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Agora, falar verdade, ele não via motivo para tamanho levante contra a<br />
<strong>Guidinha</strong> <strong>do</strong> <strong>Poço</strong>. Apostava como se ela tivesse manda<strong>do</strong> matar o Quinquim por<br />
trás de um pé de pau, na beira da estrada, aí pelos matos, à traição, no costume<br />
velho <strong>do</strong>s cangaceiros, o povo não se inflamava assim. O que olhos não vêem<br />
coração não sente. No seu ser, aquilo era uma covardia que estavam fazen<strong>do</strong>! To<strong>do</strong><br />
o mun<strong>do</strong> queria condenar a mulher à forca! E Fulano, Sicrano, Beltrano, que<br />
mandaram fazer tais e tais mortes, por que nem tiveram uma Ave-Maria de<br />
penitência e andavam passean<strong>do</strong> pela rua? O que olhos não viam...<br />
Aqui o juiz também deu a sua trincadela:<br />
— Verdade, Seu Domingos, neste ponto não deixa de ter sua razão...<br />
Mas aquilo era um ato to<strong>do</strong> natural. O crime às escuras, à sorrelfa, no<br />
escondi<strong>do</strong>, não escandaliza. O Seu Domingos sabia o que era o escândalo? O juízo<br />
<strong>do</strong>s homens era limita<strong>do</strong> e iníquo. O Seu Domingos bem sabia na sua consciência<br />
que A e B, que representavam honroso papel na sociedade, não passavam de uns<br />
ladrões ladinos; e o povo, a sociedade, os poderes públicos, não tinham para eles<br />
senão respeitos e galardões. Entretanto o pobre diabo que furtasse um cavalo na<br />
feira, era logo agarra<strong>do</strong> pela indignação pública e entregue à ação das Justiças. O<br />
Seu Domingos tinha razão: o que olhos não viam...<br />
O Sabino atalhou, então, que também entendia de jurisprudência criminal,<br />
pois tinha advoga<strong>do</strong> no júri. O cidadão que estava em sua casa não era como o que<br />
andava de viagem, que andava com suas armas. O assassinato <strong>do</strong> cidadão inerme,<br />
como o bárbaro crime perpetra<strong>do</strong> na pessoa <strong>do</strong> Major Quim, era...<br />
Porém o juiz, despedin<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> <strong>do</strong>no da casa, deu de rédea a galope. O<br />
Sabino cortou a sua estirada, e, montan<strong>do</strong> às pressas:<br />
— Em tanto, Seu Domingos!<br />
— Até outra vista! disse este, corren<strong>do</strong> a taramela e debruçan<strong>do</strong>-se outra vez<br />
na banda da porta, como o haviam encontra<strong>do</strong>.<br />
Não avistavam mais nem poeira <strong>do</strong>s outros. Encontravam, com efeito, da<br />
encruzilhada <strong>do</strong> pé <strong>do</strong> alto em diante, curiosos que acudiam para a vila. Era<br />
unânime a revolta contra <strong>Dona</strong> <strong>Guidinha</strong> <strong>do</strong> <strong>Poço</strong>.<br />
O Dr. Fernandes ia procuran<strong>do</strong> atenuantes, na conversa com um e com outro,<br />
para a acusada; mas o Sabino o que fazia era açular.<br />
— Não julgues o bom por bom nem o mau por mau, citava o juiz. To<strong>do</strong><br />
acusa<strong>do</strong> é julga<strong>do</strong> inocente, enquanto não se provar o contrário.<br />
Lalinha, chegan<strong>do</strong> a casa, caiu em soluços nos braços <strong>do</strong> pai, como se o<br />
morto fora gente sua. Moravam na rua <strong>do</strong> Sol, esquina com a praça da Matriz, e de<br />
lá avistavam-se as quatro portas da casa <strong>do</strong> Quim, onde havia muito povo<br />
aglomera<strong>do</strong>.<br />
O pai buscan<strong>do</strong> a razão de ser daquela comoção:<br />
— Amores velhos, amores velhos! — segredava consigo, coçan<strong>do</strong> a caspa da<br />
barba. Isto não é senão porque anda envolvi<strong>do</strong> no crime aquele monstro <strong>do</strong><br />
Secundino... Homem fatal!<br />
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