16.04.2013 Views

o enigma da infância – educação e comunicação no ... - Unesp

o enigma da infância – educação e comunicação no ... - Unesp

o enigma da infância – educação e comunicação no ... - Unesp

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Tinha vontade de urinar. Lucin<strong>da</strong> abraçou-o pelas nádegas, retorcia-se sob ele, apertavalhe<br />

o sexo mindinho entre as coxas grossas em lugar mor<strong>no</strong> e viscoso.<br />

─ Gosta? Não é bom mesmo? É assim que homem faz meni<strong>no</strong> na gente.<br />

O medo aumentou. Sentia-se sufocar, a cabeça mergulha<strong>da</strong> <strong>no</strong>s seios imensos <strong>da</strong> mulher.<br />

Se Lucin<strong>da</strong> aparecesse com outro filho <strong>no</strong> bucho e dissesse para a mãe que fora ele que<br />

lhe fizera? A crista de galo do franguinho começou a amolecer, encolher-se só de pensar.<br />

Lucin<strong>da</strong> afrouxou os braços, quase o empurrou de cima dela. Viu que o pinto do meni<strong>no</strong><br />

estava sujo de sangue:<br />

─ Tem na<strong>da</strong> não, isso sara logo.<br />

Esta cena de<strong>no</strong>ta que o meni<strong>no</strong> não era judeu, já que não era circunci<strong>da</strong>do; por isso,<br />

sofreu ruptura do freio do prepúcio na primeira relação sexual. As mulheres do povo são<br />

conhecedoras desses porme<strong>no</strong>res, e sabem li<strong>da</strong>r com seus iniciados sem alarme.<br />

Ele vestia a calça enquanto a mulata se recompunha.<br />

─ E se nascer uma criança? <strong>–</strong> in<strong>da</strong>gou a medo?<br />

Lucin<strong>da</strong> deu uma risa<strong>da</strong> zombeteira, abrindo-lhe a porta.<br />

─ Tenha medo, não, meu safadinho! Tu ain<strong>da</strong> não é homem, tu ain<strong>da</strong> é meni<strong>no</strong>.<br />

Franguinho como tu não tem gala, a crista tá verde ain<strong>da</strong>. Só quando te chegar barba na<br />

cara, tu pode fazer meni<strong>no</strong> em tudo quanto for mulher que te abrir as pernas.<br />

O meni<strong>no</strong> ficou sabendo mais do que Cire<strong>no</strong>, que passava por ser o alu<strong>no</strong> mais sabido<br />

do Instituto Anchieta. Mas não falava do seu conhecimento. Esperaria que Rebeca<br />

crescesse, tivesse seios grandes e os pelos de Lucin<strong>da</strong>, e ele criasse barba, ganhasse uma<br />

crista vermelha e acumulasse gala (fosse aquilo o que fosse) para, juntos, fazerem um<br />

filho.<br />

Como suas primeiras relações eram atos proibidos, o meni<strong>no</strong>, por mais que soubesse<br />

sobre o assunto, deveria manter-se calado. As questões relativas à sexuali<strong>da</strong>de são tabus e<br />

delas não se fala em público. A sabedoria do amigo Cire<strong>no</strong> era, certamente, a de ouvir contar,<br />

pois se soubesse de tê-la vivido talvez tampouco an<strong>da</strong>sse por aí falando.<br />

Os exames chegaram, as férias vieram e passaram céleres. Rebeca e seu irmão Israel não<br />

voltaram à classe: seu Moisés se mu<strong>da</strong>ra para a Rua <strong>da</strong> Glória, <strong>no</strong> Recife. O meni<strong>no</strong> não<br />

se importou muito. Meninas não <strong>da</strong>vam pé, não passavam de olhares, apertos de mão,<br />

talvez um beijo ligeiro. Lucin<strong>da</strong> abria-lhe as pernas, mostrava-lhe os seios, uma vez até<br />

tomaram banho juntos, nus em pelo, na grande banheira exclusiva <strong>da</strong> mãe e <strong>da</strong>s irmãs,<br />

por acaso ausentes. Acostumaram-se a esses exercícios e aventuras: como Rebeca <strong>no</strong><br />

desenho, a mulata Lucin<strong>da</strong> combatia-lhe a inabili<strong>da</strong>de erótica, corrigia-lhe os<br />

movimentos, registrava os seus progressos, ia-lhe <strong>da</strong>ndo <strong>no</strong>ta mais alta a ca<strong>da</strong><br />

desempenho.<br />

Neste trecho Beltrão faz referência à mobili<strong>da</strong>de social de certos tipos que com o<br />

passar do tempo sobem na escala social e, por isso, mu<strong>da</strong>m de bairro, de ci<strong>da</strong>de, de ocupação,<br />

como o judeu pai de Rebeca. O meni<strong>no</strong>, por sua vez, fica na sua vidinha de sempre; trata de<br />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!