Kellen Nogueira Vilhena - Biblioteca Digital de Teses e ...
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e hierarquizava os indivíduos no espaço”, buscando <strong>de</strong>stinar o lugar a ser ocupado por cada<br />
coisa ou grupo social. O i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> povo não passava pela população que se encontrava no<br />
Arraial, e se não fosse possível mandá-los todos para fora, necessário seria então reformar<br />
seus hábitos e costumes para se a<strong>de</strong>quassem ao novo mo<strong>de</strong>lo. Essa reforma não se aplicaria<br />
apenas aos seus antigos habitantes, mas a todos que fariam parte <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> que se<br />
pretendia construir.<br />
Belo Horizonte foi planejada e dividida em três áreas bem específicas: a urbana, a<br />
suburbana e a rural. A zona urbana milimetricamente planejada, contava com os mais<br />
mo<strong>de</strong>rnos serviços urbanos como água encanada, esgoto, luz elétrica, serviços <strong>de</strong> bon<strong>de</strong>, além<br />
do fácil acesso das ruas e dos espaços <strong>de</strong> lazer. Já a área suburbana, não agraciada com tanto<br />
conforto, possuía ruas com traçado irregular, sem serviço <strong>de</strong> saneamento, moradias precárias e<br />
nenhuma estrutura para o lazer.<br />
Sobre a área urbana, Julião (1992) relata:<br />
Na área central, ao contrário, estavam localizados os espaços coletivos mais<br />
atraentes, os edifícios públicos, e também concentrados os serviços urbanos<br />
mo<strong>de</strong>rnos, como saneamento, iluminação, bon<strong>de</strong> etc. Obviamente, um território<br />
elegante e acessível a poucos [...]. Ali as elites construíam suas residências, faziam<br />
seus negócios, <strong>de</strong>sfrutavam seu lazer. (p. 80)<br />
O traçado da nova capital do Estado revelaria o paradoxo do i<strong>de</strong>al republicano. Para<br />
Alícia Penna (1997), Belo Horizonte era um “espaço infiel”, que manifestava o lado<br />
segregacionista <strong>de</strong> um sistema que se propunha <strong>de</strong>mocrático e universalista. O que ficou<br />
mesmo foi a “or<strong>de</strong>m” para todos e o “progresso” para poucos. E aqueles que não se<br />
revestissem <strong>de</strong>sse pretenso perfil, que não se mostrassem preparados para viver este novo<br />
tempo, seriam colocados literalmente à margem.<br />
O sentido <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação e hierarquização eram tão presentes que tudo possuía seu lugar<br />
previamente pensado e preparado, <strong>de</strong> acordo com sua importância no novo mo<strong>de</strong>lo político,<br />
econômico e social 43 . Po<strong>de</strong>-se perceber esta influência nos nomes dos bairros (dos<br />
Funcionários, dos Militares) das praças (do Mercado, do Estado) e das ruas (Rua do Comércio<br />
– hoje, Santos Dumont, Avenida Liberda<strong>de</strong> – hoje, João Pinheiro). Além da distribuição <strong>de</strong><br />
outros espaços planejados, <strong>de</strong>ntre eles, os <strong>de</strong> lazer.<br />
43 Essa organização segregacionista não se aplica <strong>de</strong> todo em relação à instalação dos funcionários vindos <strong>de</strong><br />
Ouro Preto, pois como observa GUIMARÃES (1991, p. 50), “na área <strong>de</strong>stinada às casas dos funcionários<br />
públicos não havia separação hierárquica do espaço e a única diferença que existia era apenas quanto ao tipo<br />
<strong>de</strong> casa”, já que a distribuição dos terrenos a esses funcionários foi feita por sorteio. Segundo ela, essa<br />
segregação na ocupação do espaço se concretizou posteriormente por meio <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> medidas<br />
tomadas pelos governos do Estado e Município corroborando com a especulação.<br />
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