16.04.2013 Views

O Verbo e a Carne

O Verbo e a Carne

O Verbo e a Carne

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>Verbo</strong> e a <strong>Carne</strong> – 2 Análises do Roustainguismo ______________________________________________ 35<br />

bandeira de luta, no vale-tudo em que se empenham para a defesa do absurdo, a<br />

análise mais superficial nos revela a sua fragilidade. O próprio Guerra Junqueiro<br />

silenciou a respeito durante todos esses anos. Não havia clima para um estudo<br />

sereno do problema e não convinha levar mais lenha à fogueira: Mas para tudo há<br />

um limite. Agora, através da mediunidade de Jorge Rizzini, ele nos explica o enigma<br />

e ao mesmo tempo desfaz a lenda do retrocesso mental.<br />

Tudo se reduz a um drama de circunstâncias. América Delgado era um<br />

belo espírito, uma criatura sensível, mas infelizmente rendida às falanges<br />

roustainguistas, ou como diria Júlio Abreu Filho: à falange vaticanica. O<br />

condicionamento à crença no campo mediúnico foi percebido e denunciado por<br />

Richet, na Metapsíquica, e é hoje objeto de estudos e pesquisas na Parapsicologia.<br />

Mas bem antes já havia sido assinalado por Kardec no Espiritismo, como vemos, por<br />

exemplo, nas explicações do item 443 de O Livro dos Espíritos.<br />

Todos os que estudam Espiritismo sabem que a influência do meio,<br />

estudada em O Livro dos Médiuns, de Kardec, pode determinar e geralmente<br />

determina graves interferências na comunicação mediúnica. Crença e meio influem<br />

nos processos de recepção. América Delgado filiara-se á linha de pensamento<br />

roustainguista da FEB e estava naturalmente sujeita às influenciações nesse sentido.<br />

Não por sua culpa, mas, como nos explicou certa vez Frederico Figner, em<br />

comunicação que publicamos no jornal "Mundo Espírita" e deu muito pano para<br />

manga, por culpa da orientação errada da casa em que se iniciara no Espiritismo e<br />

na prática mediúnica.<br />

Seria possível aplicar o mesmo argumento aos que não aceitam a teoria<br />

roustainguista. Mas acontece que a orientação kardecista não se funda na crença e<br />

sim na razão e na pesquisa. O método de Kardec é científico e por isso mesmo<br />

exclui os perigos do condicionamento à crença e da sujeição ao ambiente. Mas os<br />

que fizeram de Kardec um mito ao invés de um pesquisador, um visionário ao invés<br />

de um homem de bom senso, e deram ao seu grupo ou instituição um clima de<br />

misticismo cego estarão sujeitos aos mesmos riscos dos ambientes roustainguistas.<br />

Não é esse o caso do médium Jorge Rizzini, que se atém ao bom senso<br />

de Kardec e procura conhecer as possibilidades e os limites da sua mediunidade.<br />

Por isso Guerra Junqueiro o utiliza para a transmissão de seus poemas e pode<br />

servir-se dele para desfazer o equívoco de "Os Funerais da Santa Sé". E o faz com<br />

um equilíbrio inegável, ressalvando as condições espirituais da médium América<br />

Delgado e evitando agressões pessoais a Roustaing, que considera uma vítima. Seu<br />

azorrague é reservado apenas para a obra e para os mistificadores que a ditaram.<br />

Esse equilíbrio restabelece aos nossos olhos o Guerra Junqueiro que o poema<br />

de quarenta anos atrás parecia desfigurar. Temos de novo o poeta impetuoso,<br />

vigoroso nas expressões mas sereno no julgamento. A síntese de razão e fé,<br />

característica do Espiritismo, e da qual ele foi precursor, reaparece em sua perfeita<br />

integridade junqueirana.<br />

• CORPO DE JESUS<br />

A revista "O Reformador", órgão oficial da FEB, publicou em seu número de<br />

março deste ano, 1972, como uma das peças de defesa do Roustainguismo, o longo<br />

trecho de "Os Funerais da Santa Sé" que vamos transcrever. É realmente uma<br />

peça digna de estudo, pois nela temos a demonstração da complexidade do processo<br />

de recepção mediúnica. O estilo de Guerra Junqueiro se reflete nele, mas a<br />

técnica do poeta é falha, contrastando com o seu rigor na prática do alexandrino,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!