar naqueles anos, eles<br />

queriam me utilizar para que, se eu fraquejasse na<br />

tortura, indicasse <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res que<br />

fariam parte da resistência. Eu fazia parte <strong>de</strong>la”,<br />

afirmou. Jarbas não ce<strong>de</strong>u e por isso carrega até<br />

hoje marcas e sequelas pelo corpo.<br />

A tortura incluia afogamentos em tinas <strong>de</strong> urina e<br />

fezes e abuso sexual. Sob a violência <strong>de</strong> uma<br />

tortura, chamada “telefo - ne”, ele per<strong>de</strong>u cerca <strong>de</strong><br />

30% da capacida<strong>de</strong> auditiva. Além disso, ele<br />

convive com uma perna <strong>de</strong>bilitada com o<br />

rompimento <strong>de</strong> diversos ligamentos.<br />

Para Jarbas, não há como negar que a tortura foi<br />

uma política <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>. Nas palavras <strong>de</strong> quem foi<br />

preso político, a prática envolveu a Justiça, o<br />

Po<strong>de</strong>r Legislativo e o Po<strong>de</strong>r Executivo. “Era uma<br />

política <strong>de</strong> esta<strong>do</strong>.”<br />

CÁRCERE<br />

Andan<strong>do</strong> pelo DF, Jarbas vê os locais on<strong>de</strong> foi<br />

tortura<strong>do</strong>. Ele aponta o quartel da Polícia <strong>do</strong><br />

Exército, nos Dragões da In<strong>de</strong>pendência, por<br />

exemplo. A tortura, segun<strong>do</strong> ele, era feita em<br />

diferentes quarteis. Os parlamentares po<strong>de</strong>riam<br />

procurar por Jarbas a qualquer momento, e por<br />

isso o transferiam constantemente para driblar o<br />

socorro.<br />

Des<strong>de</strong> a saída <strong>do</strong> cárcere, Jarbas luta para<br />

responsabilizar os culpa<strong>do</strong>s pela tortura. Para ele,<br />

a situação está bem distante <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong><br />

conforto. O ex-preso político não escon<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>scontentamento com os rumos da questão, os<br />

quais estão longe <strong>de</strong> responsabilizar seus algozes.<br />

Membro funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Comitê da Memória, da<br />

Verda<strong>de</strong> e da Justiça <strong>do</strong> DF, ele diz que vítimas,<br />

ex-presos políticos e parentes continuam em busca<br />

12


<strong>de</strong> informações sobre passa<strong>do</strong>.<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Política, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

<strong>13</strong>


Luiz Carlos Bresser-Pereira<br />

Folha <strong>de</strong> São Paulo/SP - Mun<strong>do</strong>, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

É suicídio <strong>de</strong>smoralizar o Judiciário<br />

O fato <strong>de</strong> não ser corrupto não significa que<br />

respeite os "direitos republicanos" <strong>do</strong>s cidadãos<br />

brasileiros<br />

Sim, o ministro Cezar Peluso tem razão quan<strong>do</strong><br />

afirma que "só uma nação suicida ingressaria<br />

voluntariamente em um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação<br />

<strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Judiciário."<br />

Como também seria cometer suicídio <strong>de</strong>smoralizar<br />

o Esta<strong>do</strong> e a organização que o garante. Cabe ao<br />

Po<strong>de</strong>r Judiciário a garantia da lei e para uma<br />

socieda<strong>de</strong> nada é mais importante que a or<strong>de</strong>m<br />

jurídica.<br />

Mas o ministro <strong>de</strong>verá também concordar que só<br />

uma nação suicida <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> responsabilizar os<br />

servi<strong>do</strong>res e os membros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, entre os quais<br />

os juízes, por suas ações.<br />

O consenso ao nível da socieda<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong><br />

que era necessário um controle <strong>do</strong> Judiciário<br />

levou à criação, em 2004, <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong><br />

Justiça e <strong>de</strong> sua Correge<strong>do</strong>ria. Nos anos<br />

seguintes, confirmou-se essa necessida<strong>de</strong>, porque<br />

suas investigações mostraram inúmeros casos <strong>de</strong><br />

abuso. Significa isto que o Po<strong>de</strong>r Judiciário é<br />

corrupto no Brasil? De forma alguma.<br />

Estou convenci<strong>do</strong> que ele po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> exemplo<br />

para muitos países. É forma<strong>do</strong> por juízes<br />

competentes, escolhi<strong>do</strong>s por concurso público,<br />

seus padrões morais e republicanos são eleva<strong>do</strong>s,<br />

e é razoavelmente bem organiza<strong>do</strong> e administra<strong>do</strong>.<br />

O gran<strong>de</strong> problema que enfrenta -e que o torna<br />

lento- é uma lei processual que possibilita recursos<br />

excessivos às <strong>de</strong>cisões judiciais.<br />

Mas o fato <strong>de</strong> não ser corrupto não significa que<br />

respeite os "direitos republicanos" <strong>do</strong>s cidadãos<br />

brasileiros -o direito que cada cidadão tem que o<br />

patrimônio público seja utiliza<strong>do</strong> para fins públicos<br />

ao invés <strong>de</strong> ser captura<strong>do</strong> por po<strong>de</strong>rosos.<br />

No caso <strong>do</strong> Judiciário esse <strong>de</strong>srespeito se dá<br />

através <strong>de</strong> salários médios muito mais altos <strong>do</strong> que<br />

o salário médio <strong>do</strong>s outros <strong>do</strong>is po<strong>de</strong>res, e,<br />

principalmente, por benefícios abusivos <strong>de</strong> alguns<br />

juízes, em <strong>de</strong>srespeito ao teto constitucional.<br />

Quan<strong>do</strong> fui ministro da Administração (1995-1998),<br />

uma das minhas preocupações foi estabelecer<br />

esse teto. Refletia a indignação da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira frente aos abusos que ocorriam nos três<br />

Po<strong>de</strong>res.<br />

A iniciativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir os proventos <strong>do</strong>s ministros <strong>do</strong><br />

STF como o teto <strong>de</strong> remuneração foi minha, e, para<br />

redigir um texto que evitasse toda e qualquer<br />

manobra visan<strong>do</strong> elidi-lo, consultei o então<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> STF, ministro Sepúlveda Pertence.<br />

O texto foi aprova<strong>do</strong> pelo Congresso, mas hoje o<br />

que vemos é o <strong>de</strong>srespeito à norma constitucional<br />

por membros <strong>do</strong>s tribunais estaduais. Inventam-se<br />

<strong>de</strong>sculpas para pagar mais que o teto: algumas<br />

mo<strong>de</strong>stas como o "auxílio para compras <strong>de</strong> livros",<br />

outras bem mais graves, como as que permitiram o<br />

Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral pagar<br />

benefícios astronômicos a seus membros e<br />

apresentar um custo total para os cofres públicos<br />

cinco vezes maior <strong>do</strong> que o <strong>do</strong> STF.<br />

Tem razão, portanto, a ministra Eliana Calmon, <strong>do</strong><br />

Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça, em agra<strong>de</strong>cer "ao<br />

povo brasileiro" pela <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> STF <strong>de</strong> garantir à<br />

Correge<strong>do</strong>ria o direito <strong>de</strong> investigar e processar<br />

juízes.<br />

Em confronto com o empe<strong>de</strong>rni<strong>do</strong> corporativismo<br />

das associações <strong>de</strong> juízes, o STF tomou essa<br />

<strong>de</strong>cisão porque, no <strong>de</strong>bate que a antece<strong>de</strong>u, ficou<br />

clara a posição da socieda<strong>de</strong> a favor <strong>do</strong> CNJ. Os<br />

brasileiros não são suicidas, e sabem que a melhor<br />

forma <strong>de</strong> honrar e respeitar o Judiciário é<br />

manten<strong>do</strong>-o responsabiliza<strong>do</strong> perante a nação.<br />

AMANHÃ EM MUNDO<br />

Clóvis Rossi<br />

14


Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Ministério Público <strong>do</strong> Trabalho<br />

Indício <strong>de</strong> sabotagem no metrô<br />

Os metroviários <strong>de</strong>cidiram não entrar em greve a<br />

partir <strong>de</strong> hoje. A categoria se reuniu em assembleia<br />

na noite <strong>de</strong> ontem, na estação da Praça <strong>do</strong><br />

Relógio, em Taguatinga, para tomar a <strong>de</strong>cisão. Em<br />

12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, os trabalha<strong>do</strong>res paralisaram as<br />

ativida<strong>de</strong>s e ficaram <strong>de</strong> braços cruza<strong>do</strong>s por 37<br />

dias. Agora, eles têm outro problema a resolver,<br />

além das questões trabalhistas. Uma equipe<br />

formada por técnicos <strong>do</strong> Metrô e agentes da Polícia<br />

Civil encontrou, na madrugada <strong>de</strong> ontem, indícios<br />

<strong>de</strong> sabotagem no sistema <strong>de</strong> sinalização <strong>do</strong>s<br />

veículos. Os policiais estão tentan<strong>do</strong> <strong>de</strong>scobrir a<br />

autoria <strong>do</strong> suposto crime, mas afirmam que tu<strong>do</strong><br />

aponta para integrantes <strong>do</strong> movimento grevista. A<br />

manipulação <strong>de</strong> equipamentos teria resulta<strong>do</strong> nos<br />

problemas <strong>de</strong> tráfego <strong>do</strong>s trens ocorri<strong>do</strong>s na última<br />

semana (leia Memória).<br />

Segun<strong>do</strong> o chefe da 23ª Delegacia <strong>de</strong> Polícia<br />

(Ceilândia), Yuri Fernan<strong>de</strong>s, a equipe foi <strong>de</strong>stacada<br />

para investigar o caso na sexta-feira, após técnicos<br />

<strong>do</strong> Metrô terem <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong> a possível sabotagem.<br />

Às 4h <strong>de</strong> ontem, os servi<strong>do</strong>res e os agentes<br />

encontraram um armário fora <strong>do</strong> lugar na sala <strong>do</strong>s<br />

pilotos da base-geral <strong>do</strong> sistema, localizada no<br />

Plano Piloto. Ao averiguar o móvel, i<strong>de</strong>ntificaram a<br />

conexão errada <strong>de</strong> cabos que interligam as placas<br />

eletrônicas responsáveis por controlar to<strong>do</strong> o<br />

serviço <strong>de</strong> sinalização, simulan<strong>do</strong> falhas técnicas.<br />

“Um cabo foi inseri<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>vida e<br />

sobrecarregou o sistema. Tu<strong>do</strong> indica que isso foi<br />

proposital, com conhecimento adquiri<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

metroviários <strong>de</strong> São Paulo e <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro”, diz<br />

o <strong>de</strong>lega<strong>do</strong>, que <strong>de</strong>ve instaurar inquérito hoje para<br />

apurar a suspeita. Ele disse que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

resulta<strong>do</strong> da perícia para comprovar o crime.<br />

A polícia tenta i<strong>de</strong>ntificar os autores o mais rápi<strong>do</strong><br />

possível para obter os manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> busca e<br />

apreensão, além da prisão preventiva <strong>de</strong>les. “A<br />

gente está trabalhan<strong>do</strong> na hipótese <strong>de</strong> ter<br />

envolvimento <strong>de</strong> pelo menos três pessoas, o que<br />

configura quadrilha”, diz Fernan<strong>de</strong>s. A sabotagem<br />

está prevista no artigo nº 262 <strong>do</strong> Código Penal<br />

Brasileiro: “Expor a perigo outro meio <strong>de</strong> transporte<br />

público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o<br />

funcionamento”. A pena é <strong>de</strong> um a <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong><br />

prisão. Caso haja a participação <strong>de</strong> um grupo, a<br />

<strong>de</strong>tenção po<strong>de</strong> ser aumentada em mais três anos.<br />

O porta-voz <strong>do</strong> GDF, Ugo Braga, disse que o<br />

governa<strong>do</strong>r, Agnelo Queiroz (PT), <strong>de</strong>terminou à<br />

direção <strong>do</strong> Metrô a garantia <strong>de</strong> funcionamento<br />

seguro <strong>do</strong>s trens. “O governa<strong>do</strong>r achou gravíssimo<br />

o fato, porque um pequeno grupo <strong>de</strong> radicais entre<br />

os metroviários colocou a segurança <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> usuários <strong>do</strong> metrô em xeque, e isso é<br />

inadmissível”, afirmou Braga ao Correio. O petista<br />

também pediu agilida<strong>de</strong> na i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s<br />

autores da sabotagem. “Eles serão puni<strong>do</strong>s no<br />

rigor estrito da lei”, disse o porta-voz. Na última<br />

semana, os passageiros enfrentaram uma série <strong>de</strong><br />

problemas. Em nove dias, foram pelo menos cinco<br />

falhas nos horários <strong>de</strong> pico, que chegaram a<br />

atrasar as viagens por mais <strong>de</strong> uma hora.<br />

<strong>Dia</strong>riamente, 150 mil pessoas usam o metrô.<br />

Des<strong>de</strong> a semana passada, a direção <strong>do</strong> Metrô<br />

suspeitava <strong>de</strong> um boicote <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res. No<br />

entanto, o Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res em<br />

Empresas <strong>de</strong> Transportes Metroviários (Sindmetrô)<br />

rechaçou a hipótese e acusou a autarquia <strong>de</strong><br />

negligenciar a manutenção da re<strong>de</strong>. Os atrasos<br />

<strong>de</strong>correram <strong>de</strong> diversos problemas elétricos e<br />

eletrônicos, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos nos trens. Na<br />

sexta-feira, uma pane no sistema <strong>de</strong> informações<br />

impediu que o computa<strong>do</strong>r central da re<strong>de</strong><br />

localizasse os trens em circulação. Sem os da<strong>do</strong>s<br />

das linhas, o Centro <strong>de</strong> Controle Operacional teve<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar a parada imediata <strong>do</strong>s vagões.<br />

Passageiros que tinham embarca<strong>do</strong> em Ceilândia,<br />

por exemplo, ficaram presos nos trens por 40<br />

minutos.<br />

Discussão<br />

Depois <strong>de</strong> muitas negociações, na última<br />

sexta-feira, representantes <strong>do</strong> sindicato se<br />

reuniram com membros <strong>do</strong> Ministério Público <strong>do</strong><br />

Trabalho (MPT) para discutir os rumos <strong>do</strong><br />

movimento. Após o encontro, os sindicalistas<br />

resolveram manter a assembleia marcada para<br />

este <strong>do</strong>mingo. No entanto, antes mesmo <strong>do</strong> início<br />

da reunião, o site <strong>do</strong> sindicato já anunciava a greve<br />

por tempo in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>. “Pelo cumprimento das<br />

<strong>de</strong>cisões judiciais e pelo fim das terceirizações. Por<br />

melhoria nos sistemas <strong>de</strong> trens, estações e<br />

manutenção. Pelo cumprimento <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> coletivo<br />

<strong>de</strong> trabalho e igualda<strong>de</strong> com as <strong>de</strong>mais empresas<br />

<strong>do</strong> GDF”, dizia a locução <strong>do</strong> informe na página na<br />

internet.<br />

Data-base<br />

Ontem, porém, a maioria <strong>do</strong>s 200 trabalha<strong>do</strong>res<br />

presentes na assembleia avaliou que haveria um<br />

prejuízo para a categoria caso a greve fosse<br />

<strong>de</strong>flagrada. Seguin<strong>do</strong> a orientação da Procura<strong>do</strong>ria<br />

<strong>do</strong> Trabalho, eles querem agora antecipar as<br />

discussões da data-base, prevista para abril.<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r-geral <strong>do</strong> Sindmetrô, Israel Almeida<br />

15


Pereira disse que a suspeita <strong>de</strong> sabotagem no<br />

sistema é uma “suposição <strong>de</strong>scabida”. “Um<br />

funcionário <strong>de</strong> uma empresa terceirizada atingiu<br />

uma fiação, o que acarretou to<strong>do</strong>s os problemas”,<br />

argumenta. A falha, segun<strong>do</strong> ele, não foi<br />

equacionada e, por isso, ele diz que os<br />

passageiros precisarão ter paciência. Ou seja, não<br />

estão <strong>de</strong>scarta<strong>do</strong>s novos problemas. Mora<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

Samambaia, o conta<strong>do</strong>r José <strong>do</strong>s Reis Ribeiro, 48<br />

anos, mostrou-se preocupa<strong>do</strong> ontem com a<br />

possível greve <strong>do</strong>s metroviários. Ele acredita que<br />

as falhas no sistema ocorridas na semana passada<br />

são um indicativo <strong>de</strong> que a categoria está<br />

insatisfeita.<br />

Memória<br />

Problemas sucessivos<br />

Des<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> mês, os usuários <strong>do</strong> Metrô <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral enfrentam problemas nas viagens.<br />

No dia 2, <strong>do</strong>is raios atingiram uma subestação da<br />

Companhia Energética <strong>de</strong> Brasília (CEB). A<br />

Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Ministério Público <strong>do</strong> Trabalho<br />

tempesta<strong>de</strong> sobrecarregou a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações<br />

responsável pelas viagens ocorridas em Ceilândia.<br />

Com isso, os trens tiveram <strong>de</strong> operar em<br />

velocida<strong>de</strong> reduzida. Cinco dias <strong>de</strong>pois, um veículo<br />

apresentou <strong>de</strong>feito no sistema <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong><br />

portas ao chegar à Estação Feira <strong>do</strong> Guará. Os<br />

passageiros precisaram acionar o sistema <strong>de</strong><br />

emergência para conseguir sair <strong>do</strong>s vagões, mas a<br />

medida fez os freios travarem. O carro acabou<br />

reboca<strong>do</strong> até o pátio <strong>de</strong> Águas Claras.<br />

Na última quarta-feira, os trens operaram em<br />

velocida<strong>de</strong> reduzida. A falha ocorreu no sistema <strong>de</strong><br />

alimentação <strong>do</strong>s trechos entre as Estações<br />

Arniqueira e Shopping. No dia seguinte,<br />

passageiros tiveram <strong>de</strong>, novamente, acionar o<br />

sistema <strong>de</strong> emergência <strong>de</strong> um trem para conseguir<br />

<strong>de</strong>scer <strong>do</strong>s vagões. O veículo havia para<strong>do</strong> antes<br />

da Estação da Asa Sul por problema <strong>de</strong> tração e<br />

também precisou ser reboca<strong>do</strong> para o pátio <strong>do</strong><br />

Metrô. (RT)<br />

16


ARTIGO<br />

Por Josemar Dantas<br />

A manipulação <strong>do</strong> funcionalismo púlico como<br />

massa <strong>de</strong> manobra para justificar maior disciplina<br />

nas <strong>de</strong>spesas da administração oficial, conforme a<br />

visão oportunista <strong>do</strong> governo, se converteu em<br />

rotina intolerável e ilegal. Não convence a alegação<br />

<strong>de</strong> que o congelamento <strong>do</strong>s vencimentos <strong>do</strong>s<br />

servi<strong>do</strong>res é medida <strong>de</strong> prudência em razão da<br />

crise europeia. O po<strong>de</strong>r público, em particular a<br />

União, não está sujeito a regime <strong>de</strong> esccasez <strong>de</strong><br />

recursos. Ao contrário. Somas bilionárias escorrem<br />

para construção <strong>de</strong> estádios, novos acessos à<br />

mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> turistas, veiculos sobre trilhos e<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> outras obras infraestruturais.<br />

Em parte consi<strong>de</strong>rável, há suspeita <strong>de</strong> que a<br />

contratação <strong>de</strong> várias empresas para o gigantesco<br />

mutirão passou ao largo da lisura nos processos<br />

licitatórios, com prováveis e sérios prejuízos ao<br />

erário. Houvesse autêntico receio <strong>de</strong> que as<br />

turbulências na União Europeia po<strong>de</strong>riam abalar a<br />

estabilida<strong>de</strong> econômico- financeira <strong>do</strong> Brasil —<br />

repita-se, argumento usa<strong>do</strong> para negar aos<br />

funcionários a reposição <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra da<br />

remuneração — a emergência ditaria a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> providências bem mais drásticas.<br />

Entre muitas, pelo menos a renúncia <strong>do</strong> país em<br />

sediar as Olimpíadas <strong>de</strong> 2016.<br />

Como sempre, no âmbito da gestão estatal, as<br />

<strong>de</strong>cisões estribam-se em <strong>do</strong>is pesos e duas<br />

medidas. Para muitos, a negativa <strong>de</strong> direitos. Para<br />

outros, os suculentos favores <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. Não há<br />

verbas para acudir às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res públicos. Já para aten<strong>de</strong>r às<br />

emendas parlamentares, rotineira fonte <strong>de</strong><br />

escândalos <strong>de</strong> corrupção, reservaram-se no<br />

Orçamento Fe<strong>de</strong>ral para <strong>2012</strong> cerca <strong>de</strong> R$ 8<br />

bilhões (11% a mais <strong>do</strong> que no ano passa<strong>do</strong>).<br />

Alguns titulares <strong>de</strong> cargos políticos, mediante<br />

travessuras cabalísticas, são remunera<strong>do</strong>s bem<br />

acima <strong>do</strong> teto Constitucional <strong>de</strong> R$26,7 mil. São os<br />

casos daqueles que, <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s para compor<br />

conselhos (consultivos ou administrativos) <strong>de</strong><br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Servi<strong>do</strong>res lesa<strong>do</strong>s<br />

empresas estatais, recebem jetons pelos “serviços<br />

presta<strong>do</strong>s”. Com a renda adicional, salários<br />

chegam até R$51 mil. Diz a Constituição (art. 37,<br />

XI) que qualquer espécie remuneratória, na esfera<br />

<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público, seja cumulativa ou não, não po<strong>de</strong><br />

ultrapassar o teto constitucional. Dinheiro haja para<br />

cobertura <strong>de</strong> tais privilégios proibi<strong>do</strong>s pela Carta<br />

Magna, menos para rever os ganhos <strong>do</strong><br />

funcionalismo.<br />

O Congresso renovou em favor <strong>do</strong> Executivo o<br />

instituto da Desvinculação das Receitas da União<br />

(DRU). Cabe, assim, à Presidência da República<br />

reter 20% das disponibilida<strong>de</strong>s orçamentárias para<br />

gastá-las on<strong>de</strong> quer que visualize conveniência<br />

política. Vai pôr a mão em mais <strong>de</strong> R$ 68 bilhões,<br />

movimentáveis sem autorização <strong>do</strong> Legislativo.<br />

Nada, porém, para satisfazer a carência <strong>do</strong>s<br />

assalaria<strong>do</strong>s da administração governamental.<br />

O Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>mora em provocar<br />

o Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF), por meio <strong>de</strong><br />

Ação <strong>de</strong> Descumprimento <strong>de</strong> Preceito Fundamental<br />

(ADPF), para obrigar o governo a cumprir a<br />

Constituição. Afinal, a Carta Política assegura aos<br />

servi<strong>do</strong>res públicos “a revisão geral anual” da<br />

remuneração “sempre na mesma data e sem<br />

distinção <strong>de</strong> índices” (art. 37 X). Violar semelhante<br />

garantia importa em crime <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>.<br />

JOSEMAR DANTAS É EDITOR DO<br />

SUPLEMENTO DIREITO & JUSTIÇA, MEMBRO<br />

DO INSTITUTO DOS ADVOGADOS<br />

BRASILEIROS<br />

17


PONTO FINAL<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Os caminhos <strong>de</strong> San Tiago Dantas (X)<br />

CARLOS FERNANDO MATHIAS DE SOUZA<br />

Vice-reitor acadêmico da Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Legislativo Brasileiro (Unilegis), professor-titular da<br />

UnB e <strong>do</strong> UniCEUB, presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho Fiscal<br />

<strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong>s Magistra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil (IMB),<br />

membro funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

DF (IADF) e efetivo <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s<br />

Brasileiros (IAB).<br />

O Professor San Tiago Dantas incluiu, como quarto<br />

texto, da coletânea a que intitulou Figuras <strong>de</strong><br />

Direito, o que se refere ao redator <strong>do</strong> anteprojeto<br />

<strong>do</strong> primeiro Código Civil brasileiro. Deu-lhe o título<br />

<strong>de</strong> Ciência e Consciência — um estu<strong>do</strong> sobre<br />

Clóvis Bevilacqua”. Com efeito, em 4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1959, transcorreu o centenário <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong><br />

Clóvis e muitas homenagens foram prestadas ao<br />

notável jurista (lembre-se, <strong>de</strong> passagem, que<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> direito <strong>do</strong> país<br />

conferiu o grau a seus bacharéis nessa data).<br />

A Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Direito da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Brasil (atual UFRJ) incorporou-se, naturalmente,<br />

ao louvor ao gran<strong>de</strong> brasileiro. Falan<strong>do</strong> em nome<br />

da congregação, San Tiago Dantas <strong>de</strong>dicou-lhe o<br />

trabalho ora em <strong>de</strong>staque. De início, lembrou que<br />

bastava se tratar o fato <strong>de</strong> o homenagea<strong>do</strong> ser o<br />

autor <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> Código Civil, diploma<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> (ao menos, à época), pelos cultores<br />

<strong>do</strong> direito, como o maior <strong>do</strong>s nossos monumentos<br />

legislativos, para que se impusesse a distinção <strong>do</strong><br />

louvor, e exaltou, ainda, a circunstância <strong>de</strong> tratar-se<br />

<strong>de</strong> uma das mais altas expressões <strong>do</strong> magistério<br />

jurídico na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife — ao tempo <strong>de</strong><br />

enorme prestígio <strong>de</strong>sse centro <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s.<br />

A<strong>de</strong>mais, pôs em relevo, além das qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

legisla<strong>do</strong>r e <strong>de</strong> professor, os méritos <strong>de</strong> Clóvis<br />

como jurisconsulto e escritor. De fato, como autor,<br />

têm-se muitas obras <strong>de</strong> Clóvis (compêndios<br />

didáticos e adminículos forenses), como o Código<br />

Civil Comenta<strong>do</strong>, Teoria Geral <strong>do</strong> Direito Civil,<br />

Direito das Coisas, Direito das Obrigações, Direito<br />

da Família e Direito das Sucessões (para ficar só<br />

no campo <strong>do</strong> Direito Civil). Além disso, Clóvis foi<br />

um notável parecerista, sen<strong>do</strong> o bastante que se<br />

recor<strong>de</strong>m seus pronunciamentos como consultor<br />

jurídico <strong>do</strong> Itamaraty, priman<strong>do</strong> sempre pela<br />

concisão e precisão.<br />

Observa o professor San Tiago que, à formação <strong>de</strong><br />

jurista <strong>de</strong> Clóvis, só faltou o conhecimento vivo da<br />

aplicação <strong>do</strong> direito que, a seu ver, só se adquire,<br />

inteiramente, pelo exercício da magistratura ou da<br />

advocacia. Após algumas outras consi<strong>de</strong>rações<br />

(inclusive, brevíssimo paralelo entre as figuras <strong>de</strong><br />

Clóvis Bevilacqua e Teixeira <strong>de</strong> Freitas), San Tiago<br />

situa o pensamento i<strong>de</strong>ológico-filosófico <strong>do</strong><br />

projetista <strong>do</strong> Código Civil <strong>de</strong> 1916, assinalan<strong>do</strong> que<br />

ele “embebeu profundamente o seu espírito nas<br />

duas correntes vitoriosas <strong>do</strong> pensamento da época:<br />

o positivismo e o evolucionismo (...)”. E a<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Ihering “(...) unin<strong>do</strong> as generalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> sociólogo e <strong>do</strong> filósofo à precisão <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r<br />

e da <strong>do</strong>gmática, acabaria <strong>de</strong> moldar, segun<strong>do</strong> o<br />

que <strong>de</strong> melhor existia no figurino <strong>do</strong> seu tempo, o<br />

espírito <strong>do</strong> futuro jurisconsulto e codifica<strong>do</strong>r”.<br />

Anota, a seguir, San Tiago, que Clóvis Bevilacqua<br />

não foi um comparatista, tal como se compreen<strong>de</strong><br />

mais mo<strong>de</strong>rnamente, mas era um conhece<strong>do</strong>r<br />

minucioso <strong>do</strong>s códigos civis e comerciais, então<br />

existentes, ao tempo em que se aprofundava no<br />

conhecimento <strong>do</strong>s antece<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> direito<br />

brasileiro, por meio <strong>de</strong> Coelho da Rocha, que para<br />

ele (Clóvis, naturalmente) era o mais completo<br />

discípulo <strong>de</strong> Melo Freire e <strong>de</strong> Augusto Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> “o maior <strong>do</strong>s nossos<br />

jurisconsultos”.<br />

O conhecimento <strong>de</strong> Clóvis da legislação<br />

comparada, por certo, contribuiu para acentuar seu<br />

ecletismo, aponta<strong>do</strong>, por alguns, sob a forma <strong>de</strong><br />

censura e, por outros, como a <strong>de</strong> um louvor. Mas,<br />

especificamente sobre a elaboração <strong>do</strong> Código<br />

Civil, anota San Tiago que, seis meses após o<br />

cometimento da tarefa, Clóvis entregou ao governo<br />

o texto <strong>do</strong> anteprojeto concluí<strong>do</strong>. E assinala que<br />

Clóvis Bevilacqua, ao contrário <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas, não quis fazer uma obra original e<br />

revolucionária. “Sua preocupação foi selecionar<br />

nos projetos anteriores as soluções mais felizes,<br />

preservar o direito vigente on<strong>de</strong> ele continuava a<br />

dar satisfação às exigências da <strong>do</strong>utrina mo<strong>de</strong>rna,<br />

somar a essas sugestões as <strong>do</strong>s Códigos<br />

estrangeiros e tu<strong>do</strong> unir na clareza e simplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um sistema, que tornasse a obra coerente e<br />

inteligível.”<br />

Invoca, no particular, San Tiago, estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pontes<br />

<strong>de</strong> Miranda sobre as fontes <strong>do</strong> Código Civil, on<strong>de</strong><br />

afirma “que a contribuição específica <strong>de</strong> Bevilacqua<br />

à nova Lei contém em mira a or<strong>de</strong>nação da<br />

matéria, mais <strong>do</strong> que a criação <strong>de</strong> regras novas, ou<br />

consiste em conceitos e <strong>de</strong>finições, ou firma<br />

princípios técnicos <strong>de</strong> direito”. Mais adiante, o<br />

professor San Tiago Dantas lembra que uma<br />

comissão <strong>de</strong> civilistas (entre os quais Fila<strong>de</strong>lfo <strong>de</strong><br />

Azeve<strong>do</strong>, Hahnemann Guimarães e Orosimbo<br />

18


Nonato), ao empreen<strong>de</strong>r estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Direito das<br />

Obrigações “muitas vezes sentiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reformar o Código Civil voltan<strong>do</strong> à pureza das<br />

soluções contidas no projeto <strong>de</strong> Clóvis Bevilacqua”.<br />

De outra parte, como se recorda, mestre Clovis<br />

Bevilacqua foi recebi<strong>do</strong> com muitas reservas no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, quan<strong>do</strong> o governo lhe <strong>de</strong>ra a tarefa<br />

da elaboração <strong>do</strong> primeiro Código Civil brasileiro.<br />

Destaca, contu<strong>do</strong>, San Tiago, que, ao término <strong>do</strong><br />

notável trabalho, sua autorida<strong>de</strong> foi reconhecida<br />

por to<strong>do</strong>s, sem reservas ou restrições, e ilustra a<br />

assertiva com passagem extraída da Réplica: “Mais<br />

tar<strong>de</strong> concluída pelo dr. Clóvis a sua tarefa e<br />

ultimada a revisão <strong>de</strong>la, quer pela Comissão <strong>do</strong>s<br />

Cinco, sob a presidência <strong>do</strong> ministro da Justiça,<br />

quer pela <strong>do</strong>s Vinte e Um, na Câmara <strong>do</strong>s<br />

Deputa<strong>do</strong>s, as palavras em que me exprimi acerca<br />

daquele jurista, sua obra inicial e sua colaboração<br />

posterior, foram <strong>de</strong> homenagem sem reservas à<br />

importância <strong>do</strong>s seus serviços.”<br />

Acresce lembrar que San Tiago faz, ainda, o<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> elogio à obra científica <strong>de</strong> Clóvis que,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Código Civil, oferece cinco livros <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> expressão prática e <strong>do</strong>utrinária. Falan<strong>do</strong> em<br />

especial <strong>do</strong> Código Civil <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Brasil, comenta<strong>do</strong> (artigo por artigo) por Clóvis,<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

consigna San Tiago que o trabalho chegou, no foro<br />

brasileiro, a alcançar a autorida<strong>de</strong> da Glosa<br />

(recor<strong>de</strong>-se, aqui, <strong>de</strong> Acúrsio), isto é, servin<strong>do</strong> a<br />

esclarecer obscurida<strong>de</strong>s e dúvidas, contribuin<strong>do</strong><br />

para a melhor aplicação <strong>do</strong> importante instrumento<br />

normativo.<br />

No <strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong> sua oração-ensaio, diz San Tiago<br />

Dantas: “(...) Clóvis Bevilacqua era <strong>do</strong>s<br />

jurisconsultos que tranquilizam, e não <strong>do</strong>s que<br />

alarmam. Sua consciência se mantinha in<strong>de</strong>ne, em<br />

meio às paixões, e não era nem ameaçada, nem<br />

pelas seduções <strong>do</strong> interesse material, nem pelas<br />

competições da vaida<strong>de</strong>, seu <strong>de</strong>spojamento<br />

material, sua renúncia ou <strong>de</strong>satenção a cuida<strong>do</strong>s<br />

que chegam a fazer parte <strong>do</strong> <strong>de</strong>coro da vida, lhe<br />

valeram censuras justificadas, mas é inegável que<br />

contribuíram para dar fulgor <strong>de</strong> evidência à pureza<br />

<strong>de</strong> sua vida moral. Dele era possível repetir o que<br />

Valery dizia <strong>de</strong> Mallarmé: son dénuement avillisait<br />

les avantages <strong>de</strong>s autres.” O que, em português,<br />

dir-se-ia: “seu <strong>de</strong>spojamento humilhava as<br />

superiorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s outros”.<br />

19


PROCESSUAL CIVIL<br />

Curso Avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> Processo Civil (Volume 2),<br />

obra coor<strong>de</strong>nada por Luiz Rodrigues Wambier,<br />

ressuirge em 4ª edição revista, atualizada e<br />

ampliada. Trata <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Execução. O<br />

estu<strong>do</strong> se dirige tanto a professores e afdvoga<strong>do</strong>s<br />

quanto a alunos <strong>de</strong> graduaçãoo e pós-graduação.<br />

Ed. Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 420 páginas.<br />

PRÁTICA FORENSE<br />

Manual <strong>de</strong> Prática da OAB, <strong>de</strong> Bruno Amaro Alves<br />

<strong>de</strong> Almeida, Gustavo Bregalda Neves e Khey<strong>de</strong>r<br />

Loyala, <strong>de</strong>stina-se ao preparo <strong>de</strong> bacharéis ao<br />

exame <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Brasil. Refere-se à segunda fase da avaliação <strong>do</strong><br />

candidato (área constitucional). Há súmulas <strong>do</strong>s<br />

tribunais. Edtora Ri<strong>de</strong>el, 539 páginas.<br />

ENSAIO<br />

A Influência <strong>de</strong> Dalomo Dallari nas Decisões <strong>do</strong>s<br />

Tribunais, obra coor<strong>de</strong>nada por Luiz Gustavo<br />

Bambini <strong>de</strong> Assis, tem como foco principal “a luta<br />

em prol da <strong>de</strong>mocracia e <strong>do</strong>is direitos<br />

fundamentais” (ministro Eicar<strong>do</strong> Lewan<strong>do</strong>swski)<br />

que aproximou o gran<strong>de</strong> jurista brasileiro <strong>do</strong>s<br />

juízes. Editora Saraiva, 638 páginas.<br />

(Editora Atlas/Reprodução)<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

Publicações<br />

CONSTITUCIONAL<br />

Justiça Constitucional, <strong>de</strong> Guilherme Peña <strong>de</strong><br />

Moraes, membro <strong>do</strong> Ministério Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>bate limites e possibilida<strong>de</strong>s<br />

da ativida<strong>de</strong> normariva <strong>do</strong>s tribunais<br />

constitucionais. Livro texto em matéria <strong>de</strong> Direirto<br />

Constitucional aplicável à graduação e<br />

pós-graduação. Ed. Atlas, 218 páginas.<br />

FAMÍLIA<br />

Impenhorabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Bem <strong>de</strong> Família à Luz da Lei<br />

nº 8.0099/90, na Execução Trabalhista, <strong>de</strong> Luciane<br />

Tamagnini, oficial <strong>de</strong> justiça <strong>do</strong> TRT da 2ª Região,<br />

traz ampla investigação jurídica a respeito a<br />

matéria, em particular ao limite da penhora <strong>de</strong> bens<br />

da espécie nas jurisdições trabalhistas. LTr Editora,<br />

86 páginas.<br />

20


LEONARDO ROSCOE BESSA<br />

PROMOTOR DE JUSTIÇA, TITULAR DA<br />

SEGUNDA PROMOTORIA DE DEFESA DO<br />

CONSUMIDOR (MINISTÉRIO PÚBLICO DO<br />

DISTRITO FEDERAL), MESTRE EM DIREITO<br />

PÚBLICO PELA UnB, DOUTOR EM DIREITO<br />

CIVIL PELA UERJ, diretor <strong>do</strong> Instituto brasileiro <strong>de</strong><br />

política e direito <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r (Brasilcon),<br />

professor <strong>do</strong> Uniceub, AUTOR DO LIVRO Manual<br />

<strong>de</strong> direito <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, editora revista <strong>do</strong>s<br />

tribunais<br />

As perguntas <strong>de</strong>vem ser dirigidas para<br />

consumi<strong>do</strong>r@mpdft.gov.br<br />

COMPRA CANCELADA<br />

Formei-me em marçco/2011 em uma cerimõnia <strong>de</strong><br />

colação <strong>de</strong> grau coletiva, organizada pela própria<br />

Universida<strong>de</strong>. Na ocasião, uma empresa <strong>de</strong><br />

formaturas e fotografias fotografou o evento, em<br />

convênio com a Universida<strong>de</strong>, sem contratação ou<br />

compomisso algum pelos forman<strong>do</strong>s. Meses<br />

<strong>de</strong>pois, foi em minha casa um representante <strong>de</strong>sta<br />

empresa, com álbum e poster já impressos, me<br />

oferecen<strong>do</strong> á venda. No momento me interessei e<br />

fechei negócio com o representante e paguei á<br />

vista, fican<strong>do</strong> <strong>de</strong> receber o álbum tambem na forma<br />

