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dom quixote à pro-cura da cura - programa de pós-graduação em ...

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vi<strong>da</strong> falsa ou fingi<strong>da</strong>. Jogo <strong>de</strong> espelhos, reduplicação <strong>de</strong> mundo como ficção ou<br />

ficção como mundo? Duplo fingir? Como explicar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> existir e ampliar<br />

a experiência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> assim? Como é possível a Dom Quixote viver <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

fingindo na vi<strong>da</strong> ou vivendo na ficção que ele mesmo criara? Infectado <strong>de</strong> ficção é o<br />

viver <strong>de</strong> Dom Quixote.<br />

“Yo sé quien soy” __ diante do anunciar-se do cavaleiro, Ortega y Gasset<br />

passa a analisar sob outra perspectiva sua lou<strong>cura</strong>: Como é possível, afirmar-se,<br />

saber ser com tamanha certeza, aquilo que, a olhos vistos, não se é? Só a lou<strong>cura</strong><br />

parece po<strong>de</strong>r justificar equívoco <strong>de</strong>sse calibre.<br />

Volt<strong>em</strong>os <strong>à</strong> pergunta acima: Como é possível viver <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, fingindo na<br />

ficção? A não ser que, como está b<strong>em</strong> expresso nas <strong>de</strong>clarações que caracterizam o<br />

romance, se confirme a estreita relação entre hom<strong>em</strong>, vi<strong>da</strong> e obra <strong>de</strong> arte 42 .<br />

Até a terceira pergunta, Dom Quixote já tinha reunido o seguinte: a<br />

importância <strong>da</strong> experiência; que havia uma estranha superposição entre existir na<br />

vi<strong>da</strong> real e existir na ficção. Isso, consi<strong>de</strong>rando que Dom Quixote, ao sair <strong>da</strong> ficção<br />

para existir e experimentar a vi<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong>, acaba caindo <strong>em</strong> outra ficção. Qual a<br />

relação entre viver e fingir que a<strong>pro</strong>ximaria vi<strong>da</strong> e ficção?<br />

Para essa pergunta, encontramos somente a orientação <strong>de</strong> Carneiro Leão: “A<br />

única via <strong>de</strong> acesso que resta é a vivência [...] <strong>da</strong>s manifestações e dos <strong>pro</strong>dutos<br />

que nos <strong>de</strong>ixou a vi<strong>da</strong>” 43 . E foi o que fez Dom Quixote, foi buscar a única via <strong>de</strong><br />

acesso num <strong>pro</strong>duto que lhe tinha <strong>de</strong>ixado a vi<strong>da</strong> – uma obra <strong>de</strong> arte, as novelas <strong>de</strong><br />

cavalaria. Pelo transparente <strong>da</strong> orientação, é b<strong>em</strong> possível que tenha mobilizado o<br />

herói; pois parece que é esse seu <strong>pro</strong>cedimento: quer ter a vivência do que lera nos<br />

livros <strong>de</strong> cavalaria, trazendo a ficção para a vi<strong>da</strong>.<br />

42<br />

Estes pontos, que agora são <strong>de</strong>ixados <strong>em</strong> aberto, serão retomados no 3º Périplo, quando abor<strong>da</strong>r<strong>em</strong>os a relação entre arte<br />

e ver<strong>da</strong><strong>de</strong> na obra e na poesia.<br />

43<br />

LEÃO, E. C. Apren<strong>de</strong>ndo a pensar. 4.ed. Petropolis: Vozes, 2000, v.1, p.35.

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