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dom quixote à pro-cura da cura - programa de pós-graduação em ...

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A Dom Quixote, para qu<strong>em</strong> o <strong>pro</strong>jeto <strong>de</strong> ser cavaleiro era “tudo”, não lhe<br />

interessavam tais questionamentos. Para ele, transformar-se era muito simples; tudo<br />

parecia funcionar como um movimento <strong>em</strong> ca<strong>de</strong>ia, cujos <strong>de</strong>sdobramentos<br />

comporiam, por si sós, o quadro medieval <strong>de</strong> que precisava para nele atuar.<br />

Entretanto, do que precisava, naquele momento, era tomar a primeira <strong>de</strong>cisão: sair<br />

<strong>da</strong> leitura, abandonar os livros e partir para a vi<strong>da</strong>. Dom Quixote precisava mesmo,<br />

naquele momento, experimentar a vi<strong>da</strong> e existir.<br />

Acreditando <strong>em</strong> tudo o que aquela leitura gravara <strong>em</strong> sua mente, Dom<br />

Quixote “fica seco” por um veículo que lhe dê acesso e o coloque nessa via. Lança<br />

mão do pouco que está a seu alcance, ao alcance <strong>de</strong> suas mãos – o universo <strong>da</strong><br />

cavalaria que conhecera pela leitura, e vai experimentar a vivência <strong>da</strong>quela ficção. E<br />

assim, toma carona <strong>em</strong> Rocinante que lhe pareceu a<strong>de</strong>quado para percorrer os<br />

“velhos caminhos medievais” <strong>da</strong> cavalaria.<br />

A s<strong>em</strong>elhança é uma gran<strong>de</strong> estratégia <strong>de</strong> Dom Quixote para operar a<br />

metamorfose. Gostaríamos <strong>de</strong> colocar foco sobre a s<strong>em</strong>elhança. É ingenui<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou<br />

Dom Quixote sabe b<strong>em</strong> o que faz, quando a usa? Descobriu-se que até o final do<br />

século XVI havia no mundo um <strong>de</strong>sdobramento infinito por s<strong>em</strong>elhança; “s<strong>em</strong>pre<br />

havia uma similitu<strong>de</strong> a ser <strong>de</strong>svela<strong>da</strong>, uma s<strong>em</strong>elhança a ser <strong>de</strong>scoberta, uma<br />

analogia a ser interpreta<strong>da</strong> por sob a marca do verbo e <strong>da</strong> natureza” 46 . Isso indicia<br />

quão ain<strong>da</strong> estava aberta a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao conhecimento e, nesse caso, é possível<br />

compreen<strong>de</strong>r a crença <strong>de</strong> Dom Quixote nessa possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobrar-se. A<br />

s<strong>em</strong>elhança e a analogia se encarregavam <strong>de</strong>, pela <strong>pro</strong>vocação, garantir<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> natureza e verbo pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> <strong>em</strong>anar s<strong>em</strong>pre mais e mais.<br />

Dom Quixote ain<strong>da</strong> a<strong>pro</strong>veita os resquícios <strong>da</strong>quela época que estava se<br />

extinguindo, mas que lhe era fort<strong>em</strong>ente próxima, porque nela estivera metido “hasta<br />

46 MODENESI, Jean Calmon. O Dom Quixote <strong>de</strong> Foucault. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Papers, 2003.

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