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Dona Guidinha do Poço - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Vamo venden<strong>do</strong> nosso gadinho, bem caladinho e guardan<strong>do</strong> o dinheiro no<br />

fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> baú... A<strong>do</strong>nde nós chegar, com dinheiro, estamos bem, e saúde nos dê<br />

Deus. Vamo-nos aprecautan<strong>do</strong>, que eu lhe juro que não faltará ocasião de você se<br />

despedi...<br />

O velho vaqueiro sentou-se ao peso de tamanhas cogitações. Passava e<br />

repassava os de<strong>do</strong>s por aquela barba respeitável, de que um cabelo era penhor<br />

bastante para a sua palavra de homem.<br />

— E você não sabe? — continuava a Mercês — no Vavaú não se falou noutra<br />

coisa. O povo já estava capinan<strong>do</strong> de rijo no caso, e dizia que o mancebo andava já<br />

com muita galizia... Diz que a<strong>do</strong>nde ele chegava, era tal porque assim, porque<br />

assa<strong>do</strong>, porque sobrinho de <strong>Dona</strong> <strong>Guidinha</strong> <strong>do</strong> <strong>Poço</strong>... não lhe fartava nada. Mas no<br />

caso a tenção deles era outra... Bem que viam nele a menina <strong>do</strong>s olhos dela! Aquilo<br />

era trata<strong>do</strong> pelos homens ricos à vela de libra, e estava até fican<strong>do</strong> ca cara torcida<br />

mo<strong>do</strong> que de gran<strong>do</strong>r. Diz que espaiava que não era pra se casá com matuta <strong>do</strong><br />

Ceará, que são umas brutas...<br />

A Mercês desembuchou a valer. O mari<strong>do</strong>, meio abala<strong>do</strong> na sua opinião,<br />

passou a noite mal; e bem ce<strong>do</strong> man<strong>do</strong>u o Néu tirar o leite das poucas vaquinhas de<br />

verão, in<strong>do</strong> pôr-se de tocaia para verificar com os próprios olhos se o Secundino<br />

havia <strong>do</strong>rmi<strong>do</strong> lá dentro ou se num <strong>do</strong>s quartos externos, como fazia dantes.<br />

Com pouco, lá vai o Naiú pegar o cavalo <strong>do</strong> Seu Secundino, e Sua Senhoria<br />

apareceu <strong>do</strong> interior com uma cara lavada. Seu Antônio deixou cair a cabeça, fez o<br />

pelo-sinal. Seu espírito ficou balançan<strong>do</strong> como o ramo <strong>do</strong>nde voou uma ave.<br />

O Quim demorou na vila, para não fazer viagem na primeira segunda-feira de<br />

agosto. Andava sofren<strong>do</strong> <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong>, dizia. O seu velho e bom amigo o cirurgião<br />

Sampaio havia chega<strong>do</strong> de longo passeio à Corte, aonde fora gozar os seus vinténs<br />

e tratar da colocação de um filho bacharel, que já se achava habilita<strong>do</strong> para juiz de<br />

direito, e como de fato o encaixou.<br />

Esse resulta<strong>do</strong> e mui outras novidades contava o cirurgião ao Quim, que ao<br />

mesmo tempo o consultava a respeito <strong>do</strong>s males que dizia sofrer.<br />

— Você não tem nada nesse fíga<strong>do</strong>! respondeu o pratico, maliciosamente.<br />

São cismas. Você tem alguma coisa... lá isso tem, mas, a falar verdade, não posso<br />

saber o que será...<br />

— Acha bom então eu ir à Capital?<br />

— À Capital ou ao Rio de Janeiro, que aquilo é que é terra! Viajar far-lhe-ia<br />

muito bem... Viajar! Que recurso enorme para certos males!<br />

O Quim voltou satisfeito com o abaliza<strong>do</strong> conselho.<br />

E o Padre, ao saber disso:<br />

— Vá, homem! Vá ao Ceará, ao Rio mesmo, se precisar, ou ao Recife, que é<br />

um lugar importante.<br />

O homem tomou jubiloso o caminho <strong>do</strong> <strong>Poço</strong> da Moita. O cirurgião Sampaio<br />

lhe dissera que fosse consultar aos médicos da Capital... Quan<strong>do</strong> a Guida o<br />

soubesse concordaria logo, porque a palavra <strong>do</strong> cirurgião era uma sentença para<br />

aquele povo. Ele ia, mas sim para conversar longamente com o Padre Brasil, chefe<br />

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