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houvesse trabalho. Mas se lembrava que no barco, de que se contavam horrores, a<br />
meninada ia morrer toda. Não tinham mais fé no inverno; parece que o tempo seria<br />
aquilo mesmo para sempre. Mas haverá de ser o que Deus permitisse. Que sem a<br />
vontade <strong>do</strong> Homem lá de riba não cai uma folha de pé de pau. Se fossem os filhos<br />
grandes, ele teria navega<strong>do</strong> para o Aracati ou para a capital para aventurar a vida<br />
em outras paragens. Ao menos ia correr terra... Mas Deus Nosso Senhor permitiu -<br />
concluía - que viessem dar naquela fazenda <strong>do</strong> Senhor Quinquim Damião; e ficaram<br />
to<strong>do</strong>s ali de morada. Foram ver palha na Varge das Bestas, distância de três léguas,<br />
cortaram madeira ali mesmo, e fizeram o seu ranchinho. Graças a Deus, a sua gente<br />
toda sabia lidar à satisfação <strong>do</strong> Seu Major e da mulher, que aquilo era mesmo uma<br />
<strong>Dona</strong>, senhora <strong>do</strong> que é seu.<br />
Por derradeiro, o Secundino falou-lhe no serviço que ele podia prestar-lhe<br />
in<strong>do</strong> depor no processo, e combinaram que tu<strong>do</strong> se arranjaria da melhor maneira.<br />
CAPÍTULO VI<br />
Mal o Secundino ia-se erguen<strong>do</strong>, apresenta-se-lhe, coçan<strong>do</strong> a carapinha, um<br />
moleque a dizer-lhe:<br />
— Eu vim aqui que a Senhora man<strong>do</strong>u pra acompanhar Vosmecê e servi no<br />
que for preciso.<br />
— Ah, é o Anselmo? disse a Carolina. Como estão to<strong>do</strong>s lá, Anselmo?<br />
O Anselmo respondeu pausadamente que estava tu<strong>do</strong> bom.<br />
O vento, dan<strong>do</strong>-lhe na fralda da camisa, patenteava as canelas finas <strong>do</strong><br />
cabrinha.<br />
— Pois vamos, Senhor Anselmo. Tenho muito prazer em acompanha<strong>do</strong> por<br />
Sua Senhoria.<br />
— Unh! fez a Carolina. Olhe lá o Anselmo! Já tem senhoria!<br />
E para o Secundino:<br />
— É um molequinho bem ensina<strong>do</strong> e tem cadência para tu<strong>do</strong>, como poucos<br />
meninos brancos. Fez um calunga com canivete, que fazia gosto.<br />
O Silveira explicou bem o caminho e o banho <strong>do</strong> Secundino. Não o<br />
acompanhava porque ia ter com Sinhá <strong>Dona</strong>, que desde d'onte que queria que ele<br />
fosse pegar um jumento por lote... A criação de burro estava ten<strong>do</strong> muito apreço,<br />
que burro é bicho bom para carga e fácil pro penso... Ele esperava vir a ser o<br />
vaqueiro das bestas porque o que estava ia largar...<br />
E, viran<strong>do</strong>-se para o moleque:<br />
— Leva ele ao poço <strong>do</strong> Meio, que é onde o banho está melhor...<br />
Afastaram-se. A Carolina ainda gritou para o moço:<br />
— Olhe! Não se esqueça de fazer o Pelo sinal... Antes de se meter n’água!<br />
Vosmecês quan<strong>do</strong> ficam homens não se importam mais com reza!<br />
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