Kellen Nogueira Vilhena - Biblioteca Digital de Teses e ...

APRESENTAÇÃO
O propósito deste estudo foi compreender as representações construídas e veiculadas
pela imprensa de Belo Horizonte. Para compreendê-las era necessário entender o processo de
constituição da cidade, pois ele foi permeado por especificidades que mereciam ser
consideradas para subsidiar o entendimento do movimento da imprensa.
Deste modo, o primeiro, dos quatro capítulos que compõem esse trabalho, “A Capital
Belo Horizonte”, procurou abordar a implantação da nova capital mineira. Belo Horizonte foi
idealizada para materializar valores de modernidade e civilidade em voga na virada do século
XIX para o XX. As transformações almejadas não se restringiam, ao plano político,
abrangiam novos ordenamentos sociais que levariam a cidade aos patamares desejados. Para
isso, diferentes dispositivos e discursos foram mobilizados, a começar pela própria cidade,
com sua configuração espacial que destinava espaços específicos para cada atividade, entre
elas o lazer. Este, também carecia de uma materialidade capaz de abrigar hábitos condizentes
com esses referenciais, e o Parque e o Hipódromo foram espaços que propiciariam o seu
desenvolvimento. Mas, além deles, outros, como as praças e as ruas, também foram
apropriados de maneiras diversas.
Assim como a cidade, a imprensa se delineava como instituição educadora
produzindo discursos do que era, ou não, moderno. Esta é a perspectiva formadora abordada
no capítulo dois. A partir de processos de filtragem, ela assumia um lugar pedagógico, dando
projeção a algumas práticas, obscurecendo outras, ou repudiando aquelas que estavam em
contraposição ao modelo pretendido para a Capital. Esses discursos ganhavam formatação nos
jornais por meio de campos próprios como colunas especializadas, explorando práticas e
comportamentos da vida citadina de acordo com sua posição em relação a esse modelo.
Apesar dessa perspectiva educadora, na cidade se manifestavam diferentes costumes,
ressaltando ambigüidades, tensões e conflitos que marcaram sua constituição, e os jornais
refletiam esse movimento. Entre elogios, questionamentos, críticas e denúncias, a imprensa
belo-horizontina construía e veiculava representações, ora sob um discurso autorizador, ora
sob seu contrário.
Longe de se apresentar como uma visão dicotômica e hegemônica do discurso da
imprensa, as práticas em consonância com o modelo pretendido foram discutidas em um
capítulo, sob a perspectiva da autorização; e as com ele se contrastavam, em outro, sob a
perspectiva da desautorização. Dito isso, imbuída de uma atitude educadora, a imprensa
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