<strong>de</strong> arquivo, em ate sete dias.<br />

Ocorre que tão logo o representante foi embora,<br />

em reflexao, me arrependi da contratação <strong>do</strong><br />

serviço e, <strong>de</strong> imediato, registrei meu<br />

arrependimento por e-mail ao representante e à<br />

empresa, solicitan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>volução e o<br />

cancelamento <strong>do</strong> contrato, como me dava direito o<br />

CDC. Não haven<strong>do</strong> respostas <strong>de</strong>stes, entrei em<br />

contato por telefone e obtive <strong>de</strong> ambos o<br />

posicionamento <strong>de</strong> que nao haveria <strong>de</strong>volução e<br />

cancelamento algum, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> o fato <strong>de</strong> as fotos<br />

terem fácil reprodução. Cheguei a me dirigir ao<br />

Procon, mas tive negativa <strong>de</strong> atendimento.<br />

Orientaram a procurar o Judiciário. Passa<strong>do</strong> mais<br />

<strong>de</strong> um mês o problema não foi resolvi<strong>do</strong>. Pergunto:<br />

posso me valer <strong>de</strong>ste fato novo para ratificar o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> cancelamento <strong>do</strong> contrato, não ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> ele presta<strong>do</strong> como combina<strong>do</strong>? E, ainda que<br />

não houvesse esse novo fato, era legítimo meu<br />

direito <strong>de</strong> solicitar a rescisão?<br />

Kassio Alexandre Borba<br />

Brasília<br />

* Preza<strong>do</strong> Kássio,<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Direitos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

Como já esclareci<strong>do</strong> em outras oportunida<strong>de</strong>s, o<br />

Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r estabelece, no<br />

art. 49, que o compra<strong>do</strong>r <strong>de</strong> produtos e serviços<br />

realiza<strong>do</strong>s fora <strong>do</strong> estabelecimento comercial<br />

po<strong>de</strong>m ser “cancela<strong>do</strong>s” no prazo <strong>de</strong> sete dias,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> qualquer falha ou vcio <strong>do</strong><br />

produto ou serviço. No caso, tem aplicação a<br />

possbilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrependimento imotiva<strong>do</strong> da<br />

compra das fotografias, já que o ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r foi até<br />

sua sua casa. Assim, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong><br />

posterior atraso na entrega das fotos (arquivo), é<br />

seu direito receber <strong>de</strong> volta o dinheiro pago.<br />

Acrescente-se que a orientaçao <strong>do</strong> Procon não foi<br />

a<strong>de</strong>quada nem correta. O referi<strong>do</strong> órgão <strong>de</strong>ve<br />

receber todas as reclamações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong><br />

relação <strong>de</strong> consumo. Portanto, faça nova<br />

representação ao orgáo, procurano i<strong>de</strong>ntificar o<br />

nome <strong>do</strong> aten<strong>de</strong>nte.<br />

DEFEITO EM VEÍCULO<br />

Adquiri em março/2011 na Esave Veículos em<br />

Brasília um automóvel Punto Atractive que<br />

apresentou inúmeros <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> fabricação. Após<br />

<strong>de</strong>sgastantes reclamações à fábrica e à<br />

concessionária, alguns foram resolvi<strong>do</strong>s pela<br />

concessionária, outros por mim mesmo e o<br />

principal ainda não foi resolvi<strong>do</strong>, que é a<br />

performance <strong>do</strong> motor, que apresenta um altíssimo<br />

nível <strong>de</strong> vibração e níveis eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> em<br />

condições normais <strong>de</strong> uso na cida<strong>de</strong>. O<br />

<strong>de</strong>sconforto e a <strong>de</strong>cepção é total com o produto e<br />

com o atendimento da concessionária e da própria<br />

Fiat. Mesmo após inúmeros registros <strong>de</strong> protocolos<br />

(to<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s) <strong>de</strong> reclamação, a situação<br />

ainda não foi resolvida. Resolvi testar outro veículo<br />

idêntico ao meu na Bali-Saan e produzi e-mail<br />

pedin<strong>do</strong> providências envia<strong>do</strong> à concessionária<br />

Tecar W3 Norte, aos setores <strong>de</strong> reclamação <strong>de</strong> Fiat<br />

no Brasil e à matriz na Itália, além da presidência<br />

da Fiat Brasil. O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> garantia extingue-se<br />

em 28/03/<strong>2012</strong>, portanto tenho que agir rápi<strong>do</strong>.<br />

Quais <strong>de</strong>vem ser meus procedimentos legais para<br />

resolver o problema, já que ninguém quer assumir<br />

suas responsabilida<strong>de</strong>s perante o consumi<strong>do</strong>r<br />

duplamente lesa<strong>do</strong>?<br />

Antonio Claret Karas<br />

Brasília<br />

* Preza<strong>do</strong> Senhor,<br />

Nada mais natural e justo <strong>do</strong> que to<strong>do</strong> adquirente<br />

<strong>de</strong> um produto (televisão, carro, alimento) ou <strong>de</strong><br />

21


<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> serviço (pintura <strong>de</strong> um objeto,<br />

construção <strong>de</strong> uma casa, viagem, confecção <strong>de</strong> um<br />

roupa) po<strong>de</strong>r exigir que o bem ou serviço atendam<br />

exatamente à função que lhe é própria.<br />

O Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong>termina<br />

que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da garantia oferecida pelo<br />

fornece<strong>do</strong>r (garantia <strong>de</strong> fábrica), os produtos e<br />

serviços <strong>de</strong>vem ser a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s aos fins que se<br />

<strong>de</strong>stinam, ou seja, <strong>de</strong>vem funcionar bem, aten<strong>de</strong>r<br />

às justas expectativas <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. E mais: a<br />

garantia estipulada pela lei não fica afastada pela<br />

garantia oferecida pelo próprio fornece<strong>do</strong>r.<br />

O produto é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> impróprio ao consumo<br />

quan<strong>do</strong>, por qualquer motivo, se revele<br />

ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>. Juridicamente, fala-se que o produto<br />

possui vício ou <strong>de</strong>feito. Nesse caso, po<strong>de</strong> o<br />

consumi<strong>do</strong>r, á sua escolha, exigir o reparo, a<br />

substituição <strong>do</strong> produto por outro, em perfeitas<br />

condições <strong>de</strong> uso, o abatimento proporcional <strong>do</strong><br />

preço, em razão <strong>de</strong> eventual diminuição <strong>do</strong> valor da<br />

coisa <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> <strong>de</strong>feito, além <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização<br />

por perdas e danos (art. 18, § 1º, <strong>do</strong> CDC).<br />

Um aspecto importante, disciplina<strong>do</strong> no CDC, diz<br />

respeito à solidarieda<strong>de</strong> entre os fornece<strong>do</strong>res<br />

pelos vícios <strong>do</strong>s produtos: tanto o fabricante quanto<br />

o comerciante <strong>do</strong> produto estão, igualmente,<br />

obriga<strong>do</strong>s a efetuar os reparos nos produtos,<br />

proce<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>volução <strong>do</strong> dinheiro, substituir o<br />

produto ou efetuar abatimento proporcional <strong>do</strong><br />

preço. Portanto, eventual ação po<strong>de</strong> ser dirigida<br />

contra o lojista, contra o fabricante ou contra<br />

ambos (art. 18 <strong>do</strong> CDC).<br />

Na hipótese, você po<strong>de</strong> exigir a <strong>de</strong>volução <strong>do</strong><br />

dinheiro, além <strong>de</strong> eventuais perdas e danos.<br />

Inicialmente, leve a questão ao Procon. Se não<br />

houver solução satisfatória, <strong>de</strong>ve-se levar o caso à<br />

Justiça, caben<strong>do</strong> lembrar que o Juiza<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Pequenas Causas só recebe ações no valor <strong>de</strong> até<br />

quarenta salários mínimos. Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas<br />

medidas, é importante reclamar por carta e outros<br />

meios ao fabricante <strong>do</strong> produto.<br />

CORREÇÃO DE CADASTRO<br />

Depois <strong>do</strong> pagamento <strong>de</strong> dívida registrada no SPC,<br />

quem <strong>de</strong>ve provi<strong>de</strong>nciar o cancelamento <strong>do</strong><br />

registro?<br />

Carla<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Brasília<br />

* Prezada Carla,<br />

Normalmente, a própria loja realiza o<br />

cancelamento, até para evitar problemas com<br />

<strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia. A respeito <strong>de</strong>ste assunto, o<br />

STJ já se pronunciou em diversas ocasiões no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que: “Constitui obrigação <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r<br />

provi<strong>de</strong>nciar, junto ao órgão cadastral <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, a<br />

baixa <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r após a quitação da<br />

dívida que motivou a inscrição, sob pena <strong>de</strong>, assim<br />

não proce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> em tempo razoável, respon<strong>de</strong>r<br />

pelo ato moralmente lesivo, in<strong>de</strong>nizan<strong>do</strong> o<br />

prejudica<strong>do</strong> pelos danos morais causa<strong>do</strong>s” . (Resp.<br />

621.836, julga<strong>do</strong> em 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004).<br />

Em que pese o <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r em cancelar o<br />

registro após o pagamento da dívida, sob pena <strong>de</strong><br />

ter que in<strong>de</strong>nizar o consumi<strong>do</strong>r e respon<strong>de</strong>r a<br />

processo criminal, o consumi<strong>do</strong>r, também, po<strong>de</strong><br />

dirigir-se diretamente à entida<strong>de</strong> que administra o<br />

serviço <strong>de</strong> proteção ao crédito, apresentar o<br />

comprovante <strong>de</strong> pagamento da dívida e exigir o<br />

imediato cancelamento, com base no § 3º <strong>do</strong> art.<br />

42, <strong>do</strong> CDC, que estabelece: “O consumi<strong>do</strong>r,<br />

sempre que encontrar inexatidão nos seus da<strong>do</strong>s e<br />

cadastros, po<strong>de</strong>rá exigir sua imediata correção,<br />

<strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o arquivista, no prazo <strong>de</strong> cinco dias úteis,<br />

comunicar a alteração aos eventuais <strong>de</strong>stinatários<br />

das informações incorretas.”<br />

22


Luís Carlos Alcofora<strong>do</strong><br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Comentários ao código civil <strong>de</strong> 2002<br />

Advoga<strong>do</strong>, ex-examina<strong>do</strong>r em Direito Civil <strong>do</strong><br />

Exame <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m da or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Brasil, Seção <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, membro <strong>do</strong><br />

Instituto<br />

<strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s Brasileiros, Seção <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

luis.alcofora<strong>do</strong>@alcofora<strong>do</strong>advoga<strong>do</strong>s.com.br<br />

Publicação: <strong>13</strong>/02/<strong>2012</strong> 02:00<br />

Parte Especial<br />

Livro I — Do Direito das Obrigações<br />

Título III — Do Adimplemento e Extinção das<br />

Obrigações<br />

Capítulo I — Do Pagamento (art.304 a art. 333)<br />

Seção III — Do Objeto <strong>do</strong> pagamento e sua prova<br />

(art.3<strong>13</strong> a 326)<br />

Quitação <strong>de</strong> pagamento em quotas periódicas – O<br />

Código Civil trata <strong>de</strong> quitação em quotas periódicas<br />

com base numa regra inspirada na presunção,<br />

conforme disposto no art. 322. Antes <strong>de</strong> explorar a<br />

norma, faz-se necessário percorrer, em pequena<br />

síntese, a análise sobre divisibilida<strong>de</strong> ou<br />

indivisibilida<strong>de</strong> das obrigações, segun<strong>do</strong> o<br />

receituário <strong>do</strong> Código Civil.<br />

Diz-se divisível a obrigação quan<strong>do</strong> for possível o<br />

fracionamento <strong>do</strong> objeto, mediante a obtenção <strong>de</strong><br />

partes que conservam proprieda<strong>de</strong>s, sem<br />

comprometer ou <strong>de</strong>scaracterizar a natureza<br />

essencial <strong>do</strong> negócio jurídico. Reputa-se indivisível<br />

a obrigação quan<strong>do</strong> for inviável o fracionamento <strong>do</strong><br />

objeto, sob uma das seguintes particularida<strong>de</strong>s: a)<br />

indivisibilida<strong>de</strong> material ou física; b) indivisibilida<strong>de</strong><br />

econômica; ou indivisibilida<strong>de</strong> jurídica.<br />

A relação entre divisibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> objeto e<br />

fracionamento (parcelamento) <strong>do</strong> cumprimento da<br />

obrigação não se firma numa regra que exige<br />

correspondência. O pagamento em quotas<br />

periódicas, com divisão das prestações, resulta<br />

mais da vonta<strong>de</strong> das partes <strong>do</strong> que da divisibilida<strong>de</strong><br />

ou fracionamento <strong>do</strong> objeto.<br />

O objeto da obrigação po<strong>de</strong> ser indivisível, por<br />

motivo físico, por causa econômica ou por razão<br />

jurídica, sem que necessariamente a satisfação<br />

ocorra com um só pagamento. A satisfação da<br />

obrigação po<strong>de</strong> ocorrer mediante: a) um<br />

pagamento; ou b) mais <strong>de</strong> um pagamento.<br />

O objeto da obrigação po<strong>de</strong> ser cumpri<strong>do</strong> mediante<br />

um só fazer (ou não fazer) ou dar; e o pagamento,<br />

em uma única parcela ou em mais <strong>de</strong> uma<br />

parcela.A mo<strong>de</strong>lagem relacionada às condições <strong>de</strong><br />

cumprimento da obrigação pertence à volição das<br />

partes a quem cabe convencioná-las como<br />

exercício da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir <strong>do</strong>s sujeitos que<br />

protagonizam o negócio jurídico.<br />

O certo é que, se o pagamento for convenciona<strong>do</strong><br />

em quotas periódicas, cumpre à parte quitar a<br />

parcela <strong>de</strong>vida, segun<strong>do</strong> a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>finida no<br />

negócio jurídico, como condição <strong>de</strong> adimplemento<br />

da obrigação. O Código Civil, no art. 322,<br />

estabeleceu a regra segun<strong>do</strong> a qual se presumem<br />

solvidas as parcelas anteriores, quan<strong>do</strong> o<br />

pagamento for em quotas periódicas, por força da<br />

quitação da última.<br />

Trata-se <strong>de</strong> simples presunção que se constrói com<br />

base em duas investigações objetivas: a)<br />

pagamento em quotas periódicas; e b) quitação da<br />

última parcela. Sem pagamento em quotas<br />

periódicas e da quitação da última parcela,<br />

<strong>de</strong>sautoriza-se a inferência <strong>de</strong> que houve a<br />

solvência da obrigação.<br />

Cuida-se <strong>de</strong> requisitos elementares, sem os quais,<br />

dificilmente, se firma a inferência <strong>de</strong> que houve a<br />

satisfação da obrigação. A formação <strong>de</strong> juízo <strong>de</strong><br />

valor sobre o adimplemento da obrigação, sob o<br />

abrigo da presunção, comporta diálogo com a<br />

prova que a <strong>de</strong>sautorize, mesmo quan<strong>do</strong> houver o<br />

pagamento em quotas periódicas e quitação da<br />

última parcela.<br />

Ressalte-se que a presunção configura, por<br />

expressa vonta<strong>de</strong> legislativa, um <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong><br />

prova <strong>do</strong> fato jurídico, num sistema jurídico que não<br />

preconiza a hierarquia entre as modalida<strong>de</strong>s<br />

probantes. A presunção é exercício <strong>de</strong> <strong>de</strong>dução,<br />

basea<strong>do</strong> em elementos indiciários, que se<br />

conjugam com informações objetivas sobre<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> fato jurídico.<br />

Diz-se que, <strong>de</strong>ntre as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prova, a<br />

presunção consiste na mais árdua ativida<strong>de</strong><br />

cognoscitiva em relação à existência e<br />

comprovação <strong>do</strong> fato jurídico investiga<strong>do</strong>.<br />

Nenhuma prova dispõe da proprieda<strong>de</strong> da verda<strong>de</strong><br />

absoluta, razão por que se admite o confronto com<br />

outro meio <strong>de</strong> prova, como recurso técnico com<br />

23


que se preten<strong>de</strong> tornar a realida<strong>de</strong> íntima <strong>do</strong><br />

conhecimento, ativida<strong>de</strong> que se exerce num plano<br />

relativiza<strong>do</strong> pelas agruras que grassam no juízo da<br />

subjetivida<strong>de</strong>, sob a influência <strong>de</strong> elementos e<br />

fatores, enriqueci<strong>do</strong>s pela evolução <strong>do</strong> conforto<br />

científico, mas nunca <strong>de</strong>finitivo.<br />

Na presunção, opera-se ativida<strong>de</strong> cognitiva muito<br />

refinada e sofisticada, resultante <strong>de</strong> processo em<br />

que se combinam recursos objetivos e subjetivos<br />

para a <strong>de</strong>monstração da verda<strong>de</strong>. Em <strong>de</strong>corrência<br />

da presunção, po<strong>de</strong>-se ter, também, juízo<br />

conclusivo, estea<strong>do</strong> em indício ou suposição, fruto,<br />

porém, <strong>de</strong> mescla <strong>de</strong> elementos indiciários fortes<br />

que autorizam a presunção <strong>de</strong> verossimilhança da<br />

premissa <strong>de</strong> que, com a quitação da última parcela,<br />

se supõem pagas as quotas anteriores.<br />

Na presunção, somam-se, geralmente, fatos,<br />

basea<strong>do</strong>s em provas opacificadas ou turvadas,<br />

mas que, reunidas — a prova da obrigação em<br />

quotas periódicas e o pagamento da última parcela<br />

—, se prestam a formar o convencimento<br />

necessário à afirmação segun<strong>do</strong> a qual houve a<br />

satisfação plena da obrigação.<br />

Para concluir-se que todas as parcelas anteriores<br />

foram solvidas, cabe, pois, a conjectura com base<br />

no conjunto <strong>de</strong> fatos existentes — a prova da<br />

obrigação em quotas periódicas e o pagamento da<br />

última parcela —, agrupamento que conflui para a<br />

consolidação da premissa com que se finaliza o<br />

processo <strong>de</strong> conhecimento, construída pelo<br />

exercício da ativida<strong>de</strong> racional, sem flertar com o<br />

imaginário.<br />

Advirta-se, contu<strong>do</strong>, que presumir não é supor<br />

estimula<strong>do</strong> pela ficção, sem fixação ao mun<strong>do</strong> real<br />

on<strong>de</strong> se formam as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s revela<strong>do</strong>ras <strong>do</strong><br />

objeto <strong>do</strong> conhecimento, que se confun<strong>de</strong> no fato<br />

jurídico que importa à solução <strong>de</strong> uma controvérsia<br />

<strong>de</strong> natureza legal. Deve a presunção se basear na<br />

conjugação <strong>de</strong> indícios rijos que se forjam e se<br />

dispõem à interligação, para a formação <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> conhecimento, acessível apenas pela<br />

articulação <strong>de</strong> fatos até então segrega<strong>do</strong>s ou<br />

secciona<strong>do</strong>s, mas que se amalgamam como<br />

resulta<strong>do</strong> da ativida<strong>de</strong> cognitiva.<br />

Assim é que se confirma o fato da quitação total<br />

pela coligação <strong>do</strong>s indícios objetivos, <strong>de</strong> que<br />

resulta a presunção. A presunção é atributo <strong>do</strong><br />

julga<strong>do</strong>r, em ambiente administrativo ou judicial —,<br />

como premissa conclusiva que recolhe os indícios<br />

apresenta<strong>do</strong>s pelas partes, à falta <strong>de</strong> prova cabal.<br />

Cabe à parte interessada apresentar ou discorrer<br />

sobre os indícios e ao julga<strong>do</strong>r firmar a presunção,<br />

que lhe autoriza a <strong>de</strong>cidir pela existência ou<br />

inexistência da quitação total. Recor<strong>de</strong>-se que os<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

indícios associa<strong>do</strong>s pela ativida<strong>de</strong> cognitiva se<br />

limitam à realida<strong>de</strong> posta nos autos <strong>do</strong> processo,<br />

porque a presunção se traduz no convencimento<br />

interna<strong>do</strong> <strong>do</strong> fato jurídico.<br />

No entanto, admite-se que um fato jurídico fora <strong>do</strong>s<br />

autos, quan<strong>do</strong> público, notório e inquestionável,<br />

aju<strong>de</strong> a compor a ativida<strong>de</strong> cognitiva, como mais<br />

um elemento que corrobora na i<strong>de</strong>ntificação da<br />

verda<strong>de</strong>. Há <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> presunção: a) presunção<br />

legal ou ficta; e b) presunção real. Na presunção<br />

legal ou ficta, por força da disposição da lei ou <strong>do</strong><br />

próprio negócio jurídico, recolhe-se o fato jurídico<br />

como verda<strong>de</strong>, haja vista que se emprestam ao<br />

acontecimento jurídico os atributos da<br />

verossimilhança, pela constatação <strong>de</strong> uma<br />

circunstância integrativa <strong>do</strong> pressuposto fático. Já<br />

na presunção real, exerce-se um raciocínio teci<strong>do</strong><br />

com base na existência <strong>de</strong> indícios fragmenta<strong>do</strong>s<br />

ou segrega<strong>do</strong>s, mas cuja união ou composição<br />

autoriza a conclusão que qualifica o pressuposto<br />

da verda<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato jurídico.<br />

Na presunção legal, a lei se encarrega <strong>de</strong> acolher o<br />

fato como verda<strong>de</strong>iro; na presunção real, o julga<strong>do</strong>r<br />

se põe em ativida<strong>de</strong> cognitiva complexa e rigorosa,<br />

para se convencer da autenticida<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato jurídico,<br />

com supedâneo nos elementos indiciários<br />

apresenta<strong>do</strong>s.<br />

Como to<strong>do</strong> meio <strong>de</strong> prova, suscetível ao embate e<br />

à controvérsia, a presunção, ainda que legal, po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>safiada pela produção <strong>de</strong> outra prova que<br />

<strong>de</strong>sautora uma das premissas usadas para a<br />

fixação da suposição ou da verda<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato<br />

jurídico.<br />

Certamente, na presunção real, o julga<strong>do</strong>r se<br />

esforça e trabalha com mais dificulda<strong>de</strong> para<br />

vencer as adversida<strong>de</strong>s naturais, típicas <strong>do</strong>s juízos<br />

forma<strong>do</strong>s sob a inspiração <strong>de</strong> elementos<br />

indiciários, razão por que se lhe exige re<strong>do</strong>brada<br />

cautela ao construir a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>do</strong><br />

fato jurídico. Num negócio jurídico em pagamento<br />

em quotas periódicas, a presunção <strong>de</strong> quitação das<br />

parcelas anteriores, se houver prova <strong>de</strong><br />

adimplemento da última parcela, tem natureza legal<br />

ou ficta, sujeita, ao <strong>de</strong>safio da prova contrária. Mas<br />

a presunção não se forma pela disposição<br />

subjetiva <strong>de</strong> o intérprete vasculhar apenas os<br />

elementos indiciários, aparta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />

objetiva que o auxilie no engenho <strong>do</strong> juízo <strong>de</strong><br />

convencimento.<br />

Urge, pois, que se confirme o pagamento da última<br />

parcela, encargo por cuja incumbência respon<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r. Observe-se, ainda, que as obrigações<br />

previstas para pagamento em partes ou em quotas<br />

trazem peculiarida<strong>de</strong>s que viabilizam a formação<br />

<strong>de</strong> juízos errôneos quanto ao adimplemento.<br />

24


Atente-se para as obrigações parceladas que<br />

admitem a antecipação <strong>do</strong> pagamento da última<br />

quota.<br />

No caso, o pagamento antecipa<strong>do</strong> da última quota,<br />

em meio a outras parcelas por vencer, não po<strong>de</strong>ria<br />

sugerir que toda a obrigação estaria resolvida. O<br />

instrumento <strong>de</strong> quitação, em cujo corpo se inserem<br />

ou se escrevem as informações relacionadas à<br />

obrigação e aos sujeitos que a protagonizam,<br />

cumpre papel relevante na investigação sobre o<br />

pagamento. Recor<strong>de</strong>-se que a quitação <strong>de</strong>signará<br />

o valor e a espécie da dívida quitada, o nome <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, o tempo e o lugar <strong>do</strong> pagamento, com a<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

assinatura <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r.<br />

A realida<strong>de</strong> da natureza da obrigação é que se põe<br />

para o analista o campo <strong>de</strong> prospecção <strong>de</strong><br />

elementos com os quais possa trabalhar na<br />

formação <strong>de</strong> seu convencimento. O certo é que a<br />

prova <strong>do</strong> pagamento sempre é encargo <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r<br />

a quem cabe se liberar da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstrar que cumpriu a obrigação.<br />

25


Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

Direito Trabalhista<br />

acórdão regional interpôs recurso <strong>de</strong> revista para o<br />

TST. A egrégia Segunda Turma reformou a<br />

<strong>de</strong>cisão por ofensa à coisa julgada, registran<strong>do</strong><br />

que: “se a sentença preten<strong>de</strong>sse que o adicional <strong>de</strong><br />

um terço fosse calcula<strong>do</strong> apenas sobre as férias,<br />

sem a <strong>do</strong>bra, tê-lo-ia <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> expressamente”.<br />

Ante o acórdão que garantiu ao emprega<strong>do</strong> o<br />

recebimento em <strong>do</strong>bro das férias e <strong>do</strong> 1/3, a<br />

empresa interpôs recurso <strong>de</strong> embargos à SDI-1,<br />

alegan<strong>do</strong> que a sentença con<strong>de</strong>natória não<br />

esclarecia se o terço constitucional <strong>de</strong>veria ser<br />

quita<strong>do</strong> em <strong>do</strong>bro, como as férias, motivo pelo qual<br />

egrégia Segunda Turma <strong>do</strong> TST não po<strong>de</strong>ria ter<br />

provi<strong>do</strong> o apelo extremo, nos termos da <strong>do</strong> TST e<br />

da da Subseção 2 Especializada em Dissídios<br />

Individuais (SDI-2).<br />

No entanto, o Ministro Relator, Augusto César Leite<br />

<strong>de</strong> Carvalho, ao examinar as razões oferecidas<br />

pela empresa, <strong>de</strong>stacou o registro feito pela eg.<br />

Turma <strong>de</strong> que a constatação da ofensa direta e<br />

literal ao artigo 5º, inciso XXXVI, da , que trata da<br />

inviolabilida<strong>de</strong> da coisa julgada, “não <strong>de</strong>correu da<br />

interpretação, mas da simples leitura da sentença”.<br />

Para concluir pela ofensa à coisa julgada, segun<strong>do</strong><br />

o Relator, não era necessário fazer interpretações,<br />

pois a <strong>de</strong>cisão regional, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>scumpriu o<br />

coman<strong>do</strong> expresso da sentença em execução,<br />

segun<strong>do</strong> o qual o terço constitucional <strong>de</strong>veria ser<br />

calcula<strong>do</strong> sobre as férias em <strong>do</strong>bro. A Colenda<br />

Subseção, à unanimida<strong>de</strong>, acompanhou o voto <strong>do</strong><br />

Ministro Relator, garantin<strong>do</strong>, portanto, ao<br />

emprega<strong>do</strong> o percebimento em <strong>do</strong>bro das férias e<br />

<strong>do</strong> respectivo terço constitucional.<br />

As consultas <strong>de</strong>vem ser en<strong>de</strong>reçadas para<br />

ADVOCACIA MARCELO PIMENTEL<br />

SBS, Ed. Casa <strong>de</strong> São Paulo, sala 407/9, CEP<br />

70078-900, Brasília (DF)<br />

e-mail advocaciampimentel@mpimentel.adv.br<br />

26


Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Aviso prévio proporcional po<strong>de</strong> não ser aplica<strong>do</strong> ao<br />

emprega<strong>do</strong><br />

Reinal<strong>do</strong> <strong>de</strong> Francisco Fernan<strong>de</strong>s<br />

Advoga<strong>do</strong>-sócio da Garcia, Fernan<strong>de</strong>s, Advoga<strong>do</strong>s<br />

Associa<strong>do</strong>s. professor <strong>de</strong> direito <strong>do</strong> trabalho,<br />

mestre e <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong> em direito <strong>do</strong> trabalho pela<br />

USP.<br />

Um memoran<strong>do</strong> da Secretaria das Relações <strong>do</strong><br />

Trabalho, órgão liga<strong>do</strong> ao Ministério <strong>do</strong> Trabalho e<br />

Emprego, acen<strong>de</strong>u uma polêmica que, para nós,<br />

faz to<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong>. Orienta os servi<strong>do</strong>res daquele<br />

órgão a consi<strong>de</strong>rarem que os novos prazos para o<br />

aviso prévio <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> rompimento <strong>do</strong>s<br />

contratos <strong>de</strong> trabalho, introduzi<strong>do</strong> pela Lei<br />

12.506/11 (que entrou em vigor em <strong>13</strong>/10/11), só<br />

se aplicam nos casos <strong>de</strong> dispensa sem justa<br />

causa, ou seja, nos casos em que o emprega<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong>cida por fim à relação <strong>de</strong> trabalho e não nos<br />

casos em que o emprega<strong>do</strong> tome essa <strong>de</strong>cisão.<br />

Embora essa orientação não represente, ainda,<br />

uma posição oficial <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Trabalho<br />

Emprego, é notório que o texto da Lei 12.506<br />

trouxe mais dúvidas ao já problemático tema <strong>do</strong><br />

aviso prévio proporcional. Sabe-se que a iniciativa<br />

da votação <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> texto legal se <strong>de</strong>u em razão<br />

da recomendação feita pelo Supremo Tribunal<br />

Fe<strong>de</strong>ral ao Congresso Nacional, para votar o<br />

Projeto <strong>de</strong> Lei 3.941, que pretendia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1989,<br />

regulamentar o artigo 7º, XXI, da Constituição e<br />

que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela época, aguardava<br />

silenciosamente apreciação pelas casas<br />

legislativas brasileiras.<br />

<strong>Dia</strong>nte <strong>do</strong> apelo público, o Congresso, em questão<br />

<strong>de</strong> dias, aprovou e a presi<strong>de</strong>nte Dilma sancionou o<br />

texto. Contu<strong>do</strong>, o sucinto texto legal <strong>de</strong>ixou sérias<br />

dúvidas sobre sua aplicação, entre elas, a que<br />

questiona a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> cumprir<br />

o aviso prévio proporcional nos casos em que<br />

solicita seu <strong>de</strong>sligamento da empresa (pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>missão).<br />

O artigo 1º, da Lei 12.506 (aviso prévio<br />

proporcional), estabeleceu que o aviso prévio<br />

proporcional será concedi<strong>do</strong> aos emprega<strong>do</strong>s,<br />

nada mencionan<strong>do</strong> sobre os emprega<strong>do</strong>res. Da<br />

mesma forma, o artigo 7º da Constituição, ao<br />

encabeçar o rol <strong>de</strong> direitos trabalhistas, aos quais<br />

se inclui o inciso XXI, que trata <strong>do</strong> direito ao aviso<br />

prévio proporcional, faz referência aos<br />

trabalha<strong>do</strong>res urbanos e rurais e não aos<br />

emprega<strong>do</strong>res.<br />

Assim, a única regra que faz referência à<br />

reciprocida<strong>de</strong> (tema que tem si<strong>do</strong> levanta<strong>do</strong> pelos<br />

estudiosos para atribuir também aos emprega<strong>do</strong>s<br />

essa obrigação <strong>de</strong> cumprir o aviso proporcional), é<br />

a <strong>do</strong> artigo 487 da Consolidação das Leis <strong>do</strong><br />

Trabalho, que impõe o ônus <strong>do</strong> pré-aviso a<br />

qualquer das partes que preten<strong>de</strong>r romper o<br />

contrato <strong>de</strong> trabalho.<br />

Com algum esforço hermenêutico é possível<br />

i<strong>de</strong>ntificar, com a edição da Lei 12.506, <strong>do</strong>is tipos<br />

diferentes <strong>de</strong> aviso prévio: um previsto na CLT <strong>de</strong><br />

1943, que atribui a ambos a obrigação <strong>de</strong><br />

pré-avisar , com 30 dias <strong>de</strong> antecedência, à parte<br />

prejudicada sobre sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> por fim a um<br />

contrato <strong>de</strong> trabalho. O outro tipo privilegia o texto<br />

constitucional que criou a nova figura <strong>do</strong> aviso<br />

prévio proporcional, <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> exclusivamente ao<br />

emprega<strong>do</strong>, pois tanto o texto constitucional <strong>do</strong><br />

artigo 7º, quanto o novíssimo texto da Lei 12.506,<br />

quan<strong>do</strong> tratam <strong>do</strong> <strong>de</strong>stinatário <strong>do</strong> aviso<br />

proporcional, fazem exclusiva referência à figura <strong>do</strong><br />

emprega<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> ao emprega<strong>do</strong>r apenas o<br />

prazo fixa<strong>do</strong> pela CLT, <strong>de</strong> 30 dias.<br />

O texto legal po<strong>de</strong>ria ter contribuí<strong>do</strong> com essa<br />

corrente ao fazer referência expressa à<br />

regulamentação <strong>do</strong> artigo 7º, XXI, da Constituição.<br />

Contu<strong>do</strong>, ao contrário <strong>do</strong> que seria lógico, o texto<br />

da Lei 12.506 faz referência ao aviso prévio da CLT<br />

(fixo <strong>de</strong> 30 dias) e não ao da Constituição (aviso<br />

proporcional com direito apenas ao emprega<strong>do</strong>),<br />

levan<strong>do</strong> ao confuso entendimento <strong>de</strong> que o aviso<br />

prévio proporcional seria a evolução natural <strong>do</strong><br />

aviso prévio fixo, imposto pelo artigo 487, da CLT e<br />

não estaria, ainda, regulamentan<strong>do</strong> o que dispõe o<br />

artigo 7º, XXI, da Constituição que, ao nosso sentir,<br />

criou um direito exclusivamente ao emprega<strong>do</strong>.<br />

Reforçamos aqui a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

interpretação que pacifique o conflito, que seja<br />

sustentada em <strong>do</strong>is pilares <strong>do</strong> direito, quais sejam,<br />

o respeito irrestrito ao texto constitucional e o<br />

privilégio <strong>de</strong> uma interpretação que valorize o<br />

consagra<strong>do</strong> princípio da proteção, que norteia o<br />

Direito <strong>do</strong> Trabalho. Assim, parece razoável a<br />

interpretação que reconheça na nova Lei 12.506 a<br />

regulamentação <strong>de</strong> um direito previsto na<br />

Constituição, que ignora a reciprocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

obrigações, restan<strong>do</strong> ao emprega<strong>do</strong>r apenas o<br />

direito ao aviso prévio tradicional, <strong>de</strong>scrito <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1943 no texto <strong>do</strong> artigo 483 da Consolidação das<br />

Leis <strong>do</strong> Trabalho, sen<strong>do</strong> inaplicável ao emprega<strong>do</strong><br />

a obrigação <strong>de</strong> cumprir aviso prévio superior a 30<br />

dias quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão, mitigan<strong>do</strong> a<br />

referência que a Lei faz à CLT.<br />

27


Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

O perfil constitucional <strong>do</strong> juiz republicano no projeto<br />

<strong>do</strong> novo CPC<br />

Souza Pru<strong>de</strong>nte<br />

Desembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> TRF da 1ª Região, professor<br />

<strong>de</strong>cano <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> direito da Universida<strong>de</strong><br />

Católica <strong>de</strong> Brasília e da UNIDF, mestre e <strong>do</strong>utor<br />

em direito público-ambiental pela Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />

vNo i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong><br />

Democrático <strong>de</strong> Direito e <strong>de</strong> Justiça, as<br />

constituições mo<strong>de</strong>rnas, que consagram a divisão<br />

tripartite <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, apontam os juízes como<br />

legítimos representantes da soberania popular,<br />

resgatan<strong>do</strong>-os <strong>do</strong> perfil fossilizante <strong>de</strong> seres<br />

inanima<strong>do</strong>s, que, apenas, anunciam as palavras da<br />

lei, sem po<strong>de</strong>r algum para lhe controlar o arbítrio e<br />

o rigor. Nesse senti<strong>do</strong>, advertia João Barbalho, em<br />

comentários à primeira Constituição Republicana<br />

<strong>do</strong> Brasil, nas letras seguintes: “A magistratura que<br />

agora se instala no país, graças ao regime<br />

republicano, não é um instrumento cego ou mero<br />

intérprete na execução <strong>do</strong>s atos <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r<br />

