Kellen Nogueira Vilhena - Biblioteca Digital de Teses e ...

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escrita de uma época; expressões que fazem parte da história dessa cidade sobre a qual lancei meu olhar. Para finalizar, lembro das palavras de Eliane Marta Teixeira Lopes (1996): “A disposição para fazer história, ou para se ler o mundo como um dispositivo historiador, parte, antes de mais, de uma disposição radical para ler, ver, ouvir e contar... o outro.” (p.35). Assim, busquei exercitar meu olhar para ler e ver, com atenção e espírito investigativo, os jornais da época, tentando ouvir, como diz Nóvoa (1997), as diferentes “vozes”, projetos, anseios e realidades de diversos atores neles presentes. E contar sobre um “outro”, um passado sobre o qual busquei jogar luz. 26
CAPÍTULO 1: A CAPITAL BELO HORIZONTE 1.1 Do “arraial bravio e sáfaro” ao “jardim encantado” da República A partir da proclamação da República, logo Belo Horizonte já se impactaria com suas pretensões. Pouco tempo depois da proclamação, em 1891, voltava a se aventar no meio legislativo mineiro a necessidade de mudança da capital do Estado, dando início à campanha mudancista que culminaria na escolha do Curral Del Rei para sua nova sede geográfica. O primeiro passo que colocaria o Arraial na mira das transformações que se queriam operar no país foi a mudança de seu nome. Rodrigues (1981, p. 19) relata que, com a proclamação da República, “os moradores do Curral Del Rey sentiram-se incentivados a mudar o nome do arraial por outro que melhor conciliasse com os novos ideais, deixando para trás tudo que pudesse lembrar uma situação política retrógrada”. Como nesse período era fundamental demarcar um novo tempo, o “Clube Republicano” 25 propôs alguns nomes igualmente sugestivos como Terra Nova, Santa Cruz, Nova Floresta, Cruzeiro do Sul e Novo Horizonte, sendo este último o preferido, mas alterado finalmente para Belo Horizonte 26 . No entanto, o Arraial permanecia ainda a condição de distrito pertencente ao município de Sabará. Começaria assim a viagem (sem volta) do Arraial rumo aos novos tempos do progresso da República. A mudança do nome era somente o começo, uma vez que “tudo está pensado em função de um espetáculo que apenas começa a ser organizado” como diz Beatriz Magalhães e Rodrigo Andrade (1989, p. 123). O fim do antigo regime impunha um marco; e este marco estava decretado, buscando inaugurar juntamente com ele uma série de transformações em diversas esferas da vida nacional. E nada mais adequado para assinalar tais transformações da República em Minas Gerais do que a mudança da capital do Estado 27 . 25 Uma parte considerável da população local era francamente republicana, e a prova da sintonia com os novos ideais começou com a mudança do nome do Arraial que mais tarde sediaria a nova Capital de Minas, materialidade concreta da República. 26 Essa primeira mudança se deu em 1890, fato lavrado através do Decreto n°. 36 de 12 de abril daquele ano. Diz o decreto: “O doutor governador do Estado de Minas Gerais resolve determinar que a freguesia do Curral D’el-Rey, município de Sabará, passe a denominar-se d’ora em diante Bello Horizonte, conforme foi requerido pelos habitantes da mesma freguesia.” (RODRIGUES, 1981, p. 19) 27 Assim, em 1891, com o apoio de Augusto de Lima, então governador provisório do Estado de Minas Gerais, foi promulgada a lei da mudança da capital. 27
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