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dom quixote à pro-cura da cura - programa de pós-graduação em ...

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possível contar, por enquanto, com algumas informações fragmenta<strong>da</strong>s,<br />

ouvi<strong>da</strong>s e li<strong>da</strong>s.<br />

Mesmo contrariando os <strong>pro</strong>cedimentos médicos <strong>da</strong> época <strong>em</strong> relação ao<br />

louco 23 , período <strong>em</strong> que os cui<strong>da</strong>dos <strong>pro</strong>fissionais não tinham lugar no espaço <strong>de</strong><br />

reclusão, ain<strong>da</strong> assim, po<strong>de</strong>ríamos aqui simular para Dom Quixote um atendimento<br />

nos mol<strong>de</strong>s dos t<strong>em</strong>pos atuais, e assim tentar enten<strong>de</strong>r a lou<strong>cura</strong> que o aflige e<br />

infecta. Qu<strong>em</strong> sabe assim não alcançamos a orig<strong>em</strong> e/ou as causas <strong>de</strong> sua<br />

“infecção”? Qu<strong>em</strong> sabe assim não po<strong>de</strong>ríamos compreen<strong>de</strong>r o porquê do caminho<br />

que toma?<br />

1.1 DOM QUIXOTE E A RIGOROSA ANAMNESE<br />

O médico começa fazendo uma anamnese durante o exame clínico <strong>de</strong> seu<br />

paciente. T<strong>em</strong> sentido que assim se <strong>pro</strong>ce<strong>da</strong>, retroce<strong>de</strong>ndo ao ponto <strong>em</strong> que ele não<br />

apresentava ain<strong>da</strong> sinais <strong>de</strong> lou<strong>cura</strong>. Dom Quixote precisaria respon<strong>de</strong>r a perguntas<br />

<strong>de</strong> importância capital: 1) O que o levou a ler <strong>de</strong>scontrola<strong>da</strong>mente tantos livros <strong>de</strong><br />

cavalaria?; 2) E por que <strong>de</strong>cidiu abandonar a leitura, optando por torná-la “real”, com<br />

a <strong>de</strong>cisão tão radical <strong>de</strong> viver um personag<strong>em</strong> <strong>da</strong> cavalaria?; 3) O que pretendia,<br />

afinal, sendo cavaleiro?; 4) E como se <strong>pro</strong>cessou a metamorfose? 24<br />

Perguntado insistent<strong>em</strong>ente e <strong>pro</strong>vocado ve<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ente pelo médico <strong>à</strong>s<br />

r<strong>em</strong>iniscências acerca do princípio e evolução <strong>de</strong> sua doença, por mais que se<br />

23 Consultar, a este respeito, o primeiro capítulo <strong>de</strong> Jean Calmon Mo<strong>de</strong>nesi (MODENESI, J.C. O Dom Quixote <strong>de</strong> Foucault.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Papers, 2003), que traça contun<strong>de</strong>nte análise do modo como a lou<strong>cura</strong> era encara<strong>da</strong> e “trata<strong>da</strong>” nesta época.<br />

Foi no mesmo cenário mo<strong>de</strong>rno <strong>da</strong> afirmação crescente <strong>da</strong> razão mo<strong>de</strong>rna (ratio) e <strong>da</strong> ciência, que se começou a tentar<br />

“diagnosticar” a lou<strong>cura</strong>, com os assim diagnosticados passando a ser simplesmente “trancafiados” <strong>em</strong> locais próprios, asilos<br />

que <strong>pro</strong><strong>cura</strong>vam suprimir o <strong>de</strong>satino e a lou<strong>cura</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

24 A investigação <strong>de</strong>stas quatro perguntas constituirá o cerne <strong>da</strong>s próximas subsessões, <strong>de</strong> “1.1.1” a “1.1.4”.

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