Legislativo. Antes <strong>de</strong> aplicar a lei, cabe-lhe o direito<br />

<strong>de</strong> exame, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> dar-lhe ou recusar-lhe sanção<br />

se ela lhe parecer conforme à lei orgânica. (...) Aí<br />

está posta a profunda diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le que<br />

existe entre o Po<strong>de</strong>r Judiciário, tal como se<br />

achava instituí<strong>do</strong> no regime <strong>de</strong>caí<strong>do</strong>, e aquele que<br />

agora se inaugura, calca<strong>do</strong> sobre os mol<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>mocráticos <strong>do</strong> sistema fe<strong>de</strong>ral. De po<strong>de</strong>r<br />

subordina<strong>do</strong>, qual era, transforma-se em po<strong>de</strong>r<br />

soberano, apto, na elevada esfera <strong>de</strong> sua<br />

autorida<strong>de</strong>, para interpor a benéfica influência <strong>de</strong><br />

seu critério <strong>de</strong>cisivo, a fim <strong>de</strong> manter o equilíbrio, a<br />

regularida<strong>de</strong> e a própria in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s outros<br />

po<strong>de</strong>res, asseguran<strong>do</strong> ao mesmo tempo o livre<br />

exercício <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> cidadão.” (1)<br />

Nesse visor, merece <strong>de</strong>staque, aqui, a sábia<br />

reflexão <strong>do</strong> ministro Sálvio <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> Teixeira,<br />

ainda na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte da Escola<br />

Nacional da Magistratura, em prol <strong>de</strong> “um novo<br />

processo, uma nova Justiça”, nestes termos: “O<br />

Esta<strong>do</strong> Democrático <strong>de</strong> Direito não se contenta<br />

mais com uma ação passiva. O Judiciário não<br />

mais é visto como mero po<strong>de</strong>r eqüidistante, mas<br />

como efetivo participante <strong>do</strong>s <strong>de</strong>stinos da nação e<br />

responsável pelo bem comum. Os direitos<br />

fundamentais sociais, ao contrário <strong>do</strong>s direitos<br />

fundamentais clássicos, exigem a atuação <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, proibin<strong>do</strong>-lhe a omissão. Essa nova<br />

postura repudia as normas constitucionais como<br />

meros preceitos programáticos, ven<strong>do</strong>-as sempre<br />

<strong>do</strong>tadas <strong>de</strong> eficácia em temas como dignida<strong>de</strong><br />

humana, redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais,<br />

erradicação da miséria e da marginalização,<br />

valorização <strong>do</strong> trabalho e da livre iniciativa, <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>do</strong> meio ambiente e construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

mais livre, justa e solidária”.<br />

“Foi-se o tempo <strong>do</strong> Judiciário <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

encastela<strong>do</strong> e inerte. O povo, espolia<strong>do</strong> e<br />

<strong>de</strong>sencanta<strong>do</strong>, está nele a confiar e reclama sua<br />

efetiva atuação através <strong>de</strong>ssa garantia<br />

<strong>de</strong>mocrática, que é o processo, instrumento da<br />

jurisdição. É <strong>de</strong> convir-se, todavia, que somente<br />

procedimentos rápi<strong>do</strong>s e eficazes têm o condão <strong>de</strong><br />

realizar o verda<strong>de</strong>iro escopo <strong>do</strong> processo. Daí a<br />

imprescindibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um processo ágil, seguro e<br />

mo<strong>de</strong>rno, sem as amarras fetichistas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e<br />

<strong>do</strong> presente, apto a servir <strong>de</strong> instrumento à<br />

realização da Justiça, à <strong>de</strong>fesa da cidadania, a<br />

viabilizar a convivência humana e a própria arte <strong>de</strong><br />

viver.” (2)<br />

Com essa inteligência, o Projeto <strong>de</strong> Lei nº 8.046, <strong>de</strong><br />

2010, <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> Fe<strong>de</strong>ral, em trâmite na Câmara<br />

<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, busca implantar as regras <strong>de</strong> um<br />

novo CPC, no or<strong>de</strong>namento jurídico nacional,<br />

resgatan<strong>do</strong> o perfil republicano <strong>do</strong> juiz brasileiro,<br />

como garantia fundamental <strong>do</strong> processo justo e <strong>do</strong><br />

acesso pleno à Justiça, na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> que o<br />

processo civil será or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>, disciplina<strong>do</strong> e<br />

interpreta<strong>do</strong> conforme os valores e os princípios<br />

fundamentais estabeleci<strong>do</strong>s na Constituição da<br />

República Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil, não se excluin<strong>do</strong><br />

da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a<br />

direito, ressalva<strong>do</strong>s os litígios voluntariamente<br />

submeti<strong>do</strong>s à solução arbitral, na forma da lei; que<br />

as partes têm direito <strong>de</strong> obter em prazo razoável a<br />

solução integral da li<strong>de</strong>, incluída a ativida<strong>de</strong><br />

satisfativa, como também têm direito <strong>de</strong> participar<br />

ativamente <strong>do</strong> processo, cooperan<strong>do</strong> com o juiz e<br />

fornecen<strong>do</strong>-lhe subsídios para que profira<br />

<strong>de</strong>cisões, realize atos executivos ou <strong>de</strong>termine a<br />

prática <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> urgência; que, ao aplicar a<br />

lei, o juiz aten<strong>de</strong>rá aos fins sociais a que ela se<br />

dirige e às exigências <strong>do</strong> bem comum, observan<strong>do</strong><br />

sempre os princípios da dignida<strong>de</strong> da pessoa<br />

humana, da razoabilida<strong>de</strong>, da legalida<strong>de</strong>, da<br />

impessoalida<strong>de</strong>, da moralida<strong>de</strong>, da publicida<strong>de</strong> e<br />

da eficácia, asseguran<strong>do</strong>-se às partes parida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento em relação ao exercício <strong>de</strong> direitos e<br />

faculda<strong>de</strong>s processuais, aos meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, aos<br />

ônus, aos <strong>de</strong>veres e à aplicação <strong>de</strong> sanções<br />

processuais, competin<strong>do</strong> ao juiz velar pelo efetivo<br />

contraditório; que as partes e seus procura<strong>do</strong>res<br />

têm o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> contribuir para rápida solução da<br />

li<strong>de</strong>, colaboran<strong>do</strong> com o juiz para a i<strong>de</strong>ntificação<br />

das questões <strong>de</strong> fato e <strong>de</strong> direito, absten<strong>do</strong>-se <strong>de</strong><br />

provocar inci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>snecessários e<br />

procrastinatórios; que não se proferirá sentença ou<br />

28


<strong>de</strong>cisão contra uma das partes sem que esta seja<br />

previamente ouvida, salvo se se tratar <strong>de</strong> medida<br />

<strong>de</strong> urgência ou concedida a fim <strong>de</strong> evitar o<br />

perecimento <strong>de</strong> direito e que o juiz não po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cidir, em grau algum <strong>de</strong> jurisdição, com base em<br />

fundamento a respeito <strong>do</strong> qual não se tenha da<strong>do</strong><br />

às partes oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manifestar, ainda que<br />

se trate <strong>de</strong> matéria sobre a qual tenha que <strong>de</strong>cidir<br />

<strong>de</strong> ofício, ressalvadas as hipóteses <strong>de</strong> tutelas <strong>de</strong><br />

urgência e as questões <strong>de</strong> direito já <strong>de</strong>finitivamente<br />

solucionadas nas instâncias <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras.<br />

No contexto <strong>de</strong>ssas garantias constitucionais<br />

expressas, não há mais como se admitir a figura <strong>do</strong><br />

juiz medroso, covar<strong>de</strong> e formalista, comprometi<strong>do</strong><br />

apenas com seus projetos egoístas <strong>de</strong><br />

autopromoção política, a escon<strong>de</strong>r-se em to<strong>do</strong><br />

tempo, nas técnicas embaraçosas <strong>do</strong>s<br />

procedimentos tradicionais, sem o vigor psicológico<br />

e intelectual <strong>do</strong> juiz republicano, legitima<strong>do</strong> pela<br />

soberania popular, no perfil <strong>de</strong> coragem e<br />

in<strong>de</strong>pendência, traça<strong>do</strong> na Carta Política Fe<strong>de</strong>ral,<br />

como figura indispensável à concessão das tutelas<br />

<strong>de</strong> urgência, estruturadas nas vertentes <strong>do</strong><br />

mo<strong>de</strong>rno processo civil brasileiro.<br />

Não se cuida, assim, na sistemática <strong>do</strong> processo<br />

civil mo<strong>de</strong>rno, da implantação <strong>de</strong> um “ativismo<br />

judicial irresponsável”, como fator <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong><br />

uma “ditadura <strong>do</strong> Judiciário”, a ferir postula<strong>do</strong>s<br />

históricos <strong>de</strong> uma míope exegese privatista <strong>do</strong><br />

direito, sob a luminosida<strong>de</strong> restrita <strong>do</strong>s tempos <strong>de</strong><br />

Napoleão, mas, <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> normas<br />

processuais, revela<strong>do</strong>r <strong>do</strong> autêntico perfil<br />

constitucional <strong>do</strong> juiz, como agente da soberania<br />

nacional, no exercício pleno <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r geral <strong>de</strong><br />

cautela, que <strong>de</strong> há muito rompera as mordaças da<br />

<strong>do</strong>utrina liberal, para garantir os direitos <strong>do</strong><br />

cidadão, neste novo século, no exercício <strong>de</strong> uma<br />

comunhão difusa <strong>de</strong> sentimentos e <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong>, que se ilumina na inteligência<br />

criativa e serviente à aventura da vida, no processo<br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia plenamente<br />

participativa.<br />

Destacam-se, nesse contexto <strong>de</strong> afirmação das<br />

garantias fundamentais <strong>do</strong> processo justo, <strong>de</strong>ntre<br />

outras, as normas supressoras <strong>do</strong> duplo juízo <strong>de</strong><br />

admissibilida<strong>de</strong> recursal, as que autorizam a tutela<br />

cautelar <strong>de</strong> urgência, na <strong>de</strong>terminação judicial <strong>do</strong><br />

efeito suspensivo <strong>do</strong>s recursos, bem assim as que<br />

Correio Braziliense/DF - Direito & Justiça, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

visam afastar riscos ao direito das partes,<br />

garantin<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> útil <strong>do</strong> processo, como<br />

também aquelas que <strong>de</strong>terminam a concessão da<br />

tutela <strong>de</strong> evidência, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da<br />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> dano irreparável ou <strong>de</strong><br />

difícil reparação, quan<strong>do</strong> ficar caracteriza<strong>do</strong> o<br />

abuso <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa ou o manifesto<br />

propósito protelatório da parte requerida, bem<br />

assim quan<strong>do</strong> um ou mais <strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s cumula<strong>do</strong>s<br />

ou parcelas <strong>de</strong>les mostrar-se incontroverso, a<br />

exigir, <strong>de</strong> logo, solução <strong>de</strong>finitiva da li<strong>de</strong>, ou, ainda,<br />

quan<strong>do</strong> a matéria for unicamente <strong>de</strong> direito e<br />

houver tese firmada em julgamento <strong>de</strong> recursos<br />

repetitivos ou resultar <strong>de</strong> enuncia<strong>do</strong> <strong>de</strong> súmula<br />

vinculante.<br />

Na conjuntura atual <strong>de</strong> uma globalização<br />

econômica cada vez mais insensível em seus<br />

projetos <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> riqueza material em<br />

po<strong>de</strong>r <strong>do</strong>s mais fortes e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>res, numa ação<br />

gananciosa e aniquila<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s valores<br />

fundamentais da pessoa humana e <strong>do</strong>s bens da<br />

natureza, há <strong>de</strong> se exigir, por imperativos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

pública, na instrumentalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo civil,<br />

atualiza<strong>do</strong> aos reclamos <strong>do</strong>s novos tempos, uma<br />

ação diligente e corajosa <strong>de</strong> um Judiciário<br />

republicano e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma<br />

or<strong>de</strong>m jurídica justa para to<strong>do</strong>s, no exercício <strong>de</strong><br />

uma tutela jurisdicional oportuna e efetiva,<br />

visivelmente comprometida com a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s<br />

direitos e garantias tutela<strong>do</strong>s pela Constituição da<br />

República Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil.<br />

(1) CAVALCANTI, João Barbalho <strong>de</strong> Uchoa.<br />

Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil.<br />

1906, p. 302.<br />

(2) TEIXEIRA, Sálvio <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>. Estatuto da<br />

Magistratura e Reforma <strong>do</strong> Processo Civil, Del Rey,<br />

1993, pp26/27.<br />

29


TRÂNSITO » O número se refere ao ano<br />

passa<strong>do</strong> e representa um aumento <strong>de</strong> 69,3% em<br />

relação a 2010. Das habilitações apreendidas<br />

pelo Departamento <strong>de</strong> Trânsito em 2011, 4.943,<br />

ou 74%, se <strong>de</strong>vem à combinação <strong>de</strong> álcool e<br />

direção<br />

ADRIANA BERNARDES<br />

Motorista passa pelo teste <strong>do</strong> bafômetro em blitz da<br />

Polícia Militar no Su<strong>do</strong>este: 10.499 multas por<br />

infração à lei seca emitidas em 2011, incremento<br />

<strong>de</strong> 4,9% se compara<strong>do</strong> a 2010 (Antonio<br />

Cunha/Esp. CB/D.A Press - 27/10/11)<br />

Motorista passa pelo teste <strong>do</strong> bafômetro em blitz da<br />

Polícia Militar no Su<strong>do</strong>este: 10.499 multas por<br />

infração à lei seca emitidas em 2011, incremento<br />

<strong>de</strong> 4,9% se compara<strong>do</strong> a 2010<br />

<strong>Dia</strong>riamente, 18 motoristas foram proibi<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

dirigir no Distrito Fe<strong>de</strong>ral em 2011. Os da<strong>do</strong>s são<br />

<strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Trânsito (Detran), que<br />

suspen<strong>de</strong>u 6.675 Carteiras Nacionais <strong>de</strong><br />

Habilitação (CNHs), um salto <strong>de</strong> 69,3% em relação<br />

a 2010, quan<strong>do</strong> houve 3.941 impedimentos.<br />

Principal causa das sanções, a alcoolemia ao<br />

volante respon<strong>de</strong>u por 4.943 proibições no ano<br />

passa<strong>do</strong>, ou 74% <strong>do</strong> total registra<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong>. A<br />

<strong>de</strong>sobediência à tolerância zero prevista na Lei<br />

Fe<strong>de</strong>ral nº 11.705/08 (veja O que diz a lei) também<br />

foi a causa <strong>de</strong> mais da meta<strong>de</strong> das cassações <strong>de</strong><br />

habilitação. Das 203 aplicadas, 155 foram por essa<br />

razão.<br />

“O aumento (nas cassações) se <strong>de</strong>ve ao<br />

crescimento das infrações e também ao reforço no<br />

quadro <strong>de</strong> servi<strong>do</strong>res que analisam os processos.<br />

Nossa priorida<strong>de</strong> são os casos <strong>de</strong> lei seca. Mas,<br />

assim que fecharmos o contrato <strong>de</strong> informática,<br />

vamos focar nos campeões <strong>de</strong> pontos”, afirmou<br />

Adilson Lima, gerente <strong>de</strong> Registro e Controle <strong>de</strong><br />

Penalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Detran.<br />

Para o ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r João Paulo*, 31 anos, ter o direito<br />

<strong>de</strong> dirigir suspenso por um ano <strong>do</strong>eu mais que a<br />

multa <strong>de</strong> R$ 957 por ter si<strong>do</strong> flagra<strong>do</strong> sob efeito <strong>de</strong><br />

álcool ao volante. Mas a punição foi insuficiente<br />

para que ele aban<strong>do</strong>nasse o hábito <strong>de</strong> guiar após<br />

beber. A proibição <strong>de</strong> pegar o volante também foi<br />

<strong>de</strong>scumprida reiteradas vezes. “Não tinha como<br />

ficar sem o carro. Meu trabalho <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento rápi<strong>do</strong>”, justificou. Ele diz que, a<br />

partir <strong>do</strong> flagrante, passou a frequentar bares perto<br />

<strong>de</strong> casa. “Antes, não estava nem aí e enchia a<br />

cara. Agora, bebo menos”, garante, como se isso<br />

Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

6,6 mil CNHs suspensas<br />

fosse o suficiente.<br />

Mau exemplo<br />

Na madrugada <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro, um flagrante <strong>de</strong><br />

condutor alcooliza<strong>do</strong> ganhou repercussão nacional.<br />

O <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral Gladson Cameli (PP-AC) foi<br />

pego em uma blitz da Polícia Militar <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral com 1,14 miligrama <strong>de</strong> álcool por litro <strong>de</strong><br />

ar expeli<strong>do</strong> <strong>do</strong>s pulmões. A partir <strong>de</strong> 0,3ml/l, a<br />

conduta é consi<strong>de</strong>rada crime. Cameli foi leva<strong>do</strong><br />

para a 2ª Delegacia <strong>de</strong> Polícia (Asa Norte), on<strong>de</strong><br />

seria <strong>de</strong>ti<strong>do</strong> e informa<strong>do</strong> sobre abertura <strong>de</strong><br />

inquérito criminal. Para sair da prisão, teria <strong>de</strong><br />

pagar fiança. Mas nada disso aconteceu.<br />

Quan<strong>do</strong> ficou frente a frente com o <strong>de</strong>lega<strong>do</strong><br />

Wal<strong>de</strong>ck Duarte Júnior, Cameli informou que era<br />

<strong>de</strong>puta<strong>do</strong> e foi libera<strong>do</strong>. “Por causa <strong>do</strong> foro<br />

prerrogativo <strong>de</strong> função, um <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> só po<strong>de</strong> ser<br />

preso em flagrante em caso <strong>de</strong> crime inafiançável,<br />

como homicídio e estupro”, <strong>de</strong>stacou o <strong>de</strong>lega<strong>do</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> Wal<strong>de</strong>k, o parlamentar “não estava<br />

cambalean<strong>do</strong>”, mas apresentava sinais <strong>de</strong><br />

embriaguez. O investiga<strong>do</strong>r acrescentou que as<br />

provas <strong>do</strong> crime — exame <strong>de</strong> alcoolemia,<br />

<strong>de</strong>poimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> e relato <strong>do</strong>s policiais —<br />

serão recolhidas para serem enviadas ao Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF), já que a polícia não tem<br />

autonomia para abrir investigação contra<br />

parlamentares. “É injusto com o cidadão comum”,<br />

criticou o titular da 2ª DP.<br />

O conta<strong>do</strong>r João Lemos, 42 anos, consi<strong>de</strong>rou um<br />

“absur<strong>do</strong>” o <strong>de</strong>sfecho <strong>do</strong> caso envolven<strong>do</strong> o<br />

parlamentar. “Justamente por ser autorida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>veria dar o exemplo e ser puni<strong>do</strong><br />

exemplarmente. Se quem está no po<strong>de</strong>r não<br />

cumpre as leis que eles mesmos aprovam, como<br />

vão querer que os cidadãos comuns respeitem a<br />

legislação?”, questiona. Lemos nunca foi pego na<br />

lei seca. Não porque cumpre a legislação, mas “por<br />

sorte”, como ele mesmo <strong>de</strong>fine. “Desrespeito, mas<br />

não faço loucura. Não encho a cara antes <strong>de</strong> pegar<br />

o volante. Mas se for pego, vou merecer a<br />

punição”, afirma.<br />

Ao longo <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>, a fiscalização emitiu<br />

10.499 multas por infração à lei seca, um aumento<br />

<strong>de</strong> 4,9% em relação a 2010, quan<strong>do</strong> houve 10.002<br />

autuações. Nem to<strong>do</strong>s os processos foram<br />

analisa<strong>do</strong>s e julga<strong>do</strong>s ainda.<br />

Portanto, o número <strong>de</strong> suspensões e cassações<br />

ten<strong>de</strong> a aumentar. Apesar da quantida<strong>de</strong>, a<br />

sensação geral é a <strong>de</strong> que os órgãos <strong>de</strong> trânsito<br />

30


esponsáveis por coibir a conduta <strong>de</strong> dirigir<br />

alcooliza<strong>do</strong> afrouxaram a vigilância e mais gente se<br />

arrisca nas ruas. O Detran nega que tenha<br />

reduzi<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> blitzes, apesar <strong>de</strong><br />

reconhecer que falta pessoal.<br />

* Nome fictício a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong><br />

O que diz a lei<br />

O artigo 165 da Lei Fe<strong>de</strong>ral nº 11.705/08, a lei<br />

seca, fixa a tolerância zero à combinação álcool e<br />

volante. Dirigir sob a influência <strong>de</strong> até 0,29<br />

miligrama <strong>de</strong> álcool por litro <strong>de</strong> ar expeli<strong>do</strong> pelos<br />

pulmões é infração gravíssima, punida com multa<br />

<strong>de</strong> R$ 957 e suspensão <strong>do</strong> direito <strong>de</strong> dirigir por um<br />

ano. O condutor ainda ganha 7 pontos na carteira.<br />

Se o nível <strong>de</strong> álcool no organismo é igual ou<br />

superior a 0,3 miligrama <strong>de</strong> álcool por litro <strong>de</strong> ar, o<br />

motorista comete o crime previsto no artigo 306. É<br />

<strong>de</strong>ti<strong>do</strong> e a liberação ocorre somente após o<br />

pagamento <strong>de</strong> fiança, que varia entre R$ 600 e R$<br />

2 mil. É aberto um processo criminal por dirigir<br />

alcooliza<strong>do</strong> contra o condutor. Se ele for réu<br />

primário, conquista o direito à transação penal —<br />

substituição da pena <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção por medidas<br />

restritivas <strong>de</strong> direito.<br />

(AB)<br />

A diferença<br />

» Carteira cassada<br />

O processo <strong>de</strong> cassação ocorre quan<strong>do</strong> o condutor<br />

tem a CNH suspensa e comete infrações graves,<br />

como dirigir alcooliza<strong>do</strong>, fazer “racha” ou praticar<br />

manobras perigosas. A proibição <strong>do</strong> direito <strong>de</strong><br />

conduzir também ocorre quan<strong>do</strong> o motorista é<br />

Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> judicialmente por crime <strong>de</strong> trânsito ou<br />

por falsificar a habilitação. A cassação dura <strong>do</strong>is<br />

anos e, para obter uma nova CNH, é preciso repetir<br />

to<strong>do</strong> o processo.<br />

» Carteira suspensa<br />

O condutor terá suspenso o direito <strong>de</strong> dirigir<br />

quan<strong>do</strong> somar mais <strong>de</strong> 20 pontos <strong>de</strong> multas no<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ano. O prazo da suspensão varia <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com o tipo <strong>de</strong> infração — vai <strong>de</strong> um mês a<br />

um ano. Caso o infrator seja reinci<strong>de</strong>nte no perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 12 meses, o prazo passa <strong>de</strong> seis meses a <strong>do</strong>is<br />

anos.<br />

31


CNJ » Sem solução há anos, o assassinato <strong>do</strong>s<br />

fiscais em Unaí e o rombo na Sudam estão<br />

entre os casos em que o Conselho intervém na<br />

conclusão <strong>do</strong>s processos<br />

EDSON LUIZ<br />

DIEGO ABREU<br />

O motorista e os fiscais <strong>do</strong> trabalho mortos em<br />

Unaí (MG) em 2004: CNJ pressiona para que o<br />

extermínio <strong>do</strong>s profissionais seja julga<strong>do</strong> neste ano<br />

Depois <strong>de</strong> apressar o julgamento <strong>do</strong>s responsáveis<br />

pela morte da <strong>de</strong>putada Ceci Cunha em Alagoas, o<br />

Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça (CNJ) se prepara<br />

para intervir em outros casos. E não apenas<br />

naqueles que envolvam crimes <strong>de</strong> morte como o da<br />

próxima quarta-feira, quan<strong>do</strong> um representante da<br />

entida<strong>de</strong> vai acompanhar no Ceará o julgamento<br />

<strong>de</strong> duas pessoas acusadas <strong>de</strong> integrar um grupo<br />

<strong>de</strong> extermínio. O conselho vai intensificar a ação<br />

voltada a fatos insolúveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> dinheiro<br />

público. Um exemplo é o rombo na<br />

Superintendência <strong>do</strong> Desenvolvimento da<br />

Amazônia (Sudam) ocorri<strong>do</strong> há mais <strong>de</strong> 10 anos e<br />

que <strong>de</strong>u prejuízos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> R$ 2 bilhões aos<br />

cofres públicos.<br />

Esses casos fazem parte da pauta <strong>do</strong> Programa<br />

Justiça Plena, que reúne 71 ocorrências a serem<br />

tratadas com priorida<strong>de</strong> pelos tribunais. Neste ano,<br />

o CNJ preten<strong>de</strong> adiantar o julgamento <strong>do</strong>s<br />

processos que estão sem resolução há anos, como<br />

fez em 2011 em relação ao caso da <strong>de</strong>putada Ceci<br />

Cunha. “São indicações <strong>de</strong> várias instituições e<br />

relacionadas a todas as instâncias da Justiça, com<br />

exceção <strong>do</strong>s tribunais superiores”, explica o auxiliar<br />

da correge<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> CNJ, Erival<strong>do</strong> Ribeiro <strong>do</strong>s<br />

Santos. Em relação à parlamentar assassinada em<br />

1998, o conselho interferiu na tramitação da ação,<br />

que estava travada por causa <strong>do</strong>s inúmeros<br />

recursos impetra<strong>do</strong>s pelos <strong>de</strong>fensores <strong>do</strong>s<br />

acusa<strong>do</strong>s.<br />

O assassinato <strong>do</strong>s auditores fiscais em 2004, em<br />

Unaí (MG), também está no foco <strong>do</strong> conselho. Os<br />

fiscais Nelson José da Silva, Eratósteles <strong>de</strong><br />

Almeida e João Batista Lage, e o motorista Airton<br />

Pereira <strong>de</strong> Oliveira, foram executa<strong>do</strong>s em 28 <strong>de</strong><br />

janeiro daquele ano, quan<strong>do</strong> realizavam uma<br />

vistoria em fazendas da região. No último dia 7, o<br />

Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF) <strong>de</strong>u o último<br />

passo para que o julgamento <strong>do</strong>s acusa<strong>do</strong>s ocorra.<br />

A Corte negou o recurso <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s supostos<br />

mata<strong>do</strong>res. Segun<strong>do</strong> enten<strong>de</strong>u o ministro Ricar<strong>do</strong><br />

Correio Braziliense/DF - Política, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

De olho nos gran<strong>de</strong>s crimes<br />

Lewan<strong>do</strong>wski, relator <strong>do</strong> processo, a ação<br />

impetrada tinha caráter meramente protelatório.<br />

“Aqui se trata <strong>de</strong> uma questão muito conhecida,<br />

uma chacina <strong>de</strong> fiscais <strong>do</strong> trabalho, e preten<strong>de</strong>-se<br />

postergar, <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>terminada, o julgamento”,<br />

disse o ministro, durante a análise da questão.<br />

A partir disso, o CNJ vai começar a fazer gestões<br />

para que o júri em Unaí aconteça ainda este ano. O<br />

pedi<strong>do</strong> para que o conselho acompanhasse o caso<br />

foi feito pela Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil<br />

(OAB), que se mostrou preocupada com a<br />

morosida<strong>de</strong> na tramitação <strong>do</strong> processo. “Trata-se<br />

<strong>de</strong> um crime que afrontou o Esta<strong>do</strong>, intimidan<strong>do</strong><br />

aqueles que, no exercício <strong>de</strong> suas funções, fazem<br />

cumprir as leis. Por isso, mostra-se imprescindível<br />

uma resposta firme <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público a fim <strong>de</strong> não<br />

repassar à socieda<strong>de</strong>, em mais uma oportunida<strong>de</strong>,<br />

a sensação <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong>”, justificou o presi<strong>de</strong>nte<br />

da OAB, Ophir Cavalcante.<br />

Desvio<br />

Os casos acompanha<strong>do</strong>s pelo Programa Justiça<br />

Plena foram seleciona<strong>do</strong>s após a análise <strong>de</strong> 330<br />

pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> interferência feitos por diversas<br />

instituições. Um <strong>de</strong>les refere-se aos <strong>de</strong>svios da<br />

Sudam, cujo processo está sem solução <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

2001. Hoje, existem as ações na Justiça contra<br />

supostos frauda<strong>do</strong>res <strong>de</strong> financiamentos — entre<br />

eles, o sena<strong>do</strong>r Ja<strong>de</strong>r Barbalho (PMDB-PA) —,<br />

mas ainda não foram julgadas. Segun<strong>do</strong> o<br />

Conselho Nacional <strong>do</strong> Ministério Público (CNMP),<br />

que fez a solicitação para que o CNJ interviesse, a<br />

<strong>de</strong>núncia foi recebida em fevereiro <strong>de</strong> 2002, mas<br />

nada aconteceu até agora. O último andamento <strong>do</strong><br />

processo ocorreu em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, quan<strong>do</strong><br />

foram expedidas várias cartas precatórias para as<br />

testemunhas <strong>do</strong> caso.<br />

Segun<strong>do</strong> o CNMP, o que ficou conheci<strong>do</strong> como o<br />

escândalo da Sudam foi uma sucessão <strong>de</strong> frau<strong>de</strong>s<br />

na aprovação, na implementação e na fiscalização<br />

<strong>do</strong>s projetos com recursos da autarquia entre 1998<br />

e 1999. “Os autos revelam sofistica<strong>do</strong> esquema<br />

criminoso, com danos consi<strong>de</strong>ráveis causa<strong>do</strong>s à<br />

coletivida<strong>de</strong>. O processo contém quantida<strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> réus, apensos e volumes, o que<br />

dificulta expressivamente a prestação jurisdicional<br />

pretendida”, justificou o CNMP. “O processo já se<br />

arrasta por quase uma década, estan<strong>do</strong> ainda em<br />

primeira instância, sem perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

final”, acrescentou o conselho no ofício envia<strong>do</strong> ao<br />

CNJ.<br />

Extermínio<br />

32


Na quarta-feira, será realiza<strong>do</strong> em Fortaleza, o júri<br />

<strong>do</strong> motorista Silvio Pereira <strong>do</strong> Vale da Silva e <strong>do</strong><br />

cabo da Polícia Militar Pedro Cláudio Duarte,<br />

acusa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> integrar um grupo <strong>de</strong> extermínio no<br />

Ceará. Eles são suspeitos <strong>de</strong> matar com vários<br />

tiros Lenimberg Rocha Clarin<strong>do</strong> em julho <strong>de</strong> 2006.<br />

Na época, a vítima foi assassinada por engano ao<br />

ser confundida com um assaltante que horas antes<br />

havia mata<strong>do</strong> um policial. A investigação <strong>do</strong> caso<br />

chegou à Polícia Fe<strong>de</strong>ral, já que envolvia agentes<br />

<strong>de</strong> segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Para apressar o<br />

julgamento <strong>do</strong>s acusa<strong>do</strong>s, o CNJ, por meio <strong>do</strong><br />

Programa Justiça Plena, ofereceu apoio à Justiça<br />

cearense.<br />

Conforme o CNJ, outros casos envolven<strong>do</strong> grupos<br />

<strong>de</strong> extermínio são acompanha<strong>do</strong>s pelo Programa<br />

Justiça Plena no Ceará. Um <strong>de</strong>les envolve<br />

policiais militares, chefia<strong>do</strong>s por um major, que<br />

faziam segurança para empresas e comerciantes.<br />

Eles eram encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> evitar assaltos, mas<br />

executavam supostos ladrões.<br />

Mais <strong>de</strong> 450 anos<br />

Cinco pessoas foram con<strong>de</strong>nadas a penas que<br />

chegaram a mais <strong>de</strong> 450 anos pela morte da<br />

<strong>de</strong>putada Ceci Cunha. Um <strong>de</strong>les foi o ex-<strong>de</strong>puta<strong>do</strong><br />

Talvane <strong>de</strong> Albuquerque, que pegou 103 anos <strong>de</strong><br />

prisão em regime fecha<strong>do</strong>. Ele foi, segun<strong>do</strong><br />

entendimento <strong>do</strong> júri, o mandante da morte da<br />

parlamentar porque era suplente <strong>de</strong>la e queria<br />

assumir a função para imunida<strong>de</strong>. Men<strong>do</strong>nça<br />

Me<strong>de</strong>iros, que <strong>de</strong>u fuga aos criminosos, levou o<br />

menor tempo <strong>de</strong> prisão: 75 anos. Foi um <strong>do</strong>s raros<br />

casos em que um homicídio foi julga<strong>do</strong><br />

pela Justiça Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Outros casos<br />

A iniciativa também acompanha o caso <strong>de</strong> um<br />

paciente psiquiátrico morto na Casa <strong>de</strong> Repouso<br />

Guararapes <strong>de</strong> Sobral, no Ceará. Damião Ximenes<br />

Lopes per<strong>de</strong>u a vida em 1999 <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a maus-tratos<br />

sofri<strong>do</strong>s na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. O caso também<br />

levou o Brasil a ser <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong> na Organização<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Americanos. Também com<br />

repercussão nacional o caso <strong>de</strong> Roselândio Borges<br />

Serrano tem o apoio <strong>do</strong>s conselheiros. Ele ficou<br />

tetraplégico após ser balea<strong>do</strong> pelas costas por<br />

policiais militares na Favela <strong>de</strong> Peixinhos, em<br />

Olinda (PE), em 1991.<br />

São indicações <strong>de</strong> várias instituições e<br />

relacionadas a todas as instâncias da Justiça, com<br />

exceção <strong>do</strong>s tribunais superiores”<br />

Erival<strong>do</strong> Ribeiro <strong>do</strong>s Santos, auxiliar da<br />

correge<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Correio Braziliense/DF - Política, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Pressão da OEA<br />

A ministra <strong>do</strong>s Direitos Humanos, Maria <strong>do</strong><br />

Rosário, reforçou no CNJ a importância <strong>de</strong> julgar a<br />

morte <strong>de</strong> Dezinho<br />

Entre os casos mais emblemáticos monitora<strong>do</strong>s<br />

pelo Justiça Plena, está o <strong>do</strong> assassinato <strong>do</strong><br />

sindicalista José Dutra da Costa, conheci<strong>do</strong> como<br />

Dezinho, em 21 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2000, no<br />

município <strong>de</strong> Ron<strong>do</strong>n <strong>do</strong> Pará (PA), <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong><br />

conflitos agrários na região. O crime é<br />

acompanha<strong>do</strong> também pela Corte Interamericana<br />

<strong>de</strong> Direitos Humanos da Organização <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Americanos (OEA).<br />

Dezinho teria si<strong>do</strong> morto por encomenda <strong>de</strong><br />

fazen<strong>de</strong>iros <strong>do</strong> Pará. Há quatro anos, a comissão<br />

da OEA passou a cobrar medidas efetivas <strong>do</strong><br />

governo brasileiro sob o argumento <strong>de</strong> que as<br />

autorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Brasil não se esforçaram para evitar<br />

o crime e punir os culpa<strong>do</strong>s pelo assassinato.<br />

No acor<strong>do</strong> firma<strong>do</strong> pelo CNJ com o Po<strong>de</strong>r<br />

Executivo e o Ministério Público, ficou<br />

estabelecida a implementação <strong>de</strong> “medidas<br />

concretas para garantir a reparação <strong>do</strong>s danos<br />

materiais e morais sofri<strong>do</strong>s pelos familiares da<br />

vítima, em atenção às suas <strong>de</strong>mandas, bem como<br />

prevenir novas violações”. Em um ofício<br />

en<strong>de</strong>reça<strong>do</strong>, no ano passa<strong>do</strong>, à correge<strong>do</strong>ra<br />

nacional <strong>de</strong> Justiça, Eliana Calmon, a ministra <strong>do</strong>s<br />

Direitos Humanos, Maria <strong>do</strong> Rosário, menciona a<br />

importância da efetivação das medidas concretas<br />

previstas no acor<strong>do</strong> e ressalta que é fundamental o<br />

encerramento <strong>do</strong> trâmite <strong>do</strong> caso perante a<br />

Comissão Interamericana <strong>de</strong> Direitos Humanos.<br />

Entre os pontos firma<strong>do</strong>s, está o comprometimento<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro em “acompanhar e dar<br />

priorida<strong>de</strong> ao andamento da ação penal proposta<br />

em face <strong>do</strong>s acusa<strong>do</strong>s pelo homicídio”. No<br />

<strong>do</strong>cumento, há também a previsão da atuação <strong>de</strong><br />

uma equipe responsável por dar cumprimento aos<br />

manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> prisão expedi<strong>do</strong>s contra os<br />

acusa<strong>do</strong>s.<br />

O governo concor<strong>do</strong>u em pagar uma in<strong>de</strong>nização<br />

por danos morais e materiais <strong>de</strong> R$ 50 mil aos<br />

familiares <strong>de</strong> Dezinho, que presidia o Sindicato <strong>do</strong>s<br />

Trabalha<strong>do</strong>res Rurais <strong>de</strong> Ron<strong>do</strong>n <strong>do</strong> Pará quan<strong>do</strong><br />

foi assassina<strong>do</strong>. A viúva, Maria Joel <strong>Dia</strong>s da Costa,<br />

também chegou a ser ameaçada, assim como<br />

outros dirigentes <strong>do</strong> sindicato. Ela também passou<br />

a receber, a partir <strong>do</strong> acor<strong>do</strong>, uma pensão mensal<br />

vitalícia <strong>de</strong> R$ 765.<br />

Dezinho foi morto com três tiros pelo mata<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

aluguel Wellington <strong>de</strong> Jesus Silva, con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> a 29<br />

anos <strong>de</strong> prisão. No entanto, sete anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

cometer o crime, Wellington <strong>de</strong> Jesus foi<br />

33


eneficia<strong>do</strong> por uma medida que lhe permitiu<br />

passar o fim <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2007 fora da ca<strong>de</strong>ia. Ele<br />

usou o benefício para escapar da prisão.<br />

Aponta<strong>do</strong>s como intermediários <strong>do</strong> crime, Ygoismar<br />

