Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
Sabia lá! Entrava-lhe por um ouvi<strong>do</strong>, saía-lhe pelo outro. E com intenção: Só<br />
sabia, sim, que quem bem me avisa meu amigo é. O compadre que deu tanto valor<br />
àqueles forasteiros, é que sabia o que eles valiam. Então Moreira não era gente de<br />
disse que disse... O compadre porque também não dava uma volta por lá?...<br />
— Para quê? Não perdi nada lá...<br />
— Mais tão debaixo <strong>do</strong> seu facão. O compadre não deixa de responder pelo<br />
que se passa nas suas terra... Mais isto não é de minha conta. O compadre dê<br />
licença, eu ainda hoje tenho d’ir no Timbó.<br />
O Antônio saiu remoen<strong>do</strong>: Por que é que o amo parece que receava ir à<br />
baixa? A comadre ia lá tanto... O homem mo<strong>do</strong> de que tinha me<strong>do</strong> de si... Seria<br />
possível que ainda estivesse de olhos fecha<strong>do</strong>s? Não, não era, mo<strong>do</strong> de que ele<br />
estava era manhosan<strong>do</strong> pra fazer alguma... Em que andava ele meti<strong>do</strong>, minha<br />
Nossa Senhora! Bem razão tinha a Mercês: passar os bichinhos no cobre, que ali<br />
não podia deixar de acontecer algum destroço.<br />
O certo é que, antes que findasse a semana, houve uma rija altercação na<br />
vivenda, resultan<strong>do</strong> daí o Quim botar o Secundino de porta fora.<br />
O Néu testemunhara a cena, e chegou em casa contan<strong>do</strong>:<br />
— M’pai, o negócio tá fican<strong>do</strong> feio...<br />
Não sabia? Pois ele tinha i<strong>do</strong> falar com Seu Major pra dizer que a vaca que<br />
ele queria que matasse pra matutagem estava amojada, que era melhor matar a<br />
Ponta-baixa, que estava enxuta e há <strong>do</strong>is anos não tomava cria...<br />
— A Ponta-baixa? antes matar aquela roxa...<br />
A roxa era piauí e estava magra... Mas então o Seu Major estava assim<br />
assenta<strong>do</strong> no canapé, e o Secundino recosta<strong>do</strong> na cadeira grande de couro,<br />
fuman<strong>do</strong> charuto, que era coisa que aquilo ele não largava. E Seu Major vai e diz<br />
assim:<br />
— Pois o senhor está na obrigação de se justificar, modifican<strong>do</strong> os seus<br />
hábitos, endireitan<strong>do</strong> o seu procedimento. O senhor bem sabe que a calúnia só quer<br />
é um pezinho...<br />
— Hum! fungou o velho, como sentin<strong>do</strong> uma inhaca. Tratan<strong>do</strong> por senhor?<br />
Estavam bem principian<strong>do</strong>, na verdade.<br />
— E vai o Secundino se levanta e responde: – Não tenho nada que me<br />
justificar.<br />
— Hum! Ah, eu lá!<br />
Vai o Major rebateu que tinha, sim. Então o Secundino puxara um papel <strong>do</strong><br />
bolso, e dissera:<br />
— O senhor é que me deve dizer o que é isto. Os nossos parentes estão<br />
certos de que eu aqui sou um infame por causa das calúnias <strong>do</strong> senhor, que o<br />
senhor man<strong>do</strong>u dizer-lhes. Esta carta é <strong>do</strong> tio Pedro Paulo... O senhor sabe o que<br />
escreveu a ele...<br />
106