Kellen Nogueira Vilhena - Biblioteca Digital de Teses e ...
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Alguns <strong>de</strong>sses espaços foram efetivamente construídos, outros, porém, não passaram<br />
<strong>de</strong> sonhos no papel. Além dos espaços específicos, outros espaços propícios à sociabilida<strong>de</strong><br />
foram apropriados, como as praças, que além da função estética no traçado se configurariam<br />
como locais <strong>de</strong> encontro, e as ruas centrais, em especial a Rua da Bahia com sua intensa<br />
ativida<strong>de</strong> comercial e cultural, constantemente representada como a artéria smart da Capital.<br />
Dentre os espaços planejados e construídos, o Parque Municipal merece <strong>de</strong>staque.<br />
O Parque já estava previsto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o planejamento da cida<strong>de</strong> 49 . Pensado para ser um<br />
espaço <strong>de</strong> lazer mo<strong>de</strong>rno da Capital, ele aparece já na primeira planta <strong>de</strong> Belo Horizonte.<br />
Afinal, se os hábitos <strong>de</strong> lazer mo<strong>de</strong>rnos previam o passeio em parques, era imprescindível que<br />
a nova cida<strong>de</strong> se aparasse <strong>de</strong> tal espaço.<br />
Richard Sennett (1998) pon<strong>de</strong>ra que, ao longo do século XVIII, com o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento das cida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> novas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, aumentaram-se os locais que<br />
abrigavam essa vida pública 50 . Segundo ele, essa “foi a época da construção <strong>de</strong> enormes<br />
parques urbanos, das primeiras tentativas <strong>de</strong> se abrir ruas a<strong>de</strong>quadas à finalida<strong>de</strong> precípua <strong>de</strong><br />
passeio <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres, como uma forma <strong>de</strong> lazer” (p. 32).<br />
O Prefeito Bernardo Monteiro, em seu relatório <strong>de</strong> 1902, ao utilizar a comparação<br />
territorial com o parque argentino (mais <strong>de</strong> três vezes maior que o Parque Municipal) <strong>de</strong>ixa<br />
transparecer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> espaço como quesito <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong> e cultura ao dizer<br />
que: “para avaliar o apreço em que são tidos os Parques entre os povos cultos, basta lembrar<br />
que Buenos Aires, além <strong>de</strong> outros, possue o – Parque 3 <strong>de</strong> Fevereiro – com uma área <strong>de</strong> 225<br />
hectares” (p. 48), enquanto o <strong>de</strong> Belo Horizonte tinha 62 hectares. Com esse argumento ele<br />
justifica os beneficiamentos realizados e por realizar, a fim <strong>de</strong> torná-lo “um dos mais belos da<br />
República, logo que possível tratar <strong>de</strong> toda a sua área” (I<strong>de</strong>m, p. 47).<br />
Além da sua expressiva área, correspon<strong>de</strong>nte a uma seção <strong>de</strong> quarteirões inteira, a<br />
localização do Parque também dá uma dimensão do valor <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> lazer no novo estilo <strong>de</strong><br />
vida agora proposto. Sua localização é privilegiada, no coração da cida<strong>de</strong>, às margens da<br />
Avenida Afonso Pena, principal artéria viária e centro obrigatório da cida<strong>de</strong>. Como po<strong>de</strong>mos<br />
ver na Planta Geral da cida<strong>de</strong> entregue em 1895, ele se encontrava na área central, na Av.<br />
49 O Parque é um espaço <strong>de</strong> relevo na história <strong>de</strong> Belo Horizonte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu planejamento. Tão logo aprovada<br />
a construção da cida<strong>de</strong> é no espaço on<strong>de</strong> seria o Parque – uma fazenda chamada Chácara do Sapo, <strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong> da família Vaz <strong>de</strong> Melo – que se instala Aarão Reis, chefe da Comissão Construtora, em março <strong>de</strong><br />
1894. Des<strong>de</strong> os primeiros meses <strong>de</strong> estudos e elaboração da Planta Geral da Cida<strong>de</strong>, o Parque se revela como<br />
referência geográfica a partir do qual se projetaria a cida<strong>de</strong>.<br />
50 SENNETT (1998) ainda cita os cafés, os bares e o teatro como novos espaços <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> “a<strong>de</strong>quados ao<br />
intercâmbio entre estranhos e que não <strong>de</strong>pendiam <strong>de</strong> privilégios feudais fixos” (p. 32).<br />
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