Kellen Nogueira Vilhena - Biblioteca Digital de Teses e ...

Um projeto de lazer deveras arrojado, digno das pretensões daquele tempo. Os
equipamentos projetados 53 indicam o tipo de lazer pretendido para a cidade, decerto muito
diferente dos hábitos locais do antigo Arraial. Seguramente, um espaço capaz de contribuir
para a criação e a viabilidade de novas demandas a serem desenvolvidas; capaz de gestar um
novo modus vivendi, moderno, cosmopolita, republicano.
Nos primeiros anos, o Parque demonstrava assumir uma posição de muita importância
para a cidade. No livro de Fóscolo (1979), várias são as citações a seu respeito, realçando a
freqüência dos habitantes. Um trecho, entretanto, esclarece os extratos sociais que podiam
nele adentrar:
O recinto do Parque, quase nu de vegetação, pintalgara-se de povo com suas vestes
de cores variegadas zebrando o verde relvado. Os ciclistas corriam, através das ruas
roxas e circulares. [...] Em cima, no gradil, o povo ávido de distrações formava uma
linha extensa. A gargalhada franca da multidão estridulava ali à queda de algum
ciclista neófilo e frases incompletas, em várias línguas, sobressaindo o italiano,
ecoavam no ar. (p. 157)
Sua localização central, na zona urbana, habitada pela elite local, dificultava a
freqüência das camadas populares que residiam na zona suburbana ou em suas imediações.
Tanto pela questão geográfica, quanto também pela questão simbólica, deixava-se
transparecer o tipo de freqüentador desejado nesse espaço público de lazer.
O Parque era, pois, um cenário concorrido para os eventos da “melhor sociedade”
belorizontina, concretizando-se, cada vez mais, como um espaço de referência da vida
sociocultural, refletindo também as contradições sociais dessa cidade. Sua menção constante
em notas da imprensa, seja em jornais ou revistas, comprovava ainda mais sua importância. O
que acontecia no Parque era digno de registro: festas beneficentes, desfiles escolares, batalha
de “confetti”, eventos sociais, acontecimentos esportivos. Vejamos alguns exemplos:
O denotado Club carnavalesco « Progressistas » promove para os dias 5, 6 e 7 de
setembro, deslumbrantes festejos em beneficio de seus cofres sociais, consistindo
os mesmos numa batalha de « confetti », sports diversos e diversões populares,
havendo, além disso, uma grande tombola.
O « chou » desses festejos será, porém, o cabaret ao ar livre, agradável surpresa que
aquelle club reserva as exmas famílias, e que será levado à effeito com o concurso
valioso de diversas artistas em « tournée » por esta capital. [...]
O Parque Municipal foi o ponto escolhido para a realização desses festejos,
apparecendo, durante elles, feericamente illuminado. 54
53 A Planta do Parque e os projetos do observatório, a ponte rústica, o quiosque e o portão constam no Anexo
deste trabalho. Entre esses projetos, foram efetivamente construídos o lago, as alamedas, a ponte artística, o
coreto e o portão. O restaurante, o observatório e o cassino com teatro não saíram do papel.
54 “Festejos no Parque”. Diário de Minas, 29-08-1915, p. 1.
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