Mariano e Rogério <strong>Dia</strong>s tiveram suas prisões<br />

Correio Braziliense/DF - Política, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

preventivas <strong>de</strong>cretadas, mas não foram<br />

captura<strong>do</strong>s. O acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser o mandante <strong>do</strong><br />

crime, José Décio Barroso Nunes, respon<strong>de</strong> ao<br />

processo em liberda<strong>de</strong>. (DA e EL)<br />

34


“É uma greve não muito mobilizada”<br />

Ministro José Eduar<strong>do</strong> Car<strong>do</strong>zo, sobre paralização<br />

da Polícia Militar <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

LÍDER DO PT VISITA FRIO EUROPEU POR<br />

NOSSA CONTA<br />

Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar uma comissão <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze<br />

sena<strong>do</strong>res para bater pernas pela cúpula Rio+20, o<br />

Sena<strong>do</strong> vai mandar o novo lí<strong>de</strong>r <strong>do</strong> PT, Walter<br />

Pinheiro (BA), flanar no frio europeu. Ele jura que<br />

visitará fábrica na Noruega, conhecerá o uso da<br />

faixa <strong>de</strong> 450 MHz (?) em Estocolmo, dará uma<br />

espiada no laboratório da B. Braun na Alemanha e<br />

num evento em Barcelona. Entre amanhã (14) e 1º<br />

<strong>de</strong> março. A conta será nossa.<br />

AVISO PRÉVIO<br />

O ex-presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> PT Ricar<strong>do</strong> Berzoini não tem<br />

dúvida: se Lula insistir na aliança com o PSD <strong>de</strong><br />

Gilberto Kassab, haverá uma rebelião no PT.<br />

ELE QUER BLINDAGEM<br />

Os petistas acham que o interesse <strong>de</strong> Kassab em<br />

aliar-se ao PT é para conter as criticas <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> à<br />

sua gestão, durante a campanha.<br />

PÁSSARO, AVIÃO?<br />

Piada nos corre<strong>do</strong>res da FAB, após a França<br />

ven<strong>de</strong>r seus primeiros Rafales: os indianos<br />

estariam melhor servi<strong>do</strong>s com tapete mágico.<br />

VAI DAR CHABU<br />

O semidita<strong>do</strong>r Hugo Chávez festeja seu satélite<br />

com a China, “o primeiro que chegará a Marte”.<br />

Deveria se chamar “Chabúz!”.<br />

PELUSO PLANEJA ANTECIPAR<br />

APOSENTADORIA EM JULHO<br />

No dia 25 <strong>de</strong> abril o ministro Cezar Peluso <strong>de</strong>ixa o<br />

coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, o mais<br />

importante tribunal <strong>do</strong> país. Assume em seu lugar o<br />

atual vice-presi<strong>de</strong>nte, Carlos Ayres Britto. Peluso<br />

completa 70 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> apenas em 3 <strong>de</strong><br />

setembro, mas já avisou aos colegas que vai se<br />

aposentar durante o recesso <strong>de</strong> julho. Com isso,<br />

não voltará ao STF no reinício <strong>do</strong>s trabalhos em 1º<br />

<strong>de</strong> agosto.<br />

TERCEIRO MINISTRO<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Cláudio Humberto, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Cláudio Humberto<br />

Se for confirmada a aposenta<strong>do</strong>ria antecipada <strong>de</strong><br />

Cezar Peluso, a presi<strong>de</strong>nta Dilma vai nomear o<br />

terceiro ministro <strong>do</strong> STF em 18 meses.<br />

FESTA IMODESTA<br />

A sena<strong>do</strong>ra Ana Rita (PT-ES) diz que “o PT é o<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> esforço <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> brasileiras e<br />

brasileiras”. Dos que pagam impostos, claro.<br />

EMENDAS LIBERADAS<br />

O ministro Al<strong>do</strong> Rebelo (Esportes) visitará o Piauí<br />

em março para assinar convênios com prefeituras<br />

e o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

UMA BOMBA<br />

Mais <strong>de</strong> 50 personalida<strong>de</strong>s internacionais, entre<br />

elas o Nobel Alternativo Chico Whitaker, pediram<br />

ao governo alemão que cancele a verba para<br />

Angra 3, no Rio, após a Alemanha <strong>de</strong>cidir fechar<br />

suas usinas atômicas até 2021. Temem uma<br />

Fukushima tupiniquim.<br />

CHEGA DE INTERMEDIÁRIOS<br />

O gaúcho Silvio Porto, diretor <strong>de</strong> Política Agrícola<br />

da Conab, é protegi<strong>do</strong> <strong>do</strong> PT porque controla as<br />

operações com cestas básicas. Manda mais que o<br />

presi<strong>de</strong>nte da Cia Nacional <strong>de</strong> Abastecimento.<br />

GOVERNADORA ANA AMÉLIA<br />

O governa<strong>do</strong>r petista Tarso Genro (foto) que se<br />

cui<strong>de</strong>. Além <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rar a lista das melhores<br />

revelações da nova safra <strong>de</strong> sena<strong>do</strong>res, Ana<br />

Amélia Lemos (PP-RS) <strong>de</strong>sponta como forte<br />

candidata ao governo gaúcho.<br />

LULA NÃO É SERRA<br />

Certa vez, em Uberaba (MG), o então governa<strong>do</strong>r<br />

Aécio Neves (PSDB) <strong>de</strong>u uma <strong>de</strong> “mineirim” sabi<strong>do</strong><br />

e alterou a disposição <strong>do</strong>s nomes, à mesa <strong>do</strong><br />

almoço, só para ficar ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lula. O presi<strong>de</strong>nte<br />

percebeu a manobra e fez uma gozação:<br />

- Ô, Aécio, po<strong>de</strong> ficar tranqüilo que eu não vou falar<br />

mal <strong>de</strong> você, não. O Zé Serra já fala...<br />

SHOW DE ARROGÂNCIA<br />

Ainda ecoa em Brasília a arrogância <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>do</strong> PT, Rui Falcão, em discurso na festa <strong>de</strong> 32<br />

anos <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>: “Não há nos municípios quem<br />

35


erga a voz contra o presi<strong>de</strong>nte Lula e a presi<strong>de</strong>nta<br />

Dilma”.<br />

INEFICIÊNCIA OFICIAL<br />

Através <strong>de</strong> uma empresa, a prefeitura <strong>de</strong> Maringá<br />

(PR) administra com lucro o seu aeroporto, que<br />

tem volume menor <strong>de</strong> passageiros que o <strong>de</strong><br />

Londrina. Este, toca<strong>do</strong> pela Infraero, opera no<br />

vermelho.<br />

VAI DAR TRABALHO<br />

Relator <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> novo Código Florestal, o<br />

<strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Paulo Piau (PMDB-MG) corre contra o<br />

tempo para aprovar a matéria, na íntegra, ainda no<br />

começo <strong>de</strong> março. O pedi<strong>do</strong> é <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong><br />

Planalto.<br />

REDE GOLPISTA<br />

Após ganhar na Justiça in<strong>de</strong>nização <strong>do</strong> banco<br />

Santan<strong>de</strong>r por clonarem seu cartão, o publicitário<br />

carioca Márcio Mascarenhas recebeu uma<br />

“cobrança” <strong>do</strong> débito <strong>de</strong> R$1,1 mil que o ladrão fez<br />

no nome <strong>de</strong>le.<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Cláudio Humberto, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

VALE A PAISAGEM Com o clima ferven<strong>do</strong> na<br />

Bahia e no Rio, o Palácio Alvorada ganhará um<br />

refresco: a Presidência da República reservou<br />

R$1,5 milhão para irrigação automática<br />

“racionalizada” da área ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> 344 mil m2.<br />

PENSANDO BEM...<br />

...neste Carnaval a PM não vai botar o bloco na<br />

rua.<br />

36


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Cida<strong>de</strong>s, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

Quase 30% faltam às provas<br />

O índice <strong>de</strong> candidatos faltosos no concurso <strong>do</strong><br />

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi <strong>de</strong> 27,84%<br />

na manhã <strong>de</strong> ontem. Pela tar<strong>de</strong>, o índice <strong>de</strong> faltas<br />

ficou em 23,49%. De acor<strong>do</strong> com o TSE, 102.633<br />

pessoas se inscreveram no processo seletivo. O<br />

cargo mais procura<strong>do</strong> é o <strong>de</strong> técnico judiciário para<br />

área administrativa, com 54.835 candidatos.<br />

Entre os <strong>de</strong> nível superior, os cargos mais<br />

procura<strong>do</strong>s foram <strong>de</strong> analista judiciário, na área<br />

administrativa, com 19.233 inscritos; para o cargo<br />

<strong>de</strong> analista judiciário na área judiciária 15.155<br />

candidatos se inscreveram. A prova foi aplicada em<br />

27 pontos <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Pela manhã, o<br />

exame foi para o cargo <strong>de</strong> técnico judiciário e <strong>de</strong><br />

tar<strong>de</strong> para o cargo <strong>de</strong> analista.<br />

O concurso tem valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

ser prorroga<strong>do</strong> uma única vez por igual perío<strong>do</strong>. A<br />

nomeação <strong>do</strong>s aprova<strong>do</strong>s vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> serviço, número <strong>de</strong> vagas e<br />

disponibilida<strong>de</strong> orçamentária <strong>do</strong> TSE.<br />

A remuneração mensal inicial – vencimento básico,<br />

acresci<strong>do</strong> <strong>de</strong> Gratificação <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong> Judiciária e<br />

Vantagem Pecuniária Individual – será <strong>de</strong> R$<br />

6.611,39 para o cargo <strong>de</strong> analista judiciário, e <strong>de</strong><br />

R$ 4.052,96 para o cargo <strong>de</strong> técnico judiciário.<br />

Para ambos, a jornada máxima é <strong>de</strong> 40 horas<br />

semanais.<br />

37


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Gilberto Amaral, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL<br />

Segun<strong>do</strong> preceito constitucional, em casos<br />

especiais, a presi<strong>de</strong>nta da República po<strong>de</strong>rá<br />

contar, nas reuniões <strong>do</strong> Conselho, com a presença<br />

<strong>de</strong> convida<strong>do</strong>s especiais. De acor<strong>do</strong> com a<br />

gravida<strong>de</strong> da situação, po<strong>de</strong>rá ser chama<strong>do</strong> a<br />

participar da reunião o presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, ministro Cezar Peluso.<br />

MUDANÇA<br />

O ministro Luiz Fux é o novo relator <strong>do</strong> manda<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> segurança contra as inspeções nas contas <strong>de</strong><br />

magistra<strong>do</strong>s e servi<strong>do</strong>res <strong>de</strong> 22 tribunais. Antes, o<br />

posto era ocupa<strong>do</strong> pelo ministro Joaquim Barbosa.<br />

Em tempo: Joaquim é a favor da manutenção <strong>do</strong>s<br />

po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> investigação <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong><br />

Justiça. A mudança ocorreu a pedi<strong>do</strong> das<br />

associações <strong>de</strong> magistra<strong>do</strong>s.<br />

38


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Do Alto da Torre, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Justiça Eleitoral<br />

PSD CORRE ATRÁS DO TEMPO DE TV<br />

Presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> PSD brasiliense, o ex-governa<strong>do</strong>r<br />

Rogério Rosso (foto) tem pela frente uma semana<br />

<strong>de</strong> superexposição. Está cheio <strong>de</strong> compromissos<br />

públicos. Existe uma razão para isso e não se<br />

refere apenas ao Distrito Fe<strong>de</strong>ral. O PSD está em<br />

franca campanha para obter, na Justiça Eleitoral,<br />

tempo <strong>de</strong> rádio e televisão correspon<strong>de</strong>nte à<br />

bancada que tem hoje na Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s –<br />

e não, como diz a lei – à que elegeu em 2010,<br />

quan<strong>do</strong> sequer existia.<br />

JOGO DE INFLUÊNCIA<br />

É nesse senti<strong>do</strong> que se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r a corrida <strong>do</strong><br />

prefeito Gilberto Kassab aos petistas <strong>de</strong> São Paulo,<br />

oferecen<strong>do</strong> apoio a Fernan<strong>do</strong> Haddad, candidato à<br />

sua sucessão. Preten<strong>de</strong> mostrar ao PT que o apoio<br />

<strong>do</strong>s pessedistas será valioso e, <strong>de</strong>ssa forma, criar<br />

clima favorável às reivindicações <strong>do</strong> novo parti<strong>do</strong><br />

na Justiça Eleitoral.<br />

O QUE SERÁ EXPLICADO<br />

Já se sabe o que o recém escolhi<strong>do</strong> secretário <strong>de</strong><br />

Con<strong>do</strong>mínios, Wellington Luiz, dirá ao governa<strong>do</strong>r<br />

Agnelo Queiroz, esta semana, ao ser chama<strong>do</strong><br />

para explicar a posse <strong>de</strong> três terrenos em área não<br />

legalizada. Afirmará que nada existe <strong>de</strong> ilegal<br />

nisso, que fez apenas o que fizeram centenas <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> classe média: comprar<br />

imóvel <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas posses. Explicará ainda que<br />

operou <strong>de</strong> boa-fé, tanto assim que <strong>de</strong>clarou a<br />

compra tanto no Imposto <strong>de</strong> Renda quanto à<br />

Justiça Eleitoral.<br />

LUA DE MEL CAUSÍDICA<br />

Vai <strong>de</strong> vento em popa a lua <strong>de</strong> mel entre a seção<br />

brasiliense da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil e o<br />

governa<strong>do</strong>r Agnelo Queiroz. O presi<strong>de</strong>nte da<br />

OAB-DF, Francisco Caputo, foi escolhi<strong>do</strong> para<br />

integrar o Comitê Gestor <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Econômico e Social <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral, que o governa<strong>do</strong>r Agnelo Queiroz acaba<br />

<strong>de</strong> compor.<br />

39


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Política & Po<strong>de</strong>r, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Julgamento será retoma<strong>do</strong> na quarta<br />

A Lei da Ficha Limpa <strong>de</strong>ve voltar a ser julgada no<br />

Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF) na próxima<br />

quarta-feira. Estão na pauta as três ações que<br />

tratam da valida<strong>de</strong> da norma, cuja análise começou<br />

em novembro <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>. O julgamento será<br />

retoma<strong>do</strong> com o voto <strong>do</strong> ministro Antonio <strong>Dia</strong>s<br />

Toffoli, que interrompeu a votação com um pedi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> vista em 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Já foram registra<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is votos favoráveis à lei. O<br />

relator, ministro Luiz Fux, votou pela legalida<strong>de</strong> da<br />

norma, mas enten<strong>de</strong>u que alguns ajustes<br />

precisariam ser feitos.<br />

Ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u, por exemplo, que o político que<br />

renunciasse para escapar <strong>de</strong> cassação só ficaria<br />

inelegível <strong>de</strong>pois que houvesse processo contra ele<br />

na Comissão <strong>de</strong> Ética. A mudança foi criticada pela<br />

imprensa e pela opinião pública, que viram brechas<br />

para que políticos escapassem da punição.<br />

Fux acabou voltan<strong>do</strong> atrás em sua proposta<br />

quan<strong>do</strong> o julgamento retornou ao plenário, já em<br />

<strong>de</strong>zembro, após pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> ministro<br />

Joaquim Barbosa. Em seu voto, Barbosa também<br />

votou pela constitucionalida<strong>de</strong> integral da lei. Mais<br />

uma vez, o julgamento foi interrompi<strong>do</strong> por um<br />

pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Toffoli, que será o primeiro a<br />

votar na próxima quarta-feira.<br />

40


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Economia, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

CNJ prepara cruzada para cobrar R$ 84 bi<br />

Passa<strong>do</strong> o julgamento que <strong>de</strong>volveu os po<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

investigação <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

(CNJ), a correge<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> órgão <strong>de</strong>verá atacar<br />

agora a <strong>de</strong>mora no pagamento <strong>de</strong> precatórios. De<br />

acor<strong>do</strong> com da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> conselho, as dívidas <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s e municípios reconhecidas pelo Po<strong>de</strong>r<br />

Judiciário somam R$ 84 bilhões.<br />

Parte <strong>de</strong>las tem origem em ações judiciais iniciadas<br />

há mais <strong>de</strong> cem anos. Isso é resulta<strong>do</strong> da falta <strong>de</strong><br />

organização <strong>do</strong>s setores <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong><br />

precatórios, situação que também po<strong>de</strong> estimular<br />

<strong>de</strong>svios.<br />

Para a correge<strong>do</strong>ra nacional <strong>de</strong> Justiça, Eliana<br />

Calmon, é necessário estruturar esses setores para<br />

evitar casos <strong>de</strong> corrupção e garantir que os<br />

cre<strong>do</strong>res recebam o que lhes é <strong>de</strong> direito. Na<br />

semana passada, por exemplo, o CNJ foi<br />

informa<strong>do</strong> sobre a <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> um grupo no Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte por suspeita <strong>de</strong> envolvimento num<br />

esquema <strong>de</strong> frau<strong>de</strong>s no pagamento <strong>de</strong> precatórios.<br />

Esse suposto esquema atuava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008 por<br />

meio da duplicação <strong>do</strong> número <strong>de</strong> beneficiários,<br />

incluin<strong>do</strong> nomes <strong>de</strong> fantasmas.<br />

41


O Sindicato <strong>do</strong>s Enfermeiros promove assembleia<br />

geral extraordinária, no próximo dia 1º, a partir <strong>de</strong><br />

15h, na se<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong>. A i<strong>de</strong>ia é discutir a<br />

campanha salarial <strong>2012</strong>, a incorporação <strong>do</strong><br />

restante da Gratificação <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong> Externa, ação<br />

judicial para garantir os direitos da Gratificação <strong>de</strong><br />

Movimentação, garantia ao direito automático <strong>de</strong><br />

aposenta<strong>do</strong>ria especial – 25 anos <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong><br />

– pela Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, já concedi<strong>do</strong> pelo<br />

Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral. Na ocasião, o<br />

sindicato fará sua prestação <strong>de</strong> contas.<br />

CONTAGEM DIFERENCIADA<br />

O Sin<strong>de</strong>tran prepara palestra da advogada com<br />

mestra<strong>do</strong> em Direito Previ<strong>de</strong>nciário Thais Rie<strong>de</strong>l e<br />

outros especialistas para orientar aos servi<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Detran sobre a aposenta<strong>do</strong>ria especial. É que o<br />

ministro Celso <strong>de</strong> Mello, <strong>do</strong> STF, <strong>de</strong>cidiu<br />

favoravelmente ao Manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> Injunção impetra<strong>do</strong><br />

pelo sindicato. Na ação, a entida<strong>de</strong> pe<strong>de</strong>, para fins<br />

<strong>de</strong> aposenta<strong>do</strong>ria especial, o reconhecimento da<br />

contagem <strong>de</strong> tempo diferenciada para quem<br />

trabalha em serviço perigoso ou insalubre. O GDF<br />

ainda po<strong>de</strong> recorrer contra a <strong>de</strong>cisão.<br />

ATIVIDADE PROIBIDA<br />

Três associações <strong>de</strong> praças <strong>do</strong> Exército Brasileiro,<br />

duas <strong>do</strong> Ceará e outra <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte,<br />

tiveram sua dissolução assegurada, na Justiça,<br />

pela Advocacia-Geral da União (AGU). O artigo<br />

142, paragrafo 3º, inciso V, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral<br />

(CF), proíbe aos militares a criação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

classe com as mesmas características <strong>de</strong><br />

sindicato. Os casos foram acompanha<strong>do</strong>s pela<br />

Procura<strong>do</strong>ria-Regional da União na 5ª Região<br />

(PRU5). Os advoga<strong>do</strong>s da União analisaram os<br />

objetivos sociais traça<strong>do</strong>s pelas associações e<br />

concluíram que foram constituídas a partir <strong>de</strong> um<br />

Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Ponto <strong>do</strong> Servi<strong>do</strong>r, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

ASSEMBLEIA GERAL<br />

mo<strong>de</strong>lo sindical. "A <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s interesses gerais<br />

das praças <strong>do</strong> Exército brasileiros e seus<br />

associa<strong>do</strong>s e a criação <strong>de</strong> comissões <strong>de</strong> estu<strong>do</strong><br />

que forneçam subsídios <strong>de</strong> propostas a<br />

instituições, autorida<strong>de</strong>s em geral e ao Exército, <strong>de</strong><br />

projetos e políticas <strong>de</strong> interesses <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s é<br />

típica ativida<strong>de</strong> sindical", <strong>de</strong>stacaram.<br />

FINALIDADE DESVIADA<br />

No caso da Associação <strong>de</strong> Praças <strong>do</strong> Exército<br />

Brasileiro (Apeb), <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte, os<br />

procura<strong>do</strong>res constataram na ficha <strong>de</strong> inscrição da<br />

associação que está à disposição <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s<br />

um Departamento Jurídico. A Apeb-RN também<br />

participou <strong>de</strong> manifestações políticas, além <strong>de</strong> ter<br />

representa<strong>do</strong> criminalmente junto ao Ministério<br />

Público Fe<strong>de</strong>ral contra membros <strong>do</strong> Exército,<br />

ativida<strong>de</strong>s que geralmente são realizadas por<br />

sindicatos e não por associações. A PRU5 ainda<br />

apresentou à Justiça provas testemunhais <strong>de</strong> que<br />

a finalida<strong>de</strong> das entida<strong>de</strong>s estavam sen<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sviadas, <strong>de</strong>srespeitan<strong>do</strong> assim a CF. O juiz <strong>de</strong><br />

primeira instância acatou os argumentos da AGU e<br />

<strong>de</strong>terminou a dissolução das associações. Elas<br />

recorreram ao TRF5, que manteve as sentenças.<br />

Além da Apeb-RN, foram dissolvidas a Apeb-CE e<br />

a Associação Nacional <strong>de</strong> Praças das Forças<br />

Armadas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará.<br />

42


Folha <strong>de</strong> São Paulo/SP - Po<strong>de</strong>r, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Folha.com<br />

BLOG VERA MAGALHÃES - É TUDO POLÍTICA<br />

A cobertura, além <strong>de</strong> política partidária, se esten<strong>de</strong><br />

agora a temas <strong>do</strong> Judiciário, <strong>de</strong> economia, <strong>de</strong><br />

infraestrutura, <strong>de</strong> Copa e <strong>de</strong> Olimpíada, entre<br />

outros assuntos<br />

etu<strong>do</strong>politica.blogfolha.uol.com.br<br />

43


Folha <strong>de</strong> São Paulo/SP - Po<strong>de</strong>r, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Procura<strong>do</strong>r pe<strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ação contra Calmon<br />

Juiz entrou com queixa-crime contra<br />

correge<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> CNJ por entrevista em que ela<br />

comenta caso no qual ele é investiga<strong>do</strong><br />

Em sua <strong>de</strong>fesa, Eliana Calmon encaminhou<br />

mensagem em que magistra<strong>do</strong> teria admiti<strong>do</strong> a<br />

culpa<br />

FREDERICO VASCONCELOS<br />

DE SÃO PAULO<br />

O procura<strong>do</strong>r-geral da República, Roberto Gurgel,<br />

requereu ao Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral a rejeição<br />

<strong>de</strong> queixa-crime ajuizada contra a ministra Eliana<br />

Calmon pelo juiz fe<strong>de</strong>ral Moacir Ferreira Ramos,<br />

ex-presi<strong>de</strong>nte da Ajufer (Associação <strong>do</strong>s Juízes<br />

Fe<strong>de</strong>rais da 1ª Região).<br />

O magistra<strong>do</strong> disse ter si<strong>do</strong> vítima <strong>de</strong> difamação e<br />

injúria numa entrevista concedida à Folha por<br />

Calmon, correge<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> CNJ (Conselho Nacional<br />

<strong>de</strong> Justiça), em 2011.<br />

O jornal revelara no final <strong>de</strong> 2010 que Ramos era<br />

um <strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>s por empréstimos fictícios<br />

toma<strong>do</strong>s pela Ajufer na Fundação Habitacional <strong>do</strong><br />

Exército. Foram usa<strong>do</strong>s nomes <strong>de</strong> fantasmas e <strong>de</strong><br />

juízes associa<strong>do</strong>s que <strong>de</strong>sconheciam a frau<strong>de</strong>.<br />

Na entrevista, Eliana Calmon confirmou que<br />

Ramos havia admiti<strong>do</strong> sua responsabilida<strong>de</strong>, e<br />

afirmou que estava preocupada porque "o caso<br />

caminhava para a impunida<strong>de</strong>".<br />

"Em 32 anos <strong>de</strong> magistratura, nunca vi uma coisa<br />

tão séria", disse, na ocasião.<br />

O episódio marcou um <strong>do</strong>s primeiros<br />

enfrentamentos públicos entre a correge<strong>do</strong>ra e o<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça,<br />

ministro Cezar Peluso.<br />

Sob o argumento <strong>de</strong> que Ramos po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>struir<br />

provas, e diante da pressão <strong>do</strong>s juízes lesa<strong>do</strong>s,<br />

Eliana Calmon <strong>de</strong>terminara, em novembro <strong>de</strong> 2010,<br />

o afastamento <strong>de</strong> Ramos <strong>do</strong> cargo <strong>de</strong> juiz.<br />

Na semana seguinte, a <strong>de</strong>cisão da correge<strong>do</strong>ra foi<br />

referendada, por maioria, pelo CNJ. Mas, na<br />

sessão, Peluso criticou a correge<strong>do</strong>ra por se ter<br />

antecipa<strong>do</strong> ao colegia<strong>do</strong>.<br />

No mês seguinte, o ministro Marco Aurélio Mello,<br />

<strong>do</strong> Supremo, conce<strong>de</strong>u liminar suspen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o<br />

afastamento <strong>de</strong> Ramos.<br />

Em julho <strong>de</strong> 2011, porém, o juiz foi afasta<strong>do</strong><br />

novamente <strong>do</strong> cargo pelo Tribunal Regional<br />

Fe<strong>de</strong>ral da 1ª Região, até a conclusão <strong>do</strong> processo<br />

disciplinar aberto contra quatro ex-presi<strong>de</strong>ntes da<br />

Ajufer.<br />

Na queixa-crime, Ramos alegou que a ministra<br />

empregou "palavras sensacionalistas e <strong>de</strong> duplo<br />

senti<strong>do</strong>" na entrevista à Folha, "con<strong>de</strong>nan<strong>do</strong>-o<br />

publicamente com visível <strong>de</strong>sprezo ao princípio da<br />

não culpabilida<strong>de</strong>".<br />

Em sua <strong>de</strong>fesa, a correge<strong>do</strong>ra anexou<br />

correspondência <strong>de</strong> Ramos na re<strong>de</strong> <strong>do</strong>s juízes<br />

fe<strong>de</strong>rais, na internet, em que o ex-presi<strong>de</strong>nte da<br />

Ajufer admitia a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus atos.<br />

Na mensagem postada, Ramos afirmou: "Como<br />

pu<strong>de</strong> fazer isto, envolven<strong>do</strong> amigos, colegas,<br />

pessoas que acreditaram, apoiaram e confiaram<br />

em mim?"<br />

Ramos não contestou a resposta <strong>de</strong> Eliana<br />

Calmon. Por isso Gurgel requereu que fosse<br />

reconhecida a <strong>de</strong>cadência [perda <strong>de</strong> prazo para o<br />

exercício <strong>de</strong> um direito] ou rejeitada a queixa-crime,<br />

com o arquivamento <strong>do</strong> inquérito.<br />

Ramos sempre afirmou não ter se beneficia<strong>do</strong> com<br />

as operações entre a Ajufer e a fundação <strong>do</strong><br />

Exército.<br />

Em janeiro último, ao comentar a queixa-crime,<br />

disse que não serão encontra<strong>do</strong>s em seu<br />

patrimônio bens ou valores incompatíveis com seu<br />

salário.<br />

44


O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Nacional, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Justiça <strong>de</strong>bate regras para leilão <strong>de</strong> precatório<br />

TJ paulista reúne hoje magistra<strong>do</strong>s,<br />

OAB e procura<strong>do</strong>res para discutir<br />

viabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> procedimento; or<strong>de</strong>m<br />

estima dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em R$ 22 bi<br />

Fausto Mace<strong>do</strong><br />

Leilão <strong>de</strong> precatórios é o tema <strong>de</strong> reunião marcada<br />

para hoje no Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> São Paulo<br />

(TJ-SP) entre a Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil<br />

(OAB), a Procura<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e<br />

magistra<strong>do</strong>s da própria corte. A meta é convidar<br />

uma empresa especializada na formatação e<br />

realização <strong>de</strong> leilões para discutir a viabilida<strong>de</strong> da<br />

realização <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> procedimento até o fim <strong>do</strong><br />

semestre.<br />

A OAB presume que em to<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> existem<br />

cerca <strong>de</strong> 400 mil cre<strong>do</strong>res <strong>de</strong> títulos alimentares e<br />

in<strong>de</strong>nizatórios, <strong>do</strong>s quais pelo menos 40 mil são<br />

<strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s preferenciais – i<strong>do</strong>sos e pessoas com<br />

<strong>do</strong>enças graves. De acor<strong>do</strong> com a OAB, o Esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong>ve cerca <strong>de</strong> R$ 22 bilhões e os<br />

municípios paulistas, outros R$ 15 bilhões.<br />

“Soma<strong>do</strong>s capital e Esta<strong>do</strong>, o estoque <strong>de</strong><br />

precatórios alcança cerca <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong> toda a dívida<br />

<strong>de</strong> precatórios <strong>do</strong> Brasil inteiro”, compara o<br />

advoga<strong>do</strong> Marcelo Lobo, que integra a Comissão<br />

da Dívida Pública da OAB-SP e também a<br />

Comissão <strong>de</strong> Precatórios da OAB nacional. Ontem,<br />

o Esta<strong>do</strong> mostrou que o Conselho Nacional <strong>de</strong><br />

Justiça (CNJ) quer acelerar o pagamento <strong>de</strong>sse<br />

tipo <strong>de</strong> débito, que soma cerca <strong>de</strong> R$ 84 bilhões<br />

em to<strong>do</strong> o País.<br />

Lobo informou que o encontro no TJ “será uma<br />

conversa sobre as questões práticas daconstituição<br />

<strong>do</strong> leilão”.<br />

A OAB <strong>de</strong>staca que, no primeiro encontro <strong>do</strong><br />

grupo, a Procura<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> comprometeu-se<br />

a fazer reunião com os procura<strong>do</strong>res que atuam<br />

nos processos <strong>de</strong> execuções e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u o leilão<br />

como uma das prerrogativas constitucionais <strong>do</strong><br />

Executivo, que está regularmente em vigor pela<br />

Emenda Constitucional 62.<br />

A Emenda 62, <strong>de</strong> 2009, previu duas formas <strong>de</strong><br />

pagamento <strong>do</strong>s precatórios: 50% para os i<strong>do</strong>sos e<br />

porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças graves e os outros 50%<br />

po<strong>de</strong>rão ser quita<strong>do</strong>s em or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> valor<br />

ou por meio <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> direto com os cre<strong>do</strong>res, e,<br />

por fim, pela via <strong>do</strong> leilão. “O <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r vai escolher<br />

como ele quer pagar”, assinala Lobo. “No leilão <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconto, os cre<strong>do</strong>res to<strong>do</strong>s vão brigar entre si<br />

para oferecer o maior <strong>de</strong>ságio ao governo.<br />

Receberá aquele que <strong>de</strong>r o maior <strong>de</strong>sconto.”<br />

Lobo observa que existe orientação <strong>do</strong> Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Justiça (CNJ) e <strong>do</strong> TJ paulistano<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que esse <strong>de</strong>sconto não supere 50% <strong>do</strong><br />

valor <strong>do</strong> crédito.“ Édramático,malcomparan<strong>do</strong> com<br />

os países quebra<strong>do</strong>s na Europa é praticamente o<br />

mesmo <strong>de</strong>ságio que os cre<strong>do</strong>res estão dan<strong>do</strong>,<br />

principalmente ao governo grego”, afirma o<br />

advoga<strong>do</strong>.<br />

A Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil questiona no<br />

Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF) a<br />

constitucionalida<strong>de</strong> da Emenda 62.<br />

“Enten<strong>de</strong>mos que o leilão é inconstitucional”,<br />

assevera Marcelo Lobo. “No entanto, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong><br />

vista prático, a emenda continuaem vigor, apesar<br />

<strong>de</strong> questionada e apesar <strong>de</strong> já termos voto <strong>do</strong><br />

relator, ministro Ayres Britto, pela total<br />

inconstitucionalida<strong>de</strong>, inclusive <strong>do</strong> leilão.”<br />

Atraso.<br />

De acor<strong>do</strong> com a OAB-SP, o Departamento <strong>de</strong><br />

Precatórios <strong>do</strong> TJ “reconheceu o atraso na<br />

remessa <strong>do</strong>s pagamentos preferenciais, cerca <strong>de</strong><br />

40 mil requerimentos <strong>de</strong> pagamentos,<br />

especialmente aos <strong>do</strong> município <strong>de</strong> São Paulo”.<br />

O Departamento <strong>de</strong> Precatórios, observa a OAB,<br />

relatou dificulda<strong>de</strong>s para a formação da relação <strong>de</strong><br />

cre<strong>do</strong>res e solicitou que o Esta<strong>do</strong> forneça estes<br />

da<strong>do</strong>s. E informou que existe cerca <strong>de</strong> R$ 1 bilhão<br />

disponível para o pagamento <strong>do</strong>s cre<strong>do</strong>res<br />

preferenciais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e outro R$ 1 bilhão para os<br />

cre<strong>do</strong>res da capital.<br />

Alckmin espera usar mo<strong>de</strong>lo em 50%<br />

<strong>do</strong>s pagamentos<br />

O governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São Paulo, Geral<strong>do</strong> Alckmin<br />

(PSDB), disse ontem que meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pagamentos<br />

<strong>do</strong>s precatórios em <strong>2012</strong> será feita por meio <strong>de</strong><br />

leilões. A outra meta<strong>de</strong> seguirá a or<strong>de</strong>m<br />

cronológica. “Meta<strong>de</strong> obrigatoriamente tem que<br />

seguir a or<strong>de</strong>m cronológica e para a outra meta<strong>de</strong><br />

há várias opções. Para este ano escolhemos os<br />

leilões”, explicou o governa<strong>do</strong>r. O objetivo com os<br />

leilões, disse Alckmin, é diminuir o valor da dívida<br />

e, ao mesmo tempo, realizar um número maior <strong>de</strong><br />

pagamentos. No leilão, os cre<strong>do</strong>res recebem o<br />

dinheiro com um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconto, mas o<br />

45


pagamento é feito à vista e antes <strong>do</strong> prazo. O<br />

governa<strong>do</strong>r disse que a meta é finalizar o<br />

pagamento <strong>de</strong>ssas dívidas antes <strong>do</strong> prazo,<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Nacional, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

estabeleci<strong>do</strong> para 2022. / FERNANDA<br />

GUIMARÃES<br />

46


CARLOS ALBERTO SARDENBERG<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Carlos Alberto Sar<strong>de</strong>nberg, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Quanto <strong>de</strong>ve ganhar um juiz?<br />

To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sabe o que é auxílio-moradia. O<br />

emprega<strong>do</strong> trabalha numa cida<strong>de</strong> e o emprega<strong>do</strong>r<br />

o transfere para outra. Para fazer a mudança,<br />

cobrir gastos com hotel enquanto arruma a casa<br />

nova e para transferir a família, o emprega<strong>do</strong>r paga<br />

o auxílio-moradia. Paga também quan<strong>do</strong> o<br />

funcionário vai trabalhar por um tempo <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

na outra praça, circunstância em que fica, digamos,<br />

moran<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is lugares.<br />

Com base nessa i<strong>de</strong>ia geral, os <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s fe<strong>de</strong>rais<br />

incorporaram um auxílio-moradia a seus<br />

vencimentos. Parece fazer senti<strong>do</strong>: os <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s<br />

não moram em Brasília, apenas passam lá alguns<br />

dias da semana. E o mandato é provisório, tem <strong>de</strong><br />

ser renova<strong>do</strong>, ou não, a cada quatro anos. Assim, o<br />

Congresso, ou seja, o contribuinte, paga um auxílio<br />

por esses dias que o parlamentar passa em<br />

Brasília no exercício <strong>do</strong> mandato.<br />

Tu<strong>do</strong> certo? Mais ou menos. Ninguém é obriga<strong>do</strong> a<br />

ser <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>. A pessoa se candidata porque quer,<br />

oferece-se aos eleitores. É diferente <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong><br />

que é transferi<strong>do</strong> pelo patrão. Na verda<strong>de</strong>, os<br />

parlamentares inventaram esse auxílio como uma<br />

maneira <strong>de</strong> aumentar seus vencimentos mensais<br />

sem parecer que estão fazen<strong>do</strong> isso. Um drible na<br />

lei e no bom senso, mas, ainda assim, têm o<br />

argumento <strong>de</strong> que gastam mesmo com moradia<br />

transitória, apresentam recibos <strong>de</strong> hotel e tal.<br />

Vai daí que os juízes, representa<strong>do</strong>s por suas<br />

associações, perceberam no expediente uma<br />

maneira <strong>de</strong> também aumentar os ganhos mensais.<br />

Diz a Constituição que parlamentares e ministros<br />

<strong>do</strong> Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF) <strong>de</strong>vem ter<br />

vencimentos equipara<strong>do</strong>s. Ora, os parlamentares<br />

não têm o auxílio-moradia?<br />

Resulta<strong>do</strong>: os tribunais, primeiro, <strong>de</strong>ram o<br />

auxílio-moradia aos ministros <strong>do</strong> STF. Faz menos<br />

senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> que no caso <strong>do</strong>s parlamentares. Os<br />

ministros <strong>do</strong> Supremo <strong>de</strong>vem morar em Brasília, <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> que <strong>de</strong>veriam ter um auxílio apenas no<br />

momento da mudança, quan<strong>do</strong> são nomea<strong>do</strong>s para<br />

o cargo. Seria uma verba específica, contra recibos<br />

específicos. Mas, <strong>de</strong> novo, vá lá. Aos 70 anos eles<br />

se aposentam, voltam para suas cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />

que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a passagem por Brasília<br />

provisória, ainda que por muitos anos. É uma<br />

interpretação forçada, mas enfim...<br />

Porém a coisa avançou. Como os vencimentos <strong>de</strong><br />

juízes <strong>do</strong>s escalões inferiores são uma parcela<br />

daqueles recebi<strong>do</strong>s pelos colegas <strong>do</strong> Supremo,<br />

