Kellen Nogueira Vilhena - Biblioteca Digital de Teses e ...

Na primeira, uma matéria do jornal O Confederal 13 , em 1907, faz referência a
“preciosas horas de lazer” que estariam sacrificadas em decorrência do jogo que “rouba” o
tempo de convivência entre o marido e sua família.
Na segunda, em 1910, no jornal Diário da Tarde 14 , o sentido indica algumas práticas,
no caso as “idas e vindas” de um grupo de rapazes por um trecho da Rua da Bahia,
acompanhados da “discussão de um assumpto qualquer”. Como “taes lazeres se prolongam
indeterminadamente”, diz a nota, “vae calando no espírito público uma pontinha de censura”
já que entre estes havia alguns funcionários públicos que deveriam se ocupar do seu trabalho.
Essa noção de tempo se repete nas três últimas ocorrências, nas quais os termos
lazer/lazeres enunciam uma noção de tempo específico. A nota de 1913, do jornal A
Mutuária 15 , faz referência à construção de um “cinema modelo”, local onde as famílias
poderiam “passar algumas horas de lazer”. A nota de 1914, do Diário de Minas 16 , faz
referência ao roubo do “gramofone” que uma moradora da Colônia Carlos Prates “possuía
para se divertir nas horas de lazeres”. E a última, a nota de 1915, da revista A Vida de
Minas 17 , refere-se a “um dia de lazer e bom humor” em que a prefeitura inaugurou o busto de
dois literatos da cidade (Bernardo Guimarães e Visconde do Paraná).
Esses sentidos remetem ao que se entende como lazer atualmente tanto no que se
refere ao tempo institucionalizado para essa prática, quanto às próprias práticas que nele são
realizadas. Mais predominante nas fontes utilizadas, os termos divertimentos/diversões
aparecem associados a vivências num tempo apropriado, segundo um modelo de civilidade
pretendido naquele momento, ou ainda, em desacordo com ele.
Em relação à sua etimologia, a palavra lazer origina-se do vocábulo latino licere, licet,
termos relacionados com práticas culturais consideradas lícitas, permitidas, habitualmente
aceitas. Essa significação, ainda que implicitamente, reflete uma suposta oposição entre o
lazer e o trabalho: enquanto este está associado ao esforço, aquele, à folga (GOMES, 2005).
Esta interpretação balizou os conceitos de lazer formulados na atualidade. Embora haja
diferentes conceitos formulados por autores de expressão nacional e internacional 18 , alguns
pressupostos definidores se mantêm constantes. Entre eles, a questão do tempo (o lazer é
vivenciado num tempo – livre das obrigações, disponível, conquistado pelos sujeitos); da
13 “O jogo e suas consequências”. O Confederal, 07-08-1907, p. 3.
14 Diário da Tarde, 31-03-1910, p. 1. (nota sem título).
15 “Cinema Popular”. A Mutuaria, 15-04-1913, p. 1.
16 “Diário Policial”. Diário de Minas, 01-10-1914, p. 2.
17 “Chronica da Quinzena”. A Vida de Minas, 15-10-1915, s.p.
18 Alguns deles são: DUMAZEDIER (1973); REQUIXA (1980); CAMARGO (1986); MARCELLINO (1987);
BRAMANTE (1998) e GOMES (2000). Esses conceitos são discutidos no verbete “Lazer – concepções” em
GOMES, 2004.
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