o enigma da infância – educação e comunicação no ... - Unesp

punições de natureza moral, e o faz submetendo os corpos. Interditando-lhe o prazer e a
identidade sexual.
Assim, na escola, as aulas de catecismo faziam parte das disciplinas, mesmo sendo
facultativa a frequência: “Inimiga de discriminações, do mesmo modo que admitia crianças
brancas, pretas ou mulatas, tornara facultativa a frequência às aulas de catecismo,
semanalmente ditadas por dona Carminha, catequista da Matriz”. Aqui, vale lembrar que LB
escreveu seu texto quando ainda não havia as preocupações com o politicamente correto ou
incorreto. Quando ele diz “crianças brancas, pretas ou mulatas”, sua intenção era tal, isto é,
demonstrar que nossa sociedade é formada desse caldeamento; portanto, realmente há
crianças pretas, brancas e mulatas, isso sem contar as indígenas. E novamente o autor
explicita aquilo que conheceu como criança/ aluno, adulto/ observador: as aulas de religião e
catecismo eram obrigatórias. Assim, a sociedade vai reproduzindo suas crenças, impondo-as
às novas gerações. Quando há imposições, como nesse caso, percebe-se que algo precisa ser
mantido “nos eixos”. Aqui a professora representa a ordem rígida de manutenção das práticas.
Do mesmo modo, outras aulas eram dedicadas à informação dos alunos sobre as
relações sociais da família, na escola, no trabalho, e nas ruas; sobre normas de trânsito,
utilização e cuidado que a cada um cabia de zelar pelas coisas públicas, o amor às árvores
e aos animais domésticos, o respeito aos mais velhos e às instituições religiosas e cívicas,
às normas fundamentais de higiene, a prática de esportes sadios, a lealdade nas
competições.
Almeida (2007) lembra que: “Valores são o fundamento dos comportamentos e das
atitudes”. Isto porque eles, correspondentemente, representam as visões de mundo e, assim,
conferem significado aos comportamentos, às escolhas e às interações. E que “os valores
permitem classificações e hierarquizações” em sociedade. E a escola como instituição
responsável por incutir valores, para fazer das crianças cidadãos, atende às ideologias vigentes
que ora operam naquele grupo social.
Graças a essas peculiaridades, frequentavam o Instituto Anchieta, além da maioria
católica, alguns filhos de protestantes e até Israel e Rebeca, cujo pai, seu Moisés
Bushatsky, pertencia a tradicional família judia, frequentava a sinagoga no Recife, onde
mantinha uma loja de joias, relógios e antiguidades. Rebeca, muito branca, magra,
cabelos de fogo presos em um rabo-de-cavalo, olhos verdes, sorriso faceiro, fora o
primeiro amor do menino. Um “romance” que começara pela inabilidade para o desenho,
fosse o geométrico, fosse o livre exigido nas aulas de História Sagrada. Rebeca, uma
desenhista nata, ajudava-o corrigindo-lhe as linhas e traços inseguros, com o que ele
evitava uma nota sofrível ou má naquela atividade de aprendizagem.
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