<strong>de</strong>u a lógica, a lógica <strong>de</strong>les, claro: toda a<br />

magistratura ganhou o direito <strong>de</strong> receber o auxílio<br />

moradia – esse valor não contan<strong>do</strong> como salário e,<br />

portanto, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> furar o teto.<br />

Não importa se o magistra<strong>do</strong> é transferi<strong>do</strong> ou não,<br />

se está <strong>de</strong> passagem, se mora ali mesmo – ele<br />

recebe o auxílio para sempre, ou seja, não é mais<br />

uma verba especial, mas um vencimento mensal. E<br />

mais: aplicaram retroativo. Acrescente aí a<br />

correção monetária, etc., e juntou-se um bom<br />

dinheiro a receber.<br />

Tu<strong>do</strong> absolutamente normal, diz o presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong><br />

Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> SãoPaulo, <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r<br />

Ivan Sartori. Normal?<br />

Imagine, caro leitor, que os parlamentares tivessem<br />

cria<strong>do</strong> um auxílio-misto-quente, para pagar lanches<br />

quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>slocassem pelos seus Esta<strong>do</strong>s para<br />

falarcom os eleitores. Faria senti<strong>do</strong> esten<strong>de</strong>r essa<br />

verba aos magistra<strong>do</strong>s?<br />

Na verda<strong>de</strong>, toda essa discussão não faz senti<strong>do</strong>.<br />

O ponto é outro. Os magistra<strong>do</strong>s acham que não<br />

são remunera<strong>do</strong>s à altura <strong>do</strong> seu trabalho. O<br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Sartori disse, em entrevista à<br />

revista Veja, edição 2.255, que R$ 24 mil mensais<br />

é inferior às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um juiz <strong>do</strong> Tribunal<br />

Superior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Essa é uma boa discussão – quanto <strong>de</strong>ve ganhar<br />

um juiz no Brasil? – e a categoria <strong>de</strong>veria mesmo<br />

abrir publicamente o <strong>de</strong>bate. Mas, em vez disso, o<br />

que se viu nos últimos anos? Uma atitu<strong>de</strong><br />

corporativa que inventa quebra-galhos, como esse<br />

<strong>do</strong> auxílio-moradia, para aumentar os vencimentos<br />

fazen<strong>do</strong> parecer que não se trata <strong>de</strong> aumento nem<br />

<strong>de</strong> vencimento. Tanto que, como admite Sartori, os<br />

juízes recebiam os atrasa<strong>do</strong>s sem que isso<br />

constasse nos holerites. Segun<strong>do</strong> ele, <strong>de</strong>ve ter si<strong>do</strong><br />

um “equívoco administrativo”, mas foi necessário<br />

criar o Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça para que<br />

esses “equívocos” começassem a ser apura<strong>do</strong>s. Já<br />

para Sartori, o problema apareceu quan<strong>do</strong> a<br />

“imprensa começou a bater nos juízes”,com essa<br />

“história <strong>de</strong> que o Po<strong>de</strong>r é uma caixa-preta”.<br />

Ocorre, porém, que foi só apartir daí que o público<br />

ficou saben<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas e <strong>de</strong> outras situações.<br />

De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Sartori tem uma<br />

boa atitu<strong>de</strong>. Veio a público para o <strong>de</strong>bate.<br />

Comecemos, pois.<br />

Diz ele que o “alto executivo<strong>de</strong> uma empresa” ou o<br />

47


O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Carlos Alberto Sar<strong>de</strong>nberg, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

presi<strong>de</strong>nte da Petrobrás ganham muito mais que os<br />

R$ 24 mil <strong>de</strong> um magistra<strong>do</strong> estadual. Verda<strong>de</strong>.<br />

Mas ambos são <strong>de</strong>missíveis a qualquer momento.<br />

Os acionistas controla<strong>do</strong>res nem precisam explicar.<br />

Lembram- se <strong>do</strong> caso Roger Agnelli? Ou <strong>de</strong> José<br />

Gabrielli? Juízes só per<strong>de</strong>m o cargo se fizerem<br />

coisas muito erradas, na frente <strong>de</strong> muita gente. E<br />

são aposenta<strong>do</strong>s com vencimentos.<br />

Além disso, não são R$ 24 mil. É preciso<br />

acrescentar os auxílios e outras vantagens, como<br />

os <strong>do</strong>is meses <strong>de</strong> férias. É curioso aqui. Sartori<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os <strong>do</strong>is meses dizen<strong>do</strong> que o trabalho <strong>do</strong><br />

juiz é <strong>de</strong>sgastante e que vários colegas têm<br />

problemas psicológicos. Logo, precisam <strong>de</strong>scansar<br />

60 dias, e não 30 como os <strong>de</strong>mais trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Ganha uma vaga <strong>de</strong> juiz, sem concurso, quem<br />

apontar o trabalho <strong>de</strong> um brasileiro comum que não<br />

seja <strong>de</strong>sgastante e estressante. E vamos falar<br />

francamente: o trabalho <strong>de</strong> um juiz não po<strong>de</strong> ser<br />

mais pesa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que, digamos, o médico operan<strong>do</strong><br />

no pronto-socorro, o policial trocan<strong>do</strong> tiros comos<br />

bandi<strong>do</strong>s, o operário moldan<strong>do</strong> peças no torno ou o<br />

boiafria colhen<strong>do</strong> cana.<br />

Além disso, o próprio Sartori comenta, em outro<br />

trecho da entrevista, que poucos juízes tiram os<br />

<strong>do</strong>is meses <strong>de</strong> férias. A maioria “ven<strong>de</strong>” um<br />

perío<strong>do</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que se trata <strong>de</strong> um salário extra.<br />

A maioria também ven<strong>de</strong> a licençaprêmio (três<br />

meses a cada cinco anos), outra providência que<br />

engorda os vencimentos. Com isso, os juízes ficam<br />

como os <strong>de</strong>mais trabalha<strong>do</strong>res, um mês <strong>de</strong> férias,<br />

mas ganhan<strong>do</strong> um extra. E ninguém tem mais<br />

feria<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os 35 dias/ano <strong>do</strong>s juízes.<br />

Voltaremos ao <strong>de</strong>bate, mas <strong>de</strong>ixo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já um<br />

outro ponto. Não se trata apenas <strong>de</strong> saber quanto<br />

um juiz merece ganhar, mas também <strong>de</strong> quanto o<br />

Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> pagar.<br />

JORNALISTA<br />

SITE: WWW.SARDENBERG.COM.BR<br />

E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR<br />

Essa é uma boa discussão e a categoria<br />

<strong>de</strong>veria mesmo abrir o <strong>de</strong>bate<br />

publicamente<br />

48


Eleição quântica<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Nacional, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO<br />

O PSD kassabista tem po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> personagem <strong>de</strong><br />

história em quadrinhos. Contamina os parti<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

qual se aproxima com sua capacida<strong>de</strong> quântica, a<br />

<strong>de</strong> não estarem nenhuma e estarem todas as<br />

posições <strong>do</strong> espectro político simultaneamente. O<br />

alvo da vez é o PT.<br />

Selada a parceria ps<strong>do</strong>-petista em São Paulo, a<br />

candidatura <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> Haddad se contorcionará<br />

para fazer uma campanha <strong>de</strong> oposição que<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a situação. Bom para Gilberto Kassab,<br />

cuja gestão aprovada por só 2 em cada 10<br />

eleitores paulistanos terá <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fendida pelo<br />

ex-futuro crítico – feito alia<strong>do</strong> por Lula.<br />

Em troca <strong>de</strong> um apoio virtual da bancada fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong><br />

PSD ao governo Dilma, o prefeito paulistano<br />

ganhará espaço na propaganda eleitoral<br />

compulsória para lavar sua imagem. De quebra,<br />

Kassab ainda po<strong>de</strong> receber uma ca<strong>de</strong>ira em<br />

Brasília para se encostar após a eleição.<br />

Com tantos bônus, que é que custa enfrentar mais<br />

uma vaia <strong>de</strong> petistas durante a festa <strong>de</strong> aniversário<br />

<strong>do</strong> neoalia<strong>do</strong>? Quase nada. Os apupos entraram<br />

por um ouvi<strong>do</strong> e saíram pelo bolso, converti<strong>do</strong>s em<br />

moeda <strong>de</strong> troca para Kassab.<br />

Parece uma barganha <strong>de</strong>sigual. O PT troca tu<strong>do</strong><br />

isso por um apoio parlamentar que, na prática, já<br />

tem. Afinal, boa parte <strong>do</strong>s <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s que se<br />

ban<strong>de</strong>aram para o PSD o fez justamente por não<br />

ver muita vantagem em continuar militan<strong>do</strong> na<br />

oposição.<br />

Talvez haja outra variável no cálculo. Será que,<br />

diante <strong>do</strong> apoio <strong>de</strong> Lula, Dilma Rousseff e <strong>do</strong> PT, o<br />

PSD ganha mais força junto à Justiça eleitoral? O<br />

parti<strong>do</strong> tem uma ação em curso no TSE cuja vitória<br />

beneficiaria todas as siglas coligadas a ele nas<br />

próximas eleições – inclusive candidatos petistas.<br />

A assessoria <strong>do</strong> Tribunal Superior Eleitoral<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o direito <strong>do</strong> recém cria<strong>do</strong> PSD <strong>de</strong>ter<br />

acesso ao dinheiro <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Partidário e – melhor<br />

– ao tempo <strong>de</strong> propaganda eleitoral compulsória na<br />

proporção <strong>de</strong> sua bancada parlamentar. São<br />

minutos preciosos para Haddad numa eleição<br />

nivelada pelo <strong>de</strong>sconhecimento <strong>do</strong>s candidatos<br />

junto à população.<br />

O processo precisa ser julga<strong>do</strong> logo para valer<br />

nesta campanha. Quem não acredita na<br />

in<strong>de</strong>pendência entre os Po<strong>de</strong>res po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiar<br />

que a aliança ps<strong>do</strong>- petista po<strong>de</strong> ter a ver com o<br />

julgamento <strong>do</strong> caso. Céticos!<br />

Nem tu<strong>do</strong> são votos favoráveis nessa aliança<br />

inusitada, todavia. Há o pequeno problema da<br />

opinião pública: 4 em 10 eleitores acham a gestão<br />

Kassab ruim ou péssima. E a rejeição ao<br />

mandachuva <strong>do</strong> PSD beira 60% entre os eleitores<br />

que manifestam espontaneamente intenção <strong>de</strong><br />

votar num candidato petista.<br />

O prefeito se dá nota 10, mas recebe nota 4,6 da<br />

população. Segun<strong>do</strong> o Datafolha, 46% não<br />

votariam no candidato apoia<strong>do</strong> por Kassab. O<br />

porcentual chega a 59% entre petistas.<br />

Kassab é um peso pesa<strong>do</strong> que po<strong>de</strong> arrastar<br />

alia<strong>do</strong>s para o fun<strong>do</strong>. Será especialmente difícil <strong>de</strong><br />

carregar para Haddad, que ainda precisa<br />

convencer a militância petista <strong>de</strong> que ele é o cara.<br />

Curiosamente, o PT – ou melhor, Lula – escolheu<br />

Haddad justamente por ele não somar rejeição<br />

pessoal à rejeição partidária.<br />

Após eleger Dilma, Lula <strong>de</strong>ve apostar que, com<br />

bastante propaganda, po<strong>de</strong> transformar qualquer<br />

um em algo palatável. Até Kassab.<br />

Os po<strong>de</strong>res quânticos <strong>do</strong> PSD também têm o efeito<br />

oposto, <strong>de</strong> transformar o in<strong>de</strong>ciso PSDB num<br />

parti<strong>do</strong> <strong>de</strong> oposição. A aliança Kassab-Haddad<br />

enfraquece pré-candidatos tucanos que vão melhor<br />

na base pró-kassabista, como Andrea Matarazzo, e<br />

ajuda os mais fortes entre os oposicionistas, como<br />

Bruno Covas. Coisa <strong>de</strong> história em quadrinhos.<br />

49


NEXTEL<br />

Uso in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>de</strong> senha<br />

Sou cliente Nextel e, em 6/1, ao fazer contato com<br />

a empresa para questionar o não recebimento <strong>de</strong><br />

faturas, tive a surpresa <strong>de</strong> ser informada <strong>de</strong> que<br />

haviam compra<strong>do</strong> um aparelho no valor <strong>de</strong> R$<br />

799,90 e um pacote <strong>de</strong> R$ 75. Alguém (tenho o<br />

nome e o RG da pessoa e garanto que não a<br />

conheço) foi até uma loja, apresentou minha senha<br />

master e efetuou as compras. O absur<strong>do</strong> maior é<br />

ouvir da Nextel que isso é normal: “É uma das<br />

facilida<strong>de</strong>s que damos ao cliente”. Qualquer um<br />

po<strong>de</strong> chegar com a senha e fazer o que quiser?<br />

Mesmo com o boletim <strong>de</strong> ocorrência, dizem que<br />

nada po<strong>de</strong> ser feito. E, pior, dão a enten<strong>de</strong>r que, se<br />

alguém teve acesso à senha, foi porque eu passei.<br />

Mandaram eu procurar os meus direitos. LUANA<br />

SANTOS / SÃO PAULO<br />

A Nextel esclarece que a guarda da senha é <strong>de</strong><br />

total responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cliente e que, em posse<br />

<strong>de</strong>sta, o cliente po<strong>de</strong> efetuar qualquer solicitação<br />

nas centrais <strong>de</strong> vendas. Salienta que a senha é a<br />

garantia <strong>de</strong> que somente o administra<strong>do</strong>r da conta<br />

(pessoa indicada pelo cliente como responsável<br />

pelo contrato) po<strong>de</strong>rá solicitar qualquer serviço à<br />

Nextel, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> total responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cliente<br />

seu uso por quem ele indicar.<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Metrópole, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | OAB<br />

Seus Direitos<br />

A leitora critica: É um absur<strong>do</strong>. Eles nem sequer<br />

entram em contato com o titular da linha para saber<br />

se foi autoriza<strong>do</strong> o uso. O supervisor da loja<br />

sugeriu que eu entrasse com uma ação na Justiça.<br />

Ele disse: “Sempre vou a audiências e não dão em<br />

nada”. Pelo jeito isso acontece frequentemente e<br />

eles não estão nem aí com o cliente.<br />

Análise: A reclamação à Coluna representa a<br />

última esperança <strong>de</strong> solução sem conflito maior<br />

pela consumi<strong>do</strong>ra e, mesmo assim, não há<br />

resposta da empresa. Segun<strong>do</strong> a Lei 8.078/90, o<br />

consumi<strong>do</strong>r tem boa-fé objetiva, ou seja, caberá ao<br />

fornece<strong>do</strong>r, pelo princípio da inversão <strong>do</strong> ônus da<br />

prova, <strong>de</strong>monstrar que a sra. Luana fez a compra.<br />

Além disso, para toda aquisição <strong>de</strong> produto ou<br />

serviço <strong>de</strong>ve existir contrato, que é regra<strong>do</strong> por<br />

outras regulamentações da Anatel. Caso exista<br />

ainda prejuízo financeiro, como a inscrição no<br />

SCPC/Serasa pelo não pagamento <strong>de</strong> eventual<br />

conta em nome da consumi<strong>do</strong>ra (que afirma não<br />

ter realiza<strong>do</strong> a compra), po<strong>de</strong>rá recorrer em juízo a<br />

<strong>de</strong>vida reparação pelo dano causa<strong>do</strong>. Recomen<strong>do</strong><br />

que a leitora procure a Ouvi<strong>do</strong>ria da Nextel para<br />

solucionar o problema e/ou a Anatel. Caso não<br />

tenha solução no prazo forneci<strong>do</strong>, ingresse com<br />

ação no Juiza<strong>do</strong> Especial Cível. Fábio Lopes<br />

Soares, advoga<strong>do</strong>, é da Comissão Permanente <strong>de</strong><br />

Direito e Relações <strong>de</strong> Consumo da OAB-SP e da<br />

Associação Brasileira <strong>de</strong> Ouvi<strong>do</strong>res<br />

[Clique aqui para abrir o texto em um editor<br />

50


completo <strong>de</strong> texto (bold, itálico, tabelas e etc)]<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo/SP - Metrópole, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | OAB<br />

51


PM é preso por roubo <strong>de</strong> celular<br />

O pré-carnaval <strong>do</strong> Suvaco <strong>do</strong> Cristo, no Jardim<br />

Botânico, acabou em confusão na manhã <strong>de</strong><br />

ontem. Uma briga resultou na prisão <strong>do</strong> policial<br />

militar Alessandro da Silva Gomes, que estava à<br />

paisana no bloco, arma<strong>do</strong> com uma pistola <strong>de</strong> uso<br />

pessoal. Ele é acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> roubo qualifica<strong>do</strong> e <strong>de</strong>ve<br />

aguardar julgamento num batalhão da Polícia<br />

Militar.<br />

Segun<strong>do</strong> o boletim <strong>de</strong> ocorrência registra<strong>do</strong> na<br />

14a- DP (Leblon), um folião seguia o bloco quan<strong>do</strong><br />

sentiu que alguém estava rouban<strong>do</strong> o celular, que<br />

ele carregava no bolso da bermuda. O folião se<br />

virou e atacou Alessandro com a ajuda <strong>do</strong>s amigos.<br />

Antes <strong>de</strong> ser imobiliza<strong>do</strong>, o policial teria consegui<strong>do</strong><br />

passar o aparelho para um comparsa não<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>, que fugiu. O celular não foi<br />

recupera<strong>do</strong>.<br />

Alessandro é lota<strong>do</strong> na Diretoria Geral <strong>de</strong> Pessoal<br />

<strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiros. As<br />

vítimas, as testemunhas e o PM não quiseram dar<br />

<strong>de</strong>clarações sobre o caso.<br />

O Globo/RJ - Rio, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Tribunais <strong>de</strong> Justiça<br />

52


O Globo/RJ - O País, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Pai viúvo ganha licença-maternida<strong>de</strong><br />

BRASÍLIA. Graças a uma liminar da Justiça<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> DF, um servi<strong>do</strong>r da Polícia Fe<strong>de</strong>ral em<br />

Brasília po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>sfrutar da licença-maternida<strong>de</strong>.<br />

José Joaquim <strong>do</strong>s Santos per<strong>de</strong>u a mulher,<br />

Lucilene da Costa <strong>do</strong>s Santos, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong><br />

complicações <strong>do</strong> parto, no mês passa<strong>do</strong>, e se viu<br />

sozinho para criar o filho recém-nasci<strong>do</strong> e a filha <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>z anos. Como não conseguiu o direito à licença<br />

na PF, recorreu à Justiça. A juíza Ivani Silva da<br />

Luz enten<strong>de</strong>u que, “na ausência da genitora, tais<br />

cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem ser presta<strong>do</strong>s pelo pai e isto <strong>de</strong>ve<br />

ser assegura<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong>”.<br />

A ação foi impetrada pelo Sindicato Nacional <strong>do</strong>s<br />

Servi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Plano Especial <strong>de</strong> Cargos da Polícia<br />

Fe<strong>de</strong>ral (Sinpecpf). Com a <strong>de</strong>cisão, o servi<strong>do</strong>r, que<br />

teria direito a cinco dias <strong>de</strong> licençapaternida<strong>de</strong>,<br />

passou a ter direito aos 180 dias da<br />

licença-maternida<strong>de</strong>. Mas Joaquim Pedro <strong>de</strong><br />

Me<strong>de</strong>iros Rodrigues, advoga<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santos,<br />

ressaltou:<br />

— Ainda vai ser ouvida a Polícia Fe<strong>de</strong>ral. Depois<br />

disso e <strong>de</strong> a AGU (Advocacia Geral da União) ser<br />

escutada, a juíza vai ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir o<br />

Ministério Público. Então a juíza vai dar a<br />

sentença confirman<strong>do</strong> ou não a liminar.<br />

A esposa <strong>de</strong> Santos <strong>de</strong>u à luz em 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />

<strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> e morreu em 10 <strong>de</strong> janeiro. O pai<br />

tentou na PF a concessão da licença a<strong>do</strong>tante (90<br />

dias), o que foi nega<strong>do</strong> sob o argumento <strong>de</strong> que<br />

não havia previsão legal nesse caso. Para cuidar<br />

<strong>do</strong> filho, ele tirou férias, mas elas terminaram na<br />

última quarta.<br />

Segun<strong>do</strong> Miguel Rodrigues Nunes Neto, advoga<strong>do</strong><br />

que também trabalha na <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> servi<strong>do</strong>r, não<br />

foram encontra<strong>do</strong>s nos tribunais brasileiros casos<br />

iguais a esse já transita<strong>do</strong>s em julga<strong>do</strong>. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, ele ressalvou que não é possível assegurar<br />

se liminares semelhantes já foram concedidas ou<br />

não no passa<strong>do</strong>.<br />

53


Valor Econômico/SP - Legislação & Tributos, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

Pessoa Jurídica e a empresa individual<br />

O Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Judiciários (CEJ), órgão <strong>do</strong><br />

Conselho da Justiça Fe<strong>de</strong>ral, aprovou o<br />

Enuncia<strong>do</strong> nº468, segun<strong>do</strong> o qual só "a pessoa<br />

natural po<strong>de</strong> constituir empresa individual <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> limitada" (Eireli). O Departamento<br />

Nacional <strong>de</strong> Registro <strong>do</strong> Comércio (DNRC), na<br />

Instrução Normativa nº 117, <strong>de</strong> 2011, estabeleceu<br />

que "a pessoa jurídica não po<strong>de</strong> constituir Eireli".<br />

Como as Juntas Comerciais estão subordinadas ao<br />

DNRC, a IN nº 117 <strong>de</strong>verá ser seguida à risca, não<br />

obstante viole a Lei nº 12.441, <strong>de</strong>.2011, que<br />

incorporou o artigo 980-A ao Código Civil, para<br />

permitir a criação da Eireli consoante diligenciarei<br />

<strong>de</strong>monstrar com respal<strong>do</strong> nos elementos <strong>de</strong><br />

interpretação histórico, léxico, lógico, sistemático e<br />

finalístico, no direito Compara<strong>do</strong> e em consagra<strong>do</strong>s<br />

cânones <strong>de</strong> hermenêutica jurídica, concebi<strong>do</strong>s pelo<br />

gênio <strong>do</strong>s jurisconsultos romanos, que<br />

atravessaram séculos e permanecem enalteci<strong>do</strong>s e<br />

observa<strong>do</strong>s por juristas <strong>de</strong> escol.<br />

É princípio inconcusso, autêntico brocar<strong>do</strong>, que<br />

"ubi lex non distinguit nec nos distinguere<br />

<strong>de</strong>bemus", isto é, "on<strong>de</strong> a lei não distingue, não<br />

po<strong>de</strong> o intérprete distinguir". Em consequência,<br />

quan<strong>do</strong> o caput <strong>do</strong> artigo 980-A dispõe que "a<br />

empresa individual <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> limitada<br />

será constituída por uma única pessoa titular <strong>do</strong><br />

capital social...", o aplica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> direito, ao utilizar os<br />

elementos gramatical e lógico <strong>de</strong> interpretação,<br />

para reconstruir o pensamento ínsito no texto legal,<br />

é leva<strong>do</strong> a concluir que a palavra "pessoa",<br />

empregada no art. 980-A e que, no plural,<br />

encabeça o Livro I da Parte Geral <strong>do</strong> Código Civil,<br />

é gênero. Presume-se, portanto, incluídas as<br />

respectivas espécies, as quais, na hipótese, são a<br />

pessoa natural e a pessoa jurídica, consoante<br />

estatuí<strong>do</strong> nos Títulos I e II <strong>do</strong> menciona<strong>do</strong> Livro I<br />

da Parte Geral. É veda<strong>do</strong> ao intérprete restringir o<br />

senti<strong>do</strong> e o alcance da lei e afirmar que, quan<strong>do</strong> o<br />

art. 980-A fala em pessoa, quer referir-se tão só à<br />

pessoa natural, sob pena <strong>de</strong> ofen<strong>de</strong>r o axioma<br />

jurídico "specialia generalibus insunt". Isto é, "o que<br />

é especial acha-se incluí<strong>do</strong> no geral", e o aforismo<br />

<strong>de</strong> Gaio, no Digesto: "o geral abrange o especial".<br />

As pessoas naturais e as pessoas jurídicas po<strong>de</strong>m<br />

fundar uma Eireli<br />

A incorreta exegese <strong>do</strong> DNRC é, a<strong>de</strong>mais, repelida<br />

pelo elemento histórico, porquanto o Projeto <strong>de</strong> Lei<br />

nº 4.605, <strong>de</strong> 2009, que se transformou na Lei nº<br />

12.441, <strong>de</strong> 2011, dispunha, inspira<strong>do</strong> nas<br />

legislações <strong>do</strong> Chile (Lei nº 19.857), Peru<br />

(Decreto-Lei nº 21.621) e Paraguai (Lei nº 1.034),<br />

textualmente: "A Eireli será constituída por um<br />

único sócio, pessoa natural, que é titular <strong>do</strong> capital<br />

social...".<br />

Como se vê, o projeto original, ao valer-se da<br />

expressão pessoa natural, só permitia a<br />

constituição da Eireli por pessoa natural. No<br />

entanto, alterada a proposta na Câmara <strong>do</strong>s<br />

Deputa<strong>do</strong>s, com a supressão <strong>do</strong> vocábulo natural,<br />

a conclusão, que se impõe, é: a pessoa natural e a<br />

pessoa jurídica po<strong>de</strong>m fundar uma Eireli na esteira<br />

da máxima: odiosa restringenda, favorabilia<br />

amplianda, isto é, "restrinja-se o odioso; amplie-se<br />

o favorável", e <strong>do</strong> direito compara<strong>do</strong> (legislações da<br />

França (Lei nº 85-697), Portugal (Decreto-lei nº<br />

257) e Espanha (Lei nº 2, <strong>de</strong> 1995) e da Diretiva<br />

89/667, da CEE).<br />

A idêntico resulta<strong>do</strong> conduz a interpretação<br />

sistemática, em que se busca a conexão interna<br />

entre o caput <strong>do</strong> art. 980-A e os seus parágrafos,<br />

para <strong>de</strong>scobrir a "mens legis", isto é, o espírito da<br />

lei, eis que, no seu parágrafo 2º, há referência<br />

expressa à pessoa natural, o que seria<br />

absolutamente <strong>de</strong>snecessário se somente a<br />

pessoal natural pu<strong>de</strong>sse ser titular <strong>de</strong> Eireli<br />

O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> parágrafo 3º <strong>do</strong> art. 980-A leva a igual<br />

conclusão, eis que o sócio, <strong>de</strong> que trata o referi<strong>do</strong><br />

parágrafo, po<strong>de</strong>ria ser pessoa jurídica, salvo se o<br />

texto excluísse essa possibilida<strong>de</strong> e, se não o faz,<br />

a admite.<br />

À mesma conclusão conduz a interpretação<br />

finalística ou teleológica, pois, embora a Eireli<br />

tenha si<strong>do</strong> concebida, nos i<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1895, por Karl<br />

Wieland, e estudada pelo austríaco Orkar Pisko,<br />

em 1910, para aten<strong>de</strong>r, primordialmente, às<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> pequeno e médio empresários.<br />

Ela também se presta à concretização <strong>do</strong>s<br />

princípios insculpi<strong>do</strong>s no art. 170 da Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral e à consecução <strong>do</strong>s objetivos para os<br />

quais foi imaginada na Suíça e <strong>de</strong>senvolvida em<br />

inúmeros países, em especial para moralizar o<br />

direito societário, eliminan<strong>do</strong>-se as socieda<strong>de</strong>s<br />

simuladas, vezes sem conta formada com a<br />

participação <strong>de</strong> "homens <strong>de</strong> palha".<br />

Por fim, atente-se que o enuncia<strong>do</strong> <strong>do</strong> CEJ não<br />

terá nenhuma consequência prática, porquanto o<br />

Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça (STJ) sempre<br />

<strong>de</strong>cidiu que a competência para processar e julgar<br />

toda e qualquer dúvida ou controvérsia sobre<br />

registro e arquivamento <strong>de</strong> atos societários é da<br />

Justiça Estadual, inclusive os que se referem à<br />

empresa individual, conforme acórdão proferi<strong>do</strong> no<br />

54


"Conflito <strong>de</strong> Competência nº 96.872-Pr<br />

(2008/0142317-5) (Rel.: Min. Fernan<strong>do</strong><br />

Gonçalves/2ª Seção). Dj: 26.11.2008. (STJ/DJe <strong>de</strong><br />

9/12/08)".<br />

Jorge Lobo é consultor jurídico e professor <strong>do</strong>utor<br />

em direito comercial da Uerj<br />

Este artigo reflete as opiniões <strong>do</strong> autor, e não <strong>do</strong><br />

jornal Valor Econômico. O jornal não se<br />

Valor Econômico/SP - Legislação & Tributos, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

responsabiliza e nem po<strong>de</strong> ser responsabiliza<strong>do</strong><br />

pelas informações acima ou por prejuízos <strong>de</strong><br />

qualquer natureza em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> uso <strong>de</strong>ssas<br />

informações<br />

55


Valor Econômico/SP - Legislação & Tributos, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Justiça Fe<strong>de</strong>ral<br />

Folha <strong>de</strong> salário é consi<strong>de</strong>rada insumo<br />

Ricar<strong>do</strong> Go<strong>do</strong>i: <strong>de</strong>cisão vai gerar redução<br />

tributária entre 50% e 75%<br />

A Justiça Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo conce<strong>de</strong>u uma<br />

liminar a uma presta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> serviços para usar as<br />

<strong>de</strong>spesas com a folha <strong>de</strong> salário como créditos <strong>do</strong><br />

PIS e da Cofins para abater <strong>do</strong> valor total a ser<br />

recolhi<strong>do</strong> das contribuições ao Fisco. A legislação<br />

<strong>do</strong>s tributos proíbe a prática. Entretanto, o juiz<br />

fe<strong>de</strong>ral substituto da 5ª Vara <strong>de</strong> Guarulhos,<br />

Guilherme Roman Borges, permitiu o <strong>de</strong>sconto ao<br />

consi<strong>de</strong>rar que a proibição vai contra princípios<br />

constitucionais. "Enten<strong>do</strong> que é inconstitucional a<br />

vedação da <strong>de</strong>dução sob o ponto <strong>de</strong> vista material,<br />

por ofensa à isonomia, à capacida<strong>de</strong> contributiva, à<br />

livre-concorrência e à razoabilida<strong>de</strong>", afirmou, na<br />

<strong>de</strong>cisão. A Procura<strong>do</strong>ria da Fazenda Nacional<br />

(PGFN) informou que já recorreu.<br />

Embora os advoga<strong>do</strong>s consulta<strong>do</strong>s pelo Valor<br />

acreditem que há gran<strong>de</strong>s chances <strong>de</strong> a liminar ser<br />

cassada, principalmente porque a Justiça tem si<strong>do</strong><br />

contrária à tese, a maioria concorda que a <strong>de</strong>cisão<br />

é bem fundamentada e, por isso, um importante<br />

prece<strong>de</strong>nte para questionar a proibição. "É um<br />

posicionamento inova<strong>do</strong>r que vai levantar o <strong>de</strong>bate.<br />

Po<strong>de</strong>rá sensibilizar o legisla<strong>do</strong>r a aprimorar o<br />

regime ou o Judiciário a reconhecer que a<br />

vedação é <strong>de</strong>sproporcional", diz o tributarista Fabio<br />

Calcini, <strong>do</strong> Brasil Salomão e Matthes Advocacia.<br />

Na liminar <strong>de</strong> 14 páginas, proferida no dia 12 <strong>de</strong><br />

janeiro, o juiz aceitou os argumentos da Auxiliarlog<br />

Serviços Gerais e Logísticos. A empresa <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />

que viu sua carga tributária aumentar, em 2003,<br />

quan<strong>do</strong> veio o regime não cumulativo com alíquota<br />

<strong>de</strong> 9,25%. Sustentou ainda que, por ter a mão <strong>de</strong><br />

obra como principal insumo, não consegue abater<br />

créditos. Segun<strong>do</strong> o advoga<strong>do</strong> da empresa,<br />

Ricar<strong>do</strong> Go<strong>do</strong>i, <strong>do</strong> escritório Go<strong>do</strong>i & Aprigliano<br />

Advoga<strong>do</strong>s Associa<strong>do</strong>s, a <strong>de</strong>cisão vai gerar<br />

redução da carga tributária entre 50% e 75%. "A lei<br />

<strong>de</strong>svirtuou a sistemática <strong>do</strong> regime não cumulativo<br />

ao proibir o crédito da folha", diz Go<strong>do</strong>i, que tem<br />

outros 20 pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> liminares sobre o tema.<br />

Para o juiz, a proibição onerou as empresas por<br />

causa <strong>de</strong> uma "perda <strong>de</strong> consistência no próprio<br />

conceito <strong>de</strong> insumo". No entendimento o<br />

magistra<strong>do</strong>, as <strong>de</strong>spesas com pessoal tem papel<br />

primordial na formação <strong>do</strong>s custos das presta<strong>do</strong>ras<br />

<strong>de</strong> serviços. Além disso, diz que o regime <strong>do</strong> PIS e<br />

Cofins é diferente <strong>do</strong> <strong>de</strong> outros impostos não<br />

cumulativos, como o ICMS. Isso porque o fato<br />

gera<strong>do</strong>r das contribuições é a receita calculada<br />

pelo contribuinte, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> etapas<br />

anteriores. "Logo, o que existe são custos<br />

operacionais legalmente previstos que po<strong>de</strong>m ser<br />

excluí<strong>do</strong>s da base <strong>de</strong> cálculo".<br />

Na <strong>de</strong>cisão, ele afirma ainda que há ofensa à<br />

capacida<strong>de</strong> contributiva porque o valor <strong>do</strong> tributo a<br />

ser recolhi<strong>do</strong> sob o regime não cumulativo "quase<br />

triplicou em relação ao regime anterior". Afirma<br />

ainda que foram criadas diferenciações entre os<br />

setores econômicos "sem fundamento racional", o<br />

que teria <strong>de</strong>sestimula<strong>do</strong> a competição.<br />

Embora a Auxiliarlog tenha obti<strong>do</strong> a liminar, o<br />

sindicato que a representa não teve o mesmo<br />

sucesso. Em sentença proferida no dia 26, o juiz da<br />

12ª Vara <strong>de</strong> São Paulo negou o pedi<strong>do</strong> para que as<br />

empresas associadas usassem a folha <strong>de</strong><br />

pagamento como crédito. Na ação coletiva, saiu<br />

vitoriosa a tese da procura<strong>do</strong>ria da Fazenda<br />

Nacional <strong>de</strong> que os salários não são insumos,<br />

inclusive porque não são adquiri<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pessoas<br />

jurídicas que recolhem o PIS e a Cofins. "Salário é<br />

remuneração, não é algo consumi<strong>do</strong> na produção.<br />

O trabalho, é. Mas para isso se remunera", diz o<br />

procura<strong>do</strong>r, Jaimes Siqueira.<br />

56


Cofins <strong>do</strong>s bancos<br />

O Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF) reconheceu a<br />

existência <strong>de</strong> repercussão geral em processo que<br />

discute a constitucionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> artigo 18 da Lei nº<br />

10.684, <strong>de</strong> 2003, que aumentou <strong>de</strong> 3% para 4 % a<br />

alíquota da Cofins aplicável a bancos comerciais,<br />

<strong>de</strong> investimento, socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crédito,<br />

financiamento, investimento, entre outros tipos <strong>de</strong><br />

empresas. O processo está sob a relatoria <strong>do</strong><br />

ministro <strong>Dia</strong>s Toffoli. A matéria será julgada no<br />

Recurso Extraordinário (RE) 656089, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong><br />

uma instituição financeira. A empresa contesta<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Tribunal Regional Fe<strong>de</strong>ral (TRF) da 1ª<br />

Região, com se<strong>de</strong> em Brasília (DF), que <strong>de</strong>clarou<br />

que a majoração <strong>do</strong> tributo é constitucional. No<br />

caso, a regra <strong>do</strong> artigo 18 da Lei nº 10.684 teria<br />

si<strong>do</strong> editada em respeito ao parágrafo 9º <strong>do</strong> artigo<br />

195, segun<strong>do</strong> o qual as contribuições sociais<br />

po<strong>de</strong>rão ter alíquota ou base <strong>de</strong> cálculo<br />

diferenciada em razão da ativida<strong>de</strong> econômica, da<br />

utilização intensiva <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra, <strong>do</strong> porte da<br />

empresa ou da condição estrutural <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho. A majoração da Cofins passou a valer<br />

para bancos comerciais, bancos <strong>de</strong> investimento,<br />

bancos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, caixas econômicas,<br />

socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crédito, financiamento e<br />

investimento, socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crédito imobiliário,<br />

socieda<strong>de</strong>s corretoras, distribui<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> títulos e<br />

valores mobiliários, empresas <strong>de</strong> arrendamento<br />

mercantil e cooperativas <strong>de</strong> crédito. Segun<strong>do</strong> a<br />

autora, julgar que a majoração é constitucional<br />

significa estabelecer diferenciação fundamentada<br />

exclusivamente no exercício da ativida<strong>de</strong><br />

econômica da empresa, o que seria insustentável<br />

pelos princípios da igualda<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong><br />

retributiva e equida<strong>de</strong>.<br />

Divulgação <strong>de</strong> salário<br />

A Administração <strong>do</strong>s Portos <strong>de</strong> Paranaguá e<br />

