O Verbo e a Carne
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O <strong>Verbo</strong> e a <strong>Carne</strong> – 2 Análises do Roustainguismo ______________________________________________ 54<br />
religião 44 . Em escritos vários temos sustentado que segundo o conceito clássico de<br />
religião 45 , esta se acha condicionada às influências do meio social, e pode ser<br />
considerada sob dois aspectos: o de interioridade e o de exterioridade. O primeiro se<br />
desenvolve pelo estudo, pela meditação, pelo conhecimento aplicados aos superiores<br />
objetivos da vida e não é percebido por sinais externos; o segundo é a moda, é o<br />
ritual, é a liturgia, é tudo aquilo que fala aos sentidos e que, pouco a pouco,<br />
transforma as práticas religiosas num automatismo psicológico. A primeira dá a<br />
compreensão e alarga os horizontes espirituais; a segunda limita a inteligência e<br />
cria o fanatismo 46 .<br />
Como quer que seja, este último aspecto é o que prevalece em todos os<br />
cultos, em todos os tempos, dado o comodismo e o interesse dos dirigentes<br />
religiosos.<br />
Assim, o que caracteriza uma religião é, essencialmente, o seguinte: 1 º -<br />
um conjunto de dogmas, impostos à razão e transformados em artigos da fé; 2 º - um<br />
ritual mais ou menos aparatoso, a cuja origem podemos remontar e buscar a sua<br />
significação no sincretismo religioso e nos fenômenos de psiquismo coletivo,<br />
terrivelmente persistentes em todos os povos, embora variem ligeiramente as<br />
causas eficientes; 3 º - uma hierarquia sacerdotal que dirige este segundo aspecto e<br />
guarda e amplia o primeiro.<br />
Posto que, vez por outra, se encontre na obra de Kardec o vocábulo<br />
dogma, este aí aparece mais com o significado de ponto inconcusso de doutrina,<br />
estabelecido à luz dos fatos e das conseqüências destes decorrentes, do que de ponto<br />
inconcusso dê fé, estabelecida, ou antes, imposta, mesmo que choque a razão e não<br />
se apoie em argumentos lógicos. Por isso mesmo Kardec sistematicamente nos diz<br />
que o Espiritismo não é uma religião 47 .<br />
44<br />
Kardec, A. Revista Espírita 1864, p. 203 – 1868 , págs. 351 a 360.<br />
45<br />
Eliade, M. Origens, p. 9.<br />
46<br />
"O sofrimento religioso é, ao mesmo tempo, expressão de um sofrimento real e protesto contra um sofrimento real.<br />
Suspiro da criatura oprimida, coração de um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito: a religião é o<br />
ópio do povo." (Karl Marx).<br />
47<br />
A palavra dogma quer dizer principio de doutrina, postulado. No Espiritismo há dogmas de razão, dogmas racionais, que não podem<br />
ser confundidos com dogmas de fé. Necessário estabelecer a distinção. – No tocante à religião, o conceito clássico, acima exposto, refere-se<br />
apenas à religião estática ou social da definição de Henri Bergson. O Espiritismo se enquadra na classificação bergsoniana de religião<br />
dinâmica. (H.P.).<br />
Dogma – do grego e latim dogma: opinião, crença, ponto de vista. Antes da Era Crista, o dogma era considerado como<br />
o conhecimento das tradições ocultas, secretas, da Igreja, as quais só podiam ser compreendidas misticamente por meio<br />
de símbolos ou aqueles que derivassem de seitas secretas, como os discípulos de Sócrates, Platão e Aristóteles, também<br />
condenado à morte, mas graças a Deus conseguiu fugir antes de dar a cidade de Atenas a chance de pecar novamente<br />
contra a filosofia, como acontecera a Sócrates. Após os primeiros Concílios o dogma ficou sendo considerado os pontos<br />
ou princípios expostos e definidos pela Igreja, ou qualquer sistema ou doutrina que seja, ou queira ser e ter a verdade<br />
absoluta do que prega ou ensina. O dogma passou a ser utilizado pela Igreja para congelar as teorias existentes que<br />
divergiam de seus ensinamentos. “O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o homem dogmático permanece<br />
petrificado nos conhecimento dados de uma vez por todas” (Aranha, M. L. A. e Martins, M. H. P. Filosofando -<br />
Introdução a Filosofia, cap. 5 item 8).<br />
Dogma Versão Eclesiástica - Na linguagem eclesiástica, o termo se aplica às doutrinas ou princípios ensinados em<br />
nome de Deus. As fontes dos dogmas das Igrejas são as Escrituras - Bíblia - e a Tradição. A Tradição compreende: a) os<br />
decretos infalíveis e irrevogáveis dos Concílios gerais e dos Papas, que falam ex-cathedra; b) os símbolos da fé - sinal<br />
da cruz, batismos, exorcismo, etc... c) escritos dos pais e doutores da Igreja - Cipriano, Eusébio, Agostinho, Jerônimo,<br />
Tertuliano, Tomas de Aquino, Cirilo de Alexandria e etc... d) a liturgia que consiste na ordem das cerimônias e preces<br />
de que se compõe o serviço divino. Para a maioria das Religiões, os dogmas são revelações diretas de Deus, são<br />
imutáveis e inquestionáveis. Segundo a “lógica” da teologia das Igrejas cristãs, as revelações cessaram após a morte do<br />
último apóstolo, ficando as Igrejas impedidas de fazerem novas revelações e criar novos dogmas.