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dom quixote à pro-cura da cura - programa de pós-graduação em ...

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fiestas” 28 . Dom Quixote n<strong>em</strong> ia a festas, n<strong>em</strong> caçava; mas, como também nos alerta<br />

Vilar, antes <strong>de</strong> querer ser cavaleiro, agia do mesmo modo que todos “los <strong>de</strong> la<br />

España <strong>de</strong> 1600”: 29 preferia sonhar. Embora não fosse a festas, n<strong>em</strong> caçasse, lia;<br />

fazia parte <strong>da</strong>quele grupo, infectado pela mesma máquina literária que, como um<br />

furacão, sacudiu Madrid. Esse fenômeno está <strong>em</strong> sintonia com outro: a inchação do<br />

setor “terciário”, não <strong>pro</strong>dutivo, que absorveu uma boa fatia <strong>da</strong> mão <strong>de</strong> obra ociosa 30 .<br />

Dessa fatia, participavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> “los encantadores” – intelectuais, no melhor sentido<br />

<strong>da</strong> palavra, os que escreviam livros <strong>de</strong> cavalaria – até “los <strong>pro</strong>veedores <strong>de</strong> leyen<strong>da</strong>s”<br />

– <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> heróis <strong>da</strong> cavalaria que, <strong>à</strong> base <strong>de</strong> encomen<strong>da</strong>, <strong>de</strong>sdobravam<br />

aventuras <strong>em</strong> mirabolantes e repeti<strong>da</strong>s versões, do mesmo t<strong>em</strong>a, “me parece que,<br />

cuál más, cuál menos, todos ellos son una mesma cosa”, 31 como atesta o texto<br />

cervantino. E o público incansável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o rei e o clérigo, até o hom<strong>em</strong> médio, se<br />

nutria <strong>de</strong>ssa literatura: “son leídos y celebrados [...] <strong>de</strong> todo género <strong>de</strong> personas”. 32<br />

V<strong>em</strong>os com isso que o mergulho <strong>de</strong> Alonso Quijano no universo literário <strong>da</strong><br />

cavalaria não é novi<strong>da</strong><strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>nte. Antes estava rigorosamente <strong>de</strong>ntro dos<br />

“mol<strong>de</strong>s vigentes” do espírito <strong>de</strong> sua época. Sabe-se que, na Espanha <strong>da</strong> época, a<br />

leitura transformara-se numa paixão, chegando <strong>à</strong>s raias do vício. Que a vi<strong>da</strong>, na<br />

Espanha do século XVI, não oferecia, ao fi<strong>da</strong>lgo, nenhuma saí<strong>da</strong> n<strong>em</strong> do ócio n<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> miséria parece ser evi<strong>de</strong>nte. No solo <strong>de</strong> Espanha, ou divertia-se <strong>em</strong> festas e<br />

caça<strong>da</strong>s ou se lia. E a própria obra também o test<strong>em</strong>unha: Dom Quixote e todos<br />

“pasaban las noches leyendo <strong>de</strong> claro en claro y los días <strong>de</strong> turbio en turbio”. 33<br />

28<br />

Tudo é diversão <strong>em</strong> festas, jogos e caça<strong>da</strong>s [ou] não se fala <strong>de</strong> outra coisa, senão <strong>da</strong>s festas (VILAR, P., op. cit.,<br />

p.336-337).<br />

29<br />

Os <strong>da</strong> Espanha <strong>de</strong> 1600. (VILAR, P. Crecimiento y <strong>de</strong>sarrollo: Economía e historia. 5.ed. Barcelona: Ariel, 1993, p.344).<br />

30 Cf. Apud GILMAN, S. La novela según Cervantes. México: Fondo <strong>de</strong> Cultura Económica, 1993, p.25.<br />

31<br />

Me parece que um mais, outros menos, são todos a mesma coisa. (1, XLVII, p.293).<br />

32<br />

São lidos e celebrados [...] por todo tipo <strong>de</strong> gente (1, L, p.304).<br />

33<br />

Passavam as noites <strong>de</strong> claro <strong>em</strong> claro e os dias <strong>de</strong> sombra <strong>em</strong> sombra. (1, I, p.18)

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