Antonina (APPA), autarquia pública, não <strong>de</strong>ve<br />

in<strong>de</strong>nizar um emprega<strong>do</strong> que teve seu salário<br />

divulga<strong>do</strong> no site da autarquia. A 1ª Turma <strong>do</strong><br />

Valor Econômico/SP - Legislação & Tributos, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Destaques<br />

Tribunal Superior <strong>do</strong> Trabalho não conheceu o<br />

recurso pelo qual o trabalha<strong>do</strong>r tentava reformar<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Tribunal Regional <strong>do</strong> Trabalho da 9ª<br />

Região (PR), que julgou improce<strong>de</strong>nte seu pedi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> danos morais. Segun<strong>do</strong> o relator <strong>do</strong> recurso, juiz<br />

convoca<strong>do</strong> Hugo Carlos Scheuermann, não foi<br />

<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> prejuízo real e efetivo à integrida<strong>de</strong><br />

moral <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r.<br />

Certidão Negativa<br />

A Associação Nacional <strong>do</strong>s Magistra<strong>do</strong>s da<br />

Justiça <strong>do</strong> Trabalho (Anamatra) informou, em nota,<br />

que estuda <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a lei que instituiu a Certidão<br />

Negativa <strong>de</strong> Débitos Trabalhistas (CNDT),<br />

questionada pela Confe<strong>de</strong>ração Nacional da<br />

Indústria (CNI) no Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

(STF). A lei nº 12.440, <strong>de</strong> 2011, impe<strong>de</strong> que as<br />

empresas com dívidas trabalhistas obtenham essa<br />

certidão. Sem o <strong>do</strong>cumento, não é possível fazer<br />

contratos com o serviço público. Os juízes <strong>do</strong><br />

trabalho "enten<strong>de</strong>m que a CNDT é importante<br />

mecanismo <strong>de</strong> coerção ao cumprimento das<br />

obrigações trabalhistas", diz a nota. Na semana<br />

passada, a CNI entrou com uma ação<br />

questionan<strong>do</strong> a constitucionalida<strong>de</strong> da lei, em vigor<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mês passa<strong>do</strong>. Alegou <strong>de</strong>scumprimento<br />

<strong>do</strong>s princípios <strong>de</strong> isonomia, livre iniciativa e<br />

concorrência. "O objetivo da lei é reduzir o número<br />

<strong>de</strong> dívidas judiciais a espera <strong>de</strong> pagamento no<br />

âmbito da Justiça <strong>do</strong> Trabalho", afirma a<br />

associação. Se <strong>de</strong>cidir pela intervenção, a entida<strong>de</strong><br />

entrará como "amicus curiae" (amigo da corte) na<br />

ação direta <strong>de</strong> inconstitucionalida<strong>de</strong> (Adin),<br />

protocolada pela CNI. Isso significa, segun<strong>do</strong> a<br />

assessoria <strong>do</strong> STF, que po<strong>de</strong>rá intervir no<br />

processo, por exemplo, com a apresentação <strong>de</strong><br />

pareceres e ter direito à <strong>de</strong>fesa oral no julgamento.<br />

Mas, para isso, o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser analisa<strong>do</strong> pelo<br />

relator da ação, no caso, o ministro <strong>Dia</strong>s Toffoli.<br />

(Thiago Resen<strong>de</strong>)<br />

57


Valor Econômico/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Proposta limita po<strong>de</strong>r da Justiça em <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong><br />

Por Juliano Basile | De Brasília<br />

O Judiciário só <strong>de</strong>veria rever as <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong><br />

e das agências regula<strong>do</strong>ras a partir da 2ª instância.<br />

Essa proposta, que limita o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> juízes da 1ª<br />

instância <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r liminares em casos <strong>de</strong><br />

fusões e aquisições que são reprovadas ou<br />

aprovadas com restrições pelo Ca<strong>de</strong> e pelas<br />

agências, foi feita ao Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

(CNJ) por <strong>do</strong>is pesquisa<strong>do</strong>res que analisaram mais<br />

<strong>de</strong> 1,5 mil casos envolven<strong>do</strong> vários setores da<br />

economia.<br />

"Nós propomos que seria <strong>de</strong>sejável que os<br />

processos começassem a partir da 2ª instância",<br />

afirmou o economista Paulo Furquim, que é<br />

professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e foi<br />

conselheiro <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>. Ele reconhece que, hoje, a<br />

Constituição não permite que as empresas sejam<br />

proibidas <strong>de</strong> pedir liminares contra <strong>de</strong>cisões das<br />

agências na 1ª instância. Por outro la<strong>do</strong>, a<br />

pesquisa feita por Furquim e pelo advoga<strong>do</strong> e<br />

professor da USP Juliano Maranhão mostra que as<br />

liminares têm efeitos irreversíveis em vários<br />

setores da economia.<br />

"Se a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> uma agência não for aplicada e<br />

uma empresa falir, a concorrência será prejudicada<br />

em <strong>de</strong>finitivo", advertiu Furquim. "Infelizmente, o<br />

juiz po<strong>de</strong> ferir um direito coletivo em prol <strong>do</strong> direito<br />

priva<strong>do</strong> da empresa que recorreu contra a <strong>de</strong>cisão<br />

da agência."<br />

Os professores i<strong>de</strong>ntificaram 83 mil processos na<br />

Justiça envolven<strong>do</strong> agências, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 1990.<br />

Para a amostragem, eles selecionaram 1,5 mil<br />

processos contra <strong>13</strong> agências. Ao to<strong>do</strong>, 80% das<br />

<strong>de</strong>cisões das agências são mantidas pela Justiça.<br />

O problema é que a espera por um julgamento final<br />

pelo Judiciário traz uma incerteza para as<br />

empresas <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> setor. Elas não<br />

sabem se a <strong>de</strong>cisão da agência vai ser aplicada ou<br />

não e, com isso, passam a tomar providências em<br />

meio a um clima <strong>de</strong> insegurança.<br />

Isso aconteceu em casos famosos, como no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> chocolates, on<strong>de</strong> o veto <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong> à<br />

compra da Garoto pela Nestlé está há oito anos em<br />

<strong>de</strong>bate na Justiça. Os concorrentes da Nestlé<br />

acompanham o andamento <strong>do</strong> processo para saber<br />

se a empresa será mesmo obrigada a ven<strong>de</strong>r a<br />

Garoto ou se vai po<strong>de</strong>r continuar com a<br />

companhia. Eles vão a<strong>do</strong>tar <strong>de</strong>terminadas<br />

estratégias no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da <strong>de</strong>cisão<br />

final da Justiça.<br />

Também houve incerteza em casos <strong>de</strong> menor<br />

repercussão, como no setor <strong>de</strong> vigilância privada,<br />

on<strong>de</strong> um cartel foi con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> e os empresários<br />

recorreram ao Judiciário. Por 12 vezes, os juízes<br />

mudaram <strong>de</strong> opinião sobre a con<strong>de</strong>nação e, com<br />

isso, pairou uma in<strong>de</strong>finição no setor: a <strong>de</strong>cisão<br />

contra o cartel seria aplicada ou não?<br />

Em média, os processos contra as agências<br />

<strong>de</strong>moram 6,5 anos na Justiça. No caso <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>, a<br />

média é um pouco menor: 4,5 anos. No exterior,<br />

esses processos costumam <strong>de</strong>morar um ano<br />

apenas.<br />

"Nós verificamos que o Judiciário raramente entra<br />

no conteú<strong>do</strong> das <strong>de</strong>cisões das agências e quan<strong>do</strong><br />

o faz não é com 'expertise'", afirmou Furquim. "Há<br />

custos, incertezas e benefícios da revisão judicial",<br />

concluiu. Os benefícios seriam as manifestações<br />

<strong>do</strong>s juízes a respeito <strong>do</strong> trabalho das agências.<br />

Eles servem para aperfeiçoar os procedimentos<br />

jurídicos <strong>de</strong>las. "Ao fim, a eficácia regulatória da<br />

agência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da revisão judicial", explicou o<br />

economista.<br />

A pesquisa verificou que as agências que atuam<br />

em mais <strong>de</strong> um setor da economia são as mais<br />

contestadas. É o caso <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong> e da Comissão <strong>de</strong><br />

Valores Mobiliários (CVM). Elas sofrem com ações<br />

<strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> diversos setores. Apenas no<br />

Ca<strong>de</strong>, mais <strong>de</strong> 330 <strong>de</strong>cisões antitruste foram<br />

contestadas na Justiça. Por outro la<strong>do</strong>, em 75%<br />

<strong>de</strong>sses casos, as <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong> são mantidas<br />

pelo Judiciário.<br />

"A Justiça está começan<strong>do</strong> a compreen<strong>de</strong>r que é<br />

preciso ouvir as agências antes <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r<br />

liminares", avaliou o procura<strong>do</strong>r-geral <strong>do</strong> órgão<br />

antitruste, Gilvandro Araújo.<br />

Outro ponto i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> pela pesquisa é que as<br />

agências setoriais sofrem menos com ações na<br />

Justiça. "No início, nós achávamos que a<br />

transparência da agência po<strong>de</strong>ria influenciar e que<br />

aquelas que realizam julgamentos abertos, com a<br />

presença <strong>do</strong> público, sofreriam menos revisão<br />

judicial. Mas não é o que acontece", constatou<br />

Furquim.<br />

No Ca<strong>de</strong>, na CVM e na Aneel (energia elétrica), as<br />

sessões <strong>de</strong> julgamento são públicas e as <strong>de</strong>cisões<br />

são veiculadas na internet. Mas essas são<br />

agências com forte judicialização. "Isso porque o<br />

Ca<strong>de</strong> e a CVM são agências horizontais, que<br />

atuam sobre vários setores da economia", disse<br />

Furquim. Essa atuação multissetorial faz com que a<br />

58


empresa não perca nada se contestar uma <strong>de</strong>cisão<br />

<strong>do</strong> Ca<strong>de</strong> ou da CVM na Justiça.<br />

"No caso da Anatel [telecomunicações], por<br />

exemplo, a empresa vive lá, é <strong>do</strong> setor e po<strong>de</strong><br />

per<strong>de</strong>r se criticar ou contestar a agência",<br />

completou o professor. "Mas a transparência está<br />

ligada à qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> julgamento e melhora a<br />

<strong>de</strong>cisão."<br />

Curiosamente, a pesquisa revelou que o fato <strong>de</strong> a<br />

<strong>de</strong>cisão da agência ser unânime não é importante<br />

para o Judiciário. Ambas as <strong>de</strong>cisões - unânimes<br />

ou por maioria - são contestadas na Justiça.<br />

Segun<strong>do</strong> Furquim, o que <strong>de</strong>termina se um caso vai<br />

para a Justiça é se a <strong>de</strong>cisão é extrema - se levou<br />

ao <strong>de</strong>sfazimento <strong>de</strong> um negócio ou a venda <strong>de</strong> um<br />

ativo, como uma fábrica ou marca.<br />

Valor Econômico/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Nesse ponto, os acor<strong>do</strong>s feitos entre empresas e<br />

agências evitam que os casos sejam leva<strong>do</strong>s à<br />

Justiça. Foi o que aconteceu, por exemplo, no<br />

caso da compra da Sadia pela Perdigão. <strong>Dia</strong>nte da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> veto, a BRF Brasil Foods optou<br />

por negociar uma solução com o Ca<strong>de</strong> e se<br />

comprometeu a ven<strong>de</strong>r ativos à concorrência em<br />

troca da aprovação <strong>do</strong> negócio. Com isso, evitou<br />

mais um processo na Justiça.<br />

59


Revista Época/SP - tempo, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

O homem que processou o Brasil<br />

A insólita história <strong>de</strong> Wolf Gruenberg, o empresário<br />

que <strong>de</strong>dicou sua vida a cobrar uma dívida, foi preso<br />

sob acusação <strong>de</strong> manipular a Justiça – e hoje<br />

acusa a polícia <strong>de</strong> tortura e quer fazer seu caso<br />

chegar às Nações Unidas<br />

MARIANA SANCHES<br />

Capítulo 1<br />

UM CASAL NA PRISÃO<br />

Senta<strong>do</strong> na cafeteria <strong>de</strong> um shopping center no<br />

bairro paulistano <strong>de</strong> Higienópolis, Wolf Gruenberg<br />

narra sua história. O terno e as rugas <strong>de</strong> seus 63<br />

anos lhe conferem um ar <strong>de</strong> respeitabilida<strong>de</strong>. Ele<br />

entremeia seu relato com um sem-número <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>cumentos que vai sacan<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma pasta <strong>de</strong><br />

couro preta. To<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> artefato jurídico sai lá <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro: há certidões, sentenças, recursos,<br />

registros, agravos <strong>de</strong> instrumento, exceções <strong>de</strong><br />

suspeição e um emaranha<strong>do</strong> <strong>de</strong> fios que vão se<br />

cruzan<strong>do</strong> nos pontos e nós <strong>de</strong> um enre<strong>do</strong> que, por<br />

seu relato, daria um thriller ao estilo <strong>do</strong>s<br />

best-sellers <strong>de</strong> autores como John Grisham ou<br />

Scott Turow.<br />

Wolf conta que nasceu em plena Segunda Guerra<br />

Mundial, no campo <strong>de</strong> concentração nazista <strong>de</strong><br />

Wolfrathausen, on<strong>de</strong> seus pais se conheceram.<br />

Quan<strong>do</strong> a guerra acabou, era inviável para ju<strong>de</strong>us<br />

como eles permanecer na Alemanha. O casal<br />

Gruenberg e o filho <strong>de</strong> 3 anos, nasci<strong>do</strong> apátrida,<br />

cruzaram então o Atlântico para se estabelecer na<br />

Bolívia, <strong>de</strong>pois no Brasil. Wolf viveu em Corumbá,<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em São Paulo e em Porto<br />

Alegre. Aos 18 anos, recebeu a cidadania<br />

brasileira. Formou-se em Direito e, adulto,<br />

tornou-se um empresário <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> a recuperar<br />

companhias em processo falimentar. Às vésperas<br />

<strong>do</strong>s 60 anos, foi acometi<strong>do</strong> <strong>de</strong> um incomum e<br />

virulento câncer sublingual, que quase lhe tirou a<br />

voz e a vida. Quan<strong>do</strong> foi diagnostica<strong>do</strong>, o tumor<br />

crescia a cada 26 horas. Havia duas saídas: uma<br />

cirurgia radical ou uma combinação agressiva <strong>de</strong><br />

sessões <strong>de</strong> quimioterapia e radioterapia. A opção<br />

escolhida foi a segunda. A <strong>do</strong>ença regredia <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com os planos médicos, até que a vida <strong>de</strong><br />

Wolf sofreu uma súbita reviravolta.<br />

Às 6 horas da manhã <strong>do</strong> dia 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008,<br />

cerca <strong>de</strong> 30 policiais fe<strong>de</strong>rais arma<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

submetralha<strong>do</strong>ras arrombaram o portão <strong>de</strong> sua<br />

casa em Porto Alegre. Pren<strong>de</strong>ram Wolf e sua<br />

mulher, Betty. Até então, Wolf apenas suspeitava<br />

ser o foco <strong>de</strong> investigações policiais. Desconhecia<br />

<strong>de</strong>talhes das pilhas <strong>de</strong> processos resultantes <strong>de</strong><br />

uma investigação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um ano em sua vida,<br />

suas contas, seus negócios, suas relações<br />

pessoais. Ele era monitora<strong>do</strong> pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral<br />

(PF) por meio <strong>de</strong> escutas telefônicas, telemáticas e<br />

ambientais. Passara <strong>de</strong> empresário renoma<strong>do</strong>, com<br />

bom trânsito na alta socieda<strong>de</strong>, a principal alvo da<br />

operação da Polícia Fe<strong>de</strong>ral batizada <strong>de</strong> Mãos<br />

Dadas. Nas páginas <strong>do</strong>s jornais que noticiaram a<br />

operação, Wolf Gruenberg foi qualifica<strong>do</strong> como<br />

chefe <strong>de</strong> uma quadrilha que arquitetou um<br />

esquema bilionário <strong>de</strong> frau<strong>de</strong>s contra a União.<br />

Wolf afirma ter si<strong>do</strong> priva<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong>s 150 dias<br />

que passou na prisão, da fase final <strong>de</strong> seu<br />

tratamento contra o câncer. Ainda assim, diz ele,<br />

suas agruras no cárcere foram pequenas em<br />

comparação com o suplício da mulher. Quan<strong>do</strong> foi<br />

presa, Betty Gruenberg acabara <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> uma<br />

cirurgia para redução nos seios. Nem sequer tinha<br />

retira<strong>do</strong> os pontos da <strong>de</strong>licada operação. Ela foi<br />

então instalada pelas autorida<strong>de</strong>s numa cela da<br />

Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto<br />

Alegre. Lá, contraiu uma infecção que <strong>de</strong>ixou seus<br />

seios purulentos e quase se transformou em<br />

septicemia. Transferida para o melhor hospital <strong>de</strong><br />

Porto Alegre, o Moinhos <strong>de</strong> Vento, Betty quase<br />

per<strong>de</strong>u as mamas. Na UTI <strong>do</strong> hospital, foi mantida<br />

algemada pelos pés à maca em que convalescia.<br />

“O Esta<strong>do</strong> quase a matou. Eles foram<br />

extremamente cruéis com ela”, afirma Wolf. Ele<br />

retira então da pasta <strong>de</strong> couro fotografias que<br />

mostram as lesões da mulher e os boletins<br />

médicos que relatavam a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu quadro.<br />

Quan<strong>do</strong> saiu <strong>do</strong> hospital, Betty foi colocada na<br />

carceragem da Polícia Fe<strong>de</strong>ral, on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com os relatos <strong>de</strong> Wolf, dividiu uma cela com<br />

homens.<br />

As arbitrarieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que Wolf se julga vítima não<br />

cessaram aí. Conversas <strong>de</strong>le com seus advoga<strong>do</strong>s<br />

foram grampeadas – prática repudiada pela Or<strong>de</strong>m<br />

<strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil (OAB). Câmeras <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o<br />

foram instaladas em quartos <strong>de</strong> hotéis em que o<br />

casal Gruenberg se hospe<strong>do</strong>u. Em 2009, a casa <strong>de</strong><br />

Wolf em Punta <strong>de</strong>l Este, no Uruguai, foi vasculhada<br />

pela polícia uruguaia, <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> um manda<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

busca e apreensão oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Judiciário<br />

brasileiro. Documentos, computa<strong>do</strong>res, chaves <strong>do</strong>s<br />

carros e objetos da família foram apreendi<strong>do</strong>s. Wolf<br />

<strong>de</strong>u por falta até <strong>de</strong> uma caneta da marca Mont<br />

Blanc que seu filho mais novo ganhara por ocasião<br />

<strong>de</strong> seu bar mitzvah, cerimônia judaica que marca a<br />

entrada <strong>do</strong> homem na vida adulta, aos <strong>13</strong> anos. Os<br />

objetos nunca mais foram vistos pela família<br />

Gruenberg. Tampouco a Polícia Fe<strong>de</strong>ral brasileira<br />

60


os recebeu. Espera por eles há quase três anos<br />

para prosseguir com as investigações. A polícia<br />

uruguaia não soube explicar on<strong>de</strong> foram parar os<br />

pertences <strong>do</strong>s Gruenbergs.<br />

Depois <strong>de</strong> ser liberta<strong>do</strong>, graças a um habeas<br />

corpus, Wolf começou uma cruzada a que tem se<br />

<strong>de</strong>dica<strong>do</strong> nos últimos quatro anos. Nela, tem<br />

investi<strong>do</strong> tempo e dinheiro. Contratou assessores<br />

<strong>de</strong> imprensa e alguns <strong>do</strong>s mais badala<strong>do</strong>s<br />

advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil, como Antônio Carlos <strong>de</strong><br />

Almeida Castro, o Kakay, Luiz Roberto Barroso,<br />

Carlos Eduar<strong>do</strong> Caputo Bastos e o ex-<strong>de</strong>puta<strong>do</strong><br />

fe<strong>de</strong>ral e <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> da Polícia Fe<strong>de</strong>ral Marcelo<br />

Itagiba. Wolf também buscou o apoio <strong>de</strong> ONGs<br />

internacionais, como a Justiça Global. A pedi<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>le, a Justiça Global remeteu um relatório sobre<br />

as condições <strong>de</strong> sua prisão e <strong>de</strong> sua mulher para a<br />

análise da Relatoria Especial da Organização das<br />

Nações Unidas contra tortura. “Temos muitas<br />

<strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> violações <strong>de</strong> direitos humanos em<br />

ca<strong>de</strong>ias brasileiras. Em geral, as vítimas são<br />

pobres. No caso <strong>de</strong> Wolf, não tivemos tempo <strong>de</strong><br />

averiguar tu<strong>do</strong>, mas ele trouxe fotos e<br />

<strong>do</strong>cumentação para comprovar o que nos disse”,<br />

afirma Sandra Carvalho, da Justiça Global.<br />

Em mais <strong>de</strong> oito horas <strong>de</strong> conversa, em <strong>do</strong>is<br />

encontros com ÉPOCA, Wolf procurou relatar seu<br />

caso incomum. “Sou um persegui<strong>do</strong>, e meus<br />

inimigos usam o Esta<strong>do</strong> brasileiro para me atingir”,<br />

diz. Essa é a explicação, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com sua<br />

versão, para a extensa lista <strong>de</strong> crimes que lhe<br />

imputam e que enumera com sua voz mansa,<br />

enquanto alisa a barba espessa e grisalha:<br />

formação <strong>de</strong> quadrilha, estelionato judicial,<br />

falsida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica, evasão <strong>de</strong> divisas, lavagem<br />

<strong>de</strong> dinheiro, <strong>de</strong>nunciação caluniosa. “Nem na<br />

época da ditadura uma coisa <strong>de</strong>ssas aconteceria.”<br />

Ri, nervosamente.<br />

Capítulo 2<br />

GRUENBERG X UNIÃO<br />

A contenda entre Wolf e as autorida<strong>de</strong>s é uma<br />

história longa e complicada, que se esten<strong>de</strong> por<br />

quase to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>svãos <strong>do</strong> labiríntico sistema<br />

Judiciário brasileiro. Seu início data <strong>de</strong> 1977.<br />

Naquela ocasião, a família Gruenberg tocava a AC<br />

Indústria e Comércio, Importação e Exportação<br />

S.A., uma indústria têxtil em São Paulo. Um <strong>do</strong>s<br />

negócios da AC era ven<strong>de</strong>r merca<strong>do</strong>rias a uma<br />

empresa no Paraguai. A operação <strong>de</strong> exportação<br />

era intermediada pela Companhia Brasileira <strong>de</strong><br />

Entrepostos Comerciais, ou Cobec, uma empresa<br />

<strong>de</strong> capital misto, da qual a União era acionista. A<br />

operação comercial, segun<strong>do</strong> Wolf, teve um<br />

<strong>de</strong>sfecho <strong>de</strong>sastroso. A Cobec comprou, mas não<br />

pagou. A família Gruenberg ven<strong>de</strong>u, mas não<br />

Revista Época/SP - tempo, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

levou. Restou a Wolf apenas uma coleção <strong>de</strong><br />

duplicatas não pagas no valor, na moeda <strong>de</strong> então,<br />

<strong>de</strong> Cr$ 15 milhões. Isso é o equivalente, em<br />

valores atualiza<strong>do</strong>s, a aproximadamente R$ 2,7<br />

milhões, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a evolução <strong>do</strong> Índice <strong>de</strong><br />

Preços ao Consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São Paulo (IPC-SP), da<br />

Fundação Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Econômicas<br />

(Fipe).<br />

Depois <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> tentativas para<br />

receber o crédito, Wolf recorreu à Justiça pela<br />

primeira vez em 1978. Moveu <strong>do</strong>is processos<br />

contra a Cobec. Um para receber o montante que a<br />

empresa paraguaia pagaria por suas merca<strong>do</strong>rias.<br />

E outro para obter reparação pelo que a família<br />

<strong>de</strong>ixara <strong>de</strong> ganhar em lucros futuros por causa <strong>do</strong><br />

calote. Poucos meses <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sofrê-lo, a<br />

empresa da família Gruenberg foi à falência. Wolf<br />

ganhou o primeiro processo no final da década <strong>de</strong><br />

1980. Na ocasião, a Cobec, então controlada pelo<br />

Banco <strong>do</strong> Brasil, já fora rebatizada <strong>de</strong> Infaz. A<br />

Justiça fixou o valor a ser recebi<strong>do</strong> por Wolf em<br />

US$ 1,06 milhão. Esse montante, segun<strong>do</strong> as<br />

contas da Infaz, incluía o valor corrigi<strong>do</strong> das<br />

merca<strong>do</strong>rias e as perdas futuras da AC. E somava<br />

também uma multa estipulada pela Justiça, que<br />

consi<strong>de</strong>rou a Infaz culpada <strong>de</strong> ter tenta<strong>do</strong> postergar<br />

a sentença usan<strong>do</strong> argumentos <strong>de</strong>sleais ou, no<br />

jargão jurídico, <strong>de</strong> ter pratica<strong>do</strong> litigância <strong>de</strong> má-fé.<br />

A família Gruenberg discor<strong>do</strong>u. De acor<strong>do</strong> com<br />

Wolf, o que lhes foi pago estava aquém <strong>do</strong> justo.<br />

“Além disso, a Infaz não dispunha <strong>de</strong> recursos para<br />

liquidar a dívida e nos pagou apenas 10% <strong>do</strong> que a<br />

Justiça <strong>de</strong>terminou”, diz ele.<br />

A trama se embaralhou ainda mais quan<strong>do</strong> Wolf<br />

insistiu no segun<strong>do</strong> processo contra a Cobec, para<br />

receber in<strong>de</strong>nização por perdas e danos. Nesse<br />

ponto da narrativa, sua contida indignação começa<br />

a aumentar. Mas sua voz rouca jamais sobe <strong>de</strong><br />

tom. Sem precisar consultar nenhuma anotação,<br />

cita nomes e datas com precisão. Quan<strong>do</strong><br />

questiona<strong>do</strong> sobre algum trecho da história, retoma<br />

a explicação sem cair em contradição. Chega a<br />

repetir frases inteiras, palavra por palavra, em<br />

conversas distintas, quase como se tivesse<br />

<strong>de</strong>cora<strong>do</strong> um texto. Na Justiça, a Infaz acusou<br />

Wolf <strong>de</strong> cobrar o pagamento <strong>de</strong> um prejuízo pelo<br />

qual ele já fora ressarci<strong>do</strong> no primeiro processo. A<br />

disputa se <strong>de</strong>u no âmbito cível da Justiça <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Em 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1991, 14 anos <strong>de</strong>pois<br />

<strong>do</strong> calote, Wolf obteve outra <strong>de</strong>cisão favorável<br />

nesse segun<strong>do</strong> processo. O juiz Aclibes Burgarelli<br />

<strong>de</strong>cidiu que uma perícia contábil <strong>de</strong>veria ser<br />

realizada para fixar o valor da in<strong>de</strong>nização a ser<br />

paga pela Infaz a Wolf. O perito contrata<strong>do</strong> pela<br />

Infaz calculou-o em US$ 10 milhões. O perito <strong>de</strong><br />

Wolf estimou-o em US$ 58 milhões. O perito<br />

nomea<strong>do</strong> pelo juiz Aclibes Burgarelli estipulou o<br />

valor <strong>de</strong> US$ 41 milhões.<br />

61


Bastaria superar o imbróglio contábil para que esse<br />

capítulo da vida <strong>de</strong> Wolf se encerrasse. A essa<br />

altura, já fazia 17 anos que ele levara o calote. No<br />

entanto, antes que o juiz <strong>de</strong>sse a sentença final<br />

sobre o valor da in<strong>de</strong>nização, em 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

1994, houve mais uma reviravolta na já<br />

rocambolesca história. A Infaz foi absorvida pela<br />

União. Daí em diante, quem se sentaria no banco<br />

<strong>do</strong>s réus da ação movida por Wolf era o próprio<br />

Esta<strong>do</strong> brasileiro – e não mais uma empresa <strong>de</strong><br />

capital misto. A briga começava a ganhar<br />

contornos ainda mais kafkianos. A discussão, que<br />

até então seguia na Justiça <strong>de</strong> São Paulo, teve <strong>de</strong><br />

ser reaberta em âmbito fe<strong>de</strong>ral, a instância jurídica<br />

a<strong>de</strong>quada para processos que envolvem o Esta<strong>do</strong><br />

brasileiro. Por conveniência <strong>de</strong> Wolf, que morava<br />

em Porto Alegre, o processo foi transferi<strong>do</strong> para a<br />

Primeira Vara Cível Fe<strong>de</strong>ral na capital gaúcha.<br />

Apenas em 1999, 22 anos <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> calote, a<br />

União assumiu efetivamente seu papel <strong>de</strong> parte no<br />

processo. A Advocacia-Geral da União (AGU)<br />

acusou Wolf <strong>de</strong> tentar cobrar uma dívida que a<br />

Infaz já pagara, ato chama<strong>do</strong>, no jargão jurídico, <strong>de</strong><br />

dúplice cobrança. A AGU também pediu a entrada<br />

<strong>do</strong> Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral no caso, a anulação<br />

<strong>do</strong> processo e novas perícias contábeis. A<br />

tramitação foi morosa, a <strong>de</strong>speito da disposição <strong>do</strong><br />

juiz fe<strong>de</strong>ral Alexandre Lippel em julgar com<br />

celerida<strong>de</strong>. “O processo já tramitava havia muitos<br />

anos, e o <strong>do</strong>utor Wolf sempre vinha me pedir<br />

rapi<strong>de</strong>z”, diz Lippel. “Queria que ele saísse <strong>do</strong> meu<br />

pé.” Só em 2004, 27 anos <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> calote e <strong>13</strong><br />

anos <strong>de</strong>pois da primeira <strong>de</strong>cisão favorável à<br />

in<strong>de</strong>nização, Lippel pronunciou sua <strong>de</strong>cisão. Fixou<br />

a in<strong>de</strong>nização <strong>de</strong>vida a Wolf em R$ 754 milhões,<br />

ou mais <strong>de</strong> R$ 1 bilhão em valores corrigi<strong>do</strong>s pela<br />

inflação.<br />

Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011, o juiz Lippel <strong>de</strong>monstrou<br />

perplexida<strong>de</strong> ao ser questiona<strong>do</strong> sobre sua <strong>de</strong>cisão<br />

<strong>de</strong> sete anos atrás. Seus olhos azuis ficaram<br />

perdi<strong>do</strong>s. Lippel disse que se baseou nos três<br />

lau<strong>do</strong>s contábeis que constavam <strong>do</strong> processo que<br />

corria na Justiça <strong>de</strong> São Paulo. Sua <strong>de</strong>cisão levou<br />

em conta correções monetárias a partir da variação<br />

<strong>do</strong> dólar e <strong>de</strong> uma expectativa <strong>de</strong> lucro calculada<br />

em quase 20% ao ano para a empresa <strong>de</strong> Wolf. “É<br />

um valor enorme, me surpreen<strong>de</strong>u, mas, pelo<br />

tempo que a ação corria, imaginei que fosse isso<br />

mesmo”, disse Lippel. “Dei até um prazo dilata<strong>do</strong><br />

para a União se manifestar.” Ao longo das<br />

investigações da Operação Mãos Dadas, da PF,<br />

Lippel foi chama<strong>do</strong> a <strong>de</strong>por na ação criminal contra<br />

Wolf. Em seu <strong>de</strong>poimento, afirmou que nunca foi<br />

pressiona<strong>do</strong> a <strong>de</strong>cidir em favor <strong>do</strong> empresário e<br />

que olhou o processo “com capricho”. “Estava<br />

convenci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s critérios que usei para julgar”,<br />

disse a ÉPOCA. “Mas fica sempre a dúvida, eu não<br />

sei (se fui engana<strong>do</strong>). A gente atua na boa-fé,<br />

Revista Época/SP - tempo, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

confian<strong>do</strong> na lealda<strong>de</strong> das pessoas. Dizem que eu<br />

teria si<strong>do</strong> manipula<strong>do</strong>. Até hoje, fica essa<br />

<strong>de</strong>sconfiança.”<br />

A União apelou contra a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Lippel e<br />

argumentou que <strong>de</strong>via apenas R$ 47,6 milhões.<br />

Mesmo com uma <strong>de</strong>cisão que lhe atribuía um<br />

crédito <strong>de</strong> quase R$ 800 milhões, Wolf também<br />

apelou para reclamar um valor maior. O processo<br />

subiu para o Tribunal Regional Fe<strong>de</strong>ral (TRF) da<br />

4ª Região, com se<strong>de</strong> em Porto Alegre. Foi nesse<br />

mesmo perío<strong>do</strong> que o Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral<br />

e a Polícia Fe<strong>de</strong>ral iniciaram uma investigação<br />

contra Wolf por suspeita <strong>de</strong> “estelionato judicial”,<br />

uma tentativa <strong>de</strong> ludibriar a Justiça para lesar a<br />

União. De acor<strong>do</strong> com a investigação, longe <strong>de</strong> ser<br />

vítima <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro, Wolf era o responsável<br />

por uma criminosa alquimia que transformou uma<br />

dívida <strong>de</strong> alguns milhares <strong>de</strong> cruzeiros – <strong>de</strong> que ele<br />

era cre<strong>do</strong>r no final da década <strong>de</strong> 1970 – numa<br />

conta <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> R$ 1 bilhão a ser paga pela<br />

União. Segun<strong>do</strong> a PF e o MPF, Wolf manipulou<br />

fatos, provas e juízes para conseguir essa façanha.<br />

Capítulo 3<br />

A INVESTIGAÇÃO POLICIAL<br />

O resumo das ativida<strong>de</strong>s criminosas <strong>de</strong> que Wolf<br />

foi acusa<strong>do</strong> consta <strong>do</strong>s volumes <strong>de</strong> processos que<br />

tramitam em caráter sigiloso na Justiça. Eles<br />

foram elabora<strong>do</strong>s, sobretu<strong>do</strong>, ao longo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

um ano <strong>de</strong> trabalho exclusivo <strong>de</strong> um único<br />

<strong>de</strong>lega<strong>do</strong> e <strong>do</strong>is agentes da Polícia Fe<strong>de</strong>ral, no Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. “Como po<strong>de</strong> uma empresa que<br />

tinha patrimônio negativo, em 1977, <strong>de</strong> Cr$<br />

6.976.510,35 e faliu ser capaz <strong>de</strong> gerar uma<br />

in<strong>de</strong>nização <strong>de</strong> R$ 1 bilhão?”, diz o <strong>de</strong>lega<strong>do</strong><br />

Luciano Flores <strong>de</strong> Lima, que coman<strong>do</strong>u as<br />

investigações da PF. Atualiza<strong>do</strong> pelo IPC da Fipe,<br />

os Cr$ 6 milhões <strong>de</strong> patrimônio negativo da<br />

empresa AC, da família Gruenberg, equivaleriam<br />

hoje a R$ 1,3 milhão.<br />

Em 2006, quan<strong>do</strong> a in<strong>de</strong>nização a Wolf em R$ 754<br />

milhões foi confirmada, em segunda instância, pelo<br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Edgar Lippmann, <strong>do</strong> TRF da 4a<br />

Região, a PF reforçou sua investigação contra ele.<br />

Na época, surgiram <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> que Lippmann<br />

ven<strong>de</strong>ra uma sentença favorável à reabertura <strong>de</strong><br />

uma casa <strong>de</strong> bingos. Por causa <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>núncias,<br />

Lippmann , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008, é investiga<strong>do</strong> pelo<br />

Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça (CNJ). Ele respon<strong>de</strong><br />

a um processo administrativo disciplinar, que<br />

<strong>de</strong>verá ser julga<strong>do</strong> até março. Pelas mesmas<br />

acusações, Lippmann enfrenta um processo<br />

criminal no Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça (STJ).<br />

Os investiga<strong>do</strong>res da PF sugerem que Lippmann<br />

po<strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> permeável às pressões <strong>de</strong> Wolf. O<br />

62


empresário nega. “Lippmann não nos aju<strong>do</strong>u em<br />

nada”, diz ele. No vaivém <strong>de</strong> recursos e liminares<br />

relativos aos processos, <strong>do</strong>is juízes <strong>de</strong>ram<br />

<strong>de</strong>cisões contrárias aos interesses <strong>de</strong> Wolf. Os <strong>do</strong>is<br />

foram <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong>s por ele como parciais. Para a<br />

PF e o MPF, foi uma tentativa <strong>de</strong> Wolf para<br />

<strong>de</strong>sacreditá-los e retirá-los <strong>do</strong> caso. Pelas ações<br />

contra os juízes, Wolf respon<strong>de</strong> a processo por<br />

<strong>de</strong>nunciação caluniosa. “Dizem que enganei juízes,<br />

mas não dizem a quem enganei”, afirma Wolf. “Ou<br />

sou um gênio, mais inteligente que Albert Einstein,<br />

ou os mais <strong>de</strong> 40 juízes que atuaram no caso são<br />

to<strong>do</strong>s uns incapacita<strong>do</strong>s.”<br />

Trinta e um anos <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> calote, em abril <strong>de</strong><br />

