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o enigma da infância – educação e comunicação no ... - Unesp

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Novamente a ci<strong>da</strong>de de Olin<strong>da</strong> é coloca<strong>da</strong> em foco; o autor mostra a mistura de<br />

origens étnicas e religiosas que formava aquela socie<strong>da</strong>de. Os católicos e os judeus foram<br />

inimizados ao longo <strong>da</strong> história, mas aqui há uma trégua: convivem e estu<strong>da</strong>m juntos. Pelo<br />

me<strong>no</strong>s por um tempo. E por conta dessa liber<strong>da</strong>de, começa o “romance” do protagonista do<br />

conto...<br />

Rebeca <strong>da</strong>ria uma boa esposa, quando crescermos <strong>–</strong> concluíra, ao ver-se auxiliado com<br />

tanta solicitude pela pequena companheira. Essa consciência de que mantinha um<br />

“romance” só lhe chegara depois que descobrira o fenôme<strong>no</strong> <strong>da</strong>s gerações. Porque, antes,<br />

dois fatos o intrigavam: to<strong>da</strong>s as mulheres estavam casa<strong>da</strong>s e todos os empregos<br />

ocupados. O resto <strong>da</strong>s pessoas eram crianças. Que faria quando tivesse de casar e<br />

trabalhar? A morte do avô e de outros adultos <strong>da</strong> família ou <strong>da</strong>s vizinhanças e o<br />

crescimento de meni<strong>no</strong>s e meninas, agora jovens e mocinhas <strong>no</strong>s ginásios e colégios,<br />

levaram-<strong>no</strong> a tranquilizar-se sobre a sobrevivência e o futuro.<br />

E <strong>no</strong>vamente podemos perceber em Beltrão um pacifista, ator social <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de.<br />

As falas e pensamentos <strong>da</strong> personagem desfilam com simplici<strong>da</strong>de e graça e o meni<strong>no</strong> pensa<br />

as dificul<strong>da</strong>des intransponíveis, tentando ver-se como futuro homem pai de família. E são<br />

essas suas mais sérias preocupações de criança. Podemos também <strong>no</strong>tar que LB escreve na<br />

condição de garoto, e o faz de modo fiel, ingênuo, como o seria uma criança em situação<br />

idêntica.<br />

Sabia que teria de trabalhar, casar, ter filhos. Para trabalhar, era preciso estu<strong>da</strong>r <strong>–</strong> disseralhe<br />

o pai. Para casar, era preciso crescer, trabalhar e escolher a <strong>no</strong>iva <strong>–</strong> dissera-lhe a mãe.<br />

E para ter filhos? Aquele fora o <strong>enigma</strong> de boa parte de sua <strong>infância</strong>.<br />

A curiosi<strong>da</strong>de é a mãe do conhecimento, já diz um ditado popular... Mas pode também<br />

ser causadora de problemas. O meni<strong>no</strong> quer saber como as crianças nascem... Os diálogos<br />

apresentados <strong>no</strong> conto são peculiares.<br />

Um dia, in<strong>da</strong>gou <strong>da</strong> catequista Dona Carminha.<br />

─ Deus é quem dá os filhos <strong>–</strong> foi a resposta.<br />

─ E por que não os deu à senhora? <strong>–</strong> quis saber.<br />

─ Ora, meni<strong>no</strong>, porque sou solteira. Deus só dá filhos aos casados.<br />

─ E porque dona Aurora e seu Coutinho não têm filhos? Não são casados?<br />

─ É porque Deus não quis.<br />

Não se arrancava na<strong>da</strong> de dona Carminha: Deus era o do<strong>no</strong> de tudo, só Ele dispunha<br />

<strong>da</strong>s crianças para distribuir aos casados, escolhendo pais e mães a Seu bel-prazer. (O<br />

Instituto Anchieta, embora i<strong>no</strong>vador, e de acordo com a maioria <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong> velha e<br />

tradicional ci<strong>da</strong>de, rejeitara a recomen<strong>da</strong>ção do Professor Escobar, um técnico vindo de<br />

São Paulo para assessorar o gover<strong>no</strong> estadual, de que fossem transmiti<strong>da</strong>s nas escolas<br />

primárias <strong>no</strong>ções de <strong>educação</strong> sexual).<br />

[...]<br />

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