BARROS, Diana Luz Pessoa de - Teoria Semiotica do - No-IP
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<strong>No</strong> ator, juntam-se elementos da sintaxe narrativa (um papel actancial, ao<br />
menos) e da sintaxe discursiva (a projeção <strong>de</strong> um “eu” ou <strong>de</strong> um “ele”, por<br />
exemplo). O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse casamento “sintático” recebe preenchimento<br />
semântico, sob a forma <strong>de</strong> um ou mais papéis temáticos, e po<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
texto, ser especifica<strong>do</strong> ou concretiza<strong>do</strong> pelo revestimento figurativo. <strong>No</strong> exemplo<br />
acima, o sujeito narrativo transforma-se <strong>de</strong> “sujo” em “limpo”, é projeta<strong>do</strong> no<br />
discurso como “ele” e investi<strong>do</strong>, pelo tema <strong>do</strong> banho, no papel temático <strong>de</strong><br />
“aquele-que-se-banha”. Tem-se, então, um ator <strong>do</strong> discurso. Esse ator po<strong>de</strong>ria ter<br />
sofri<strong>do</strong> maiores especificações figurativas e ter-se torna<strong>do</strong> a Joana ou a Ana Maria.<br />
Na tira em exame a figurativização ocorre, sobretu<strong>do</strong>, por meio <strong>de</strong> procedimentos<br />
visuais.<br />
A partir <strong>de</strong> um único valor po<strong>de</strong>m-se obter diferentes percursos temáticos<br />
em um mesmo discurso. Isso acontece, por exemplo, no poema <strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira,<br />
“Porquinho-da-índia” (1961, p. 71-2):<br />
Quan<strong>do</strong> eu tinha seis anos<br />
Ganhei um porquinho-da-índia.<br />
Que <strong>do</strong>r <strong>de</strong> coração eu tinha<br />
Porque o bichinho sé queria estar <strong>de</strong>baixo <strong>do</strong> fogão!<br />
Levava ele pra sala<br />
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,<br />
Ele não se importava:<br />
Queria era estar <strong>de</strong>baixo <strong>do</strong> fogão.<br />
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...<br />
— O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.<br />
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Pela análise da narrativa, constrói-se a história <strong>de</strong> <strong>do</strong>is sujeitos:<br />
um, em busca <strong>de</strong> relações afetivas; outro, por elas reprimi<strong>do</strong> ou a elas indiferente.<br />
<strong>No</strong> nível discursivo, esse valor ocorre sob a forma <strong>de</strong> tema amoroso-sexual, em que<br />
se trata <strong>de</strong> amores não correspondi<strong>do</strong>s, ou mesmo impossíveis, e <strong>de</strong> afetos que<br />
sufocam; <strong>de</strong> tema das carências infantis e <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s excessivos para com a<br />
criança; <strong>de</strong> tema socioeconômico, das diferenças marcadas pela oposição entre a<br />
sala e a cozinha.<br />
Para estudar a relação entre os procedimentos <strong>de</strong> tematização e os <strong>de</strong><br />
figurativização, <strong>de</strong>vem-se respon<strong>de</strong>r a duas questões: em primeiro lugar, se é<br />
possível prever-se a construção <strong>de</strong> discursos apenas temáticos ou não-figurativos;<br />
em segun<strong>do</strong>, se po<strong>de</strong>m ocorrer discursos com vários temas e uma única cobertura<br />
figurativa, e vice-versa. A segunda questão será examinada durante a exposição <strong>do</strong><br />
mecanismo <strong>de</strong> figurativização.<br />
Quanto à primeira, o exercício da análise textual não tem mostra<strong>do</strong> discursos<br />
não-figurativos e sim discursos <strong>de</strong> figuração esparsa. Em outras palavras, os<br />
discursos científicos ou os discursos políticos, entre outros, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como<br />
discursos não-figurativos, são, na realida<strong>de</strong>, discursos <strong>de</strong> figuração esporádica, que<br />
não chegam a constituir percursos figurativos completos. Dessa forma, a coerência<br />
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