2008, a então ministra Ellen Gracie, <strong>do</strong> Supremo<br />

Tribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF), reviu todas as <strong>de</strong>cisões<br />

anteriores que mandaram a União pagar<br />

in<strong>de</strong>nização a Wolf. Acatan<strong>do</strong> um pedi<strong>do</strong> da AGU,<br />

ela suspen<strong>de</strong>u o pagamento. Na ocasião, Wolf já<br />

recebera quase R$ 11 milhões <strong>do</strong>s R$ 754 milhões<br />

que a União lhe <strong>de</strong>via. Boa parte <strong>do</strong> dinheiro fora<br />

enviada ao Uruguai, on<strong>de</strong> Wolf tem casa em Punta<br />

<strong>de</strong>l Este. De acor<strong>do</strong> com a PF e o MPF, a<br />

transferência <strong>do</strong> dinheiro era um ardil para evitar<br />

que ele fosse confisca<strong>do</strong> para o pagamento <strong>de</strong><br />

dívidas trabalhistas das empresas da família<br />

Gruenberg. Wolf foi então acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> evasão <strong>de</strong><br />

divisas. Ele chama essa acusação <strong>de</strong> “balela”. Diz<br />

que transferiu seu dinheiro por meio <strong>do</strong> Banco<br />

Central e, por isso mesmo, as autorida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras sabiam on<strong>de</strong> ele estava. E que, como<br />

tinha negócios no Uruguai, resolveu manter seus<br />

recursos por perto.<br />

A investigação da PF contra Wolf colheu mais<br />

elementos <strong>do</strong> que chamava <strong>de</strong> “conduta criminosa”<br />

<strong>do</strong> empresário. Monitora<strong>do</strong> por telefone, e-mail e<br />

escutas ambientais, Wolf foi flagra<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> os<br />

investiga<strong>do</strong>res, tentan<strong>do</strong> constranger autorida<strong>de</strong>s e<br />

influenciar o curso <strong>de</strong> seus processos. Num<br />

telefonema a sua mulher, Betty, Wolf, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com as investigações, dissera estar disposto a<br />

gastar “<strong>de</strong> R$ 10 a R$ 15 milhões” em subornos a<br />

servi<strong>do</strong>res fe<strong>de</strong>rais, entre eles o então chefe da<br />

AGU, José <strong>Dia</strong>s Toffoli, hoje ministro <strong>do</strong> STF. Em<br />

outro diálogo, com <strong>do</strong>is advoga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Brasília,<br />

disse, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as gravações: “Contratem<br />

juristas <strong>de</strong> renome, para atuar <strong>de</strong>trás das cortinas,<br />

no STF e no STJ”. As escutas serviram <strong>de</strong><br />

justificativa para a ação da Operação Mãos Dadas<br />

que pren<strong>de</strong>u Wolf, sua mulher e alguns <strong>de</strong> seus<br />

Revista Época/SP - tempo, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

funcionários, em 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008. “Isso é<br />

mentira. Tenho um amigo em comum com o Toffoli,<br />

mas não teria cabimento abordá-lo para falar <strong>do</strong><br />

meu caso”, diz Wolf.<br />

Responsável por <strong>de</strong>cretar as prisões, o juiz fe<strong>de</strong>ral<br />

criminal <strong>de</strong> Porto Alegre João Paulo Baltazar nega<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> excesso ou maus-tratos em<br />

relação aos réus. “Houve várias perícias na<br />

senhora Betty. Ela foi internada no hospital<br />

particular que escolheu. Na minha interpretação,<br />

não houve violação <strong>de</strong> nenhum direito”, afirma<br />

Baltazar. Segun<strong>do</strong> ele, Betty não teve contatos<br />

com nenhum homem em sua cela, porque estava<br />

numa solitária. Reconhece que, no local, não havia<br />

vaso sanitário, mas afirma que essa é uma<br />

<strong>de</strong>terminação legal para evitar que os <strong>de</strong>tentos<br />

tenham qualquer instrumento capaz <strong>de</strong> facilitar um<br />

suicídio. E diz que as algemas foram necessárias<br />

no perío<strong>do</strong> no hospital, porque Betty ameaçava<br />

fugir. Recentemente, Wolf tentou afastá-lo <strong>do</strong> caso<br />

por meio <strong>de</strong> um instrumento jurídico conheci<strong>do</strong><br />

como exceção <strong>de</strong> suspeição. A ação <strong>de</strong> Wolf<br />

contra Baltazar, juiz especializa<strong>do</strong> em lavagem<br />

criminal e ex-auxiliar <strong>do</strong> CNJ, foi rejeitada pelo TRF<br />

da 4ª Região. Baltazar só concor<strong>do</strong>u em receber a<br />

reportagem <strong>de</strong> ÉPOCA para falar em tese, e não<br />

sobre o caso específico <strong>de</strong> Wolf.<br />

A prisão pela PF e as <strong>de</strong>núncias feitas pelo MPF<br />

transtornaram completamente a vida da família<br />

Gruenberg. Mais <strong>de</strong> três anos <strong>de</strong>pois da Operação<br />

Mãos Dadas, Wolf continua empenha<strong>do</strong> em<br />

receber a in<strong>de</strong>nização da União pela qual briga há<br />

33 anos. O pagamento da dívida continua<br />

suspenso. A essa batalha judicial, acrescentou<br />

outra: move <strong>do</strong>is processos contra a União por<br />

tortura e tenta <strong>de</strong>rrubar as últimas acusações que<br />

subsistem contra ele na Justiça: falsida<strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ológica, formação <strong>de</strong> quadrilha e <strong>de</strong>nunciação<br />

caluniosa. Os crimes <strong>de</strong> evasão <strong>de</strong> divisas,<br />

estelionato judicial e lavagem <strong>de</strong> dinheiro foram<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s inexistentes ou improce<strong>de</strong>ntes. Os<br />

processos relativos a eles foram tranca<strong>do</strong>s na<br />

primeira e na segunda instâncias e no STJ. Os<br />

remanescentes <strong>de</strong>vem ser julga<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seis<br />

meses pelo juiz Baltazar, cujas <strong>de</strong>cisões têm si<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sfavoráveis a Wolf. Curiosamente, é o próprio<br />

Baltazar quem resume a insólita história <strong>de</strong> Wolf,<br />

um homem que passou mais da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

vida envolvi<strong>do</strong> em disputas nos tribunais<br />

brasileiros: “A Justiça brasileira é disfuncional e<br />

63


sem fim”.<br />

Revista Época/SP - tempo, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

64


Revista Época/SP - Colunistas, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

A Praça Castro Alves é mesmo <strong>do</strong> povo?<br />

A semana correu sob tensão pré-carnavalesca na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Salva<strong>do</strong>r, Bahia. Em greve, os<br />

policiais militares <strong>de</strong>ixaram seus conterrâneos à<br />

mercê <strong>de</strong> uma sobrecarga alarmante <strong>de</strong><br />

criminalida<strong>de</strong>, bem acima <strong>do</strong>s níveis cotidianos<br />

que, misteriosamente, apren<strong>de</strong>mos a chamar <strong>de</strong><br />

“normais”. Cresceram o número <strong>de</strong> roubos e o<br />

número <strong>de</strong> homicídios. Até mesmo os grevistas<br />

ficaram mais <strong>de</strong>sprotegi<strong>do</strong>s. Na terça-feira, um<br />

policial militar à paisana, que jantava numa pizzaria<br />

no bairro <strong>de</strong> São Marcos, foi assassina<strong>do</strong> durante<br />

um assalto. As autorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Legislativo, <strong>do</strong><br />

Executivo e <strong>do</strong> Judiciário passaram a discutir a<br />

legalida<strong>de</strong> ou a ilegalida<strong>de</strong> da greve, sem chegar a<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> conclusão. Nesse meio-tempo, o<br />

Exército foi chama<strong>do</strong> e assumiu parte <strong>do</strong><br />

policiamento local. O temor só fez aumentar. Em<br />

Brasília, inclusive, on<strong>de</strong> as autorida<strong>de</strong>s se<br />

assustaram com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o movimento se<br />

alastrar por outros Esta<strong>do</strong>s. Por fim, surgiram as<br />

notícias <strong>de</strong> que os turistas cancelavam pacotes – e<br />

a venda <strong>de</strong> abadás, <strong>de</strong> camarotes e <strong>de</strong> fantasias<br />

começou a <strong>de</strong>spencar.<br />

A maior vítima <strong>do</strong>s PMs que cruzaram os braços é<br />

o Carnaval da Bahia, e o mun<strong>do</strong> percebeu o que<br />

terá si<strong>do</strong> o óbvio: sem polícia, nada <strong>de</strong> folia. Óbvio<br />

e muito, muito interessante.<br />

Mas antes <strong>do</strong> óbvio – e <strong>do</strong> interessante –<br />

precisamos olhar o que é urgente: é preciso<br />

<strong>de</strong>smontar essa falácia <strong>de</strong> que a PM teria o direito<br />

<strong>de</strong> fazer uma greve <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong>, como se policiais<br />

fossem estudantes.<br />

Quan<strong>do</strong> foi posto o ponto final no artigo que você lê<br />

agora, o governa<strong>do</strong>r Jaques Wagner ainda não<br />

tinha posto ponto final na paralisação <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s<br />

baianos. Prevalecia o caos. Portanto, esta coluna<br />

foi escrita sob o peso da in<strong>de</strong>finição sobre os<br />

<strong>de</strong>stinos da segurança pública na capital <strong>do</strong><br />

Carnaval <strong>de</strong> rua <strong>do</strong> Brasil. Por isso, talvez você<br />

encontre aqui um sentimento acentua<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

indignação e, mais ainda, <strong>de</strong> inconformida<strong>de</strong> com a<br />

tragédia <strong>do</strong>s cidadãos que morreram assim, sem<br />

mais, simplesmente porque os servi<strong>do</strong>res públicos<br />

encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> protegê-los resolveram parar <strong>de</strong><br />

trabalhar. Que situação violenta. Os policiais fazem<br />

sua greve e a população paga com a vida. Difícil<br />

pensar em uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m mais iníqua.<br />

No fun<strong>do</strong>, não importa se a greve das tropas po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rada legal ou parcialmente legal. Isso é<br />

o <strong>de</strong> menos. No plano <strong>do</strong>s fatos, a PM baiana virou<br />

uma falange <strong>de</strong> chantagistas, ameaçan<strong>do</strong> a vida e<br />

a economia <strong>de</strong> sua própria gente, agin<strong>do</strong> como as<br />

milícias ilegais que ven<strong>de</strong>m “proteção” a<br />

comerciantes in<strong>de</strong>fesos e a mora<strong>do</strong>res intimida<strong>do</strong>s.<br />

Nenhum direito <strong>de</strong> organização sindical po<strong>de</strong><br />

justificar a morte <strong>de</strong> inocentes e uma chantagem<br />

tão perversa.<br />

A PM baiana virou uma falange <strong>de</strong> chantagistas.<br />

Os policiais fazem sua greve – e a população<br />

paga com a vida<br />

Greves <strong>de</strong>sse tipo não <strong>de</strong>vem acontecer quan<strong>do</strong><br />

vivemos sob um Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Direito. E, quan<strong>do</strong><br />

acontecem, não po<strong>de</strong>m perdurar. A não ser... a não<br />

ser que julguemos que a situação brasileira é igual<br />

à situação da Rússia em 1917, quan<strong>do</strong> o Exército<br />

se rebelou, retirou-se da guerra, <strong>de</strong>rrubou a Duma<br />

e aju<strong>do</strong>u na tomada <strong>do</strong> palácio <strong>do</strong> czar sob os<br />

disparos <strong>do</strong> cruza<strong>do</strong>r Avrora. Parece loucura, mas<br />

alguns enxergam centelhas liberta<strong>do</strong>ras na<br />

paralisação unilateral <strong>de</strong> servi<strong>do</strong>res que, por sua<br />

própria função oficial, andam arma<strong>do</strong>s em nome <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>mocrático. Esse i<strong>de</strong>ário existe e <strong>de</strong>safia<br />

nossa compreensão.<br />

Aqui, enfim, <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> la<strong>do</strong> o que é urgente e<br />

chegamos ao que há <strong>de</strong> interessante – e óbvio –<br />

nisso tu<strong>do</strong>. Ainda sobrevive na mentalida<strong>de</strong> política<br />

no Brasil uma fantasia um tanto fanática <strong>de</strong> que<br />

toda greve é “<strong>do</strong> bem” e <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s aqueles que<br />

não concordam com isso são “<strong>do</strong> mal”. Acreditam<br />

que a PM sublevada é a vanguarda <strong>do</strong> povão<br />

sacolejante em sua fúria carnavalesca.<br />

Sim, carnavalesca. Na virada <strong>do</strong>s anos 1960 para<br />

os anos 1970, o Carnaval ren<strong>de</strong>u incontáveis<br />

metáforas à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “revolução”. Cantar que “a<br />

Praça Castro Alves é <strong>do</strong> povo” significava cantar a<br />

liberda<strong>de</strong>. “Mete o cotovelo e vai abrin<strong>do</strong> caminho”,<br />

ensinava Caetano Veloso. Aldir Blanc queria um<br />

bloco “que bagunce e arrebente o cordão <strong>de</strong><br />

isolamento”. To<strong>do</strong>s eles estavam certos, é claro,<br />

mas, hoje, veja você, não há Carnaval <strong>de</strong> rua se<br />

não houver cordão <strong>de</strong> isolamento. E polícia.<br />

Naturalmente, quanto menos truculenta a polícia,<br />

mais saudável a vida <strong>do</strong> povo. Quanto melhor a<br />

polícia, melhor a <strong>de</strong>mocracia. Mas a greve <strong>do</strong>s<br />

policiais não é solução. Ao contrário, ela apenas<br />

realça a evidência <strong>de</strong> que a PM que aí está é a pior<br />

possível. Ela quer sequestrar a praça que era <strong>do</strong><br />

povo. “Polícia para quem precisa <strong>de</strong> polícia”,<br />

berravam os Titãs. Já faz tempo. Hoje, quem mais<br />

precisa <strong>de</strong> polícia é a PM da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Salva<strong>do</strong>r.<br />

EUGÊNIO BUCCI<br />

65


é jornalista e professor da ECA-USP<br />

Revista Época/SP - Colunistas, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

66


Revista Época/SP - Primeiro Plano, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

Vão criar juízo<br />

A bem da verda<strong>de</strong>, o que vão criar são mais juízos.<br />

O Ministério da Justiça quer colocá-los <strong>de</strong> maneira<br />

itinerante para mediar conflitos fundiários on<strong>de</strong><br />

faltam juízes. A i<strong>de</strong>ia surgiu durante o <strong>de</strong>bate sobre<br />

a reforma <strong>do</strong> Judiciário e ganhou força com a<br />

repercussão negativa da reintegração <strong>de</strong> posse da<br />

invasão <strong>do</strong> Pinheirinho, no interior paulista. O piloto<br />

<strong>do</strong> projeto que vem sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> Justiça<br />

Pacifica<strong>do</strong>ra será apresenta<strong>do</strong> em breve aos<br />

conselhos nacionais <strong>de</strong> Justiça e <strong>do</strong> Ministério<br />

Público.<br />

67


Revista Isto É/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

TJ con<strong>de</strong>na amigo <strong>de</strong> Alckmin a <strong>de</strong>volver recursos<br />

O Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> São Paulo con<strong>de</strong>nou o<br />

presi<strong>de</strong>nte da Fundação para o Desenvolvimento<br />

da Educação (FDE), José Bernar<strong>do</strong> Ortiz, ao<br />

pagamento <strong>de</strong> R$ 1,54 milhão a título <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>nização aos cofres públicos <strong>de</strong> Taubaté,<br />

município <strong>do</strong> interior paulista <strong>do</strong> qual foi prefeito<br />

três vezes. Em votação unânime, a 7.ª Câmara <strong>de</strong><br />

Direito Público <strong>do</strong> TJ consi<strong>de</strong>rou irregular<br />

contratação autorizada por Ortiz, em março <strong>de</strong><br />

2002, para aquisição sem licitação <strong>de</strong> tubos <strong>de</strong> aço<br />

para canalização <strong>de</strong> córregos.Em seu voto, o<br />

<strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r Magalhães Coelho, relator,<br />

reconheceu a nulida<strong>de</strong> <strong>do</strong> contrato pauta<strong>do</strong> em<br />

inexigibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> licitação e con<strong>de</strong>nou Ortiz e a<br />

empresa Armco Staco S.A. Indústria Metalúrgica a<br />

ressarcirem, solidariamente, o Tesouro municipal,<br />

pelo valor total da contratação, corrigi<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

efetivo pagamento e aplicação <strong>de</strong> juros <strong>de</strong> mora<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a citação.O ex-prefeito, que é engenheiro,<br />

foi nomea<strong>do</strong> em janeiro <strong>de</strong> 2011 para a presidência<br />

da FDE, pelo governa<strong>do</strong>r Geral<strong>do</strong> Alckmin (PSDB),<br />

seu amigo. A Fundação, com orçamento <strong>de</strong> R$ 3<br />

bilhões, é vinculada à Secretaria da Educação.<br />

Ortiz vai recorrer da sentença.A <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> TJ,<br />

cujo acórdão foi publica<strong>do</strong> no último dia 6, acolhe<br />

argumentos <strong>do</strong> Ministério Público Estadual que,<br />

em ação civil pública proposta em maio <strong>de</strong> 2008,<br />

atribuiu a Ortiz "conduta <strong>do</strong>losa" e violação à Lei <strong>de</strong><br />

Improbida<strong>de</strong> Administrativa, "impon<strong>do</strong>-se a<br />

in<strong>de</strong>nização <strong>do</strong> dano". Em primeira instância, a<br />

Justiça rejeitou o pedi<strong>do</strong> da promotoria, que<br />

apelou ao TJ.A contratação <strong>de</strong> Ortiz custou R$<br />

817,5 mil. Na ocasião ele cumpria seu terceiro<br />

mandato na administração municipal, já filia<strong>do</strong> ao<br />

PSDB - antes, foi <strong>do</strong> PMDB. Seguin<strong>do</strong> a<br />

meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada pela TJ - tabela prática para<br />

cálculo <strong>de</strong> atualização monetária <strong>do</strong>s débitos<br />

judiciais - , o valor <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> por Ortiz e a empresa<br />

Armco atinge a soma <strong>de</strong> R$<br />

1.541.459,60.Moralida<strong>de</strong>Afora o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar<br />

o dano, outras sanções da Lei <strong>de</strong> Improbida<strong>de</strong> não<br />

foram impostas ao presi<strong>de</strong>nte da FDE - à data da<br />

propositura da ação já havia <strong>de</strong>corri<strong>do</strong> mais <strong>de</strong><br />

cinco anos <strong>do</strong> término <strong>de</strong> seu mandato na<br />

prefeitura.Ortiz alegou que a Armco é produtora<br />

exclusiva <strong>do</strong> material adquiri<strong>do</strong>. O acórdão <strong>do</strong> TJ<br />

assinala que o fato <strong>de</strong> a empresa ser a única<br />

fabricante "não implica que possa oferecer melhor<br />

preço que outro reven<strong>de</strong><strong>do</strong>r, ten<strong>do</strong> em vista que tal<br />

relação jurídica comercial está sujeita a uma série<br />

<strong>de</strong> circunstâncias, exigin<strong>do</strong> assim uma<br />

concorrência pública para obtenção da melhor<br />

proposta para o po<strong>de</strong>r público".Votaram com o<br />

relator os <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>res Eduar<strong>do</strong> Gouvêa e<br />

Moacir Peres. Para o TJ, Ortiz <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar a existência <strong>de</strong> outras fornece<strong>do</strong>ras, em<br />

violação ao artigo 37 da Constituição, que firma<br />

como regra aos gestores públicos obediência aos<br />

princípios da moralida<strong>de</strong>, impessoalida<strong>de</strong>,<br />

economicida<strong>de</strong> e honestida<strong>de</strong>. "Po<strong>de</strong>m subsistir<br />

atos ímprobos que atentam contra a principiologia<br />

constitucional, ainda que inexistente concreto<br />

prejuízo ao erário ou enriquecimento ilícito <strong>de</strong><br />

agentes públicos", assevera o relator.DefesaO<br />

advoga<strong>do</strong> José Bernar<strong>do</strong> Ortiz Júnior, filho e<br />

<strong>de</strong>fensor <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte da FDE, rechaçou com<br />

veemência que tenha havi<strong>do</strong> favorecimento à<br />

Armco Staco. "O problema é que a gente vive<br />

querela interminável com o Ministério Público, a<br />

quem meu pai jamais curvou a espinha."Ortiz<br />

Júnior esclareceu que o Tribunal <strong>de</strong> Contas <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> havia firma<strong>do</strong> entendimento <strong>de</strong> que a<br />

compra <strong>do</strong>s tubos <strong>de</strong> aço não exigia licitação por<br />

ser a Armco Staco único fabricante. "A prefeitura<br />

continua usan<strong>do</strong> esse material muito resistente.<br />

Não tinha senti<strong>do</strong> abrir licitação para que<br />

68


fornece<strong>do</strong>res que compram da Armco<br />

participassem. Em 2003, o TCE mu<strong>do</strong>u o<br />

entendimento, mas os tubos já haviam si<strong>do</strong><br />

compra<strong>do</strong>s." Anota que o Superior Tribunal <strong>de</strong><br />

Justiça, em outra <strong>de</strong>manda, reformou con<strong>de</strong>nação<br />

<strong>de</strong> seu pai pela admissão <strong>de</strong> servi<strong>do</strong>res. "O STJ<br />

firmou posição majoritária <strong>de</strong> que quan<strong>do</strong> não há<br />

Revista Isto É/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

<strong>do</strong>lo não há improbida<strong>de</strong>. Meu pai pauta sua vida<br />

pela correção. Na FDE ele já conseguiu reduzir R$<br />

300 milhões em compras."<br />

As informações são <strong>do</strong> jornal O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S.<br />

Paulo.Copyright © <strong>2012</strong> Agência Esta<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s os<br />

direitos reserva<strong>do</strong>s<br />

69


Revista Isto É/SP - Colunistas, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior <strong>do</strong> Trabalho<br />

Justiça - A indústria ataca<br />

A proposta enviada ao Congresso no fim <strong>de</strong> 2011,<br />

pelo presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> TST, João Dalazen, que agiliza<br />

a execução <strong>de</strong> ações trabalhistas, já está sob<br />

bombar<strong>de</strong>io. Os disparos partiram da CNI, cuja<br />

força política na Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s e no<br />

Sena<strong>do</strong> é gran<strong>de</strong>. O ministro não se sentiu<br />

intimida<strong>do</strong>. Diz que, quan<strong>do</strong> apenas três em cada<br />

<strong>de</strong>z processos que transitam em julga<strong>do</strong> são<br />

executa<strong>do</strong>s, está claro que algo grave emperra a<br />

Justiça <strong>do</strong> Trabalho.<br />

70


Revista Isto É/SP - Colunistas, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

STJ - Bati<strong>do</strong> o martelo<br />

Um caso <strong>de</strong> importação paralela teve fim no STJ,<br />

após briga judicial <strong>de</strong> oito anos. A multinacional<br />

Konica Minolta <strong>de</strong>rrotou a Ativa Indústria, Comércio<br />

e Importação. A brasileira trazia copia<strong>do</strong>ras usadas<br />

<strong>do</strong> Exterior e as vendia aqui, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

recuperá-las. Mas não tinha aval da japonesa. O<br />

valor da in<strong>de</strong>nização, segun<strong>do</strong> o Escritório Castro<br />

Barros, será fixa<strong>do</strong> na liquidação da sentença.<br />

71


Escolhi<strong>do</strong> para representar a quinta maior bancada<br />

da Câmara, o <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> <strong>do</strong> PP Arthur Lira possui<br />

uma extensa ficha corrida e é alvo <strong>de</strong> uma ação <strong>do</strong><br />

Ministério Público que ameaça seu mandato<br />

Izabelle Torres<br />

Novo lí<strong>de</strong>r <strong>do</strong> PP na Câmara, o <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> alagoano<br />

Arthur Lira é <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> da maioria <strong>do</strong>s<br />

parlamentares. Em seu primeiro mandato, ele vinha<br />

se comportan<strong>do</strong> como um integrante <strong>do</strong> chama<strong>do</strong><br />

baixo clero <strong>do</strong> Congresso, a turma que não se<br />

<strong>de</strong>staca nem interfere no rumo das <strong>de</strong>cisões. Essa<br />

discrição <strong>de</strong> Lira, porém, não combina em nada<br />

com seu explosivo passa<strong>do</strong>. Ele foi preso em 2007<br />

por integrar um esquema <strong>de</strong> corrupção na<br />

Assembleia Legislativa <strong>de</strong> Alagoas, da qual foi<br />

primeiro-secretário. Na época, a Polícia Fe<strong>de</strong>ral o<br />

i<strong>de</strong>ntificou como um político “sem limites para<br />

usurpar dinheiro público”, o que não o impediu <strong>de</strong><br />

conseguir se eleger <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral. Mas este<br />

seu novo mandato está sob ameaça, em razão <strong>de</strong><br />

outra ação <strong>do</strong> Ministério Público (MP). ISTOÉ<br />

teve acesso à íntegra da <strong>de</strong>núncia encaminhada ao<br />

Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral no início <strong>de</strong>ste ano e<br />

corre em segre<strong>do</strong> <strong>de</strong> Justiça. Em mais <strong>de</strong> 500<br />

páginas repletas <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos, o procura<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong>talha os artifícios usa<strong>do</strong>s por Lira, entre 2001 e<br />

2007, para embolsar dinheiro público por meio <strong>de</strong><br />

empréstimos fraudulentos <strong>do</strong> Banco Rural.<br />

O esquema <strong>de</strong> Arthur Lira tem características<br />

semelhantes às <strong>do</strong> mensalão <strong>do</strong> PT. Os <strong>do</strong>is casos<br />

tiveram seu ápice em 2004 e se viabilizaram<br />

graças a <strong>do</strong>cumentos falsos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong><br />

rendimentos <strong>do</strong>s beneficia<strong>do</strong>s com os repasses <strong>do</strong><br />

banco, que se dispunha a receber dinheiro público<br />

como forma <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> empréstimos<br />

concedi<strong>do</strong>s a políticos. Lira participou <strong>do</strong> esquema<br />

como or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas e beneficiário <strong>do</strong>s<br />

empréstimos fraudulentos. O MP afirma que a<br />

Assembleia emitia cheques para avalizar<br />

Lí<strong>de</strong>r sem limites<br />

Revista Isto É/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

empréstimos pessoais feitos a <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s em<br />

valores superiores à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> endividamento<br />

<strong>do</strong>s parlamentares. Os <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s não pagavam os<br />

empréstimos e, quan<strong>do</strong> as parcelas venciam, o<br />

banco <strong>de</strong>scontava o cheque, assina<strong>do</strong> por Lira, que<br />

a Assembleia tinha da<strong>do</strong> como garantia. Outra<br />

opção usada frequentemente era o pagamento<br />

<strong>de</strong>sses empréstimos com o dinheiro da verba <strong>de</strong><br />

gabinete. “Nos <strong>do</strong>is casos, po<strong>de</strong>-se facilmente<br />

constatar que, na verda<strong>de</strong>, quem pagou todas as<br />

parcelas <strong>do</strong>s empréstimos pessoais contraí<strong>do</strong>s<br />

pelos parlamentares foi a própria Assembleia, com<br />

dinheiro público”, afirma o procura<strong>do</strong>r-geral.<br />

Segun<strong>do</strong> os procura<strong>do</strong>res, Lira também costumava<br />

nomear laranjas e funcionários fantasmas para<br />

contrair empréstimos em nome <strong>de</strong>les e embolsar o<br />

dinheiro.<br />

O processo no STF contra o novo lí<strong>de</strong>r <strong>do</strong> PP ficará<br />

nas mãos <strong>do</strong> ministro Luiz Fux e engordará a lista<br />

<strong>de</strong> ações nas quais ele já é réu. Não são poucas.<br />

Só no Supremo correm oito processos por frau<strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong>svios <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> R$ 302 milhões da folha <strong>de</strong><br />

pagamento da Assembleia, além <strong>de</strong> outros <strong>do</strong>is<br />

que Lira respon<strong>de</strong> por ameaçar testemunhas e<br />

atrapalhar as investigações. Por enquanto, a<br />

Justiça estadual man<strong>do</strong>u bloquear seus ben e ele<br />

espera o julgamento <strong>de</strong> um recurso apresenta<strong>do</strong><br />

por sua <strong>de</strong>fesa. Enquanto isso, Arthur Lira seguirá<br />

falan<strong>do</strong> em nome da quinta maior bancada da<br />

Câmara, nomean<strong>do</strong> assessores para a li<strong>de</strong>rança e<br />

representan<strong>do</strong> a legenda nas conversas com o<br />

Planalto. O problema para o PP é que a presi<strong>de</strong>nta<br />

Dilma Rousseff já <strong>de</strong>u <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que não<br />

gosta <strong>de</strong> negociar com <strong>do</strong>nos <strong>de</strong> fichas sujas.<br />

72


Ex-presi<strong>de</strong>nte da Casa da Moeda se favoreceu<br />

com a lentidão das investigações no Brasil e<br />

durante pelo menos <strong>do</strong>is anos incrementou um<br />

golpe <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong> por ISTOÉ em 2010<br />

Para protagonizar um escândalo que envolve mais<br />

<strong>de</strong> US$ 25 milhões, o ex-presi<strong>de</strong>nte da Casa da<br />

Moeda Luiz Fernan<strong>do</strong> Denucci foi beneficia<strong>do</strong><br />

muito mais pela lentidão que caracteriza as<br />

investigações e os processos judiciais no País <strong>do</strong><br />

que por oportunistas apoios políticos. Quan<strong>do</strong> foi<br />

nomea<strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte da estatal que fabrica<br />

dinheiro, em 2008, Denucci já era alvo <strong>de</strong> ações<br />

sigilosas na Receita e na Polícia Fe<strong>de</strong>ral. Sua<br />

movimentação financeira em patamares muitas<br />

vezes superiores aos salários estava na alça <strong>de</strong><br />

mira <strong>do</strong> Ministério Público e até <strong>do</strong> Superior<br />

Tribunal <strong>de</strong> Justiça (STJ), que lhe negara<br />

habeas-corpus em recurso contra a quebra <strong>do</strong><br />

sigilo bancário recém-autoriza<strong>do</strong> em primeira<br />

instância. Em janeiro <strong>de</strong> 2010, em reportagem<br />

exclusiva, ISTOÉ revelou como o então presi<strong>de</strong>nte<br />

da Casa da Moeda estava movimentan<strong>do</strong><br />

irregularmente recursos no Exterior e como o seu<br />

patrimônio vinha se multiplican<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma<br />

incompatível com seus rendimentos oficiais <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o início <strong>do</strong> ano 2000. Um rastreamento feito pela<br />

Polícia Fe<strong>de</strong>ral constatara que havia 12 anos<br />

Denucci tinha <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> rendimentos <strong>de</strong> R$ 145<br />

mil, mas movimentara em suas contas mais <strong>de</strong> R$<br />

3,1 milhões.<br />

Há <strong>do</strong>is anos, quan<strong>do</strong> o esquema arma<strong>do</strong> por<br />

Denucci para o recebimento <strong>de</strong> propinas no<br />

Punição <strong>de</strong>morada<br />

Revista Isto É/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

Exterior por meio <strong>de</strong> offshores instaladas em<br />

paraísos fiscais foi divulga<strong>do</strong> por ISTOÉ, os<br />

<strong>de</strong>svios investiga<strong>do</strong>s pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral e<br />

<strong>de</strong>talha<strong>do</strong>s pela Receita giravam em torno <strong>de</strong> R$ 2<br />

milhões. O golpe fora <strong>de</strong>scoberto quan<strong>do</strong> o então<br />

presi<strong>de</strong>nte da Casa da Moeda tentou internalizar<br />

cerca <strong>de</strong> R$ 1,8 milhão. Denucci foi flagra<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> tentou creditar em sua conta no Banco <strong>do</strong><br />

Brasil a dinheirama que sairia da conta <strong>de</strong> uma<br />

offshore mantida em um banco <strong>de</strong> Miami, nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Apesar <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos<br />

recolhi<strong>do</strong>s pela PF e das evidências <strong>de</strong>scobertas<br />

pela Receita com o aval <strong>do</strong> Judiciário, a lentidão<br />

favoreceu o acusa<strong>do</strong>. Na semana passada, foi<br />

revela<strong>do</strong> um <strong>do</strong>cumento data<strong>do</strong> <strong>de</strong> setembro <strong>do</strong><br />

ano passa<strong>do</strong>. Trata-se <strong>de</strong> uma cobrança feita por<br />

um procura<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Denucci à administra<strong>do</strong>ra <strong>de</strong><br />

recursos WIT, sediada em Londres. No texto, o<br />

procura<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Denucci em Miami pe<strong>de</strong> o<br />

reembolso <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s à Rho<strong>de</strong>s<br />

International Ventures e à filha <strong>de</strong> Denucci, Ana<br />

Gabriela, administra<strong>do</strong>ra da offshore com se<strong>de</strong> nas<br />

Ilhas Virgens Britânicas. Em novembro, a WIT<br />

respon<strong>de</strong>u ao procura<strong>do</strong>r dizen<strong>do</strong> que não havia<br />

mais dinheiro a repassar e que entre 2009 e 2011<br />

havia encaminha<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> US$ 25 milhões. Os<br />

valores, segun<strong>do</strong> <strong>de</strong>scrito no <strong>do</strong>cumento, seriam<br />

referentes ao pagamento <strong>de</strong> comissões feitas por<br />

fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> insumos para a Casa da Moeda. A<br />

Rho<strong>de</strong>s, offshore em nome <strong>de</strong> Ana Gabriela<br />

Denucci, foi aberta em 2010, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ISTOÉ<br />

haver revela<strong>do</strong> os <strong>de</strong>svios <strong>de</strong> recursos investiga<strong>do</strong>s<br />

pela PF. Agora, o Ministério da Fazenda abriu<br />

inquérito para apurar os <strong>de</strong>talhes das ações <strong>de</strong><br />

73


Denucci na Casa da Moeda. Ainda bem que ele foi<br />

<strong>de</strong>miti<strong>do</strong>; <strong>do</strong> contrário, até a conclusão das<br />

investigações é possível que as máquinas da<br />

Revista Isto É/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

estatal não <strong>de</strong>ssem conta <strong>de</strong> fabricar sua fortuna.<br />

74


Revista Isto É/SP - Brasil Confi<strong>de</strong>ncial, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

Rápidas<br />

* Gaúcho <strong>de</strong> São Luiz Gonzaga, na região das<br />

Missões, ex-presi<strong>de</strong>nte da Ajufe e ex-membro <strong>do</strong><br />

CNJ, Jorge Maurique toma posse após o Carnaval,<br />

em 24 <strong>de</strong> fevereiro, no cargo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Tribunal Regional Fe<strong>de</strong>ral da 4ª Região.<br />

75


Revista Isto É/SP - Brasil Confi<strong>de</strong>ncial, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

Toma lá dá cá<br />

MIRO TEIXEIRA, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral pelo PDT-RJ<br />

ISTOÉ – Por que o sr. <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um plebiscito sobre<br />

a reforma política?<br />

Miro – Acredito que o eleitor olhará com<br />

<strong>de</strong>sconfiança qualquer projeto que seja feito por<br />

<strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s e sena<strong>do</strong>res. Pensará que os políticos<br />

estão cuidan<strong>do</strong> da própria pele e tornan<strong>do</strong> o<br />

caminho mais fácil para se eleger.<br />

ISTOÉ – Mas os eleitores terão capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escolher o melhor sistema eleitoral? Esse não é um<br />

tema muito técnico?<br />

Miro – Haverá um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates no qual a<br />

imprensa vai exercer um papel importante. E o TSE<br />

também vai atuar na elucidação das dúvidas.<br />

ISTOÉ – O Congresso aprovará sua proposta <strong>de</strong><br />

plebiscito?<br />

Miro – A proposta está ganhan<strong>do</strong> muita força. O<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte Michel Temer já <strong>de</strong>clarou apoio em<br />

nome <strong>do</strong> PMDB. E o PR e o PTB também.<br />

76


Revista Isto É/SP - Brasil Confi<strong>de</strong>ncial, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

Com atraso<br />

O Sena<strong>do</strong> marcou para <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> Carnaval a<br />

votação da proposta que regulamenta as<br />

atribuições <strong>do</strong> Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça. No<br />

dia 28 <strong>de</strong> fevereiro, a correge<strong>do</strong>ra Eliana Calmon<br />

será ouvida para dizer se há como avançar no que<br />

já foi <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pelo STF.<br />

77


Revista Isto É Dinheiro/SP - Po<strong>de</strong>r, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Justiça Eleitoral<br />

Cena <strong>do</strong> Planalto - Sob nova direção<br />

O novo ministro das Cida<strong>de</strong>s, Aguinal<strong>do</strong> Ribeiro,<br />

assumiu o cargo na semana passada já se<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> acusações <strong>de</strong> não ter informa<strong>do</strong> à<br />

Justiça Eleitoral empresas das quais era sócio e<br />

que haviam si<strong>do</strong> listadas em sua <strong>de</strong>claração <strong>de</strong><br />

Imposto <strong>de</strong> Renda. O anterior, Mário Negromonte,<br />

saiu acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong>s. Ribeiro disse que<br />

está pronto para melhorar a gestão na pasta.<br />

78


Revista Isto É Dinheiro/SP - Dinheiro na Semana, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

Volks é con<strong>de</strong>nada em R$ 1 milhão<br />

A Volkswagen foi con<strong>de</strong>nada pela Justiça <strong>do</strong><br />

