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Dona Guidinha do Poço - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Agora, falar verdade, ele não via motivo para tamanho levante contra a<br />

<strong>Guidinha</strong> <strong>do</strong> <strong>Poço</strong>. Apostava como se ela tivesse manda<strong>do</strong> matar o Quinquim por<br />

trás de um pé de pau, na beira da estrada, aí pelos matos, à traição, no costume<br />

velho <strong>do</strong>s cangaceiros, o povo não se inflamava assim. O que olhos não vêem<br />

coração não sente. No seu ser, aquilo era uma covardia que estavam fazen<strong>do</strong>! To<strong>do</strong><br />

o mun<strong>do</strong> queria condenar a mulher à forca! E Fulano, Sicrano, Beltrano, que<br />

mandaram fazer tais e tais mortes, por que nem tiveram uma Ave-Maria de<br />

penitência e andavam passean<strong>do</strong> pela rua? O que olhos não viam...<br />

Aqui o juiz também deu a sua trincadela:<br />

— Verdade, Seu Domingos, neste ponto não deixa de ter sua razão...<br />

Mas aquilo era um ato to<strong>do</strong> natural. O crime às escuras, à sorrelfa, no<br />

escondi<strong>do</strong>, não escandaliza. O Seu Domingos sabia o que era o escândalo? O juízo<br />

<strong>do</strong>s homens era limita<strong>do</strong> e iníquo. O Seu Domingos bem sabia na sua consciência<br />

que A e B, que representavam honroso papel na sociedade, não passavam de uns<br />

ladrões ladinos; e o povo, a sociedade, os poderes públicos, não tinham para eles<br />

senão respeitos e galardões. Entretanto o pobre diabo que furtasse um cavalo na<br />

feira, era logo agarra<strong>do</strong> pela indignação pública e entregue à ação das Justiças. O<br />

Seu Domingos tinha razão: o que olhos não viam...<br />

O Sabino atalhou, então, que também entendia de jurisprudência criminal,<br />

pois tinha advoga<strong>do</strong> no júri. O cidadão que estava em sua casa não era como o que<br />

andava de viagem, que andava com suas armas. O assassinato <strong>do</strong> cidadão inerme,<br />

como o bárbaro crime perpetra<strong>do</strong> na pessoa <strong>do</strong> Major Quim, era...<br />

Porém o juiz, despedin<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> <strong>do</strong>no da casa, deu de rédea a galope. O<br />

Sabino cortou a sua estirada, e, montan<strong>do</strong> às pressas:<br />

— Em tanto, Seu Domingos!<br />

— Até outra vista! disse este, corren<strong>do</strong> a taramela e debruçan<strong>do</strong>-se outra vez<br />

na banda da porta, como o haviam encontra<strong>do</strong>.<br />

Não avistavam mais nem poeira <strong>do</strong>s outros. Encontravam, com efeito, da<br />

encruzilhada <strong>do</strong> pé <strong>do</strong> alto em diante, curiosos que acudiam para a vila. Era<br />

unânime a revolta contra <strong>Dona</strong> <strong>Guidinha</strong> <strong>do</strong> <strong>Poço</strong>.<br />

O Dr. Fernandes ia procuran<strong>do</strong> atenuantes, na conversa com um e com outro,<br />

para a acusada; mas o Sabino o que fazia era açular.<br />

— Não julgues o bom por bom nem o mau por mau, citava o juiz. To<strong>do</strong><br />

acusa<strong>do</strong> é julga<strong>do</strong> inocente, enquanto não se provar o contrário.<br />

Lalinha, chegan<strong>do</strong> a casa, caiu em soluços nos braços <strong>do</strong> pai, como se o<br />

morto fora gente sua. Moravam na rua <strong>do</strong> Sol, esquina com a praça da Matriz, e de<br />

lá avistavam-se as quatro portas da casa <strong>do</strong> Quim, onde havia muito povo<br />

aglomera<strong>do</strong>.<br />

O pai buscan<strong>do</strong> a razão de ser daquela comoção:<br />

— Amores velhos, amores velhos! — segredava consigo, coçan<strong>do</strong> a caspa da<br />

barba. Isto não é senão porque anda envolvi<strong>do</strong> no crime aquele monstro <strong>do</strong><br />

Secundino... Homem fatal!<br />

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