Kellen Nogueira Vilhena - Biblioteca Digital de Teses e ...

uma vez que o intuito era que elas se operassem tanto no plano físico quanto em relação às
transformações sociais, a fim de que representasse material e simbolicamente o novo tempo
almejado.
Uma nota na revista A Vida de Minas, traz uma representação dessa mudança
marcante, especialmente no que se refere à estrutura urbana da nova metrópole:
Em verdade, do ponto de vista material, é estupenda a móle cyclopica do trabalho
executado nesta cidade, o que, em tão diminuto lapso de tempo, converteu o arraial
bravio e sáfaro neste maravilhoso jardim encantado, que enche os ádvenas de
admiração pasmada. 35
Nela, se observarmos as formas de se referir ao Arraial e à nova cidade podemos ver
que a instituição da modernidade e do progresso estavam atrelados a uma representação
negativa do seu oposto, aquilo que se queria substituir: frente ao “bravio e sáfaro”, o
moderno, o “maravilhoso”.
Essa construção de uma imagem moderna, a partir da desqualificação do passado da
antiga cidade, é colocada por Anateresa Fabris (2000), ao refletir sobre o cenário do Rio de
Janeiro. Contudo, tais reflexões se aplicam ao esforço de legitimação da nova capital, tanto
em relação à Ouro Preto – a velha capital do Império –, quanto em relação ao Curral – o
arraial antigo e provinciano. Diz ela:
Romper com o status quo significa projetar no passado da cidade os símbolos do
atraso, da inércia, de uma desordem que se espraiava pela sociedade e pelo país,
propondo em seu lugar, a utopia do novo tipificada por quatro idéias básicas:
retilinidade, uniformidade, proporcionalidade e visibilidade. (p. 44)
Dessas quatro idéias, resultaria então a ordenação da cidade, ao mesmo tempo, utópica
e exemplar, expondo a relação entre concreto e simbólico no processo de construção da
mesma.
35 A Vida de Minas, n°. 10, Dez/1915, s.p.
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