Trabalho a pagar R$ 1 milhão por danos morais<br />

coletivos por empregar funcionários terceiriza<strong>do</strong>s<br />

na linha <strong>de</strong> montagem em São Carlos (SP). A<br />

monta<strong>do</strong>ra ainda po<strong>de</strong> recorrer da <strong>de</strong>cisão. A<br />

con<strong>de</strong>nação ocorreu porque a terceirização se<br />

dava na ativida<strong>de</strong>-fim da Volks. Caso a fábrica<br />

recorra, o pagamento da in<strong>de</strong>nização ficará<br />

suspenso até o fim <strong>do</strong> processo.<br />

79


Como o juiz Marlos Augusto Melek venceu a<br />

burocracia para livrar os aeroportos <strong>de</strong> 57 aviões<br />

sucatea<strong>do</strong>s.<br />

Por Guilherme QUEIROZ<br />

Em junho <strong>de</strong> 2011, o juiz fe<strong>de</strong>ral da Justiça <strong>do</strong><br />

Trabalho no Paraná Marlos Augusto Melek<br />

percorria o pátio <strong>do</strong> Aeroporto <strong>de</strong> Congonhas numa<br />

das rotineiras visitas ao terminal paulistano. <strong>Dia</strong>nte<br />

<strong>do</strong>s aviões sucatea<strong>do</strong>s da antiga Vasp, Melek<br />

analisava um <strong>de</strong>stino para os bens da companhia<br />

aérea que faliu em 2008, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> para trás<br />

dívidas <strong>de</strong> R$ 3,5 bilhões, que incluem um passivo<br />

trabalhista <strong>de</strong> R$ 1,5 bilhão, com 15 mil<br />

funcionários. Veio então uma i<strong>de</strong>ia simples: por que<br />

não reunir artigos da empresa em kits<br />

colecionáveis e vendê-los para aficiona<strong>do</strong>s da<br />

aviação?<br />

Dois meses <strong>de</strong>pois, três mil interessa<strong>do</strong>s<br />

compareceriam ao leilão com a esperança <strong>de</strong><br />

arrematar uma parte da memória da Vasp. Mais<br />

que ressarcir os cre<strong>do</strong>res da companhia, o evento<br />

é um exemplo das iniciativas gestadas no<br />

programa Espaço Livre, <strong>do</strong> qual o juiz é mentor e<br />

coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r. Na segunda-feira 6, o programa<br />

leiloou por R$ <strong>13</strong>3 mil – um ágio <strong>de</strong> 33% – um<br />

Boeing 737-200 da companhia que quebrou nas<br />

mãos <strong>do</strong> empresário Vagner Canhe<strong>do</strong>, uma<br />

relíquia com painéis <strong>de</strong> instrumentos intactos e<br />

bancos <strong>de</strong> couro preserva<strong>do</strong>s, que se transformará<br />

em brinque<strong>do</strong> num bufê infantil em Araraquara,<br />

interior <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Revista Isto É Dinheiro/SP - Negócios, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

O caça<strong>do</strong>r <strong>de</strong> sucata<br />

Avia<strong>do</strong>r nas horas vagas, o paranaense <strong>de</strong> 36 anos<br />

chegou ao Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça em<br />

outubro <strong>de</strong> 2010 a convite da ministra Eliana<br />

Calmon, correge<strong>do</strong>ra nacional <strong>de</strong> Justiça. Era a<br />

oportunida<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> buscar a solução para algo<br />

que o incomodava. “Lia nas revistas especializadas<br />

que havia muita reclamação no meio aeronáutico<br />

contra a inércia da Justiça”, disse Melek à<br />

DINHEIRO. Com o aval <strong>do</strong> conselho, ele <strong>de</strong>senhou<br />

o projeto para remover a sucata <strong>de</strong> aviões que há<br />

anos entulha os pátios <strong>de</strong> aeroportos Brasil afora.<br />

Avançar na tarefa significava percorrer muitas<br />

instâncias judiciais, envolvidas não só no processo<br />

da Vasp como nos da Transbrasil, Varig, VarigLog<br />

e <strong>de</strong> outras empresas que, falidas, <strong>de</strong>ixaram 57<br />

carcaças <strong>de</strong> aeronaves para trás. O raciocínio<br />

econômico permeia todas as iniciativas <strong>do</strong> Espaço<br />

Aberto. Cada um <strong>do</strong>s <strong>de</strong>z aviões da Vasp<br />

estaciona<strong>do</strong>s em Congonhas custava R$ 1,2 mil<br />

por dia à massa falida da companhia. Trata-se <strong>de</strong><br />

uma dívida impagável. Ao liberar os 118 mil metros<br />

quadra<strong>do</strong>s ocupa<strong>do</strong>s pelas aeronaves, a Infraero<br />

volta a explorar os espaços, o que po<strong>de</strong> lhe ren<strong>de</strong>r<br />

até R$ 2,4 mil em taxas por dia.<br />

80


Pombo-correio<br />

Revista Veja/SP - Panorama, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

Coluna radar<br />

Lula usou recentemente Luiz Marinho, prefeito <strong>de</strong><br />

São Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo, como seu pombo-correio<br />

junto a Ricar<strong>do</strong> Lewan<strong>do</strong>wski, presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> TSE,<br />

para que o ministro se sensibilize por uma<br />

pendência fundamental para a consolidação <strong>do</strong><br />

PSD. O TSE vai <strong>de</strong>cidir se o parti<strong>do</strong> <strong>de</strong> Gilberto<br />

Kassab terá direito a um quinhão <strong>do</strong> fun<strong>do</strong><br />

partidário e tempo no horário eleitoral gratuito -<br />

peça, aliás, fundamental para a construção <strong>de</strong><br />

alianças.<br />

Com o <strong>de</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> Dirceu<br />

Anda agitada a disputa pela vaga <strong>de</strong> Marcelo<br />

Ribeito no TSE, cujo mandato expira em 30 <strong>de</strong><br />

abril. José Dirceu tem trabalha<strong>do</strong> com afinco para<br />

que Henrique Neves seja o escolhi<strong>do</strong> por Dilma<br />

Rousseff. Neves, que já integraa lista tríplice que<br />

seguiu para a batida <strong>de</strong> martelho <strong>de</strong> Dilma, vem a<br />

ser irmão <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> Neves, advoga<strong>do</strong><br />

ligadíssimo a Dirceu.<br />

Bilhete premia<strong>do</strong><br />

Um débito in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>de</strong> 44 reais na fatura <strong>de</strong> um<br />

cartão <strong>de</strong> crédito se transformou, como num passe<br />

<strong>de</strong> mágica, em 300 milhões <strong>de</strong> reais. Como? A<br />

<strong>de</strong>volução foi requerida na Justiça pelo cliente<br />

lesa<strong>do</strong>. Sabe-se lá como, o juiz fez as contas e<br />

chegou a essa estratosférica soma. O recurso será<br />

julga<strong>do</strong> nas próximas semans pelo Tribunal <strong>de</strong><br />

Justiça <strong>de</strong> Pernambuco. Se ganhar a causa, o<br />

cre<strong>do</strong>r terá multiplica<strong>do</strong> 44 reais por quase o valor<br />

<strong>de</strong> duas Mega-Senas da Virada<br />

81


Magistra<strong>do</strong>s e CNJ<br />

Tomara que a <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> STF sobre os po<strong>de</strong>res <strong>do</strong><br />

Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça (CNJ) tenha<br />

extirpa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>finitivamente, a presunção forense <strong>de</strong><br />

que o mun<strong>do</strong> animal se divi<strong>de</strong> em duas espécies:<br />

os juízes e o resto ("O bom combate <strong>do</strong> STF", 8 <strong>de</strong><br />

fevereiro).<br />

José Maria Leal Paes<br />

Belém, PA<br />

Revista Veja/SP - Leitor, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

82


Revista Veja/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

PODER, SEXO E CORRUPÇÃO<br />

As revelações explosivas da advogada que a máfia<br />

infiltrou no governo<br />

ROBERTO RANGEL E HUGO MARQUES<br />

A moça esguia <strong>de</strong> cabelos pretos levemente<br />

<strong>de</strong>sgrenha<strong>do</strong>s, com uma maquiagem quase<br />

imperceptível e vestida discretamente não chega a<br />

chamar a atenção da vizinhança elegante <strong>do</strong>s<br />

Jardins, em São Paulo, on<strong>de</strong> ela trabalha. A<br />

advogada Christiane Araújo <strong>de</strong> Oliveira não é uma<br />

celebrida<strong>de</strong> nem uma fugitiva, mas encarna<br />

simultaneamente as duas personagens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

se <strong>de</strong>scobriu que sua vida passada tem um la<strong>do</strong><br />

obscuro. Em Brasília, ela foi protagonista <strong>de</strong> um<br />

tipo <strong>de</strong> enre<strong>do</strong> clássico, secular. A jovem discreta,<br />

religiosa e especialmente bela seduziu políticos e<br />

encantou o coração <strong>de</strong> altos figurões da República,<br />

que retribuíram seus favores ajudan<strong>do</strong> uma<br />

organização criminosa que <strong>de</strong>sviou mais <strong>de</strong> 1<br />

bilhão <strong>de</strong> reais <strong>do</strong>s cofres públicos. Sabe-se,<br />

agora, que ela usava seus <strong>do</strong>tes, sua simpatia e a<br />

intimida<strong>de</strong> que construiu os po<strong>de</strong>rosos para servir a<br />

um grupo <strong>de</strong> corruptos que conseguiu se instalar<br />

no selo <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r petista.<br />

É esse passa<strong>do</strong> recente que a jovem advogada<br />

quer esquecer. Foi sobre isso que Christiane<br />

contou <strong>de</strong>talhes a órgãos <strong>de</strong> investigação<br />

mostran<strong>do</strong> como lobbies políticos prosperam<br />

graças à força <strong>de</strong> um pouco <strong>de</strong> charme e seus<br />

corolários mais picantes. VEJA teve acesso ao teor<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is <strong>de</strong>poimentos que Christiane prestou, no<br />

fim <strong>de</strong> 2010, a investiga<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Ministério<br />

Público Fe<strong>de</strong>ral e da Polícia Fe<strong>de</strong>ral. Ambos foram<br />

grava<strong>do</strong>s, um em vm í<strong>de</strong>o, outro em<br />

áudio.Christiane dá <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> como usou <strong>de</strong> sua<br />

intimida<strong>de</strong> com homens fortes <strong>do</strong> governo fe<strong>de</strong>ral<br />

para traficar interesses <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> corruptos<br />

<strong>de</strong> Brasília e <strong>de</strong> seu antigo chefe Durval Barbosa,<br />

ex-secretário <strong>de</strong> Relações Institucionais <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral. Ela também conta como, numa via <strong>de</strong> mão<br />

dupla, essas figuras da corte fe<strong>de</strong>ral exploraram o<br />

canal aberto com Durval, homem-bomba que a<br />

qualquer tempo po<strong>de</strong>ria, como fez, implodir o<br />

governo <strong>de</strong> José Roberto Arruda, até então <strong>do</strong><br />

opositor DEM, e facilitar a conquista da<br />

administração local pelo PT e a <strong>de</strong>smoralização <strong>do</strong><br />

parti<strong>do</strong> adversário em nível nacional. Dos relatos<br />

<strong>de</strong> Christiane, cronologicamente contextualiza<strong>do</strong>s,<br />

saltam <strong>do</strong>is personagens <strong>de</strong> proa <strong>do</strong> governo <strong>de</strong><br />

Lula: José Antonio <strong>Dia</strong>s Toffoli - ex-advoga<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

PT que se tornou advoga<strong>do</strong>-geral da União e<br />

<strong>de</strong>pois ministro <strong>do</strong> Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

pelas mãos <strong>do</strong> ex-presi<strong>de</strong>nte - e Gilberto Carvalho,<br />

chefe <strong>de</strong> gabinete <strong>de</strong> Lula e hoje ministro da<br />

Secretaria-Geral da Presidência.<br />

Expoentes da nata <strong>do</strong> primeiro escalão e petistas<br />

fervorosos, Toffoli e Carvalho têm também em<br />

comum a formação religiosa. Toffoli mantém uma<br />

relação estável há anos, é católico e irmão <strong>de</strong> um<br />

padre. Carvalho é casa<strong>do</strong> e foi seminarista. A<br />

jovem Christiane e suas artes não combinam com<br />

o perfil público <strong>de</strong> nenhum <strong>de</strong>les. Nascida em uma<br />

família humil<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alagoas, Christiane, que é<br />

evangélia, se mu<strong>do</strong>u para Brasília há pouco mais<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos com o objetivo <strong>de</strong> se formar em<br />

direito. O pai, Elói, é um pastor a quem os crédulos<br />

atribuem o <strong>do</strong>m <strong>de</strong> curar e ver o futuro. Ele se<br />

intitula "profeta", e os políticos formam sua clientela<br />

predileta. Foi através <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les que Christiane<br />

conseguiu emprego no Congresso Nacional.<br />

Sentiu-se à vonta<strong>de</strong> no ambiente e, em pouco<br />

tempo, contava com uma enorme re<strong>de</strong> <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>.<br />

Em 2007, aceitou o convite para trabalhar no<br />

governo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral com um certo Durval<br />

Barbosa, o <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> aposenta<strong>do</strong> e corrupto<br />

contumaz que ficaria famoso, pouco <strong>de</strong>pois, ao dar<br />

publicida<strong>de</strong> às cenas <strong>de</strong>gradantes que levaram à<br />

ca<strong>de</strong>ia o governa<strong>do</strong>r Arruda e à lona seus<br />

asseclas.<br />

Sob as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Durval, Chistiane se transformou<br />

numa ferramenta a serviço da máfia brasiliense.<br />

durval viu nela uma rara oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r<br />

suas falcatruas para o nível fe<strong>de</strong>ral. Os relatos <strong>de</strong><br />

Christiane afirma que, em um <strong>do</strong>s encontros, levou<br />

a Toffoli gravações <strong>do</strong> acervo <strong>de</strong> Durval Barbosa. A<br />

amostra, que Durval queria fazer chegar ao<br />

governo <strong>do</strong> PT, era uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar seu<br />

potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>flagrar um escândalo capaz <strong>de</strong><br />

varrer a oposição nas eleições <strong>de</strong> 2010. Há três<br />

semanas, VEJA publicou entrevista com Durval em<br />

que ele próprio disse ter envia<strong>do</strong> as gravações a<br />

Toffoli. O ministro negou a VEJA ter recebi<strong>do</strong> a<br />

encomenda. Em seus <strong>de</strong>poimentos às autorida<strong>de</strong>s,<br />

Christiane reafirma ter feito a entrega <strong>do</strong> material a<br />

Toffoli po<strong>de</strong> ter recebi<strong>do</strong> o pacote e o joga<strong>do</strong> fora<br />

sem se interessar pelo seu conteú<strong>do</strong>. Talvez. Mas<br />

o que se sabe com certeza é que o objetivo <strong>de</strong><br />

Durval foi atingi<strong>do</strong>.<br />

É especialmente pertuba<strong>do</strong>ra a revelação feita por<br />

Christiane sobre o local on<strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> ela, se<br />

<strong>de</strong>ram os encontros - um apartamento em que<br />

Durval armazenava caixas <strong>de</strong> dinheiro usa<strong>do</strong> para<br />

fazer pagamentos a <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s distritais e que<br />

serviu <strong>de</strong> estúdio para ví<strong>de</strong>os incriminatórios. Os<br />

encontros <strong>de</strong> Christiane como os po<strong>de</strong>rosos po<strong>de</strong>m<br />

também ter si<strong>do</strong> grava<strong>do</strong>s? "Essa é uma<br />

possibilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada", disse a<br />

83


VEJA, sob a condição <strong>de</strong> anonimato, um <strong>do</strong>s<br />

responsáveis pela apuração. É apavorante a<br />

hipótese <strong>de</strong> que um ministro <strong>do</strong> STF esteja refém<br />

<strong>de</strong> chantagens <strong>de</strong> mafiosos e corruptos. Christiane<br />

tinha acesso livre à Advocacia-Geral da União<br />

quan<strong>do</strong> Toffoli comandava o órgão. "Levei uma<br />

advogada lá e ganhei apenas uma bolsa Lous<br />

Vitton - mas verda<strong>de</strong>ira", contou. Ela disse também<br />

ter viaja<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> <strong>de</strong> um jato oficial <strong>do</strong> governo, o<br />

que teria si<strong>do</strong> uma cortesia <strong>do</strong> atual ministro em<br />

sua passagem pela AGU.<br />

As inconfidências <strong>de</strong> Christiane sober Gilberto<br />

Carvalho não contêm ingredientes picantes, mas<br />

são revela<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> como foi exitoso o plano <strong>de</strong><br />

Durval <strong>de</strong> infiltrar sua insinuante parceria entre<br />

petistas <strong>de</strong> alto coturno. A sucessão <strong>de</strong> histórias<br />

relatadas por ela <strong>de</strong>ixa evi<strong>de</strong>nte um padrão, o<br />

velho estratagema <strong>de</strong> atrair, registrar e, <strong>de</strong>pois,<br />

ten<strong>do</strong> em mãos elementos que possam<br />

comprometer a autorida<strong>de</strong> fisgada, apresentar as<br />

faturas. Christiane foi porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> diversas ofertas<br />

<strong>de</strong> Durval a Gilberto Carvallho - uma <strong>de</strong>las, relatou<br />

a advogada, oferecia facilida<strong>de</strong>s para investir a<br />

preço <strong>de</strong> custo no aqueci<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário <strong>de</strong><br />

Brasília. Durval era <strong>do</strong>no <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 250 imóveis<br />

na capital, boa parte <strong>de</strong>les comprada com dinheiro<br />

surrupia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cofres públicos. O ex-secretário<br />

<strong>de</strong>sviou mais <strong>de</strong> 1 bilhão <strong>de</strong> reais nas contas <strong>do</strong><br />

Ministério Público. Ele fazia as ofertas em troca <strong>de</strong><br />

favores.<br />

VEJA mostrou em março passa<strong>do</strong> que, a man<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Durval, Christiane enviou e-mails ao "Queri<strong>do</strong> Dr.<br />

Gilberto" pedin<strong>do</strong> a ele apoio à recondução <strong>do</strong><br />

promotor Leonar<strong>do</strong> Bandarra ao cargo <strong>de</strong> chefe da<br />

promotoria <strong>de</strong> Brasília, <strong>de</strong>cisão exclusiva <strong>do</strong><br />

presi<strong>de</strong>nte da República. Gilberto Carvalho<br />

quaisquer favores <strong>de</strong> Christiane ou Durval. diz ele:<br />

"Eu não estava nesse circuito <strong>do</strong> submun<strong>do</strong>. Estou<br />

impressiona<strong>do</strong> com a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa moça". O<br />

certo é que Lula fez exatamente o que a dupla <strong>de</strong><br />

corruptos pleiteava. Bandarra foi reconduzi<strong>do</strong> ao<br />

posto. Semanas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> confirmada sua volta,<br />

Gilberto Carvalho enviou uma mensagem a<br />

Christiane. "Fiquei contente em ver nomeada a<br />

pessoa, Dr. Leonar<strong>do</strong>, que você indicara", escreveu<br />

ele. O retorno <strong>de</strong> Bandarra interessava a Durval<br />

Barbosa, que tinha com o promotor um acor<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a livrá-lo das investigações <strong>de</strong><br />

envolvimento em <strong>de</strong>svios bilionários <strong>do</strong>s cofres <strong>de</strong><br />

Brasília. O <strong>do</strong>utor Leonar<strong>do</strong> Bandarra logo se<br />

revelou mais um venal integrante da máfia. Foi<br />

afasta<strong>do</strong> e hoje respon<strong>de</strong> a cinco ações na<br />

Justiça. Uma <strong>de</strong>las diz respeito a propinas<br />

recebidas <strong>de</strong> Durval. Christiane relatou aos<br />

promotores que o tráfico <strong>de</strong> influência que<br />

praticava funcionava nos <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s. Ela diz que<br />

foi porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Gilberto Carvalho,<br />

então to<strong>do</strong>-po<strong>de</strong>roso chefe <strong>de</strong> gabinete <strong>de</strong> Lula,<br />

Revista Veja/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

para que Durval topasse entregar aos órgãos <strong>de</strong><br />

investigação os ví<strong>de</strong>os grava<strong>do</strong>s por ele que<br />

revelavam o esquema <strong>de</strong> corrupção no governo <strong>do</strong><br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral - entre os quais a famosa e<br />

inesquecível imagem em que o então governa<strong>do</strong>r<br />

Arruda aparece receben<strong>do</strong> propina. O escândalo<br />

<strong>de</strong>rrubou Arruda e <strong>de</strong>u a vitória ao petista Agnelo<br />

Queiroz.<br />

A linda <strong>do</strong>utora Christiane chegou a ocupar uma<br />

função estratégica no comitê central da campanha<br />

<strong>de</strong> Dilma Rousseff. Foi encarregada da relação<br />

com as igrejas evangélicas. Ela conversava pelo<br />

menos duas vezes por semana com Gilberto<br />

Carvalho e com outros coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res da<br />

campanha. Com Dilma eleita, a advogada foi<br />

nomeada para integrar a equipe <strong>de</strong> transição <strong>de</strong><br />

governo. Foi exonerada <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong><br />

que ela fora processada por participação na máfia<br />

<strong>do</strong>s sanguessugas, que <strong>de</strong>sviava verba <strong>do</strong><br />

Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinada à compra <strong>de</strong><br />

ambulâncias. Coube a um compungi<strong>do</strong> Gillberto<br />

Carvallho <strong>de</strong>miti-la. "Sinto muito", disse Carvalho à<br />

amiga em lágrimas. Antes disso, ela já chegara<br />

perto <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. No auge <strong>do</strong> escandâlo <strong>do</strong><br />

mensalão, Christiane esteve no Palácio <strong>do</strong> Planalto<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> pai, Elói <strong>de</strong> Oliveira, funda<strong>do</strong>r da igreja<br />

Tabernáculo <strong>do</strong> Deus Vivo, com se<strong>de</strong> em Maceió.<br />

O famoso profeta Elói foi ao palácio rezar por Lula<br />

e fazer previsões <strong>do</strong> que esperava o presi<strong>de</strong>nte.<br />

Desenhou cenários favoráveis. Des<strong>de</strong> então voltou<br />

outras vezes ao Planalto, sempre na companhia da<br />

filha. Em uma <strong>de</strong>ssas visitas, em 2006, cravou que<br />

Lula não teria dificulda<strong>de</strong>s em se reeleger.<br />

Também avisou que podia enxergar "uma cratera<br />

se abrin<strong>do</strong> no chão <strong>de</strong> São Paulo", o que causaria<br />

problemas para o governo estadual, <strong>do</strong> PSDB. A<br />

frase sobre a cratera foi entendida como uma<br />

previsão acertada <strong>do</strong> <strong>de</strong>sabamento <strong>do</strong> canteiro <strong>de</strong><br />

obras <strong>do</strong> metrô paulista, em janeiro <strong>de</strong> 2007, que<br />

<strong>de</strong>ixou sete mortor. A fama das previsões <strong>do</strong><br />

"profeta", agora em tratamento médico, fez <strong>de</strong>le um<br />

sucesso entre os políticos. Quan<strong>do</strong> visitava o<br />

Congresso, <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s formavam fila para ser<br />

atendi<strong>do</strong>s por ele e ouvir suas profecias. É ao<br />

sucesso <strong>do</strong> pai que Christiane atribuiu sua<br />

ascensão, inclusive a financeira.<br />

Habituada a usar roupas, sapatos e bolsas <strong>de</strong> grife,<br />

a menina <strong>de</strong> infância pobre em Maceió gosta <strong>de</strong><br />

mostrar que venceu na vida. No ano passa<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> VEJA mostrar sua relação promíscua<br />

entre o petismo e Durval Barbosa, Christiane foi<br />

orientada a sumir <strong>de</strong> Brasília. Por uns dias,<br />

hospe<strong>do</strong>u-se em uma fazenda nos arre<strong>do</strong>res da<br />

capital. Depois, mu<strong>do</strong>u-se para São Paulo. Só <strong>de</strong>u<br />

seu novo en<strong>de</strong>reço a parentes e amigos muito<br />

próximos. Seu novo local <strong>de</strong> trabalho na capital<br />

paulista era um segre<strong>do</strong> guarda<strong>do</strong> a sete chaves.<br />

VEJA localizou Christiane trabalhan<strong>do</strong> no escritório<br />

84


<strong>de</strong> advocacia Lacaz Martins, no Jardins. Tentou<br />

falar com Christiane Araújo quan<strong>do</strong> ela chegava<br />

para o trabalho. Nesse momento a advogada<br />

apressou o passo e entrou num Jeep, que pertence<br />

a um sócio da banca <strong>de</strong> advocacia. Ao procurar por<br />

ela no escritório, a reportagem foi informada <strong>de</strong> que<br />

lá não trabalha nenhuma Christiane Araújo <strong>de</strong><br />

Oliveira. Ricar<strong>do</strong> Lacaz Martins, <strong>do</strong>no <strong>do</strong> escritório<br />

e colega <strong>de</strong> turma <strong>de</strong> Toffoli no curso <strong>de</strong> direito da<br />

USP, diz que Christiane foi indicada por um<br />

advoga<strong>do</strong> <strong>de</strong> Brasília e que passou "pelo processo<br />

<strong>de</strong> seleção como qualquer outro <strong>de</strong> nossos quase<br />

100 advoga<strong>do</strong>s", sem que tenha havi<strong>do</strong> nenhuma<br />

intervenção política ou <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m na<br />

contratação. "Encontrei-me com Toffoli uma única<br />

vez, na festa <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong> nossa formatura", diz<br />

o advoga<strong>do</strong> paulista. Por escrito, o ministro <strong>Dia</strong>s<br />

Toffoli nega todas as acusações feitas pela<br />

advogada: "Nunca recebi da Dra. Christiane Araújo<br />

fitas gravadas relativas ao escândalo ocorri<strong>do</strong> no<br />

governo <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral". O ministro garante<br />

também que nunca frequentou o prédio cita<strong>do</strong> por<br />

Christiane como local <strong>de</strong> encontro entre os <strong>do</strong>is e<br />

que nunca solicitou avião oficial para ela. Diz, por<br />

fim, que quan<strong>do</strong> ocupava o cargo <strong>de</strong><br />

advoga<strong>do</strong>-geral da União recebeu Christiane um<br />

única vez em seu gabinete, em uma audiência<br />

formal. Incoforma<strong>do</strong> <strong>de</strong> que as revelações foram<br />

feitas pela própria Christiane em <strong>de</strong>poimento<br />

grava<strong>do</strong> a autoriada<strong>de</strong>s, no bojo <strong>de</strong> uma<br />

investigação oficial, o ministro optou por não<br />

comentar.<br />

Os relatos da advogada ao Ministério Público e à<br />

polícia foram feitos em ocasiões distintas. O<br />

primeiro <strong>de</strong>les se <strong>de</strong>u em 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010.<br />

Após seu nome aparecer em outros <strong>de</strong>poimentos,<br />

um <strong>de</strong>les presta<strong>do</strong> pelo próprio Durval, Christiane<br />

foi chamada ao Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral. Em<br />

princípio, era para falar sobre suas ligações com a<br />

máfia. Não se sabe por que Christiane surpreen<strong>de</strong>u<br />

os policiais e promotores com suas inconfidências<br />

espontâneas sem relação direta com objeto da<br />

investigação, citan<strong>do</strong> a toda hora Toffoli e Gilberto<br />

Carvalho. O fato <strong>de</strong> ela arrolar gente tão importante<br />

<strong>de</strong> livre e espontânea vonta<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser uma<br />

estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa antecipada? Seria se as<br />

citações fossem <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> contexto e<br />

evidências.Indaga<strong>do</strong> por VEJA, o procura<strong>do</strong>r<br />

encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> tomar o <strong>de</strong>poimento, Ronal<strong>do</strong><br />

Meira Albo, confirmou ter ouvi<strong>do</strong> o relato <strong>de</strong><br />

Christiane, sem entrar em <strong>de</strong>talhes sobre seu<br />

conteú<strong>do</strong>. Disse ele: "To<strong>do</strong> o material, inclusive<br />

esse <strong>de</strong>poimento, foi encaminha<strong>do</strong> à Polícia<br />

Fe<strong>de</strong>ral para ser anexa<strong>do</strong> aos autos da Operação<br />

Caixa <strong>de</strong> Pan<strong>do</strong>ra". O <strong>de</strong>poimento no Ministério<br />

Público Fe<strong>de</strong>ral foi acompanha<strong>do</strong> por policiais da<br />

Diretoria <strong>de</strong> Inteligência da Polícia Fe<strong>de</strong>ral. <strong>Dia</strong>s<br />

<strong>de</strong>pois, Christiane foi chamada para uma conversa<br />

informal, <strong>de</strong>ssa vez na PF, que resultou em seis<br />

Revista Veja/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

horas <strong>de</strong> gravação. Estranhamente, as<br />

assombrosas revelações da advogada nesse novo<br />

<strong>de</strong>poimento, segun<strong>do</strong> a própria polícia, não fazem<br />

parte <strong>de</strong> nenhuma investigação. Por que será?.<br />

COM REPORTAGEM DE GUSTAVO RIBEIRO, <strong>de</strong><br />

Maceió<br />

CONFISSÕES DE ALCOVA<br />

Em oito horas <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos grava<strong>do</strong>s em áudio<br />

e ví<strong>de</strong>o pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral e pelo Ministério<br />

Público. Christiane Araújo <strong>de</strong> Oliveira revelou que<br />

mantinha relações intímas com políticos e<br />

figuras-chave <strong>de</strong> República em estreita sintonia<br />

com uma quadrilha que <strong>de</strong>sviou mais <strong>de</strong> 1 bilhão<br />

<strong>de</strong> reais <strong>do</strong>s cofres públicos. Ela participava <strong>de</strong><br />

festas <strong>de</strong> embalo, viajava em aviões oficiais,<br />

aproveitava-se <strong>do</strong>s amigos e amantes influentes<br />

para obter favores em benefício <strong>do</strong>s criminosos.<br />

Era uma via <strong>de</strong> mão dupla. A advogada também<br />

contou com o governo fe<strong>de</strong>ral, por meio <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />

ministros, usou sua proximida<strong>de</strong> com a máfia para<br />

conseguir material que incrimaria adversários<br />

políticos<br />

O PODER NA ALCOVA DA MÁFIA<br />

A advogada Christiane Araújo contou que manteve<br />

um relacionamento com o hoje ministro <strong>do</strong><br />

Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral José Antonio <strong>Dia</strong>s<br />

Toffoli quan<strong>do</strong> ele ocupava o cargo <strong>de</strong><br />

advoga<strong>do</strong>-geral da União no governo Lula. Ela<br />

disse que entregou ao ministro cópias <strong>de</strong> áudios<br />

que incriminavam políticos da oposição e que mais<br />

tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>ram origem à operação policial que levou à<br />

ca<strong>de</strong>ia, entre outros, o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral José Roberto Arruda, <strong>do</strong> DEM, filma<strong>do</strong><br />

receben<strong>do</strong> propina pela máfia para a qual a<br />

advogada prestava serviços. Christiane disse ter<br />

viaja<strong>do</strong> em avião oficial <strong>do</strong> governo. Seus<br />

encontros com po<strong>de</strong>rosos eram realiza<strong>do</strong>s em um<br />

apartamento localiza<strong>do</strong> em área nobre <strong>de</strong> Brasília.<br />

Segun<strong>do</strong> os investiga<strong>do</strong>res, o imóvel, que pertencia<br />

ao chefe da organização criminosa, também era<br />

usa<strong>do</strong> como <strong>de</strong>pósito <strong>do</strong> dinheiro <strong>de</strong>svia<strong>do</strong> pela<br />

quadrilha, lugar on<strong>de</strong> se pagava propina e,<br />

consequentemente, cenário perfeito para registrar<br />

tu<strong>do</strong> em ví<strong>de</strong>o - o que era feito com disciplina.<br />

O PODER E A MÁFIA EM SINTONIA<br />

Christiane Araújo contou que tem uma amiza<strong>de</strong><br />

intíma com Gilberto Carvalho, o atual<br />

secretário-geral da Presidência da República e<br />

ex-chefe <strong>de</strong> gabinete <strong>do</strong> governo passa<strong>do</strong>. Como<br />

mostram as mensagens eletrônicas trocadas entre<br />

os <strong>do</strong>is, a advogada pediu a interferência <strong>do</strong><br />

ministro junto ao presi<strong>de</strong>nte para nomear o<br />

85


promotor Leonar<strong>do</strong> Bandarra como chefe <strong>do</strong><br />

Ministério Público <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral, o que<br />

efetivamente aconteceu. Bandarra, <strong>de</strong>scobriu-se<br />

<strong>de</strong>pois, assim como Christiane, era um ativo<br />

membro da máfia. Ele era encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> impedir<br />

com generosas propinas que as investigações<br />

contra a quadrilha avançassem. Gilberto Carvalho,<br />

segun<strong>do</strong> a advogada, pediu a ela que ajudasse a<br />

Revista Veja/SP - Brasil, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

convencer a máfia a entregar as provas<br />

<strong>de</strong>moli<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> corrupção contra os adversários<br />

políticos <strong>do</strong> PT. Carvalho nega a acusação com<br />

veemência. Disse o ministro a VEJA: "Estou<br />

impressiona<strong>do</strong> com a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa moça".<br />

86


S O B E<br />

Lei Maria da Penha<br />

Revista Veja/SP - Panorama, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

SobeDesce<br />

O STF <strong>de</strong>cidiu que inquéritos <strong>de</strong> agressão contra<br />

mulheres po<strong>de</strong>rão ser abertos ainda com a queixa<br />

não parta da vítima. Com isso, a Lei Maria da<br />

Penha se fortaleceu<br />

87


Correio Braziliense/DF - Cida<strong>de</strong>s, <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | Infância e Juventu<strong>de</strong><br />

A<strong>do</strong>lescentes embriagam e abusam<br />

Dois jovens, <strong>de</strong> 15 e 16 anos, foram encaminha<strong>do</strong>s<br />

à Delegacia da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (DCA)<br />

acusa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> terem estupra<strong>do</strong> uma dupla <strong>de</strong><br />

meninas, com <strong>13</strong> e 14 anos. Depois <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>núncia feita à Central Integrada <strong>de</strong> Atendimento<br />

e Despacho (Cia<strong>de</strong>), policiais militares <strong>do</strong> 8º<br />

Batalhão encontraram os quatro em uma casa na<br />

QNN 2, conjunto B, Ceilândia Sul. Segun<strong>do</strong><br />

familiares das vítimas, as meninas teriam si<strong>do</strong><br />

embriagadas pelos rapazes e, em seguida, sofri<strong>do</strong><br />

o abuso sexual.<br />

88


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Do Alto da Torre (Eduar<strong>do</strong> Brito), <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | OAB-DF<br />

LUA DE MEL CAUSÍDICA<br />

Vai <strong>de</strong> vento em popa a lua <strong>de</strong> mel entre a seção<br />

brasiliense da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil e o<br />

governa<strong>do</strong>r Agnelo Queiroz. O presi<strong>de</strong>nte da<br />

OAB-DF, Francisco Caputo, foi escolhi<strong>do</strong> para<br />

integrar o Comitê Gestor <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Econômico e Social <strong>do</strong> Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral, que o governa<strong>do</strong>r Agnelo Queiroz acaba<br />

<strong>de</strong> compor.<br />

89


Jornal <strong>de</strong> Brasília/DF - Coluna Do Alto da Torre (Eduar<strong>do</strong> Brito), <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>Fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2012</strong><br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | Lei Maria da Penha<br />

COM DIREITO A LAGOSTA<br />

Durante a audiência, o juiz chamou Sonja <strong>de</strong> la<strong>do</strong> e<br />

perguntou o que gostaria <strong>de</strong> fazer no aniversário.<br />

Não, não era uma cantada. Retomou o julgamento<br />

e, solenemente, con<strong>de</strong>nou Joseph a mandar-lhe<br />

flores, incluir um cartão <strong>de</strong> Feliz Aniversário, levá-la<br />

para um restaurante <strong>de</strong> primeira, escolher a lagosta<br />

<strong>do</strong> cardápio e, por fim, levá-la a jogar boliche. Mas<br />

<strong>de</strong>terminou também que os Bray passassem a<br />

frequentar um conselheiro matrimonial. Fofo, não?<br />

Mas dá para <strong>de</strong>sconfiar que o causídico brasiliense<br />

quer mesmo e fazer lobby contra a Lei Maria da<br />

Penha.<br />

90


Indíce Remissivo por Assunto<br />

JUDICIÁRIO | Conselho Nacional <strong>de</strong> Justiça<br />

41, 44, 58, 75, 80<br />

JUDICIÁRIO | Judiciário<br />

18, 21, 23, 28, 43, 53, 65, 67<br />

JUDICIÁRIO | Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

20, 26, 79<br />

JUDICIÁRIO | Justiça Eleitoral<br />

39, 78<br />

JUDICIÁRIO | Justiça Fe<strong>de</strong>ral<br />

56<br />

JUDICIÁRIO | Ministério Público <strong>do</strong> Trabalho<br />

15<br />

JUDICIÁRIO | OAB<br />

50<br />

JUDICIÁRIO | Superior Tribunal <strong>de</strong> Justiça<br />

54, 68, 71, 73<br />

JUDICIÁRIO | Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral<br />

17, 27, 30, 32, 35, 38, 40, 42, 45, 47, 57, 60, 72, 77, 82, 83, 87<br />

JUDICIÁRIO | Tribunais <strong>de</strong> Justiça<br />

52<br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior <strong>do</strong> Trabalho<br />

70<br />

JUDICIÁRIO | Tribunal Superior Eleitoral<br />

37, 49, 76, 81<br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | Infância e Juventu<strong>de</strong><br />

88<br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | Lei Maria da Penha<br />

90<br />

NOTÍCIAS VINCULADAS | OAB-DF<br />

89<br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios<br />

6, 12<br />

TJDFT | Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>do</strong> Distrito Fe<strong>de</strong>ral<br />

10, 14<br />

TJDFT | Vara da infância e da Juventu<strong>de</strong> - VIJ<br />

11<br />

91

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