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Dona Guidinha do Poço - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Ela não me explicou nada, não. Não me dixe nada. Dixe só que trouxesse<br />

a roupa e este papel e entregasse na mão de Vosmecê.<br />

— Como diabo eu arranjo isto!<br />

Regulou-se pelo seu gosto dele, e meteu a tesoura.<br />

Despachou o porta<strong>do</strong>r, depois que este an<strong>do</strong>u executan<strong>do</strong> outros manda<strong>do</strong>s<br />

que trazia.<br />

— Vosmecê não responde o bilhete?<br />

— Não. A resposta é isto que aí vai, a chita e os xales.<br />

— É pano muito! — disse o cabrocha a arrumar na mala as encomendas.<br />

Quero vê se ela não mi dá umas calça por São João... Eu sei que isto é proso<br />

outros...<br />

Secundino estava aprecian<strong>do</strong> muito a vila. Morava no pátio da matriz, numa<br />

esquina, defronte <strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Juiz de Direito, onde aparecia com certa insistência<br />

à janela uma filha deste, chamada Eulália, que designavam familiarmente por Lalá, e<br />

por Lalinha. Estava sen<strong>do</strong> muito visita<strong>do</strong>. Pudera não! sobrinho de <strong>Dona</strong> <strong>Guidinha</strong>...<br />

Um <strong>do</strong>s primeiros a ir cumprir com esse dever de humanidade e de civilidade<br />

foi o reveren<strong>do</strong> vigário da freguesia, o Padre João Franco, excelente ancião, pai de<br />

família, sacer<strong>do</strong>te patriarcal desse bom tempo em que a província não tinha bispo<br />

ainda que bispasse. No meio da conversa, disse ao moço que o estava<br />

consideran<strong>do</strong> cajazeirense, porque quem bebia água <strong>do</strong> riacho da <strong>Dona</strong> Maria e se<br />

banhava no poço <strong>do</strong> Gregório, não tinha mais que ver, ficava naturaliza<strong>do</strong> dali. E<br />

que não esquecesse nos seus lucros ir reservan<strong>do</strong> uma quotazinha para dar uma<br />

esmola para as obras da matriz.<br />

— E a matriz não está feita? Não há aqui três boas igrejas?<br />

— É, o povo é muito cristão, mas a matriz de uma demão ainda precisa, pois<br />

há alguma coisa por acabar, e sobretu<strong>do</strong> por melhorar, por exemplo, assoalhar...<br />

— Assoalhar, está direito. O tijolo é feio, porco e estraga os vesti<strong>do</strong>s das<br />

senhoras.<br />

— Exatamente.<br />

— E de que tempo é essa igreja?<br />

— É <strong>do</strong> tempo em que o Ceará pertencia à capitania de Pernambuco. Leio-lhe<br />

bem os assentamentos. Em 1730, o alferes português Francisco Manuel endereçou<br />

ao bispo de Olinda, creio que D. José Fialho, uma petição em que ele e o mais povo,<br />

mora<strong>do</strong>res no Boqueirão, pediam que lhes fosse concedida licença para poderem<br />

erigir uma capela no dito lugar. Traziam os peticionários por frente a alegação de<br />

estarem distantes de sua matriz espaço de trinta léguas, e por isso não lhes era<br />

da<strong>do</strong> satisfazer os preceitos de ouvir missa, nem mesmo em outra capela, porque a<br />

de Nossa Senhora da Conceição <strong>do</strong> Banabuiú, que era a mais próxima, distava<br />

espaço de vinte léguas. Argumentavam mais que havia bastante concurso de<br />

mora<strong>do</strong>res, e de outros que de novo se iam situan<strong>do</strong>. O funda<strong>do</strong>r oferecia o<br />

patrimônio de meia légua de terra com trinta vacas situadas, porém seria nomea<strong>do</strong><br />

administra<strong>do</strong>r, que o foi. Em setembro de 1732, benzia-se a capela. Vinte anos mais<br />

tarde o pie<strong>do</strong>so português, já promovi<strong>do</strong> ao grau de capitão de ordenanças, fez<br />

requerimento ao vigário da vara encomendada da freguesia de Nossa Senhora das<br />

Neves da cidade da Paraíba, Dr. José de Aranha, visita<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s sertões <strong>do</strong> Norte:<br />

que, como a primeira capela se achava arruinada, pretendia para melhor servir a<br />

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