15.04.2013 Views

reflexos na prática interpretativa

reflexos na prática interpretativa

reflexos na prática interpretativa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Industrial o mundo modificou-se e esse universo sonoro foi substituído por outro. Neste<br />

âmbito, é bastante interessante a carta datada de 19 de Agosto de 1848 escrita por Chopin<br />

em Calder House (Escócia) endereçada a Wojciech Grzymala (1793-1871):<br />

Em Edimburgo as pessoas querem que eu toque a 2 e 3 de Outubro. Se não estiver frio (dizem<br />

que o tempo ainda está bom então, e renderá cerca de cem libras) Eu estou pronto para voltar<br />

de Manchester para a Escócia; não chega a 8 horas de viagem de comboio. (Chopin e Voynich<br />

1988: 380) 5<br />

Aqui temos um testemunho da reacção de Chopin ao contacto com esta nova<br />

realidade: o barulho mecânico do comboio, a viagem encurtada e a vista da paisagem<br />

distorcida pela velocidade. Chopin, o compositor que procurava no passado musical as<br />

raízes da sua arte, é confrontado com a realidade da revolução industrial em todas as suas<br />

vertentes e o conflito não tarda e é patente <strong>na</strong> carta que escreve para a família a 19 de<br />

Agosto de 1848:<br />

Ainda se Londres não fosse tão escura, e as pessoas tão sotur<strong>na</strong>s, e se não houvesse tanto<br />

nevoeiro ou cheiros de fuligem, eu já teria aprendido inglês. Mas estes ingleses são tão<br />

diferentes dos franceses, aos quais eu me liguei como se fossem meus compatriotas; eles só<br />

pensam em termos de libras; eles gostam de arte porque é um luxo; bondosos, mas tão<br />

excêntricos que eu entendo como nos podemos tor<strong>na</strong>r empedernidos aqui, ou tor<strong>na</strong>rmo-nos<br />

numa máqui<strong>na</strong>. Se eu fosse mais novo, talvez eu entrasse numa vida mecânica, desse concertos<br />

em todos os sítios e tivesse êxito numa carreira não desagradável (tudo por dinheiro!); mas<br />

agora é difícil começar a transformar-me numa máqui<strong>na</strong>. (Chopin e Voynich 1988: 378) 6<br />

Nesta citação, não é só confronto com uma cultura diferente que está em causa, é<br />

uma nova era em que Chopin se sente desconfortável, deslocado. Já antes, os concertos<br />

públicos esporádicos são apontados como uma consequência, ou reacção à mudança <strong>na</strong><br />

<strong>prática</strong> de actuação pública. Assim deixa transparecer o seguinte comentário de Liszt:<br />

5 In Edinburgh people want me to play on the 2nd or 3rd of October. If it is not yet cold (they say the weather is still good then, and it<br />

will bring in about a hundred pounds) I am ready to go back to Scotland from Manchester; not quite 8 hours’ railway journey. (Chopin<br />

and Voynich 1988: 380)<br />

6 If only London were not so dark, and the people so heavy, and if there were no fogs or smells of soot, I would have learned English by<br />

now. But these English are so different from the French, to whom I have grown attached as to my own; they think only in terms of<br />

pounds; they like art because it is a luxury; kindhearted, but so eccentric that I understand how one can himself grow stiff here, or turn<br />

into a machine. If I were younger, perhaps I would go in for a mechanical life, give concerts all over the place and succeed in a not<br />

unpleasant career (anything for Money!); but now it is hard to start turning oneself into a machine. (Chopin and Voynich 1988: 378)<br />

22

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!