BARROS, Diana Luz Pessoa de - Teoria Semiotica do - No-IP
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Examine-se o parágrafo abaixo <strong>de</strong> Dondinho dá um jeito, <strong>de</strong> Sérgio Caparelli<br />
(1984, p. 7):<br />
A segunda preocupação era o Lobo Mau. Dona Oraida, <strong>do</strong> Grupo Escolar Dr. Duarte Pimentel<br />
<strong>de</strong> Ulhoa, havia elogia<strong>do</strong> publicamente sua habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>clama<strong>do</strong>r, mas no fim veio a bomba:<br />
ele tinha si<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong> para interpretar o Lobo Mau da peça “O Chapeuzinho Vermelho”, com<br />
estréia marcada para o Dia da Árvore.<br />
Dona Oraida, o Grupo Escolar Dr. Duarte Pimentel <strong>de</strong> Ulhoa e o Dia da<br />
Árvore, entre outros elementos <strong>de</strong> ancoragem, em nada contribuem para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da narrativa. Não são necessários o nome da professora, o da<br />
escola ou a <strong>de</strong>terminação precisa <strong>do</strong> dia da estréia, a não ser para criar ilusão <strong>de</strong><br />
realida<strong>de</strong>. Da mesma forma, no texto “Ao instalar, às 9,30 <strong>de</strong> amanhã, no Palácio<br />
<strong>do</strong> Planalto, uma solene reunião ministerial — enriquecida pela presença <strong>do</strong>s chefes<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is po<strong>de</strong>res da República —, o presi<strong>de</strong>nte José Sarney estará...” (Folha <strong>de</strong> S.<br />
Paulo, 31 jan. 1988), o leitor reconhece como reais o momento (9,30 <strong>de</strong> amanhã), o<br />
local <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Planalto e as pessoas <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte José Sarney e <strong>do</strong>s chefes <strong>do</strong><br />
Legislativo e <strong>do</strong> Judiciário, que especificam e concretizam o tempo, o espaço e os<br />
atores <strong>do</strong> discurso. Esses elementos ancoram o texto na história e criam a ilusão <strong>de</strong><br />
referente e, a partir daí, <strong>de</strong> fato verídico, <strong>de</strong> notícia verda<strong>de</strong>ira. Se são reais as<br />
personagens, os locais e os momentos em que os fatos ocorrem, torna-se<br />
verda<strong>de</strong>iro to<strong>do</strong> o texto que a eles se refere. Alguns jornais têm feito menção à<br />
ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os que citam em suas notícias ou entrevistas, como recurso <strong>de</strong><br />
criação <strong>de</strong> efeito <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Dar a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> professores universitários chama<strong>do</strong>s a<br />
opinar sobre os vestibulares em São Paulo não tem, no texto “Professores criticam<br />
os principais exames paulistas” (Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 31 jan. 1988 — 2º ca<strong>de</strong>rno A-25),<br />
nenhuma importância para a informação a ser transmitida, mas produz a ilusão <strong>de</strong><br />
realida<strong>de</strong>, pois a ida<strong>de</strong> contribui para construir o professor <strong>de</strong> carne e osso que<br />
avalia os exames. A mesma função po<strong>de</strong>m ter as fotografias que acompanham as<br />
notícias. Qual o papel das fotos <strong>do</strong>s professores consulta<strong>do</strong>s, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> seus<br />
comentários, se não o <strong>de</strong> servirem <strong>de</strong> referentes? O papel ancora<strong>do</strong>r da fotografia,<br />
muitas vezes pouco nítida, é assegura<strong>do</strong> pela crença i<strong>de</strong>ológico-cultural no seu<br />
caráter analógico <strong>de</strong> “cópia <strong>do</strong> real”.<br />
A ancoragem actancial, temporal e espacial e a <strong>de</strong>legação interna <strong>de</strong> voz são<br />
<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s procedimentos <strong>de</strong> obtenção da ilusão <strong>de</strong> referente ou <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Esse<br />
efeito <strong>de</strong>ve ser entendi<strong>do</strong> também como o efeito contrário, <strong>de</strong> irrealida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong><br />
ficção, <strong>de</strong> ilusão <strong>de</strong> que tu<strong>do</strong> é imaginação ou mesmo <strong>de</strong> que não existe o real, a<br />
não ser como criação <strong>do</strong> discurso. Daí a fórmula Era uma vez, que pren<strong>de</strong> a história<br />
no tempo imaginário da fantasia, e o Não era uma vez..., título <strong>de</strong> livro infantil <strong>de</strong><br />
Marcos Rey (1985):<br />
Não era uma vez uma cachorrinha. Dissemos que não era uma vez porque antigamente todas as<br />
histórias começavam assim: era uma vez... Esta, a que vamos contar, não é uma estória <strong>de</strong><br />
antigamente, é <strong>de</strong> agora, e nem é uma estória pensan<strong>do</strong> bem, pois tu<strong>do</strong> aconteceu mesmo, não foi<br />
imaginação. Dai esse começo diferente (p. 1).<br />
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